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Estado de Minas Discrimina��o

Racismo: religi�es de matriz africana relatam ataques durante a pandemia

Reportagem flagrou oferenda destru�da em Portal de Iemanj�, na Lagoa da Pampulha


22/06/2020 15:11 - atualizado 22/06/2020 18:01

Oferenda à Iemanjá, uma forma de renovar a fé nas religiões de matrizes africanas, foi destruída na Orla da Pampulha(foto: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
Oferenda � Iemanj�, uma forma de renovar a f� nas religi�es de matrizes africanas, foi destru�da na Orla da Pampulha (foto: Leandro Couri/EM/DA PRESS)

 

Em momento de constri��o motivada pelo isolamento social por causa da pandemia do novo coronav�rus, cada religi�o manifesta a f� de maneira pr�pria. No entanto, as religi�es de matrizes africanas nem sempre podem usufruir do direito de livre profecia da f�, prevista na Constitui��o Federal de 1988. A reportagem do Estado de Minas flagrou, neste fim de semana, uma oferenda feita � Iemanj�, no portal dedicado ao orix� da fecundidade e da fam�lia, na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, destru�da. 

 

A pr�tica de destruir oferendas devido � persegui��o sofrida pelos praticantes do candombl� ou da umbanda, muitas vezes, passa despercebida. No entanto, constitui ato de ataque � dignidade de quem professa essas religi�es, destaca Makota Kindoiale, lideran�a comunit�ria do Kilombo Manzo, patrim�nio cultural de Minas Gerais.

 

"N�o foi diretamente a mim, mas me constrange ver essas imagens circulando ou vendo essas pr�ticas acontecendo"

Makota Kindoiale

 

 

Makota salienta que, com a chegada da pandemia, houve um aumento no n�mero de atos violentos contra as religi�es de matrizes africanas, inclusive, dificultando o acesso de pessoas praticantes dessas cren�as, que passam por dificuldade financeira devido �s restri��es de emprego e de acesso a cestas b�sicas, por exemplo. 

 

 

As celebrações no Portal de Iemanjá, idealizado pelo artista Jorge dos Anjos, são patrimônio imaterial(foto: Leandro Couri/EM/DA PRESS)
As celebra��es no Portal de Iemanj�, idealizado pelo artista Jorge dos Anjos, s�o patrim�nio imaterial (foto: Leandro Couri/EM/DA PRESS)

 

TR�S PERGUNTAS PARA...
Makota Kindoiale, lideran�a comunit�ria do Kilombo Manzo


Desde o in�cio da pandemia, como voc�s t�m lidado com os atos de intoler�ncia?  

No in�cio da pandemia, entendemos que, al�m da intoler�ncia, s�o atos racistas. O que acontece hoje com as religi�es de matrizes africanas, com os povos tradicionais, s�o pr�ticas de racismo. N�o pode citar como intoler�ncia. Intoler�ncia � quando voc� afasta daquilo que voc� n�o tolera, n�o suporta, mas, quando voc� agride, ataca e provoca destrui��o s�o atos racistas, pr�ticas racistas e ultrapassa qualquer intoler�ncia. No in�cio da quarentena, a gente teve muita dificuldade de se posicionar enquanto pessoas, fam�lias que tamb�m vivem em situa��o prec�ria, sem pol�ticas p�blicas. Para a gente poder acessar essas pol�ticas, infelizmente, tivemos que recorrer aos pentecostais. O fato de termos um modo diferente de rezar nos distanciou, nos exclui de acesso a cestas b�sicas. Precisava dizer de onde era, quem era. Quando voc� via remessa que poderia chegar at� o seu terreiro, eles falavam que n�o poderiam fazer doa��o para n�cleos religiosos. Mas v�amos o material chegando a outros grupos religiosos. A partir da�, passamos a nos mobilizar com pessoas n�o racistas e tolerantes para que consegu�ssemos viver o momento de isolamento e da pandemia.

 

Qual o sentimento ao ver a imagem da oferenda destru�da?

 

Imagem desta, justamente neste lugar, fico meio assustada. � um lugar que j� tem interven��o p�blica. Existe o registro de patrim�nio da imagem de Iemanj� e n�o existe Iemanj� em nenhuma outra religi�o, a n�o ser nas de matrizes africanas. A� eu pergunto: qual a pol�tica de patrim�nio que nos garante usufruir desse espa�o da forma que foi colocado ali ou registrado? Quando a gente registra a pra�a, a imagem de Iemanj� na Lagoa da Pampulha tem que ter a garantia da manifesta��o e das a��es que s�o direitos nossos de usar desse espa�o como patrim�nio, e n�o apenas espa�o para ser fotografado ou para a cidade dizer que cumpre com a legisla��o, que o Estado � laico. Por que eu posso entrar numa igreja acender uma vela de imagens sagradas na igreja crist�? Por que posso ir para igreja pentecostal levar minhas flores? E por que eu n�o posso ir at� a imagem de Iemanj� e colocar um agrado no p� dela, se essa � a minha forma de rezar? Se ela est� ali, no espa�o p�blico, registrada como patrim�nio, qual � o direito que o outro tem de desconstruir isso e agredir a minha f� dessa forma? Quais s�o as medidas p�blicas para o patrim�nio nesta cidade? O que se pensa, para al�m do espa�o, a manuten��o da pr�tica como patrim�nio. Isso tudo tem que ser cobrado do poder p�blico. O munic�pio tem que nos dar uma resposta, uma garantia de manuten��o, direito de usufruir e dar continuidade a este patrim�nio.

 

Como esse ato atinge a dignidade de quem professa a f� nas religi�es de matrizes africanas? 

 

Al�m de ser agredido desta forma, a gente se sente inseguro dentro da cidade. Inseguros de n�o poder carregar nosso alguidar, n�o poder carregar as nossas indument�rias em nosso corpo. O tempo todo corremos o risco de sermos agredidos, da mesma forma que agridem nossas pr�ticas, espa�os que s�o preservados e registrados como espa�os de patrim�nio da cidade. N�o � s� o Portal de Iemanj�, na Pra�a dos Pretos Velhos temos sofrido essas agress�es morais. Para mim, � uma agress�o moral. N�o foi diretamente a mim, mas me constrange ver essas imagens circulando ou vendo essas pr�ticas acontecendo. 

 


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