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Estado de Minas NATAL

Pandemia faz Papai Noel contar novas hist�rias

Ele sumiu dos shoppings e anda mais tristonho, mas decidiu se reinventar. Agora usa m�scara, vai a eventos restritos e faz videochamadas. Tem saudade, mesmo, � do abra�o das crian�as


22/11/2020 04:00 - atualizado 22/11/2020 10:37

Marcos Henrique Gomes, de 74 anos, presidente da Associação dos Papais Noéis, tenta se adaptar à nova realidade, mas confessa: 'É difícil' (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS )
Marcos Henrique Gomes, de 74 anos, presidente da Associa��o dos Papais No�is, tenta se adaptar � nova realidade, mas confessa: '� dif�cil' (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS )
O local de estacionamento do tren� mudou, e o Papai Noel que reina dentro dos shoppings nesta �poca do ano n�o est� mais l�... Os pequenos, que costumavam segredar seus desejos ao ilustre senhor suado, de vestes vermelhas e barba branca, h�o de perguntar: “Por onde anda o bom velhinho?”. “Voltou para o Polo Norte?” Em um ano totalmente at�pico e cheio de mudan�as impostas pela lei de sobreviv�ncia � pandemia da COVID-19, os c�lebres personagens no Natal tiveram – eles tamb�m – de inventar novas hist�rias.

Papai Noel, como denunciam os cabelos brancos, pertence ao grupo de risco para o novo coronav�rus. Sendo assim, a vestimenta cl�ssica ganhou um item a mais. Agora ele tamb�m usa m�scara. Longe das filas dos shoppings e grandes lojas, costuma aterrissar com seu tren� com mais frequ�ncia em eventos particulares.

Faz foto em fam�lia e, tecnol�gico, n�o dispensa uma videochamada. Mas anda arredio aos abra�os e � conversa muito perto do p� da orelha. Recomenda��es m�dicas, que nem a magia do Natal consegue evitar...

Para organizar toda essa comunidade de bondosos personagens egressos de um imagin�rio Polo Norte, existe uma rede em Belo Horizonte. E a Associa��o dos Papais No�is (Aspanoeis) � presidida por – ningu�m mais, ningu�m menos – que um bom velhinho.

“Papai Noel n�o fica s� em shopping”, revela Marcos Henrique Gomes, de 74 anos, prestes a dar detalhes sobre a identidade secreta do personagem. “De certo modo est� certo, porque as crian�as querem abra�ar, mas podem estar com o v�rus e pass�-lo para o velhinho”, considera, pensando na sa�de dos No�is espalhados pela cidade.

A Aspanoeis tem 23 associados, mas somente 17 ainda incorporam o personagem mais querido do Natal. Desses, apenas 11 se colocaram � disposi��o para trabalhar neste ano. O maior dos motivos para n�o envergar o inconfund�vel traje de gorro e vestes vermelhos – agora, eventualmente, m�scara – � o receio da pandemia.

O Noel mais novo da associa��o tem 44 anos. Dois t�m 53 e o restante est� acima dos 60 – alguns na faixa dos 70. “Os mais velhos s�o aposentados. Os mais novos est�o na ativa e se dividem entre outras fun��es”, conta Marcos Henrique.

Nos centros de compras, fotos, agora, só com o Noel de brinquedo(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press)
Nos centros de compras, fotos, agora, s� com o Noel de brinquedo (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press)


A prefeitura n�o tem proibi��o expressa em rela��o � presen�a do Papai Noel nos shoppings centers. No entanto, a Secretaria Municipal de Sa�de, por meio da Portaria 0343/2020 – que informa sobre os protocolos de funcionamento de centros de compras e galerias de lojas – impede parques de divers�es para crian�as e “demais atividades de entretenimento e recrea��o, assim como eventos e campanhas com potencial de causar aglomera��o”. Dessa forma, esses estabelecimentos preferiram n�o contratar os velhinhos.

Ser Papai Noel sem dar abra�o � dif�cil

Marcos Henrique Gomes, Papai Noel


Mas o Natal, o show e o trabalho dos personagens t�m que continuar. Ent�o, prosseguem repletos de novos cuidados. “Eventos acontecem em pequenos sal�es e condom�nios, com hor�rio marcado. Ou ent�o por videoconfer�ncia”, conta Marcos, revelando os novos “truques” de Papai Noel.

Ele pr�prio conta que, quando atuou em uma casa no in�cio de novembro, n�o foi nada f�cil n�o poder abra�ar as crian�as. “N�o houve abra�o, foi o que eu tinha combinado. Foram ‘murrinhos’. As tr�s crian�as entregaram os bicos para ganhar os presentes, tiraram fotos, e pronto. Mas ser Papai Noel sem dar abra�o � dif�cil”, desabafa.

Marcos Henrique completa 11 anos de Papai Noel profissional em meio � pandemia. O trabalho no fim de ano � uma mistura de complementa��o da aposentadoria com o prazer de servir. Segundo ele, parte do pagamento que recebe anualmente � usada para a compra de brinquedos que doa a creches e institui��es em que trabalha voluntariamente.

