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Estado de Minas O MAIS ALTO DE BH

Isolados nas torres: a vida no condom�nio JK durante a pandemia

Com 34 andares e 5 mil moradores, conjunto no Centro-Sul da capital adota desinfec��es e medi��o de temperatura para barrar o coronav�rus


02/08/2020 04:00 - atualizado 02/08/2020 09:58

Assim que as medidas de isolamento social foram anunciadas, o administrador de empresas Sérgio Hirle tomou todas as precauções para se proteger e a sua mãe. Ambos são considerados do grupo de risco(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Assim que as medidas de isolamento social foram anunciadas, o administrador de empresas S�rgio Hirle tomou todas as precau��es para se proteger e a sua m�e. Ambos s�o considerados do grupo de risco (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

A decreta��o da quarentena do coronav�rus pela prefeitura de Belo Horizonte, em 20 de mar�o, atingiu em cheio os 5 mil moradores do Condom�nio Kubitschek, mais conhecido como JK, na Regi�o Centro-Sul da capital. Com popula��o superior �s de 223 dos munic�pios mineiros, segundo proje��es do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) referentes a 2019, o condom�nio adotou medidas para isolamento imediatas, tanto por parte da administra��o quanto individualmente.

 

Grande parte das pessoas que habitam os 1.083 apartamentos nas duas torres, uma de 34 andares, na Pra�a Raul Soares, e outra de 22, na Rua dos Timbiras, no Bairro de Lourdes, recebeu com precau��o e apreens�o a not�cia da pandemia. O desconhecimento em torno do que estava por vir e as primeiras not�cias sobre o grupo mais vulner�vel ao quadro mais grave e letalidade da doen�a assustaram. Boa parte dos moradores do JK est� no grupo de risco. � significativa a popula��o de idosos, muitos sozinhos e sem assist�ncia de parentes.

 

Enquanto a cidade parava, medidas preventivas foram tomadas. A administra��o instalou de imediato pias com sab�o e papel toalha nos acessos aos dois pr�dios. Exigiu o uso de m�scaras para funcion�rios, moradores e visitantes. Recomendou o isolamento e evitar circula��o em �reas comuns. Progressivamente, outras medidas foram tomadas: permiss�o de lota��o m�xima de tr�s pessoas por viagem em cada um dos 17 elevadores que atendem �s duas edifica��es; a desinfec��o de �reas comuns tr�s vezes ao dia; tapetes para higieniza��o dos p�s nas portarias; limita��o de acesso aos apartamentos dos servi�os de entrega e medi��o de temperatura de moradores e visitantes. Com a quarentena, a presen�a de entregadores de delivery aumentou significativamente.

 

Morador do bloco A, na Rua dos Timbiras, desde 1982, o administrador de empresas S�rgio Hirle de Souza, de 62 anos, conta que tomou todas as medidas cab�veis para proteger a m�e, Zilda Hirle de Souza, de 87, portadora do Mal de Alzheimer e cadeirante. Ex-presidente do Conselho Distrital de Sa�de Centro-Sul, o morador  contou que ao receber a not�cia procurou isolamento, evitando o m�ximo poss�vel qualquer contato externo, saindo apenas para o extremamente necess�rio. Os passeios di�rios foram suspensos. Pelo tempo de moradia na Regi�o do Bairro de Lourdes, tem muitos conhecidos e "seria inevit�vel o encontro de pessoas amigas, algumas n�o muito conscientes sobre contatos durante uma pandemia", explica.

 

Ele avalia que alguns procedimentos poderiam ser mais rigorosos. "As obras de troca das esquadrias met�licas da fachada, que j� duram algumas d�cadas, continuam. Muitos propriet�rios de im�veis, aproveitando o momento de desaquecimento do mercado de alugu�is e vendas, resolveram reformar suas unidades”, diz. S�rgio defende que essas a��es fossem suspensas durante o isolamento. "Somente no meu andar s�o oito idosos que moram sozinhos. Convivemos com barulho, poeira e circula��o de oper�rios e entregadores de materiais. Al�m do mais, o barulho gera transtornos a quem precisa trabalhar no sistema home office."

 

Corretor de Imov�is, Luiz Silva Dias, de 55, � morador do bloco B desde 2003. Conta que viver no condom�nio � motivo de orgulho e considera uma de suas "melhores escolhas". N�o se lembra de quantos apartamentos negociou nos dois pr�dios em sua carreira. "Em rela��o � COVID-19, a administra��o, dentro do poss�vel, tomou as devidas medidas. Sabemos que no JK moram muitas pessoas com idade avan�ada e eu, na medida que posso, tento ofercer ajudaa a esses vizinhos, como fazer uma compras, algum servi�o banc�rio, evitando que saiam �s ruas".

 

Alguns moradores criaram um grupo de WhatsApp para atender voluntariamente as necessidades dos idosos e outros vizinhos classificados como grupo de risco para a forma grave da doen�a. Eles compram medicamentos, alimentos, entregam correspond�ncias e prestam ajuda solid�ria. O corretor tamb�m mudou sua forma de atendimento aos clientes interessados em unidades no condom�nio. Quando o im�vel est� ocupado e o morador n�o se importa em receber o visitante, "usamos pantufas descart�veis, m�scara e �lcool em gel, e tento fazer uma visita bem r�pida, sem muita conversa."

