Nova promessa da linha 2 do metr� de BH deixa popula��o entre a esperan�a e d�vida

A novela da expans�o do metr� de Belo Horizonte, que completou 34 anos com uma �nica linha, ganhou outro cap�tulo ontem e p�e os moradores da capital, de novo, na expectativa de concretiza��o da promessa. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou o Twitter para oficializar o repasse de recursos destinados � constru��o da linha 2, que deve ligar o Bairro Calafate ao Barreiro. O projeto para o segundo trecho se arrasta h� pelo menos 20 anos e ser� viabilizado por meio de R$ 1,2 bilh�o referentes � indeniza��o devida pela Ferrovia Centro-Atl�ntica (FCA), operadora privada de transporte.

“A criatividade e a determina��o do ministro da Infraestrutura, Tarc�sio Gomes de Freitas, viabilizar� a linha 2 do metr� de BH”, escreveu Bolsonaro na rede social, pela manh�. “A indeniza��o relativa � devolu��o de trechos antiecon�micos da Ferrovia Centro-Atl�ntica (FCA) ser� empregada no segmento Calafate/Barreiro, antigo sonho dos mineiros”, disse.

A publica��o inclui foto do presidente com o ministro e o secret�rio-executivo do minist�rio, Marcelo Sampaio. Em outro tweet, ele continuou: “O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social) j� trabalha na estrutura��o do projeto do metr�, que se tornou prioridade nacional em reuni�o do conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI)”.

O governador Romeu Zema (Novo) comemorou o an�ncio. “Mais um avan�o e a conquista de um sonho antigo dos mineiros. Vamos viabilizar a linha 2 do metr� (Calafate-Barreiro) em BH. Agrade�o ao governo federal por ter priorizado essa obra”, escreveu Zema no Twitter, agradecendo a Bolsonaro, ao ministro da Infraestrutura, Tarc�sio Gomes de Freitas, e � bancada mineira na C�mara dos Deputados.

Horas depois do an�ncio de Bolsonaro, Tarc�sio Gomes de Freitas conversou com deputados federais de Minas para explicar detalhes do projeto de expans�o do metr� de BH. De acordo com o chefe da pasta da Infraestrutura, n�o h� risco financeiro para o empreendimento, uma vez que a quantia depositada pela Ferrovia Centro-Atl�ntica cair� direto em uma conta vinculada ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES), utilizada exclusivamente para garantir o aporte ao transporte metroferrovi�rio da capital.

“O risco financeiro da obra estamos mitigando, porque estamos garantindo a aloca��o do recurso. O BNDES faria a reestrutura��o de uma licita��o que traria responsabilidade para o novo operador, a conclus�o e opera��o da linha 2 e, eventualmente, a potencializa��o e opera��o da linha”, afirmou Tarc�sio.

Sobre o in�cio das obras, o ministro preferiu manter cautela e dar prioridade ao processo de viabilidade e de alternativas de parcerias com a iniciativa privada, que est� sendo conduzido pelo BNDES. A secret�ria especial do Programa de Parcerias de Investimentos, Martha Seillier, tamb�m participou da conversa.

Gest�o

Em outra frente, o governo de Minas negocia com o governo federal a estadualiza��o do metr� da regi�o metropolitana. A ideia � desestatizar a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), atual gestora do modal, para que o estado fique respons�vel pela administra��o do transporte. Dessa forma, os servi�os seriam concedidos � iniciativa privada pelo governo estadual. “A ideia � fundir a empresa em pra�as e a pra�a mais adiantada hoje � a de Minas. Ent�o, a ideia � ter, por exemplo, uma CBTU Minas. Esses estudos j� est�o adiantados para conseguirmos fazer o leil�o no ano que vem”, disse Martha Seillier, ressaltando que o futuro operador do metr� de BH ter� contrato com prazo de 35 anos e compromisso com investimentos.

