Esp�cie brasileira, trepadeira unha-de-gato vira atra��o na Pampulha
Espet�culo da flora��o da planta n�o end�mica cobriu parte de muro de uma casa na Avenida Abrah�o Caram e encanta quem mora ou caminha nas imedia��es. Contudo, especialistas alertam que ela tem alto poder invasor, n�o devendo ser cultivada em cercas e locais pr�ximos de mata nativa
Flores cobriram parte de muro de uma casa da d�cada de 1960 na Avenida Abrah�o Caram, esquina com Rua Rebelo Horta, no Bairro S�o Jos� (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
O sol forte desta primavera com cara de alto ver�o amplia a beleza de muitas plantas dos jardins, canteiros de vias p�blicas e at� de muros de resid�ncias de Belo Horizonte. Um exemplo de chamar a aten��o, com impacto de atrativo tur�stico, est� na flora��o da unha-de-gato (Dolichandra unguis-cati), que toma conta da frente de uma casa localizada na esquina da Avenida Abrah�o Caram com Rua Rebelo Horta, perto do est�dio do Mineir�o, na Regi�o da Pampulha. Imposs�vel n�o parar, admirar e fotografar as p�talas de amarelo forte, quase ouro, no terreno de uma casa da d�cada de 1960.
Na manh� de domingo, muita gente que caminhava na orla da Lagoa da Pampulha ou que participara da reabertura da Igreja S�o Francisco de Assis curtiu o visual da janela do carro ou estacionou rapidamente o ve�culo para fazer selfies e cheirar a flor. “Pode chegar perto, Beatriz. Sente que del�cia!”, disse um homem � filha de 3 anos, que se rendeu aos encantos dessa estrela da primavera. Ao lado, e ouvindo a conversa, o av� da garota completou: “Tivemos os ip�s-amarelos t�o bonitos, em agosto e setembro, e agora presenciamos este espet�culo. Salve a natureza, no Dia de S�o Francisco de Assis, 4 de outubro, protetor das florestas e dos animais”.
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Segundo a bot�nica Maria Guadalupe Carvalho Fernandes, do Jardim Bot�nico da Funda��o de Parques Municipais e Zoobot�nica de Belo Horizonte, a unha-de-gato � uma trepadeira nativa brasileira, com flora��o apenas uma vez no ano. Ent�o, a hora � agora para conhecer e apreciar. O curioso nome unha-de-gato vem das “garrinhas” recurvadas que a planta tem para se fixar aos suportes e s�o semelhantes �s unhas dos felinos.
Maria Guadalupe faz um alerta importante: “A esp�cie tem alto potencial invasor. No muro de uma casa em �rea urbana, fica linda mesmo. Mas, se for plantada em cercas e �reas pr�ximas a matas nativas, ela pode se tornar um grande problema ao competir com outras trepadeiras e at� afetando as �rvores”.
Planta se resume em 'maravilha' para o mec�nico Mauro Gusm�o, que caminhava com a cadela Zezinha (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Passeando na manh� de domingo com sua cadela Zezinha, o mec�nico Mauro da Silva Gusm�o, morador do Bairro Santa M�nica, na mesma regi�o, resumiu na palavra “maravilhosa” tudo o que estava vendo no pared�o florido. E sentiu por Zezinha, c�o da ra�a akita.: “Ela � cega, eu a adotei h� algum tempo”.
A banc�ria Mariana Paiva, moradora do Bairro Jaragu�, tamb�m na Pampulha, aproveitou o domingo para patinar na esplanada do Mineir�o, e disse que, nesse tempo de pandemia do novo coronav�rus, o melhor a fazer � contemplar. “� tudo muito bonito, precisamos aproveitar”.
Depois de tantas declara��es de amor � natureza, s� resta tocar a campainha da resid�ncia. Um rapaz que trabalha l� explicou que o propriet�rio n�o estava. “A flor � unha-de-gato, j� acostumamos com a movimenta��o diante do muro. Fique � vontade para fotografar”, disse.
Outubro florido
De acordo com os especialistas, a flora��o da unha-de-gato � muito comum neste m�s, especialmente na Regi�o Central do Brasil. A esp�cie � ainda conhecida popularmente como cip�-de-gato, cip�-de-morcego ou cip�-ouro.
A esp�cie n�o deve ser confundida com as unhas-de-gato usadas tradicionalmente na fitoterapia da regi�o Amaz�nica (Uncaria guianensis e U. tomentosa). Embora todas tenham propriedades medicinais, ocorram nas mesmas regi�es e apresentem alguma similaridade, s�o esp�cies distintas e pertencem a fam�lias bot�nicas diferentes.
