
As aulas da rede estadual de ensino recome�aram h� 12 dias. Depois de longo conflito com o Sindicato �nico dos Trabalhadores em Educa��o de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), a Secretaria de Educa��o conseguiu retomar as aulas no estado. Hoje, a pasta comemora o n�mero de alunos que aderiram ao programa virtual de ensino, apesar de saber que 700 mil n�o ter�o acesso. Por outro lado, professores e diretores reclamam da falta de recursos oferecidos pelo governo e tentam buscar medidas alternativas para fornecer uma educa��o digna e eficiente aos alunos.
Conforme dados divulgados pela secretaria ao Estado de Minas, at� quarta-feira mais de um milh�o de alunos tinham recebido os Planos de Estudos Tutorados (apostilas) em arquivos pelos meios virtuais. O n�mero considera os PDFs que foram enviados via site do programa e e-mail, deixando de fora os downloads realizados pelo aplicativo Conex�o Escola, desenvolvido justamente para garantir a comunica��o entre os alunos e professores.
Al�m disso, a secretaria informou que, at� o momento, cerca de 380 mil alunos j� receberam as apostilas impressas em suas resid�ncias. Isso acontece no caso dos alunos que n�o t�m acesso � celular e internet. Cabe ao diretor da escola organizar como ser� feita a impress�o e a entrega aos alunos.
“Grande parte das escolas que a gente tem conhecimento tem optado por terceirizar a impress�o e distribui��o dessas apostilas. Os nossos auxiliares de servi�os gerais est�o l� de forma espor�dica. Quem est� autorizado estar todo dia na escola � apenas o diretor. Portanto, � humanamente imposs�vel o diretor imprimir e entregar a apostila para todos os alunos. Al�m disso, as m�quinas que temos nas escolas n�o s�o boas e algumas n�o funcionam”, explica uma das coordenadoras do coletivo Gestores Articuladores Independentes de Escolas Estaduais, Neimara Lopes.
O grupo re�ne diretores de 170 escolas estaduais de Minas, sendo a maioria na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo Neimara, as impress�es dos primeiros volumes das apostilas est�o sendo custeadas pelos caixas das escolas. No entanto, a Secretaria de Educa��o ainda n�o disponibilizou nenhum recurso espec�fico para o servi�o. “A gente sabe que vai ter outros volumes da apostila, mas eu s� tenho como garantir a impress�o e a entrega do primeiro volume”, comenta.
Aplicativo
At� essa quarta, o Conex�o Escola j� teve mais de 1 milh�o de downloads na Google Play Store. A plataforma ainda n�o est� dispon�vel para o sistema IOS, do iPhone. Toda a navega��o no app � custeada pelo Governo de Minas, sem a necessidade de uso do pacote de dados dos servidores e estudantes. A secretaria ainda informou que o site do Estude em Casa j� teve mais de 12 milh�es de acessos, sendo em m�dia, 1,5 milh�o de acessos di�rios.
Inicialmente, o governo previu que um chat seria disponibilizado no aplicativo para facilitar a comunica��o entre alunos e professores. A ideia era de que o sistema come�asse a funcionar na �ltima segunda-feira (25), mas n�o foi o que ocorreu.
“Como houve alguns erros no app, esse chat n�o iniciou essa semana. A proje��o � que inicie na pr�xima semana. Com isso, tem escolas que est�o criando grupos no Facebook, Whatsapp e Instagram. J� que o meio oficial n�o est� funcionando, tivemos que buscar recursos alternativos”, afirma Neimara.
Ainda que educadores busquem um planos B para se aproximar dos alunos, v�rios jovens continuam fora do programa. Isso porque, segundo o governo estadual, 700 mil, dos 1,7 milh�o de matriculados, n�o t�m acesso a celular, internet ou sinal da Rede Minas.

Para atenuar esse problema, diretores criaram um esquema de telefonema entre educadores e alunos. “Para alguns alunos, o m�ximo que vamos conseguir � o contato por telefone, que � o que temos feito na nossa escola. �s vezes, eles at� t�m a internet, mas ela � ruim ou o celular tem uma tela muito pequena. Mesmo esses alunos que t�m acesso, a gente tem que ver com que insumos que ele acessou. S�o 3.601 escolas estaduais, portanto, s�o realidades muito distintas”, finaliza.
Instabilidade
As aulas s�o transmitidas diariamente via sinal da Rede Minas, emissora p�blica do estado. Contudo, apenas 186 munic�pios t�m acesso ao sinal da emissora, deixando v�rios alunos de fora do programa.
Uma solu��o encontrada pela secretaria foi transmitir as aulas tamb�m no site da emissora. No entanto, alunos v�m tendo dificuldades em acompanhar as aulas, uma vez que com o grande n�mero de pessoas acessando o portal ao mesmo tempo, o site fica inst�vel.
Em entrevista ao Estado de Minas nessa segunda-feira, o governador Romeu Zema (Novo) reconheceu os problemas enfrentados durante a primeira semana do programa, mas disse que as aulas virtuais continuar�o.
“Nossa preocupa��o, hoje, � melhorar e tornar vi�vel o ensino a dist�ncia. Sei que n�o � t�o bom quanto o ensino presencial, mas � o que temos condi��es de fazer no momento”, pontuou Zema.
Sindicato
Na �ltima quarta-feira, o Sind-UTE apresentou den�ncia contra o governo estadual ao Minist�rio P�blico do Trabalho e ao Minist�rio P�blico Estadual. O sindicato alega que os regime remoto de aulas vem trazendo graves transtornos � categoria e aos estudantes.