Em 24 de julho, uma portaria publicada no Di�rio Oficial da Uni�o (DOU) qualificou as obras da linha 2 como interven��o apta ao PPI do governo federal. A estimativa � de que 120 mil pessoas usem a nova linha diariamente. Poucas semanas depois da publica��o, durante a inaugura��o de um trecho duplicado da BR-381, em Nova Uni�o, na Grande BH, o ministro Tarc�sio de Freitas disse que o governo pretendia usar recursos da Vale para viabilizar o metr�.

Desde o �ltimo fim de semana, o senador mineiro Carlos Viana (PSD) vem usando o Twitter para falar sobre o tema e disse que o dinheiro da Vale seria revertido ao Tesouro Nacional para financiamento da linha 2. Ontem, horas antes do an�ncio de Bolsonaro, ele publicou no Twitter reprodu��o de um folder com algumas informa��es relativas ao processo. Segundo ele, os valores de 10 parcelas da multa j� est�o no caixa da Uni�o. “Agora, n�s precisamos refazer na Justi�a, colocar a termo todas essas quest�es. Ser� o �ltimo passo”, disse em v�deo divulgado no �ltimo s�bado.

No documento, ele ainda diz que Contagem e Betim tamb�m devem ser beneficiadas pelo projeto de expans�o do metr�. “O financiamento j� est� garantido e ser� anunciado em breve, junto com o governo do estado de Minas Gerais”.

Moradores de bairros onde os trilhos do metr� v�o passar vivem na expectativa do transporte que deve reduzir o tempo de deslocamento de passageiros em BH. Eles se dividem entre quem acredita que, agora, a obra sair� do papel e aqueles que veem apenas uma nova promessa no an�ncio de verba feito pelo presidente Jair Bolsonaro.

O cabeleireiro Tadeu Alves Pereira, de 41 anos, mora no Bairro Jardim industrial, em Contagem, no limite com o Barreiro. Para ele, o metr� seria muito �til no dia a dia. “J� tem mais de 20 anos a promessa do metr� no Barreiro, barrada pelas transportadoras. Desta vez, � capaz que o dinheiro liberado finalmente fa�a chegar metr� aqui”, disse, com esperan�a de que a esta��o vire tamb�m atrativo ao com�rcio da regi�o. “Vai ser muito maravilhoso. A esperan�a nossa � que ele vai trazer muito atrativo pro Barreiro. Com o metr�, garanto que vamos gastar 20 minutos para chegar ao Centro. De �nibus, dependendo do tr�nsito, a gente leva mais de uma hora.”

O comerciante Celso Marcos de Castro, de 42, tem um restaurante na Avenida �lvaro da Silveira, Bairro Santa Margarida, regi�o conhecida como Barreiro de Baixo. Ele conta que, em 2008, quando fez o projeto de seu estabelecimento, teve receio de que n�o seria aprovado pela prefeitura, pois havia a conversa de que os empreendimentos da avenida precisassem sair para dar espa�o ao metr�. “Na �poca fiquei at� com medo de n�o conseguir alvar� por causa do metr�. Seriam 10 metros para recuar e ampliar a rua”, disse.

A previs�o, segundo Celsinho (como ele � conhecido), � que seja erguida uma esta��o a 50 metros do local onde est� instalado o seu restaurante. Para ele, morador da regi�o h� 30 anos, “vai ser maravilhoso” a chegada do prometido transporte. “Eu acho que n�o vou ver esse metr� ainda. Talvez os meus filhos vejam. Mas, como dizem que agora sai, vai movimentar mais o com�rcio. Vou montar um ponto comercial bacana e rir bastante. Essa pandemia a� ‘ia ser fichinha’ perto da alegria que eu teria”, planeja o comerciante.

A costureira Ivone Ferreira sobrinho, de 46, faz as compras na Avenida Visconde de Ibituruna, ponto comercial na regi�o do Barreiro. Apesar de ter amplo acesso ao com�rcio local, ela diz que muitas coisas s�o resolvidas apenas no Centro da capital. “Seria �timo pra n�s um metr� porque todo mundo pede um acesso mais r�pido ao Centro, s� que sempre quando chega �poca de elei��o falam que vai vir, que vai vir, e nunca veio”, critica.

