
Na loja de motocicletas Moto X, na Avenida Vilarinho, em Venda Nova, grande parte das pe�as vendidas j� foi transferida para o segundo andar do estabelecimento. O neg�cio funciona em trecho da via mais afetado por enchentes, pr�ximo ao entroncamento com a Avenida Dom Pedro I. Segundo o vendedor �lvaro Oliveira, os propriet�rios pretendem desativar um dos sal�es vulner�vel a enchentes. A instala��o de placas de prote��o mais robustas contra inunda��es nas portas tamb�m j� estaria nos planos.
�lvaro diz que os preju�zos decorrentes das chuvas marcam presen�a no balan�o financeiro h� uma d�cada. Neste ano, por�m, a preocupa��o � maior, diante dos problemas que se acumulam desde janeiro. “Primeiro, veio aquela chuva hist�rica, que deixou a gente, literalmente, debaixo d’�gua. Em seguida, a pandemia. Se, depois disso tudo, ainda tiver mais alagamento, a situa��o pode ficar bem complicada”, avalia o funcion�rio.
Situada na Avenida Tereza Cristina, a concession�ria Vemig tamb�m passou por interven��es recentes para amenizar alagamentos. O estabelecimento fica na altura do Bairro Bet�nia, Regi�o Oeste, de frente para o Ribeir�o Arrudas, que costuma transbordar. O propriet�rio, Roney Fernandes, instalou sa�da de emerg�ncia na loja. O empres�rio afirma ainda que, a partir de dezembro, pretende transferir os autom�veis � venda para outro estabelecimento. “Em anos anteriores, elevei a altura da loja em 1,3 metro em rela��o ao passeio. Mesmo assim, n�o adiantou muito. Durante a tempestade de janeiro, entrou muita �gua aqui. S� n�o tive nenhum ve�culo estragado porque, no primeiro dia em que choveu, mandei esvaziar os sal�es”, relata o comerciante.
"Na tempestade de janeiro entrou muita �gua aqui. S� n�o tive ve�culo estragado porque mandei esvaziar os sal�es"
Roney Fernandes, dono de concession�ria na Avenida Tereza Cristina
Roney explica que o maior preju�zo provocado pelas chuvas do in�cio do ano ao seu neg�cio foram os chamados lucros cessantes. O termo define as perdas causadas a um empreendimento em decorr�ncia da interrup��o de vendas ou de atividades. “No meu caso, a Avenida Tereza Cristina ficou mais de tr�s meses intransit�vel por causa do temporal, o que impediu a clientela comprar. Certamente, perdi muito dinheiro. As enchentes tamb�m prejudicam a imagem da loja. As pessoas sabem que a avenida alaga e costumam ficar com um p� atr�s com rela��o aos meus ve�culos. Deduzem que eles j� foram inundados e, por causa disso, apresentar�o problemas no futuro", relata.
Levantamento da C�mara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) realizado nas quatro regionais da capital mais atingidas pelos temporais de janeiro (Noroeste, Barreiro, Centro-Sul e Oeste) estima que mais de 2 mil estabelecimentos sofreram perdas e danos semelhantes aos relatados por Roney e �lvaro. Na m�dia, os preju�zos alcan�aram R$ 16.405,30 para cada comerciante. O vice-presidente do CDL/BH, Marcos Innecco Corr�a, acredita que novas enchentes podem ser “a �ltima p� de cal” em muitos neg�cios, j� fragilizados pela pandemia. “Inclusive, agora, temos uma quest�o. Em janeiro, a prefeitura prorrogou alguns impostos, como o IPTU. Pouco depois, com a pandemia, houve nova prorroga��o. Esse adiamento est� vencendo agora. O empres�rio, portanto, tem impostos acumulados de quase seis meses. E quase n�o teve faturamento nesse per�odo todo, pois o com�rcio ficou meses fechado, reabriu h� pouco tempo”, analisa.
