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Estado de Minas

Epidemiologista avalia desenvolvimento de vacinas contra o coronav�rus

Especialista comenta an�ncio de imunizante russo, a esperan�a com outras f�rmulas, a fase de cada uma e revela: Minas j� estuda plano para vacina��o


17/08/2020 06:00 - atualizado 17/08/2020 07:56

Laboratório da Fiocruz conduz pesquisas para vacina contra a COVID-19. No mundo há cerca de 165 estudos em busca da prevenção contra a doença (foto: Fiocruz/Divulgação - 2/6/20)
Laborat�rio da Fiocruz conduz pesquisas para vacina contra a COVID-19. No mundo h� cerca de 165 estudos em busca da preven��o contra a doen�a (foto: Fiocruz/Divulga��o - 2/6/20)


Com os olhos de todo o planeta voltados para laborat�rios, � espera da confirma��o da descoberta de uma vacina eficaz contra o novo coronav�rus, o presidente da R�ssia, Vladimir Putin, surpreendeu o mundo na semana passada ao declarar que seu pa�s foi o primeiro a registrar um imunizante e declar�-lo pronto para uso. Um an�ncio que foi recebido com reservas por especialistas, como o epidemiologista Jos� Geraldo Leite Ribeiro, considerado umas refer�ncias nacionais em epidemiologia e vacina��o e professor da Faculdade de Sa�de e Ecologia Humana (Faseh). Em entrevista ao Estado de Minas, o m�dico considera arriscado aplicar a subst�ncia a toda a popula��o, sem que as fases de testes estejam esgotadas, e faz uma an�lise das pesquisas e perspectivas na �rea.

Em todo planeta, cientistas respondem pela elabora��o de cerca de 165 vacinas contra o coronav�rus. Dessas, 31 est�o na etapa de testes em humanos. Alguns estudos sugerem conclus�o para o ano que vem. At� que chegue � popula��o, � necess�rio que o imunizante passe por etapas de testes.
 
Resumidamente, na etapa de testes pr�-cl�nicos, a vacina � administrada a animais, como camundongos ou macacos, a fim de verificar se produz uma resposta imunol�gica. Na fase 1, a f�rmula � testada em poucas pessoas, para verificar se � segura. Na fase 2, al�m do teste de seguran�a, � feito um ajuste de n�mero de doses, para avaliar a melhor op��o. Na etapa 3 � quando a subst�ncia � realmente aplicada a um grande grupo de pessoas, e outro grupo recebe um placebo, a t�tulo de controle.
 
Na R�ssia, o instituto de pesquisa Gamaleya, parte do Minist�rio da Sa�de, lan�ou um ensaio de fase 1, de uma vacina chamada Gam-Covid-Vac Lyo. O presidente da C�mara Alta do Parlamento da R�ssia anunciou que o pa�s poderia iniciar a produ��o de vacinas at� o fim do ano. Depois, Vladimir Putin divulgou a aprova��o da vacina antes do in�cio da fase 3.

“Para a vacina russa, falta ainda a fase 3. A sensa��o � de que o que governo da R�ssia est� chamando de vacina��o em massa provavelmente � o princ�pio dessa etapa, quando a vacina ser� avaliada quanto � real seguran�a e efic�cia. Sem essa fase conclu�da, seria muito arriscado usar a vacina na popula��o como um todo”, avalia o professor Jos� Geraldo Leite Ribeiro.
 
O especialista detalha as vacinas que mais interessam ao Brasil. A que est� em desenvolvimento pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, prev� conv�nio com a Funda��o Oswaldo Cruz (FioCruz) para produ��o e fornecimento futuro para o pa�s. Essa f�rmula ser� comercializada pela farmac�utica AstraZeneca e Bio-Manguinhos (bra�o da FioCruz voltado para tecnologia em imunobiol�gicos).
 
(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
“Ela usa um adenov�rus de chimpanz� como vetor dos ant�genos para o coronav�rus. Se mostrou bastante esperan�osa nas fases 1 e 2. � uma vacina inativada, ent�o, provavelmente, poder� ser utilizada em pacientes com comorbidades (doen�as associadas), mas precisamos aguardar a fase 3”, alerta o epidemiologista. Neste caso, h� d�vida se a vacina seria aplicada em dose �nica ou em duas doses.
 
A vacina em an�lise pela Sinovac Biotech, empresa biofarmac�utica chinesa, tamb�m prev� conv�nio com o Instituto Butantan, centro de pesquisa biol�gica de S�o Paulo, para recebimento, condu��o da fase 3 e futura fabrica��o. “Esta � uma vacina de v�rus inativado, com adjuvantes (subst�ncias qu�micas para aumentar a imunogenicidade). Bastante cl�ssica. Algumas vacinas semelhantes, de rotina, j� foram utilizadas. Tamb�m se mostrou promissora nas fases 1 e 2, mas � preciso concluir a fase 3”, pontua o especialista. A ideia � que seja ministrada em duas doses, com intervalo de 15 dias entre elas.
 
Outra subst�ncia que tamb�m passar� pela fase 3 no Brasil � a desenvolvida pela uni�o da BioNTech, empresa alem� de biotecnologia, a farmac�utica multinacional Pfizer e a Fosun Pharma, farmac�utica da China.