 

Servi�o de sa�de

De acordo com a Secretaria de Sa�de de Belo Horizonte, em torno de 400 moradores do condom�nio s�o inscritos junto a uma equipe da Estrat�gia Sa�de da Fam�lia (ESF) do Centro de Sa�de Oswaldo Cruz, no Barro Preto. Entretanto, esclarece a secretaria, todos os moradores t�m acesso aos servi�os oferecidos na unidade e podem se cadastrar para se vincularem a uma ESF. Nesse per�odo de pandemia, a ESF manteve as visitas domiciliares no condom�nio. "No caso de pacientes mais vulner�veis, o acompanhamento da equipe contempla tamb�m servi�os domicialiares de entrega de medicamentos e receitas, e ainda coleta para exames", informa.
De sua janela, Julieta Boedo constata redução no isolamento em BH (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
De sua janela, Julieta Boedo constata redu��o no isolamento em BH (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 
 

Observat�rio do confinamento

 
Nascida na capital argentina, Buenos Aires, a tradutora Julieta Sueldo Boedo, de 48, mudou-se para Belo Horizonte h� 20 anos e em 2015 foi morar no bloco B, na Pra�a Raul Soares, endere�o que considera  "o melhor lugar de BH”. Foi com um “susto” que ela se deparou, no in�cio da pandemia, com n�meros cartazes em corredores, elevadores, chamando a aten��o para medidas preventivas. Mas ela se diz "impressionada" com a higiene do pr�dio. "O pessoal passa pano e lava as escadas e �reas comuns desse pr�dio enorme constantemente, e as demais medidas me parecem bem adequadas."

Do alto de seu apartamento, em um dos andares mais elevados da torre de 34 pavimentos e 1.086 unidades habitacionais, Julieta disse observar bem o movimento da cidade desde o in�cio do isolamento social: "Nos primeiros meses, mar�o e abril, a cidade ficou quase deserta mesmo. Agora o movimento de carros � bem intenso, bem como a circula��o de pessoas. Vejo que a maioria das lojas est� aberta, com atendimento restrito, mas funcionando."

Sua casa � um apartamento duplex, um dos mais cobi�ados entre os 13 tipos de unidades boladas pelo arquiteto Oscar Niemeyer, com vista de quase 360º por toda a cidade. Esse tipo de unidade tem a sala com vista para as serras do Curral, Piedade e do Cip�. E pela janela do quarto, no segundo n�vel, uma ampla vis�o das regi�es Norte, Nordeste, Pampulha, Oeste e Noroeste da capital.

“Adoro a diversidade das pessoas que aqui moram, mas tamb�m a incr�vel privacidade que a estrutura do pr�dio e dos apartamentos nos permite ter. A beleza das formas, muitas em diagonal, das paredes, dentro e fora do apartamento. E claro, nosso bel�ssimo horizonte que posso apreciar daqui das alturas", diz, para em seguida assinalar que as regras do condom�nio poderiam ser mais flex�veis. "Fico incomodada com algumas regras , como n�o poder hospedar um familiar ou amigo por mais de tr�s dias. Isso na nossa pr�pria casa. Tamb�m s�o tantas �reas ociosas no condom�nio que poderiam ser mais bem aproveitadas."

Outra reclama��o � a ordem para a portaria n�o receber objetos, documentos ou correspond�ncias pessoais, a n�o ser as dos Correios e �rg�os oficiais e contas. "Se um amigo ou empresa quiser deixar um envelope na portaria eles n�o recebem e a pessoa precisa subir. Poder�amos tamb�m ter a��es de mais intera��o com nossos vizinhos, principalmente os idosos, para ver se precisam de alguma coisa”, defende.

Nos primeiros dias de isolamento, uma moradora teve a iniciativa de promover um "momento musical". Com o consentimento de vizinho, ela colocou a caixa de som na porta de sua casa, em baixo volume, no hor�rio combinado. Por�m foi "advertida" pela administra��o por "inc�modo".

A administra��o do condom�nio JK n�o respondeu � solicita��o de informa��es e posicionamento � reportagem do Estado de Minas. (EG)
 

Palco para manifesta��es 

 
Com o isolamento social imposto pela pandemia do novo coronav�rus, o bloco B do edif�cio JK, localizado na Pra�a Raul Soares, entre a rua Guajajaras, e avenidas Oleg�rio Maciel e Amazonas, transformou-se em palco para proje��es das mais diversas naturezas. As manifeta��es ganham visibilidade em seu pared�o de 34 andares em localiza��o privilegiada da cidade. J� houve convoca��es pol�ticas, divulgal��o de informa��es de utilidade p�blica com recomenda��es das autoridades sanit�rias, proje��es culturais e manifesta��es de carinho familiar.

Foi assim com Auta Silveira Minchilo, nascida em S�o Pedro da Uni�o, Sul de Minas Gerais, e que mudou-se para Belo Horizonte em agosto de 1976. Em 13 de abril, ela chegou aos 84 anos e completaria tamb�m bodas de diamante, caso o marido estivesse vivo. Como Auta � portadora do Mal de Alzhemier, e em plena pandemina, a t�o esperada festa junto � fam�lia n�o p�de acontecer.

Dona Auta mora com um filho, a nora e um neto, respons�veis por seus cuidados, al�m de uma profissional cuidadora. Mas os seis filhos, 15 netos e tr�s bisnetas resolveram prestar uma "homenagem a dist�ncia". Ela conta que enviou a mensagem in box, via Instagram, ao movimento "Viva JK" (respons�vel pelas proje��es), que foi escolhida entre v�rias outras. "Parab�ns mam�e Auta, te amamos muito, infinito e al�m. Em breve nos abra�aremos, um beijo" , dizia o texto. 

 


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