
� primeira vista, aos olhos leigos, parece uma pe�a esculpida por algum dos artistas que fizeram o esplendor do Barroco mineiro. Mas, quando examinada pelos especialistas, a hist�ria n�o � t�o fiel assim. E pode confundir, tipo "gato por lebre". No leil�o programado para a noite de ontem, no Rio de Janeiro (RJ), com lances apenas on-line devido � pandemia do novo coronav�rus, um dos destaques estava, conforme o material de divulga��o, na "imponente escultura barroca de um menino, em madeira policromada, s�culo 18, altura de 105cm". Valor: R$ 42 mil.
No entanto, ao analisar as fotos do objeto, a equipe de restauradores da superintend�ncia em Minas do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) notou tra�os grosseiros e enxergou muito mais uma c�pia do que um original, embora sejam necess�rias an�lises, com exames t�cnicos e cient�ficos. Se a manga da veste � quadrada – "evid�ncia de algo malfeito"–, a sand�lia tem cano de bota, a p�tina (envelhecimento) � nova e a talha n�o tem movimento. Segundo os organizadores do leil�o (o rep�rter n�o se identificou como jornalista, mas como um interessado em arte), n�o h� um laudo detalhado a respeito da escultura, sendo a avali��o pr�pria dos donos do antiqu�rio. Dessa forma, tudo transcorre numa rela��o de "confian�a" entre o comerciante e o comprador.
A situa��o ocorre 17 anos ap�s a grande campanha deflagrada em Minas para valoriza��o do patrim�nio cultural, notadamente a fim de impedir furtos de igrejas, capelas, museus, pr�dios p�blicos e outra locais. Por coincid�ncia, tudo come�ou num leil�o no Rio – naquela �poca, 2003, foram resgatados os tr�s anjos do Santu�rio Arquidiocesano de Santa Luzia, na Grande BH, por meio de a��o ajuizada pela Associa��o Cultural local e cumprida pelo Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha). Se desta vez n�o se torna necess�rio retirar a pe�a do preg�o, fica evidente a necessidade de manter viva a campanha, acredita a superintendente do Iphan, D�bora do Nascimento Fran�a. Al�m da fiscaliza��o no com�rcio, para impedir o tr�fico de pe�as sacras sem documenta��o, D�bora destaca a import�ncia do corpo t�cnico. "Com restauradores capacitados, podemos verificar se h� adultera��o de obras e ter maior controle", afirma.
Minas procura
Conforme o �ltimo levantamento do Minist�rio P�blico de Minas Gerais, por meio da Coordenadoria das Promotorias de Justi�a do Patrim�nio Cultural e Tur�stico de Minas Gerais (CPPC), que tem como titular a promotora de Justi�a Giselle Ribeiro de Oliveira, h�, do patrim�nio mineiro, 742 pe�as desaparecidas e 539 judicializadas. Em 17 anos da campanha, foram apreendidas 419, incluindo imagens, casti�ais, sinos, partes de altares e outros bens.
Na lista, que cont�m objetos desaparecidos desde 1848, h� muitas pe�as atribu�das a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), o “mestre do barroco”. As apreens�es se tornaram fruto de apreens�es do MPMG, pol�cias Federal, Militar e Civil ou entregues espontaneamente. O objetivo do MP � devolver as pe�as aos locais de origem, por serem objetos de devo��o das comunidades e patrim�nio cultural das cidades.
Hist�ria e f�
Quem chega ao Santu�rio Arquidiocesano de Santa Luzia, que adota um esquema especial para missas presenciais nesse tempo de pandemia, pode ver dois anjos ladeando a tarja do arco-cruzeiro e outro, o do sepulcro, no coroamento do altar de Nosso Senhor dos Passos – � bom ressaltar que essas pe�as teriam sido vendidas, e n�o roubadas. Para especialistas, a hist�ria da preserva��o do patrim�nio cultural de Minas tem um divisor de �guas caudaloso: a mobiliza��o em Santa Luzia, na Grande BH, se propagou em todo o estado e as comunidades passaram a lutar pela volta de obras de arte e de pe�as sacras desaparecidas, ao longo do tempo, de igrejas, capelas, museus e pr�dios p�blicos.
Foi um grito contra o furto de pe�as sacras e outras obras de arte que movimentam o com�rcio clandestino. De acordo com a Interpol, s� � superado, no mundo, pelo de drogas e armas. De forma pioneira, Minas passou a ter uma pol�tica espec�fica para a preserva��o do acervo hist�rico, algo in�dito no pa�s, contando com a participa��o de institui��es p�blicas e privadas. Outro setor que ganhou for�a foi o de educa��o patrimonial, disseminado de forma ampla na capital e no interior e com resultados positivos entre os jovens, disse ao EM o promotor de Justi�a da comarca de Santa Luzia, Marcos Paulo de Souza Miranda. Na �poca, come�aram a trabalhar de forma integrada as secretarias estaduais da Cultura e da Defesa Social, Iepha, Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), pol�cias Federal, Militar e Civil, minist�rios p�blicos Federal (MPF) e de Minas Gerais (MPMG), Igreja, Associa��o das Cidades Hist�ricas e outros.
Em mat�rias di�rias, a equipe de jornalistas do EM denunciou a dilapida��o dos templos barrocos, divulgando, igualmente, a��es positivas, do poder p�blico ou da comunidade, para garantir a integridades dos tesouros mineiros. Numa iniciativa do MPMG, foi criado um servi�o de intelig�ncia, com banco de dados, para localizar e identificar pe�as sumidas, enquanto a Interpol faz um rastreamento internacional.
Fa�a contato
Qualquer informa��o sobre as pe�as desaparecidas deve ser comunicada aos �rg�os competentes. Veja como acion�-los
Minist�rio P�blico de Minas Gerais, via Coordenadora das Promotorias de Justi�a de
Defesa do Patrim�nio Cultural e Tur�stico (CPPC): pelo telefone (31) 3250-4620, pelo e-mail [email protected] ou carta para Rua Timbiras, 2.941, Bairro Barro Preto, Belo Horizonte, CEP 30.140-062
Iphan: pelos telefones (31) 3222-2440 / (61) 2024-6342 / (61) 2024-6355 / (61) 2024-6370 ou pelos e-mails [email protected], [email protected] e [email protected]
Iepha: pelos telefones (31) 3235-2812 e (31) 3235-2813 ou pelo e-mail www.iepha.mg.gov.br