“O diabo fecha uma porta, Deus abre duas”


Tem gente que faz a magia do Natal existir e contribui para que ela seja encantadora. � assim com Carlos Vicari Filho, de 70, que come�ou a interpretar Papai Noel h� sete anos. “Comecei aos 63, mas deveria ter iniciado antes, porque � muito gratificante”, conta o ex-banc�rio. Muito requisitado, ele j� trabalhou em shoppings da capital mineira e em outras cidades, como Cariacica, no Esp�rito Santo.

“Agora chegou este ano e praticamente proibiram Papai Noel de trabalhar em shopping. Poderiam colocar uma mesinha, um computador – a crian�a se sentaria na frente e o Papai Noel conversaria com ela por videochamada. Da mesma forma a gente falaria com os pequenos tudo o que costumamos falar pessoalmente”, sugere.

Carlos Vicari Filho: tecnologia poderia resolver desafios da ocasião(foto: Arquivo Pessoal)
Carlos Vicari Filho: tecnologia poderia resolver desafios da ocasi�o (foto: Arquivo Pessoal)


Mesmo sem trabalho oficial nos centros de compras, ele diz que tem recebido propostas de pais que querem videochamada com os filhos ou visitas presenciais para entrega de presentes. S�o esses convites que n�o o deixam perder a esperan�a.

“Quando me aposentei, passei a ganhar um sal�rio m�nimo, ent�o fica dif�cil. Este ano perdemos a renda dos shoppings, mas se Deus quiser vamos ter outra. Quando o diabo fecha uma porta, Deus abre duas. Estou confiante”, diz, esperan�oso

A gente n�o pode deixar de lembrar que o Papai Noel � uma figura importante no fim do ano, mas a principal � Jesus

Carlos Vicari Filho, Papai Noel


Religioso, Vicari acredita que um dos personagens mais emblem�ticos do Natal carrega tamb�m outros significados.

“A gente n�o pode deixar de lembrar que o Papai Noel � uma figura importante no fim do ano, mas a principal � Jesus. � o anivers�rio Dele, n�o podemos nos esquecer disso. Tenho pra mim que � como se Noel fosse uma incorpora��o dos tr�s reis magos, que levaram presentes para o Menino Jesus”, raciocina, apaixonado por ser ele mesmo o bom velhinho.

“A gente transmite uma alegria muito boa para as crian�as e, da mesma forma que cada uma gosta do Noel, tamb�m gostamos delas. Recebemos abra�os e conversas sinceras”, disse.

Entre v�rias hist�rias que presenciou durante os �ltimos anos, o personagem por tr�s da roupa vermelha conta que, inclusive, algumas crian�as gostam de Noel de forma “exagerada”.

“Tinha uma mocinha que ia no shopping todos os dias com a m�e, agarrava na minha barba e dizia que amava o Papai Noel. Eu respondia: ‘Papai Noel tamb�m ama voc�’”.

A rotina natalina, ainda que �s vezes exija doses generosas de psicologia e paci�ncia, faz falta. “Sinceramente, n�o sei como vai ser daqui pra frente”, segreda Papai Noel.

“Nosso Natal vai ser muito triste” 


A saudade do p�blico parece ser sentimento un�nime entre os No�is. Jos� Eust�quio Starling Solla, de 73, analisa uma proposta para atuar em Juazeiro do Norte (CE), mas o que ele queria, mesmo, era estar em BH, no meio das crian�as mineiras.

O Noel Starling conta que está enfrentando dificuldade para encontrar emprego na capital(foto: Arquivo Pessoal)
O Noel Starling conta que est� enfrentando dificuldade para encontrar emprego na capital (foto: Arquivo Pessoal)

“Aqui est� tudo abandonado, interditado, parado. Vai ser uma coisa estranha este Natal. Shopping sem Papai Noel? � como se fosse feira sem pastel. Uma tristeza”, comenta mais um bom velhinho, que tamb�m pensa em alternativas, como alguns dos colegas.

“Poderia ser feita alguma prote��o. Papai Noel sentado na cadeira, distanciamento, m�scara... O nosso Natal vai ser muito triste”, desabafa.

O Noel Starling – como � conhecido – conta que est� enfrentando dificuldade para encontrar emprego na capital. “At� os eventos est�o parados. Liguei para todos que fiz no ano passado. Todos est�o com medo da aglomera��o e pedem para esperar”, revela.

Representante comercial aposentado, ele diz que ser o personagem de botas e roupas vermelhas �, “para al�m de dinheiro extra, uma satisfa��o muito grande”. “Acho que demorei muito tempo para fazer isso. Deveria ter feito antes. � a melhor coisa para o cora��o estar sentado na cadeira e ver os olhos das crian�as em um misto de alegria e expectativa. Eu me emociono muito. � a coisa de que eu mais gosto. Mas este ano n�o vai ser.”

Servi�o
Para contratar os papais no�is, o contato da Aspanoeis � (31) 98405-3245.


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