Preocupa��o em vilas
N�meros da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel) e da Defesa Civil mostram que, entre os moradores da capital, o cen�rio tamb�m � preocupante. Segundo a Urbel, h�, na cidade, 1.100 edifica��es em vilas e favelas consideradas em situa��o de risco alto. As resid�ncias est�o espalhadas por todo o munic�pio, com concentra��o significativa nos aglomerados da Serra e Santa L�cia, na Regi�o Centro-Sul, e no Aglomerado Taquaril, Regi�o Leste.

"Este ano, a gente est� com mais medo, n�o s� de perder a casa, como tamb�m de pegar doen�as"
Marisvaldo Aniceto da Silva, morador do Aglomerado Santa L�cia
O catador de recicl�veis Marisvaldo Aniceto da Silva diz que mora no Aglomerado Santa L�cia h� 50 anos. A casa dele fica em morro �ngreme nas adjac�ncias da Avenida Arthur Bernardes, pr�ximo ao C�rrego do Bic�o, onde h� ac�mulo de lixo e esgoto. Durante a esta��o chuvosa, as enchentes derrubam casas e provocam doen�as.
Obras municipais na regi�o est�o em andamento, mas ainda n�o t�m previs�o de t�rmino. “Naquela chuva do come�o do ano, dava para andar de barco aqui. Todo ano alaga. Este ano, a gente est� com mais medo, n�o s� de perder a casa, como tamb�m de pegar doen�as”, diz.
No Taquaril, a ONG Gota Social cobra interven��es preventivas para evitar novas trag�dias. “No in�cio do ano, recebemos mais de 30 ocorr�ncias relacionadas a danos causados pelas chuvas. Basicamente, o que pudemos fazer foi entregar lonas repassadas pela Urbel �s fam�lias”, afirma o presidente da entidade, Cloves Furtado, reclamando ainda da dificuldade de acesso a �rg�os e servi�os assistenciais durante a pandemia.
Moradores com maior poder aquisitivo fazem interven��es por conta pr�pria. � caso dos 78 cond�minos do Edif�cio Guimar�es Rosa, situado na Avenida Prudente de Morais, Bairro Cidade Jardim, pr�ximo � Barragem Santa L�cia. O pr�dio foi invadido por enxurrada e lama no in�cio deste ano. O s�ndico, Armando Zoni, conta que o condom�nio corre para amenizar os efeitos de poss�veis novas inunda��es.
Moradores com maior poder aquisitivo fazem interven��es por conta pr�pria. � caso dos 78 cond�minos do Edif�cio Guimar�es Rosa, situado na Avenida Prudente de Morais, Bairro Cidade Jardim, pr�ximo � Barragem Santa L�cia. O pr�dio foi invadido por enxurrada e lama no in�cio deste ano. O s�ndico, Armando Zoni, conta que o condom�nio corre para amenizar os efeitos de poss�veis novas inunda��es.
S� em 2021
Nos �ltimos dois anos, a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou projetos ambiciosos para a conten��o de enchentes na cidade. A grande maioria das obras, no entanto, n�o ser� conclu�da antes do segundo semestre de 2021.
� o caso das interven��es na Avenida Vilarinho prometidas pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) em 8 de setembro. Um conv�nio assinado na ocasi�o pela PBH com a Caixa Econ�mica Federal, no valor de R$ 200 milh�es, prev� a constru��o de duas bacias de conten��o de inunda��es na via, que acompanha o c�rrego de mesmo nome, e na Rua Doutor �lvaro Camargos.
A Secretaria de Obras e Infraestrutura de Belo Horizonte calcula que as estruturas - dois reservat�rios de 34 metros de profundidade - v�o absorver 50% do volume de �gua que atinge a localidade durante as chuvas de ver�o. A licita��o deve sair em dezembro, mas os trabalhos n�o t�m data para come�ar.
� a terceira vez em dois anos que Kalil anuncia obras contra inunda��es na regi�o. Pouco mais de um m�s antes do temporal de janeiro, o chefe do executivo noticiou a constru��o de uma caixa de capta��o no entroncamento entre as avenidas Vilarinho, �lvaro Camargos e Mar�on Ribeiro. Com �rea de 2,8 mil m² e quatro metros de profundidade, a estrutura, semelhante a uma piscina, ter� capacidade para absorver 10 milh�es de litros de �gua. Segundo previs�es da pr�pria PBH, no entanto, a empreitada s� deve ser conclu�da antes em 2021, ap�s o per�odo chuvoso.
