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Estado de Minas COVID-19

Mototaxistas: por que para eles correr risco virou quest�o de sobreviv�ncia?

Informais sofrem com perigo pr�prio da atividade, amea�a aumentada de cont�gio pelo coronav�rus e fuga de passageiros, mas seguem nas ruas para tentar se sustentar


23/07/2020 06:00 - atualizado 23/07/2020 09:21

Danilo Brito espera passageiros diante do hospital que é referência para atendimento em COVID-19 e acha que corre mais risco que os trabalhadores da saúde(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Danilo Brito espera passageiros diante do hospital que � refer�ncia para atendimento em COVID-19 e acha que corre mais risco que os trabalhadores da sa�de (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)


Uma legi�o de transportadores, de tamanho ignorado, mas que re�ne milhares de pessoas, est� entre as que sentem mais pesadamente os efeitos da pandemia do novo coronav�rus. Sobre duas rodas, mototaxistas enfrentam a dura realidade de se equilibrar entre dois riscos: o inerente � profiss�o, que se expandiu sem regulamenta��o, e o de se manter trabalhando, em contato pr�ximo com passageiros, para garantir o sustento de suas fam�lias. E ainda s�o gratos quando t�m quem transportar, j� que o isolamento social, que desacelerou toda a economia, deu tamb�m uma freada brusca no n�mero de clientes dos motociclistas.

Na quarta reportagem da s�rie sobre os riscos do setor de transportes durante a pandemia, o Estado de Minas revela as dificuldades que enfrenta a categoria, uma das mais vulner�veis financeiramente, que muitas vezes v� no servi�o arriscado uma �ltima alternativa ao desemprego. S�o trabalhadores que tamb�m t�m entre seu p�blico milhares de pessoas de baixa renda, que enfrentam o meio menos seguro, mas de custo mais baixo do que o transporte tradicional – mesmo o alternativo.

Mas, com o isolamento social e a retra��o na economia, muitas dessas pessoas tamb�m perderam o emprego ou entraram em regime de trabalho dom�stico, deixando de usar o transporte. Os mototaxistas ainda perderam de uma hora para outra a clientela dos estudantes, j� que as  universidades e escolas de ensino fundamental e m�dio suspenderam as aulas presenciais.

Como o setor opera pr�ximo da informalidade total, faltam pesquisas oficiais sobre os impactos que sofre diante da crise na sa�de. Mas trabalhadores que enfrentam a arriscada rotina sobre suas rodas falam em queda de 50% a 60% no n�mero de passageiros que recorrem ao servi�o, presente sobretudo em cidades do Norte e Nordeste de Minas.

Paradoxo


Geraldo Gonçalves Silva tem 62 anos e é hipertenso. No grupo de risco, decidiu parar de transportar passageiros, mas viu a crise chegar à despensa(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Geraldo Gon�alves Silva tem 62 anos e � hipertenso. No grupo de risco, decidiu parar de transportar passageiros, mas viu a crise chegar � despensa (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Em Montes Claros, cidade polo de 409,34 mil habitantes na Regi�o Norte, a falta de emprego formal empurrou para trabalhar no transporte alternativo milhares de pessoas. N�o h� n�meros oficiais, mas hoje seriam mais de 10 mil, segundo os pr�prios mototaxistas e donos de ponto da presta��o do servi�o.

Continuar em um trabalho no qual a proximidade entre transportador e passageiro aumenta a possibilidade de transmiss�o do v�rus � para eles – paradoxalmente – quest�o de sobreviv�ncia. � o que relata Danilo Soares Brito, de 30 anos, h� cinco tentando sobreviver como mototaxista em  Montes Claros, desde que perdeu o emprego formal.

“A gente n�o tem outra sa�da. Precisamos alimentar nossos filhos. Se a crian�a chora, querendo o leite ou um biscoito, temos de ter pelo menos dinheiro para o b�sico. A� somos obrigados a trabalhar desta forma”, afirma Danilo, casado e pai de duas crian�as, de 7 e 3 anos.

