
A padeira Fab�ola Maia de Oliveira e os jovens f�s de K-pop (m�sica pop coreana) ocupam os extremos da linha do tempo que atravessa os �ltimos 100 anos. A idosa de 91 n�o tem ideia do que seja YouTube, enquanto os entusiastas do ritmo oriental, muito provavelmente, nunca tocaram num cilindro de madeira, antigo instrumento utilizado para abrir massas diversas.
O encontro entre as duas gera��es se deu no Twitter, h� pouco mais de uma semana, sem o m�nimo choque. O que ocorreu foi um encaixe inusitado: a vov� virou influenciadora digital, diva das coxinhas, com milhares de seguidores e agenda lotada de encomendas. Os meninos viraram "netos" e tietes de uma senhora carism�tica, que cozinha cantando can��es t�o antigas, que nem o Google consegue identificar.
Primeira padeira de Morro do Pilar, na Regi�o Central de Minas, dona Fab�ola, conhecida como dona Loca, conta que tudo come�ou quando ela veio morar com a filha em Belo Horizonte, em fevereiro deste ano. “Eu vim, mas falei que minha condi��o era n�o ficar parada. Eu tinha que continuar fazendo minhas quitandas”, lembra a idosa.
Os neg�cios andavam um tanto parados, at� que as netas B�rbara e Mariana Maia, de 32 e 21 anos, decidiram dar um “empurr�o” nas vendas. H� cinco dias, B�rbara criou para dona Loca um perfil no Instagram, o Coxinha da Vov� Loca. Mariana, f� de K-pop, o catapultou � fama. “Meu Deus, galera de Belo Horizonte, o que custa voc�s comprarem o p�o e a coxinha da minha av�? Olha a bichinha mais linda de 91 anos sendo empreendedora”, postou a estudante de geografia no Twitter.
O apelo funcionou. Primeiro, relata Mariana, dentro das mobilizadas comunidades do ritmo coreano, com as quais ela interage com mais frequ�ncia. Depois, internet afora: a conta de Dona Loca no Instagram j� re�ne quase 50 mil seguidores. “Muitos n�o t�m o privil�gio de comer uma comidinha de av�, ent�o, para quem mora em BH, est� a� a oportunidade. Eu mesma, como estou longe, n�o tenho”, diz a jovem, que mora em Curitiba (PR). “Garanto que s�o as melhores coxinhas do mundo. Para voc� ter uma ideia, eu n�o gosto de coxinha. Mas a da minha av�, eu como”, completa.
No �ltimo s�bado (20), Dona Loca protagonizou sua primeira live (transmiss�o ao vivo) no Instagram. “Adorei! Recebi muitas mensagens carinhosas. Ganhei muitos netos”, comemora a pensionista, que vai entregar duas mil coxinhas e 20 roscas da rainha at� o fim da semana. “Mas eu dou conta de fazer at� mil coxinhas por dia”, diz a empreendedora. Ela trabalha com o aux�lio da filha e da neta B�rbara, respons�vel por administrar os pedidos. “A gente tem encomendas fechadas para quinze dias. Fizemos uma lista de espera. Mal consigo responder as mensagens que chegam pelo WhatsApp. Ent�o, pe�o que tenham um pouco de paci�ncia”, avisa a fot�grafa. Os salgados s�o vendidos a R$ 100 o cento. As roscas, a R$ 10.
Pioneira

M�e de 14 filhos e av� de 20 netos, dona Fab�ola diz que a produ��o de p�es e salgados a ajudou a sustentar a prole. Os produtos - feitos manualmente, assados no forno � lenha - eram vendidos de porta em porta. “Meus filhos � que vendiam para mim. Todos eles. Levavam no balaio e ofereciam de casa em casa. Toda vida foi assim. Eu abria massa em cilindro de madeira, ningu�m usa isso mais. Depois vieram as padarias, cheias de maquin�rio e eu reduzi bem as vendas. Mas nunca parei de trabalhar”, relembra a idosa, que guarda as receitas na mem�ria. Al�m das coxinhas e da rosca rainha, outra especialidade da cozinheira � o p�o ja�, que ela define como um p�o doce incrementado. “Leva manteiga, ovos, ingredientes de verdade. Tudo o que esses p�es de padaria n�o t�m”, alfineta.
Segundo B�rbara, o sucesso do perfil de dona Loca no Instagram fez com que ela fosse redescoberta por antigos clientes, saudosos de suas del�cias. “Recebemos muitas mensagens de gente do Morro do Pilar, dizendo que passou a inf�ncia comendo os p�es da minha av�. Ela fica muito contente com isso”, comenta.