Rio Acima: moradores convivem com a invas�o de turistas nos finais de semana
Conhecida como 'cidade das �guas', Rio Acima � destino de turistas da RMBH. Engarrafamentos, aglomera��o de pessoas e lixo s�o as maiores queixas dos moradores
Poeira, lixo e aglomera��o de pessoas t�m causado preocupa��o nos moradores de Rio Acima (foto: Arquivo pessoal)
Um engarrafamento na estrada de terra Tangar�, em Rio Acima, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, registrado no �ltimo domingo (4), causou muitos transtornos aos moradores da cidade. A estrada � o principal acesso por carro para quem vai �s cachoeiras do Viana e do �ndio, as mais visitadas do Parque Nacional da Serra do Gandarela, e uma aglomera��o de pessoas tem se formado nessas cachoeiras.
Segundo a auxiliar administrativo Nat�lia de Moura Sabino, essas aglomera��es come�aram no in�cio de setembro. Antes disso, Rio Acima estava mantendo uma barreira sanit�ria e impedia o turismo na cidade. A partir do momento que houve a flexibiliza��o em v�rias cidades da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, a prefeitura de Rio Acima tamb�m liberou o acesso. “Minha casa � muito pr�xima � estrada. Nos finais de semana, muitos turistas passam por ela, principalmente aos domingos e fica muito complicada a circula��o dos moradores na cidade. Al�m disso, a estrada � de terra e levanta muita poeira. Minha sobrinha de nove meses teve uma alergia por causa disso, mas ainda bem que hoje est� melhor” conta.
Para o operador de escavadeira Bruno Soares, o excesso de carros s� piora a situa��o dos moradores. “Praticamente n�o temos estrada, ela est� muito cheia de buracos e exige muita aten��o de quem dirige nela. “O risco de acidentes � grande, muitas pessoas voltam b�badas das cachoeiras e dirigem os carros na contram�o, sem no��o nenhuma de risco."
De acordo com a radialista e moradora do Bairro �gua Limpa, Cleide Sabino de Brito, Tangar�, �gua Limpa e Palmital s�o lugarejos bem distantes do centro de Rio Acima e que atualmente est�o muito movimentados. Esses locais dependem da estrada Tangar� porque em seus vilarejos n�o t�m um posto de sa�de, nem hospital. “Imagina a situa��o da estrada com carros parados de uma e do outro e um morador passar mal. Tem uma moradora aqui que est� gr�vida de oito meses e est� com medo de entrar em trabalho de parto e a superlota��o impedir que ela chegue ao hospital para dar � luz."
De acordo com o chefe do Parque Nacional da Serra do Gandarela, Tarcisio Nunes, as cachoeiras de Rio Acima s�o conhecidas h� mais de 30 anos. Durante essas �ltimas semanas houve um aumento de fluxo tur�stico e h� um in�cio de esfor�o do Instituto Chico Mendes de Conserva��o da Biodiversidade (ICMBio), �rg�o ambiental respons�vel pelo Parque, para organiza��o do territ�rio que j� tem o uso tur�stico consolidado.
Ainda de acordo com Tarcisio, o parque foi criado por meio decreto emitido pela Presid�ncia da Rep�blica, em 2014, mas todas as terras do parque s�o particulares. O acesso �s cachoeiras deve ser tamb�m de responsabilidade dos propriet�rios e eles t�m tido dificuldades de assumir esse controle. “Conversamos com um membro da fam�lia propriet�ria das cachoeiras do Viana e do �ndio e est� disposto a fazer um teste, mas como ainda n�o teve essa experi�ncia de gest�o, como contratar funcion�rios, pedir licen�a na prefeitura, ainda h� um receio, mas vejo uma boa vontade de ser implementado um estacionamento”, conta.
