
“N�o estou vivendo, estou sobrevivendo. N�o vivo mais desde que minha filha se foi.” As palavras s�o de Miriam Rose Pimentel Martins, m�e de Isadora Pimentel Martins, que morreu em um acidente de carro na Avenida Tancredo Neves, em 11 de dezembro de 2016. O causador do acidente, segundo boletim de ocorr�ncia da Pol�cia Militar, seria o motorista Rafael Vinicius Duarte Loureiro, que estaria embriagado. Na ocasi�o, ele se recusou a fazer o exame soprando o baf�metro. No mesmo acidente, morreu outro passageiro, Leonardo Ono de Moura, e Roberto Roie Meirelles Bahia ficou gravemente ferido.
Miriam se recorda da �ltima vez que viu a filha. “Ela havia me telefonado, dizendo que iria conhecer uma boate, Mandala. Era o anivers�rio de um amigo. Ela estava com o namorado, Rafael, que era o motorista. Questionei-a. Mas ela insistiu. Veio para casa, para se trocar. Uma vez em casa, eu e o Rafael ficamos conversando, quando ele perguntou pelo meu marido, pai da Isadora, S�rgio Luiz Martins da Silva. Falei que ele estava no segundo andar e fui ajud�-la a se aprontar."
A m�e conta que na conversa de Rafael com seu marido, S�rgio o aconselhou a irem com um carro de aplicativo, mas que o namorado insistia, dizendo que estava bem e que tudo sairia sem problemas.
“Eles sa�ram, perto de meia-noite. A Isadora dizia que tinha de chegar l� antes de meia-noite, para n�o pagar a entrada. Meu marido ainda recomendou ju�zo”, conta Miriam, que diz que foi se deitar com S�rgio.
Mas por volta de quatro horas, ela conta que acordou e estranhou o fato de Isadora ainda n�o ter chegado em casa. “Ela sempre foi certinha. Nunca passava de duas horas. Liguei para o telefone dela, mas n�o atendia. Liguei para o do Rafael, e tamb�m n�o atendia.”
Foi nesse instante, segundo Miriam, que o telefone fixo, que fica na sala, chamou. Ela correu para atender. “Era um policial militar, que falou que tinha acontecido um acidente e que a Isadora tinha falecido.”
Quando voltei ao quarto, S�rgio perguntou o que tinha acontecido. J� estava chorando e falei o que tinha acontecido. “Ali, minha vida acabou”, diz Miriam.
A trag�dia
O Estado de Minas, em sua edi��o de 12 de dezembro de 2016, diz: “Ao que tudo indica, o ve�culo que se acidentou participava de um racha antes de bater em uma manilha e uma �rvore. De acordo com a Pol�cia Militar, o motorista apresentava sintomas de embriaguez.”
Conta ainda que, segundo relato da Pol�cia Militar, testemunhas contaram para os militares que o motorista dirigia de forma temerosa, em alta velocidade, e os passageiros estavam sem cinto de seguran�a, com mais da metade dos corpos para fora da janela. Pouco antes da batida, outro ve�culo passou correndo pela via, o que levanta a suspeita de que eles participavam de um racha.
O carro s� parou depois de atingir uma �rvore. Com a batida, a passageira Isadora Pimentel Martins, de 18 anos, ficou presa �s ferragens e n�o resistiu. J� o outro ocupante do ve�culo que morreu, foi arremessado em dire��o ao c�rrego que passa pela avenida. A PM n�o conseguiu identific�-lo. Roberto Roie Meireles Bahia, de 19, foi levado, inconsciente, para o Hospital Jo�o XXIII.
Correndo atr�s
Miriam diz que desde esse dia, sua vida se transformou. Sua raz�o de viver � acompanhar, passo a passo, o caso na Justi�a. “L� se v�o quatro anos e n�o acontece nada. O caso nunca � julgado, mesmo com provas e testemunhas.”
Ela recorda o vel�rio, o sepultamento e os dias que se seguiram � morte da filha. “No vel�rio, um amigo do Rafael, que disse se chamar Daniel, disse que queria falar comigo e contaria tudo o que aconteceu. Foi � minha casa, com sua m�e.”
Tanto no vel�rio, quanto no dia da visita, Miriam tinha a seu lado uma amiga, que testemunhou toda a conversa. “Primeiro, eu disse que ele n�o precisaria me contar nada, pois isso n�o traria minha filha de volta. Mas a m�e dele falou para que falasse, sim, a verdade. Que contasse tudo”, diz Miriam.
Ela prossegue: “Perguntei se o Rafael tinha bebido. Ele respondeu que sim, que todos tinham bebido, menos a Isabela. Ela tinha tirado carteira dois meses antes. E ele h� cinco. Mas tirou a carteira e j� tinha um carro, um Celta, esperando na garagem.”
Miriam conta que tem tudo sobre o acidente guardado, fotos, principalmente. E que acompanha o desenrolar do processo, no 2º Tribunal do J�ri, pela internet. E reclama que o caso est� se arrastando.
H� dois anos, todos os dias, depois das 16h30, entro no site do F�rum. “No dia 28 de agosto, foi colocado que o processo estava pronto para ir a julgamento. Mas no dia 1º de setembro, tudo mudou. L� dizia que o juiz aguardava uma juntada de uma carta precat�ria de uma testemunha do motorista, na cidade de Navira�, no Mato Grosso do Sul.”
Nova surpresa
Ela continuou acompanhando e, no dia 23 de outubro, uma nova surpresa. “Dizia que o juiz n�o tinha se dado por satisfeito com o que foi relatado pela testemunha e que queria ouvi-la novamente, em nova carta precat�ria. O juiz n�o teria entendido bem o que a testemunha relatara.”
Miriam decidiu procurar o 2º Tribunal do J�ri e l� conversou com uma funcion�ria da secretaria, que explicou que o caso pode prescrever. “Ela me disse que o prazo � at� 2024.”
Miriam diz que existem provas e testemunhas que atestam a embriaguez do motorista. “Ele tem seis advogados. Eu n�o constitu� nenhum. Acompanho por mim mesma. S� quero que o julgamento aconte�a, para que eu tenha alguma paz.”
A dor, segundo Miriam, n�o � s� dela e de S�rgio, mas tamb�m da fam�lia da outra v�tima fatal, Leonardo. “Eu n�o o conhecia. Era amigo do Rafael. Ele ficou desfigurado, tanto que seu caix�o - ele foi enterrado em S�o Paulo -, teve de ser lacrado. Os pais, Iemi e Maur�cio, sequer quiseram voltar para Belo Horizonte. Mudaram de volta para S�o Paulo.”
Leonardo, no acidente, teve o corpo cuspido para fora do ve�culo. Isadora morreu presa �s ferragens.