No documento, o sindicato defende que o programa apresentado pela Secretaria de Educa��o “imp�e aos educadores a responsabilidade de arcar com plano de internet para atender aos estudantes. Al�m de cargas hor�rias extenuantes, acompanhamento de dezenas de grupos de Whatsapp, corre��o de atividades de madrugada”.
Vis�o dos alunos
S�o v�rios anos de escola para um dia cursar o ensino m�dio e realizar o sonho de entrar na faculdade. No entanto, com a pandemia de COVID-19, Vin�cius Fernandes, 17, viu mais um obst�culo para alcan�ar seu objetivo de cursar edifica��es e arquitetura no ensino superior. Estudante do 3º ano do ensino m�dio de uma escola estadual em Belo Horizonte, ele teve que aprender a estudar sozinho.
Desde a semana a passada, vem assistindo as aulas dispon�veis diariamente pela Rede Minas e praticando os exerc�cios das apostilas elaboradas pela secretaria. No entanto, ele sabe das limita��es das aulas � dist�ncia.
“As aulas s�o bem tranquilas, tem v�rios lugares para acessar. E tem o aplicativo, onde as teleaulas ficam gravadas. Mas faz total diferen�a ter aula presencial e poder tirar d�vida na hora. Eu at� tenho o contato dos professores, mas eu, particularmente, n�o tiro d�vidas com eles, porque eles t�m as coisas deles e est�o envolvidos com as coisas da escola”, comenta.
A falta do contato com o professor
No interior do estado, a altera��o na rotina das fam�lias por causa do ensino a dist�ncia n�o � diferente, como na casa de Arlete Dur�es Azevedo Freire, de Montes Claros, no Norte de Minas. Ela � professora da rede municipal, cujas atividades est�o suspensas temporiamente por causa da pandemia. No entanto, Arlete continua se dedicando ao ensino, mas dos pr�prios filhos, Narciso Dur�es Freire, de 14 anos, e Jo�o Marcos Dur�es Freire, de 10. Ambos est�o matriculados na rede estadual em Montes Claros, acompanhando as aulas remotas.

“O ensino a dist�ncia requer disciplina. E essa disciplina � estabelecida pelos pais, que auxiliam os filhos nas atividades todos os dias. Por isso, o sistema sobrecarrega os pais”, afirma Arlete. Ela afirma que est� dedicando cinco horas no acompanhamento dos filhos na casa simples da fam�lia, no Bairro Santa Rita.
Narciso Dur�es, o filho mais velho de Arlete, est� cursando o 9º ano do ensino fundamental na Escola Estadual Gon�alves Chaves, no centro de Montes Claros. “Estou gostando das aulas a dist�ncia. As mat�rias est�o bem aplicadas”, afirma Narciso. Por�m, ele reclama da “falta de contato f�sico”. “A tecnologia nunca vai substituir o professor presencial”, afirma.
O irm�o de Narciso, Jo�o Marcos, que est� no 5º ano na Escola Estadual Francisco S� (tamb�m localizada no centro), concorda: “O celular n�o substitui o professor. Acho que a aula a dist�ncia nunca ser� a mesma coisa da aula na escola”, afirma Jo�o Marcos.
Por outro lado, Jo�o Marcos disse que defende a aula a dist�ncia para a prote��o contra a transmiss�o da COVID-19. “Na minha escola tem salas pequenas. Se continuassem as aulas l� e se algu�m (algum aluno) tivesse o coronavirus iria 'pegar' em todo mundo”, diz o estudante.

Al�m de assistir as aulas pela televis�o (Rede Minas), os dois irm�os recebem os conte�dos pelo aplicativo Whatsapp. Tamb�m recorrem �s apostilas, disponibilizadas pela Secretaria Estadual de Educa��o pela internet.
Outro estudante que teve que se adaptar ao modelo de ensino a dist�ncia por causa da pandemia do coronav�rus � Jo�o Paulo Viana da Silva, de 17 anos, matriculado no 3º ano do ensino m�dio, na Escola Estadual Tiburtino Pena, em Francisco S�, munic�pio de 26 mil habitantes, tamb�m no Norte do estado.
Joao Paulo reclama que com o sistema remoto teve reduzidas as horas de aulas, tendo em vista que est� matriculado na escola em tempo integral. “Antes, eu assistia nove horas por dia de aulas presenciais. Agora, tenho aulas a dist�ncia com professores somente 40 minutos por dia”, assegura o estudante, que recebe os conte�dos por um computador em sua casa.
Ele tamb�m alega que no modelo de aulas n�o presenciais o aprendizado � mais complicado. “Nesse sistema, n�o existe uma intera��o com os professores para esclarecer d�vidas, especialmente na �rea das ci�ncias humanas. Nas mat�rias de ci�ncias exatas, falta por parte dos professores mais explica��es e demonstra��es pr�ticas sobre o conte�do ensinado”, observa o adolescente de Francisco S�.