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Estado de Minas ESPERAN�A

Vacina chinesa: esperan�osos, volunt�rios de BH contam por que aderiram aos testes

Os relatos t�m em comum a paix�o pela ci�ncia e a disposi��o de lutar pela vida dos pacientes


19/09/2020 07:00 - atualizado 24/09/2020 09:16

Primeiro voluntário a se apresentar em BH, o médico André Ribeiro diz que o momento exige coragem (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Primeiro volunt�rio a se apresentar em BH, o m�dico Andr� Ribeiro diz que o momento exige coragem (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Primeiro volunt�rio de Belo Horizonte a receber a CoronaVac, imunizante contra a COVID-19 que est� sendo desenvolvido pelo laborat�rio chin�s Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butant�, de S�o Paulo, o m�dico Andr� Ribeiro diz que, em nenhum momento, sentiu medo de participar do projeto. Motivos n�o faltaram para um sentimento de temor. Embora a vacina tenha demonstrado bom grau de seguran�a at� o momento, os protocolos do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de F�rmacos da UFMG (CPDF/UFMG), respons�vel pela condu��o dos testes na capital, s�o claros ao destacar que o produto � novo e seus efeitos colaterais ainda est�o sendo estudados.

Andr�, no entanto, confia na seriedade da pequisa. “O rigor cient�fico � grande. Estou ciente de que assumi um risco, mas ele � calculado. Meu maior receio nesse processo � me esquecer de que ainda sou vulner�vel ao coronav�rus. Nem por um instante posso ceder � tenta��o de pensar que, porque recebi a inje��o, estou imunizado. Preciso seguir com os mesmos cuidados para n�o me infectar, pois ainda n�o temos vacinas, temos candidatas”, explica o m�dico.

Nove semanas ap�s o in�cio dos testes em Minas Gerais, Andr� e outros dois profissionais da �rea da sa�de contaram ao Estado de Minas por que decidiram aderir ao estudo e o que sentem ao participar deste momento hist�rico. Os relatos t�m em comum a paix�o deles pela ci�ncia e a disposi��o de lutar pela vida de seus pacientes.

Os ensaios cl�nicos da CoronaVac, que est�o na terceira fase – aquela de  comprova��o de efic�cia – s�o do tipo duplo-cego randomizado. De acordo com artigos cient�ficos publicados sobre a experi�ncia, isso significa que os participantes s�o divididos em dois grupos: um toma o medicamento, enquanto o outro recebe uma subst�ncia in�cua, sem efeitos no organismo, para que os cientistas possam comparar os resultados. S� ao fim da pesquisa, os volunt�rios ficar�o sabendo se foram, de fato, imunizados.

Em BH, segundo a UFMG, cerca de 600 profissionais de sa�de j� receberam as doses, que come�aram a ser distribu�das em 31 de julho no Centro de Sa�de Jardim Montanh�s, Regi�o Noroeste de BH. S�o duas, ao todo, com intervalo de 14 dias. Todos os volunt�rios aceitos na testagem atuam diretamente no combate � pandemia, t�m entre 18 e 59 anos, nunca contra�ram o Sars-CoV-2 (v�rus da COVID-19), n�o apresentam doen�as cr�nicas, nem fazem uso de medicamentos cont�nuos. Eles ser�o acompanhados at� dezembro, num processo que inclui consultas m�dicas regulares, realiza��o constante de exames de sangue, al�m de testes de detec��o da COVID-19.

O protocolo inclui ainda o preenchimento de di�rios. Os volunt�rios os descrevem como uma esp�cie de relat�rio, no qual registram dados a exemplo da temperatura corporal – aferida todos os dias, logo pela manh� – bem como eventuais sintomas incomuns, como febre, dores de cabe�a, tosse, entre outros, que possam indicar rea��es adversas, ou mesmo a presen�a do novo coronav�rus. Os cadernos s�o entregues a cada 14 dias ao CPDF/UFMG, que tamb�m faz acompanhamentos semanais por telefone dos volunt�rios. A cada encontro com a equipe de pesquisadores, os participantes recebem R$ 20, a t�tulo de reembolso por gastos com alimenta��o e deslocamento.

"Ci�ncia e arte”

Andr� Ribeiro, 30 anos, m�dico generalista

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
“Fui o primeiro volunt�rio a me apresentar em 31 de julho no Centro de Sa�de Jardim Montanh�s, onde trabalho, para receber a vacina. Fiz a inscri��o t�o logo fiquei sabendo do recrutamento. Confesso que, na hora de receber a inje��o, senti um friozinho na barriga, mas medo, n�o. Tenho confian�a na pesquisa, que � muito rigorosa. Sei que o risco existe, mas ele � calculado. E eu aceitei porque, como todo m�dico, sou movido por um pouco de altru�smo, desejo de gerar bem � popula��o.

H� tamb�m o fato de eu gostar muito de pesquisa. Estou estudando para a resid�ncia em neurocirurgia, e j� publiquei v�rios artigos. Medicina, pra mim, � baseada em ci�ncia e arte. A ci�ncia � porque o conhecimento m�dico tem que ser baseado em evid�ncias cient�ficas; e a arte, porque o profissional precisa se importar verdadeiramente com as pessoas e saber lidar com elas. Tem que ter paix�o no que faz. Os testes da CoronaVac, de certa forma me permitem viver essas duas faces do m�dico de maneira �nica.

