Ex-presidente da BHTrans defende fim do tr�fego pesado em trecho 'assassino' da BR-356, em BH
Palco de trag�dias recorrentes, local registrou mais um grave acidente nessa quarta (17); especialista prop�e terminal de carga afastado da cidade e apoia municipaliza��o do Anel Rodovi�rio
Importante ponto de acesso � capital mineira, o trecho da MGC-356 compreendido entre fim da Avenida Nossa Senhora do Carmo e o Anel Rodovi�rio fez jus � tr�gica fama de “via assassina” nessa quarta-feira (17). Desgovernada, uma carreta carregada com cerveja bateu em um carro que circulava no sentido contr�rio da rodovia. Com a colis�o, os dois ve�culos despencaram de um barranco de sete metros. Saldo do acidente: um morto (o motorista do autom�vel de passeio) e uma pessoa gravemente ferida (o motorista da carreta).
Palco de in�meras trag�dias semelhantes, o local � tema de debates pol�micos que envolvem as tr�s esferas de governo e a popula��o de BH. Sobretudo pela intensa circula��o de ve�culos de carga na regi�o, que usam o corredor para escoar suprimentos dentro e fora da cidade. Muito pr�ximo do tr�fego urbano da capital, o trecho da MGC-356 em quest�o � avaliado por engenheiros de tr�nsito como inadequado ao deslocamento de caminh�es de grande porte e carretas. Repensar o transporte de cargas na localidade, alertam os especialistas, � a �nica maneira de p�r fim aos sucessivos desastres que, ano ap�s ano, matam e ferem centenas de motoristas e pedestres na Grande BH.
Legisla��o
Com 34 km de extens�o, a MGC-356 � uma rodovia estadual coincidente, ou seja, est� sob gest�o do governo do estado, mas seu tra�ado coincide com a malha rodovi�ria federal - no caso, a BR-356. O trecho marcado pelos acidentes na Grande BH tem aproximadamente 16 km. Consultados, o Departamento de Edifica��es e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) e o Pol�cia Militar Rodovi�ria, que administram intervalo, n�o informaram o volume de carros que circulam periodicamente na faixa, ou mesmo estat�sticas relativas a colis�es e batidas.
Entretanto, n�meros do Anel Rodovi�rio, que se conecta com via na altura do Bairro Olhos D’�gua, na Regi�o do Barreiro, permitem vislumbrar qu�o perigoso � o tr�nsito na regi�o. Com tr�fego di�rio de 160 mil ve�culos, o Anel � l�der do ranking de acidentes em BH h� quase seis anos consecutivos. Segundo levantamento da BHTrans, de 2014 a 2018, mais de 4 mil ocorr�ncias foram registradas na via expressa.
A opera��o de carga e descarga nas ruas e avenidas municipais � regulamentada pela prefeitura desde 2009. A DPR 138, portaria editada pela BHTrans, fixa hor�rios e imp�e restri��es ao fluxo de utilit�rios de grande porte em diversos pontos da cidade . Na Avenida Nossa Senhora do Carmo, por exemplo, os cavalos mec�nicos e carretas est�o proibidos de rodar em qualquer hip�tese. Caminh�es com carga acima de 5,5 toneladas ou comprimento superior a 6,5 metros podem circular em per�odos espec�ficos.
Terminal
Para o consultor em transporte e tr�nsito Osias Baptista, as normas estabelecidas pelo munic�pio n�o conseguem evitar que o fluxo pesado da MGC-356 afete o tr�fego urbano da capital, que acaba permeando a rodovia.
"Embora tenha cara de estrada, esse trecho da MGC-356, especialmente do anel rodovi�rio para baixo, j� � praticamente uma avenida urbana. Em muitos pontos h�, inclusive circula��o de pedestres. Ent�o, o tr�nsito de ve�culos pesados ali precisa ser revisto", pondera o especialista.
"Agora, a carga tem que chegar. Mas � preciso avaliar qual a forma correta. Que seja a mais econ�mica, a mais segura, a mais compat�vel com o sistema vi�rio e a demanda que existe", completa.
Presidente da BHTrans entre 1991 e 1992, ele prop�e a constru��o de um terminal de cargas em uma regi�o mais afastada da cidade, onde grandes utilit�rios possam transferir o carregamento para ve�culos menores, capazes de rodar com mais seguran�a pelas vias urbanas. “Cheguei a participar da elabora��o de um projeto com essa proposta, solicitado pela prefeitura de Nova Lima h� cerca de cinco anos. Mas ele n�o chegou a vingar. A ideia era construir um terminal de cargas na altura do Retiro das Pedras (condom�nio situado h� 14 km do BH Shopping, em Brumadinho)”, conta o especialista.
Osias tamb�m cita medidas de seguran�a como refor�o da sinaliza��o e dos radares na altura do Ponteio Lar Shopping. “Intensificar a fiscaliza��o dos ve�culos nas estradas, de um modo geral, � outra estrat�gia v�lida. Quando o caminh�o est� com a manuten��o regular e o motorista � prudente, ou seja, obedece a velocidade m�xima permitida, n�o costuma perder os freios e provocar acidentes como o de hoje”, argumenta.
Anel Rodovi�rio
O engenheiro de tr�fego apoia proposta de Alexandre Kalil de municipalizar a administra��o Anel Rodovi�rio, atualmente gerida pelo governo federal. Em abril de 2017, o prefeito encaminhou � C�mara dos Vereadores o Projeto de Lei 251/17, que autoriza o Executivo a celebrar conv�nio com a Uni�o para que esta delegue a administra��o do trecho � Belo Horizonte. A PL ainda tramita no legislativo.
Na mesma �poca, Kalil protocolou uma A��o Civil P�blica contra a Uni�o, a Ag�ncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Via 040 – concession�ria respons�vel pela administra��o da BR-040 e de parte do Anel Rodovi�rio. No processo, ele pleiteou que os recursos federais para a manuten��o da via sejam transferidos para a PBH.
A prefeitura chegou a protocolar tamb�m uma representa��o penal contra o superintendente de Minas Gerais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) por delitos como a n�o sinaliza��o de local de perigo, homic�dio e les�o corporal culposa e prevarica��o por deixar que o Anel siga como palco de graves e recorrentes acidentes.
"Defendo essa id�ia da municipaliza��o. � melhor ter no comando do trecho algu�m que a popula��o pode cobrar diretamente - consequentemente, punir na elei��o seguinte, se for o caso - do que um secret�rio de um �rg�o subordinado a um ministro inacess�vel", defende Osias Baptista.
Em dezembro de 2016, o motorista de uma carreta perdeu o controle da dire��o e bateu em 24 ve�culos de passeio que circulavam no sentido Rio de Janeiro/Belo Horizonte. V�rias pessoas ficaram presas �s ferragens. Por sorte, ningu�m morreu.
Tr�s pessoas ficaram feridas - uma em estado grave - em batida envolvendo uma carreta e um caminh�o-ba�. O acidente ocorreu em junho do ano passado. O resgate levou quase duas horas, mobilizando 20 viaturas, 3 ambul�ncias e um helic�ptero.
Em agosto de 2015, um caminh�o perdeu os freios e arrastou nove ve�culos na altura do Bairro Belvedere, Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. Uma pessoa pessoa ficou ferida.