Belo Horizonte, que conta com uma popula��o na ordem de 2,5 milh�es de habitantes, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), tem apenas 19 esta��es de metr�, que cobrem 28,2 quil�metros ligando a Esta��o Vilarinho, na Regi�o de Venda Nova, at� a Esta��o Eldorado, em Contagem.

O Bairro Vista Alegre, Regi�o Oeste de BH, � um dos que podem ser contemplados com uma esta��o. A estudante Jaqueline Anjos, de 26, acredita que outro ponto positivo � a reativa��o da linha que cruza o bairro e est� desativada. “Seria �timo porque o tr�nsito da Avenida Amazonas � muito ruim. N�o sei se dessa vez vir�. Mas precisar, precisamos muito. Principalmente para arrumar esse trilho aqui. Al�m de ficar t�o feio, usu�rios de droga ficam a� �s vezes”, descreve ela, apontando trilhos abandonados da antiga Rede Ferrovi�ria Federal.

Maria das Gra�as de Souza, de 72, � moradora do Bairro Industrial II, que fica ao lado do Vista Alegre. Ela comenta que, al�m da import�ncia do metr�, seria bom haver uma passarela para que os usu�rios atravessassem em seguran�a os trilhos da ferrovia. “Bom vai ser, agora se vem s� Deus sabe. Preciso resolver muitas coisas no Centro, ent�o vai ajudar demais”, disse.

Morador do Bairro Bet�nia, na mesma regi�o, Ant�nio Corn�lio Soares, de 73, costuma caminhar e n�o se importaria em andar um pouco para chegar � esta��o. “Eu moro aqui desde 1972. Desde ent�o que estou esperando o metr� passar”, relembra. “Acho excelente um metr� aqui, est� precisando. J� era pra estar pronto, inclusive. Mas desta vez sai, eu confio muito”, acrescenta. (D�borah Lima)

O an�ncio da destina��o de recursos � expans�o do metr� de BH renovou a esperan�a dos moradores da capital e da regi�o metropolitana. No entanto, a confirma��o de verba feita pelo presidente Jair Bolsonaro j� havia sido anunciada por outros chefes de Estado e governadores.

Em 2008, o ent�o governador de Minas A�cio Neves havia informado que o presidente � �poca, Luiz In�cio Lula da Silva, aprovou o projeto de expans�o do metr� e representantes dos governos estadual e federal fariam a formata��o da modelagem da parceria p�blico-privada. Os investimentos anunciados para a obra giravam em torno de R$ 4 bilh�es. O empreendimento era valorizado para atender � Copa do Mundo de 2014.

Em 2011, Dilma Rousseff anunciou a libera��o de R$ 3,16 bilh�es do Or�amento da Uni�o para as obras de mobilidade urbana. O projeto inclu�a novas esta��es para a linha 1 – a �nica que opera em BH – e a constru��o dos ramais 2 e 3, este �ltimo ligando a Savassi, na Regi�o Centro-Sul da capital, at� a Lagoinha.

O tempo passou e as obras n�o tiveram in�cio. Em 2012, perfura��es come�aram a ser feitas em diversos pontos de Belo Horizonte, como Pra�a Sete, Pra�a Rio Branco, entre outros locais, para avaliar a resist�ncia do solo, visando ao projeto de expans�o do metr�. Os trabalhos chegaram a ser ordenados pelo ent�o prefeito da capital mineira M�rcio Lacerda.

Em 2014, a pauta sobre a amplia��o do metr� voltou e dividiu os governos estadual e federal. Dilma havia anunciado recursos da ordem de R$ 2,5 bilh�es para melhorar a mobilidade urbana da capital. Daquele montante, R$ 2 bilh�es iriam para a Prefeitura de Belo Horizonte e governo de Minas, para que, em parceria, elaborassem projetos para a expans�o do metr�. Por fim, em 2017, o ent�o presidente Michel Temer anunciou a destina��o de R$ 157,7 milh�es para a amplia��o da linha 1 do metr�.