Eu me sinto bem esperan�oso quanto ao sucesso dessa vacina. Tudo indica que vai dar tudo certo. E, se n�o der, a gente segue em frente e continua tentando. Nessa pandemia, reli o Grande Sert�o: Veredas, escrito pelo Guimar�es Rosa, que tamb�m era m�dico. O Riobaldo, protagonista do livro, tem uma fala da qual gosto muito: “O correr da vida embrulha tudo. A vida � assim: esquenta e esfria, aperta e da� afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente � coragem”. Acho que � isso: o momento exige coragem. Principalmente dos profissionais de sa�de”.

"Reduzir o sofrimento"

Lyvia Mar�lia Dias, 30 anos, m�dica generalista

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Atuo no Centro de Sa�de Mantiqueira, na Regi�o de Venda Nova. Ontem mesmo soube que um paciente meu – um idoso com comorbidades – morreu v�tima da COVID-19. Como m�dica, sinto impot�ncia toda vez que recebo not�cias como essa. Minha decis�o de participar dos testes �, em parte, uma tentativa de fazer alguma coisa, de contribuir de alguma maneira para reduzir tanto sofrimento.

Quando contei para as pessoas do meu conv�vio que ia ser volunt�ria, algumas me perguntaram se eu estava louca, se eu n�o tinha medo de ser “cobaia”. Confesso que, quando soube das rea��es adversas apresentadas pelas pessoas que tomaram a vacina de Oxford, fiquei com um pouco de receio mas, depois, passou.

Como n�o sei se recebi a vacina mesmo ou o placebo (prepara��o neutra, sem efeitos farmacol�gicos), mantenho o mesmo rigor com os cuidados de higiene: uso a m�scara N95 em todos os atendimentos, lavo as m�os com frequ�ncia, limpo meus instrumentos m�dicos e, ao chegar em casa de qualquer lugar, tiro toda a roupa e tomo banho. De todo modo, estou bastante otimista. Tudo indica que a vacina, al�m de segura, ser� eficaz.”

"Dever de m�dico"

Bruno Damasceno de Faria, 31 anos, m�dico psiquiatra

(foto: Arquivo Pessoal)
(foto: Arquivo Pessoal)
“Sou m�dico psiquiatra e trabalho na Prefeitura de Belo Horizonte. Recebi uma dose da CoronaVac e, em breve, vou avaliar com a equipe da UFMG a aplica��o da segunda. Cheguei a apresentar algumas rea��es ao ser vacinado – um cansa�o muscular leve, dores brandas pelo corpo e diarreia. Entretanto, n�o sei se posso relacionar isso � vacina. � preciso verificar.

Por causa desse momento de extrema polariza��o pol�tica, comentei com pouqu�ssimas pessoas que ia aderir ao estudo. Cheguei a ouvir profissionais de sa�de reprovando colegas por participarem da pesquisa porque ela envolve a China, o que � uma ignor�ncia absurda. Optei, ent�o, pela discri��o, para evitar a pol�mica.

Considero minha participa��o na pesquisa como um dever de m�dico. Outra coisa que motivou foi o fato de que v�rias pessoas pr�ximas a mim tiveram suasvidas ceifadaspela COVID-19. Seis amigos meus morreram – gente de quem fui padrinho de casamento, professores que me deram aula na faculdade, muita gente de que gostava muito. � por ele e pelos meus pacientes que me ofereci como volunt�rio. Sei que, como todo experimento, este envolve riscos, embora sejam m�nimos. Mas eu n�o tenho medo, encaro essa situa��o com serenidade. Pretendo ter filhos e netos. No futuro, acho que vou ter orgulho de contar para eles essa hist�ria – na qual meu papel, de maneira alguma, � de her�i, mas de algu�m que cumpriu a sua obriga��o”.

Como os cientistas v�o comprovar a efic�cia?

(foto: NIAID/Divulgação)
(foto: NIAID/Divulga��o)
Segundo Mauro Teixeira, coordenador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de F�rmacos da UFMG (CPDF/UFMG), a CoronaVac demonstrou bom perfil de seguran�a nas fases 1 e 2 dos ensaios cl�nicos. Ao fim da fase 3, - focada na comprova��o da efic�cia - os pesquisadores far�o o que ele chama de avalia��o por incid�ncia. 

“Como acontece nos testes de qualquer medicamento, � feita uma compara��o entre o grupo que recebeu a vacina e o grupo de controle, formado por aqueles que tomaram o placebo. Observaremos, ent�o, se o grupo de fato imunizado apresentou menos casos de coronav�rus em rela��o ao outro, numa propor��o relevante, � claro”, explica o professor. 

A UFMG permanece recrutando volunt�rios para os testes com a vacina chinesa. De acordo com Teixeira, h� cerca de 200 vagas dispon�veis. Os interessados devem ser profissionais de sa�de com registro ativo, que atuem na linha de frente da pandemia, sem hist�rico de comorbidades ou uso cont�nuo de medicamentos, com idade entre 18 e 59 anos. As mulheres n�o podem estar gr�vidas. Quem se enquadrar nesses crit�rios pode entrar em contato com a equipe do CPDF/UFMG pelo n�mero (31) 97171 2657. 




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