Em tempos de pandemia, seu ponto n�o poderia ser mais exposto. Ele espera clientes em frente ao Hospital Universit�rio Clemente de Faria, refer�ncia para atendimento de casos da COVID-19 na cidade. Conta que faz tudo para se proteger e “n�o dar carona para o corona”, mas diz estar ciente da amea�a. “Acho que nosso risco � at� maior do que as pessoas que trabalham no hospital. L�, os funcion�rios t�m os equipamentos de prote��o. N�s n�o temos mais nada, a n�o ser o �lcool em gel e a m�scara”, compara.

Para diminuir os riscos, inclusive de levar o v�rus para casa, ele reduziu o hor�rio de trabalho: de oito para quatro horas. Tamb�m exige do passageiro o uso de m�scaras, mas tem a sensa��o de que n�o � o bastante. O que ganha, da mesma forma, � insuficiente. “Minha renda caiu uns 60%. Antes, eu faturava de R$ 60 a R$ 70, diariamente. Agora, ganho de R$ 25 a R$ 30 em um dia”, contabiliza. O pre�o da corrida de motot�xi em Montes Claros gira em torno de R$ 7 a R$ 8.

Danilo acredita que, mesmo com todos os cuidados, a grande maioria das pessoas ser� contaminada pela COVID-19. “Acho que todo mundo vai ter que passar por isso um dia, cedo ou tarde”, opina. Se a impress�o estiver certa, pior para pessoas como o colega Geraldo Gon�alves Silva, h� 18 como mototaxista. No grupo de risco, com 62 anos e hipertenso, ele decidiu parar de transportar passageiros desde o in�cio da pandemia, em mar�o.

Mas, dedicando-se somente � entrega de encomendas, viu a renda cair 50%. Conta que a situa��o piorou tanto que passou a passar necessidade. “A gente n�o come  mais aquilo que comia antes. Tive que cortar, por exemplo, carne e verduras”, admite Geraldo. Mesmo tendo recorrido ao auxilio emergencial de R$ 600 do governo federal, ele diz que o valor n�o est� sendo suficiente para cobrir as despesas.

“Ainda bem que l� em casa somos s� eu, a mulher e a Branquinha (uma cadelinha). Se n�o fosse assim, seria pior”, afirma o mototaxista, pensando nos quatro filhos, que est�o casados e j� n�o vivem com os pais. Para apertar ainda mais o or�amento, o morador do Bairro Nova Morada, em uma �rea carente de Montes Claros, conta que tem que contornar os gastos com medicamentos.

Assim como ele, outro motociclista do grupo de risco que n�o tem a op��o de ficar em casa para se proteger � Valdeir Soares dos Santos, de 60 anos, 21 deles no servi�o alternativo de transporte. “Assim que surgiu o coronav�rus, fiquei 41 dias isolado. Depois, voltei a trabalhar, usando m�scara e �lcool em gel. N�o tem jeito, a gente precisa sobreviver”, justifica.

Entregas ajudam a reduzir preju�zos


Menos empregos, menos dinheiro circulando, com�rcio e escolas fechados, mais medo. O servi�o de motot�xi em cidades como Montes Claros enfrenta uma conjun��o de fatores que s� n�o � pior porque o aumento na demanda por entregas durante a pandemia compensou um pouco a fuga de passageiros.

Gerente de um ponto de motot�xi na cidade, Andr� Luiz Ata�de acredita que o setor teve queda de 50% com a crise do coronav�rus. E que o tombo s� n�o foi pior porque os passageiros que ficaram em casa passaram a fazer mais pedidos de motofrete, em consequ�ncia do isolamento social. “Acredito que hoje temos uma demanda 50% de entregas e outros 50% de passageiros. Antes, o transporte de pessoas era muito maior”, descreve.