Gest�o do parque
Segundo o chefe do parque, o Gandarela tem cerca de 200 entradas e trilhas de acesso. S� em Rio Acima s�o umas 20 maneiras diferentes de entrar no Parque. “N�o adianta colocar apenas uma portaria que as pessoas v�o buscar outro acesso. Por isso, a necessidade de uma a��o conjunta entre Prefeitura, propriet�rios das terras, ICMBio, Pol�cia Militar e Guarda Civil.
De acordo com a analista do Parque, Priscila Silva, o ICMBio ainda n�o fez um estudo de caso sobre a quantidade limite de pessoas que podem frequentar o Parque, incluindo as cachoeiras do �ndio e Viana. A equipe ainda est� na elabora��o do plano de manejo do Parque Nacional da Serra do Gandarela e ap�s, ser� feito o Plano de Uso P�blico (PUP). “Como a equipe � reduzida, somos cinco no total para atender uma �rea equivalente a 31 mil campos de futebol, esse estudo vai acontecer na fase de longo prazo”.
Para a analista, a ideia � pensar algumas a��es mais emergenciais focadas neste ver�o como controle de acesso, de restri��o de circula��o de ve�culos em �reas das cachoeiras e cria��o de estacionamentos. “As a��es emergenciais s�o para abaixar a temperatura, mas fazem parte de um plano de curto prazo. Outras a��es de m�dio e longo prazo tamb�m ser�o feitas para se ter o m�nimo de manejo da �rea, de gest�o, e partir da� fazermos recupera��o de �reas, recupera��o de nascentes, coberturas de picha��es em pedras para enfim, proporcionar a experi�ncia dos turistas mais agrad�vel”.
Moradores
A auxiliar administrativo, Nat�lia de Moura Sabino, acredita que muitos turistas preferem ir a Rio Acima por estar t�o pr�ximo a RMBH, e por isso, os moradores da cidade sempre receberam bem. “N�o se pode proibir o ir e vir de ningu�m, mas acredito que ainda n�o � o momento para relaxar da forma que est� acontecendo, porque ainda estamos no meio de uma pandemia e n�o sabemos se pode vir uma nova onda de cont�gio e isso nos preocupa como moradores”, conta.
Segundo Tarcisio Nunes, Rio Acima � uma cidade pequena e, a equipe do ICMBio prefere o parque vazio nesse momento de COVID-19. “At� nas nossas redes sociais fizemos campanha para que as pessoas fiquem em casa e esperem o momento adequando, pois preocupamos com os moradores locais. As pessoas que vem para o Parque n�o pensam nos moradores das comunidades. N�o � apenas uma preocupa��o ambiental, a nossa preocupa��o maior � com os vizinhos do parque."
Lixo
O calor que tem feito nas �ltimas semanas contribui com o mal cheiro do lixo deixado pelos turistas na estrada do Tangar� e tem incomodado o operador de escavadeira, Bruno Soares, que afirma ver essas cenas todos os finais de semana. “Quem � respons�vel pelo lixo sabe o que est� acontecendo e ainda n�o tomou provid�ncia”.
Depois que os turistas v�o embora, moradores e brigadistas do ICMBio limpam a sujeira deixada (foto: Arquivo pessoal)
Para a radialista, a quantidade de lixo deixado pelos turistas � fora do normal. “Garrafas, latas de cerveja, roupas que as pessoas deixam pra tr�s e at� carros com defeitos, os turistas deixam pra tr�s sem pensar que ali perto moram pessoas e est�o poluindo o meio ambiente”.
De acordo com o chefe do Parque Nacional da Serra do Gandarela, Tarcisio Nunes, o p�blico que frequenta, muitas vezes n�o quer cumprir regras. “A gente instalou placas educativas nesses locais falando sobre o lixo, sobre a preserva��o e as placas acabaram sendo depredadas, vejo que a resposta sobre a educa��o ambiental vai demorar pois h� muito tempo que o parque existe sem gest�o.”
Procurado pela reportagem, o propriet�rio da �rea onde est�o localizadas as cachoeiras do �ndio e do Viana n�o respondeu as perguntas.