Raridade do Brasil
A unha-de-gato (Dolichandra unguis-cati) pertence � fam�lia bot�nica Bignoniaceae. A planta apresenta ramos finos, com folhas opostas e de formato ovado-acuminadas. Pode apresentar varia��o na morfologia foliar, ligada provavelmente � diferen�as genot�picas e plasticidade adaptativa, ou seja, as adapta��es estruturais da planta aos diferentes ambientes. As flores s�o amarelas e em formato campanulado, com cinco p�talas fundidas; ocorrem isoladas ou em grupos de duas a tr�s unidades. A esp�cie � considerada nativa da flora brasileira, mas n�o � end�mica, ou seja, n�o ocorre exclusivamente no Brasil, podendo ser encontrada em v�rios pa�ses da Am�rica Latina, desde o M�xico at� a Argentina. Ocorre tamb�m nos Estados Unidos, �frica do Sul, Austr�lia, entre outras na��es, na condi��o de “invasora”, introduzida principalmente como planta ornamental. No Brasil, ocorre em todos os estados e em diversos tipos de vegeta��o, desde �reas abertas alteradas (antropizadas), at� matas mais fechadas e ambientes mais conservados.
Quarentena for�ada pela a��o de mosquitos
A banc�ria Mariana Paiva recomenda admirar as flores amarelas, um presente em tempos de pandemia
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Com esse calor�o todo, j� beirando os 40 graus, moradores da regi�o da Pampulha, em Belo Horizonte, s�o obrigados a fechar as janelas por volta das 17h. O motivo � um s�: os pernilongos, que chegam aos milhares e infestam as casas, deixando as fam�lias, j� confinadas pelo novo coronav�rus, trancadas ainda mais para se livrar dos insetos. “O problema � antigo, a exemplo de outros que precisam de solu��o”, diz o diretor da Associa��o Viver Bandeirantes, Jos� Am�rico Mendicino, residente naquele bairro.
Al�m dos pernilongos e do mau cheiro cr�nico em determinados pontos da lagoa, os moradores podem ver uma nata de colora��o verde na superf�cie do espelho-d'�gua, “resultado da sujeira e de esgoto carreado principalmente pelos c�rregos Sarandi e Ressaca”, diz Am�rico Mendicino. “Outro dia, passando na altura da Avenida Fleming, senti um cheiro muito forte de esgoto. O que acontece na Pampulha � que s�o feitas muitas a��es, mas ningu�m se interessa em saber a verdadeira raz�o dos problemas. � preciso um olhar cl�nico para resolver a situa��o. At� quando vamos ter que continuar gastando dinheiro p�blico com quest�es que n�o se resolvem?”, pergunta.
Nos �ltimos dias, quem caminhou na orla p�de ver uma equipe da prefeitura a postos – o Estado de Minas registrou o trabalho nas proximidades do Parque Ecol�gico Francisco Lins do R�go. A Prefeitura de Belo Horizonte informa que os trabalhos de manuten��o da Lagoa da Pampulha continuam normalmente. Em nota, os t�cnicos explicam que a Superintend�ncia de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) realiza, todo dia, a limpeza do espelho d'�gua. “O volume de lixo flutuante recolhido diariamente corresponde, em m�dia, a cinco toneladas durante o per�odo de estiagem e a 10 toneladas no per�odo chuvoso. Trata-se de servi�o de natureza continuada.”
Remediadores
A Prefeitura esclarece ainda que realiza o tratamento das �guas da lagoa com o objetivo de inibir o processo de eutrofiza��o (excesso de algas e maus odores) e a consequente promo��o do reequil�brio do ambiente aqu�tico. Esse servi�o consiste em tecnologia que combina a aplica��o di�ria de dois remediadores. O servi�o � fiscalizado pela Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura e tamb�m tem natureza continuada.
A explica��o sobre os remediadores � a seguinte: um tem a fun��o de degradar o excesso de mat�ria org�nica (Demanda Bioqu�mica de Oxig�nio – DBO) e reduzir a presen�a de coliformes fecais (E. coli), enquanto o outro � capaz de promover a redu��o do f�sforo e controlar a flora��o de algas. “Dessa forma, est� sendo viabilizada a recupera��o da qualidade das �guas da Lagoa da Pampulha, com a inibi��o do processo de eutrofiza��o e o reequil�brio do ambiente aqu�tico, que estar� livre da prolifera��o de algas e com maior concentra��o de oxig�nio.” (GW)