Mas, se o motofrete evita o contato mais pr�ximo com os passageiros, as visitas a v�rias casas e a manipula��o do dinheiro mant�m a preocupa��o em alta. O mototaxista Ederson Soares Silva, de 46, h� dois na atividade informal, garante que adota todos os cuidados que pode. “Sempre uso a m�scara e uso em �lcool em gel. Toda hora que pego em dinheiro, higienizo as m�os. Tamb�m evito tocar o rosto”, assegura.

Sem sa�da


Renata Cristina Ramos da Silva, de 35, se cerca de cuidados, mas acredita que quase todos vão se contaminar(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Renata Cristina Ramos da Silva, de 35, se cerca de cuidados, mas acredita que quase todos v�o se contaminar (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Apesar dos cuidados, h� quem acredite ser dif�cil escapar da doen�a. � o que pensa Renata Cristina Ramos da Silva, de 35, que h� dois anos trabalha no transporte de passageiros com sua moto, e tamb�m sofreu a queda no faturamento depois que as corridas encolheram em ao menos um ter�o.

A mototaxista diz que adota as medidas preventivas contra a COVID-19, exigindo tamb�m cuidados dos passageiros, como o uso de m�scara. Mas cr� que quase todas as pessoas ser�o contaminadas pelo coronav�rus. “Vai ser uma gripe, n�o no sentido do que o (presidente) Bolsonaro falou. Mas, no sentido de que v�rias pessoas v�o se contaminar. Umas v�o morrer, outras, n�o”, avalia.


Sem controle



Embora tenha crescido exponencialmente ao longo das �ltimas duas d�cadas em todo o pa�s, acelerado pelo avan�o do desemprego, o servi�o de motot�xi segue no escuro em rela��o ao universo de pessoas que atuam na atividade. Uma das dificuldades para esse controle est� exatamente na informalidade do setor. Procurado sobre o assunto, o  Minist�rio da Infraestrutura, ao qual � vinculado o Departamento Nacional de Tr�nsito (Denatran), informou que o �rg�o n�o disp�e de dados sobre o ramo, e que a responsabilidade pelo assunto � exclusiva dos �rg�os concedentes em estados e munic�pios.

Freio na ind�stria de motocicletas


A produ��o de motocicletas no Brasil foi severamente afetada pela crise provocada pelo novo coronav�rus. O setor praticamente parou em abril, quando registrou produ��o de apenas 1.479 unidades, queda de 98,4% em rela��o ao mesmo m�s de 2019 (91.226 unidades) e redu��o de 98,6% na compara��o com mar�o de 2020 (102.865 unidades).

Os dados s�o da Associa��o  Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). De acordo com a entidade, nos meses subsequentes houve rea��o, mas o impacto da pandemia ainda � expressivo: no primeiro semestre deste ano foram fabricadas 392.217 motocicletas no Brasil, redu��o de 27% na compara��o com o mesmo per�odo de 2019 (537.105 unidades).

A rea��o do segmento come�ou em maio, quando foi registrada produ��o de 14.609 de motocicletas no Polo Industrial de Manaus. Esse volume representou alta de 887,8% em rela��o a abril (1.479 unidades), m�s em que a produ��o ficou praticamente paralisada, com 70% das f�bricas na regi�o sem atividade.

Ainda conforme a Abraciclo, em junho foram produzidas pela ind�stria nacional 78.130 motocicletas, crescimento de 427,6% em rela��o a maio. A recupera��o fez com que junho apresentasse tamb�m alta de 14,7% na compara��o com a produ��o do mesmo m�s do ano passado (68.121 unidades).

“Esses n�meros mostram que o setor registra uma retomada consistente. Logo no in�cio da pandemia, Manaus foi uma das cidades mais atingidas pela COVID-19 e agora, com o retorno gradativo da produ��o, o segmento de motocicletas apresenta uma tend�ncia de recupera��o, cuja evolu��o depender� ainda da normaliza��o das opera��es de varejo”, avalia o presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian. 


O que � o coronav�rus


Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 � transmitida? 

A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?


Como se prevenir?

A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�

Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam:

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus. 

V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.

Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia

Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:

 



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