O primeiro an�ncio de obras do prefeito para a regi�o ocorreu em novembro de 2018, quando as tempestades causaram duas trag�dias: a morte de uma jovem arrastada pela enxurrada, pr�ximo � galeria da rua Doutor �lvaro Camargos, e o afogamento de m�e e filha dentro do carro, tamb�m nos arredores da galeria. O projeto inclu�a a constru��o de t�neis para dar vaz�o � �gua empo�ada, mas acabou descartado, pois apresentava erros.
Questionada pelo Estado de Minas, a PBH mapeou mais seis obras complexas de preven��o a enchentes, centradas nos principais c�rregos da cidade. Entre todas as propostas elencadas, a �nica com previs�o de conclus�o ainda em 2020 � o alargamento do canal do C�rrego Ressaca, na avenida Her�clito Mour�o de Miranda, Regi�o da Pampulha. A pandemia, por outro lado, n�o deve atrasar o planejamento tra�ado at� ent�o pelo poder p�blico.
Principais interven��es em curso em BH
1) C�rrego Ressaca (Pampulha)
» Projeto: Obra iniciada em maio inclui a segunda etapa do alargamento do canal do c�rrego na Avenida Her�clito Mour�o de Miranda. O trecho tem aproximadamente 140 metros, entre as ruas Fel�cio dos Santos e Colonita, no Bairro Bandeirantes.
» Custo: N�o informado
» Previs�o de t�rmino: Segundo semestre de 2020.
2) C�rregos Olaria e Jatob� (Barreiro)
» Projeto: interven��es come�aram em julho e incluem tratamento de fundo de vale dos c�rregos, com implanta��o de bacia de deten��o de cheias com capacidade de 110 mil metros c�bicos. A obra est� concentrada nas ruas Primordial, Belo Perone e Olaria do Barreiro e nas avenidas Senador Levindo Coelho e Waldir Soeiro Emrich.
» Custo: R$ 18 milh�es
» Previs�o de t�rmino: Segundo semestre de 2021.
3) C�rregos do Nado, Lareira e Marimbondo (Venda Nova)
» Projeto: Iniciadas h� um ano no C�rrego do Nado e seus afluentes – os c�rregos Marimbondo e Lareira – obras comp�em o pacote de preven��o de enchentes na Avenida Vilarinho e entorno. A Sudecap faz tratamento de fundo de vale e conten��o de cheias dos cursos d’�gua.
» Custo: R$ 40 milh�es
» Previs�o de t�rmino: Fim de 2021
4) Bacia das Ind�strias (Ribeir�o Arrudas - Avenida Teresa Cristina)
» Projeto: Iniciada em abril, a interven��o inclui a constru��o da bacia de deten��o no Bairro das Ind�strias. A estrutura, com capacidade de armazenamento de 120 milh�es de litros de �gua, dar� vaz�o ao excesso de �gua durante as chuvas, evitando assim que Ribeir�o Arrudas fique sobrecarregado e transborde.
» Custo: R$ 28,9 milh�es
» Previs�o de t�rmino: N�o informada
5) C�rrego Leit�o (Avenida Cristiano Machado)
» Projeto: Primeira fase de execu��o prev� otimiza��o do sistema de macrodrenagem da bacia do Ribeir�o do On�a, na Regi�o Nordeste, para amenizar enchentes na regi�o da Avenida Cristiano Machado.
» Custo: N�o informado
» T�rmino: Sem previs�o
6) C�rrego Mangueira (Novo S�o Lucas)
» Projeto: Obra contempla implanta��o de redes coletoras de esgoto ao longo do c�rrego,m entre o Beco Piano e a Rua Doutor Jos� Severino, no Bairro Novo S�o Lucas, Leste de BH. Planejamento abrange tratamento das margens do curso d'�gua, com remo��o de 25 im�veis.
» Custo: R$ 3 milh�es
» Previs�o de t�rmino: N�o informado