Efic�cia monitorada



Segundo a ag�ncia reguladora em sa�de norte-americana, a Food and Drug Administration (FDA), uma vacina precisaria proteger pelo menos 50% dos indiv�duos vacinados para s� ent�o ser considerada eficiente. Os estudos de fase 3 s�o amplos o suficiente para revelar evid�ncias de efeitos colaterais relativamente raros que podem ter passado despercebidos em estudos anteriores. Outra alternativa para acelerar o desenvolvimento da vacina � combinar as fases. Algumas est�o agora em testes associados de fases 1e 2, por exemplo, nos quais s�o testadas pela primeira vez em centenas de pessoas.
 
Finalmente, as ag�ncias reguladoras em cada pa�s revisam os resultados dos ensaios e decidem se aprovam ou n�o a vacina. Durante uma pandemia, uma vacina pode receber autoriza��o de uso de emerg�ncia antes de obter a aprova��o formal. Depois que uma vacina � licenciada, os pesquisadores continuam monitorando as pessoas que a recebem e verificando o tempo de prote��o. Entre as vacinas em elabora��o no mundo, 135 est�o na fase pr�-cl�nica, 20 na fase 1, 11 na fase 2, oito na fase 3 e duas aprovadas para uso emergencial e limitado.
 
“As vacinas contra o SARS-CoV-2 (novo coronav�rus) tiveram como ponto de partida outras j� desenvolvidas contra a s�ndrome respirat�ria do M�dio Oriente (MERS), uma doen�a diferente causada por outro tipo de coronav�rus, e h� uma acelera��o nesse sentido. As fases 3, em andamento em algumas pesquisas, s�o importantes para dizer sobre seguran�a e efic�cia das subst�ncias. As ag�ncias que, ao fim, liberar�o essas vacinas, devem ter completa liberdade para avaliar todos os estudos, sem interfer�ncias econ�micas e pol�ticas”, afirma o epidemiologista. Para ele, a FDA, nos Estados Unidos, e a brasileira Anvisa, s�o ag�ncias confi�veis nesse sentido.


Sa�de se prepara para aplica��o em massa



A Secretaria de Estado da Sa�de de Minas Gerais j� disp�e de um plano de conting�ncia preliminar para discutir todas as necessidades operacionais para a aplica��o de uma vacina contra o novo coronav�rus, quando ela estiver dispon�vel, e para a vigil�ncia epidemiol�gica dos eventos adversos resultantes, informa o epidemiologista Jos� Geraldo Leite Ribeiro. “O mais prov�vel � que, caso alguma f�rmula seja licenciada ainda neste ano, a vacina��o comece em torno de fevereiro. At� l�, � muito importante que as pessoas n�o relaxem. Os testes de fase 3 est�o ocorrendo no Brasil exatamente porque aqui a infec��o est� ativa, e assim fica mais f�cil comparar os grupos vacinados e n�o vacinados. E, com a infec��o ainda acelerada, n�o podemos abrir m�o de todos os cuidados”, refor�a.
 
O epidemiologista cita mais uma vacina tida como promissora pelos pesquisadores. Produzida nos Estados Unidos pelo laborat�rio Moderna, � similar � subst�ncia em desenvolvimento pela BionTech/Pfizer/Fosun Pharma, e tamb�m deve entrar na fase 3 de testes. “� muito prov�vel que seja comercializada para os Estados Unidos e, talvez, pela Organiza��o Mundial da Sa�de. � preciso aguardar para saber se teremos acesso a essa vacina”, acrescenta.
 
Na China, o imunizante do grupo farmac�utico Sinopharm tem semelhan�a com o produzido pela Sinovac. Como Jos� Geraldo explica, � tamb�m uma vacina inativada feita com o v�rus inteiro morto, com adjuvantes. J� foram publicados os testes das fases 1 e 2, com bons resultados, em termos de seguran�a e imunogenicidade, e come�ar�o os ensaios da fase 3. “O desafio � que consigam realizar a fase 3 na China, porque l� a infec��o est� muito lenta. Talvez tenham que se associar a algum pa�s onde a doen�a esteja mais ativa”, ressalta.


A antiga BCG



O Murdoch Children's Research Institute, na Austr�lia, est� conduzindo um ensaio de fase 3, entre outros em andamento, para verificar se a vacina BCG (sigla para vacina do bacilo Calmette-Gu�rin), desenvolvida no in�cio de 1900 para combater a tuberculose, tamb�m consegue defender o organismo parcialmente contra o coronav�rus. Sobre subst�ncias que n�o protegem diretamente contra a COVID-19, como a BCG e a tr�plice viral, Jos� Geraldo Leite Ribeiro diz que a esperan�a � de que elas, ativando o sistema celular, surtam resultados satisfat�rios.

“Este instituto est� testando a BCG, antes voltada para crian�as, em adultos, avaliando se nesse caso tamb�m h� prote��o indireta para o Sars-CoV-2. H� otimistas e pessimistas. Nada disso ainda foi comprovado com um estudo aceit�vel, e posso dizer que, neste caso, n�o existe grande expectativa. Mas � necess�rio que os testes se encerrem”, avalia o m�dico.


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