
O Ambulat�rio de Sa�de do Adolescente do Hospital atende desde o m�s de maio deste ano, �s quartas-feiras, das 13h30 �s 18h, jovens que pertencem a este grupo de pessoas exclu�das socialmente. A unidade conta com uma equipe multiprofissional para acolh�-los.
Contudo, de acordo com o abaixo-assinado, “na �ltima semana, os profissionais do ambulat�rio foram notificados por um dos usu�rios que a p�gina https://fhemig.mg.gov.br/sala-de-imprensa/noticias-sala-imprensa/1904-hijpii-abre-ambulatorio-destinado-ao-atendimento-de-adolescentes-trans n�o se encontrava mais acess�vel, o que representa um risco para os avan�os na promo��o de sa�de igualit�ria para essa popula��o”.
Ainda segundo o texto, “estamos sofrendo ataques de forma velada pela parcela conservadora que comp�em o campo da �rea da sa�de, correndo o risco de n�o serem mais ofertadas consultas a partir do ano de 2021 para essa popula��o que durante s�culos foi marginalizada e teve seus direitos negados”.
O documento foi criado por Ianca Fernandes Vieira da Silva, aluna do 9° per�odo de Psicologia na Faculdade de Ci�ncias M�dicas de Minas Gerais. Ela faz parte do Centro Acad�mico de Psicologia Valenir Machado (CaPsiVam) e � diretora da Liga Acad�mica de Psican�lise (LAPSI). Al�m dela, Isabela Silva Oliveira, tamb�m estudante do 9° per�odo de Psicologia, membro da diretoria da LAPSI e outros alunos da liga est�o � frente da iniciativa.
A liga � um grupo formado por cerca de 20 alunos, com aulas mensais para discutir temas e projetos de extens�o de impacto social.
“A gente recebeu esse ano, o convite do ambulat�rio para fazer uma parceria de extens�o, para podermos atender no ambulat�rio. S� que devido � pandemia e algumas quest�es burocr�ticas para colocar o projeto em funcionamento, isso foi ficando um pouco adiado. Agora no final do ano acabamos tendo pouca ades�o e decidimos deixar para o in�cio do pr�ximo ano, acreditando que o grupo teria um pouco mais de sentido”, diz Ianca.
Ela conta que na manh� desta ter�a-feira (29/12) recebeu a not�cia de que o link da Fhemig que estava vinculado ao Ambulat�rio de Sa�de do Adolescente Trans tinha sa�do do ar. “No momento que a gente recebeu essa not�cia, ficamos muito preocupados. � uma parceria a que n�s nos dedicamos bastante, para escrever o projeto. Participamos de aulas do N�cleo do ambulat�rio, com aulas mensais, discutindo v�rias quest�es que perpassam a vida dos adolescentes trans. Era algo que a gente estava acreditando muito”.
A estudante explica que quando ficou sabendo do problema com o link, ela e outros membros da liga decidiram que precisavam tomar alguma atitude. “Enquanto cidad�os e profissionais que v�o atuar nesse sistema, a gente n�o pode ver isso e n�o fazer nada. Decidimos fazer o abaixo-assinado para poder falar com as pessoas sobre o que estava acontecendo e chamar aten��o para isso, que pode vir a ser mais um desmonte”.
Segundo ela, os membros da liga estavam felizes com essa nova parceria no ambulat�rio. “A gente estava contente de ter conseguido algo que � t�o importante e uma tem�tica que �s vezes � silenciada”.
Aten��o para situa��o das pessoas trans
O objetivo do abaixo-assinado � chamar aten��o das pessoas para a situa��o de vulnerabilidade desses adolescentes trans. “J� estamos vendo tantos desmontes na �rea da sa�de mental. N�o me surpreenderia deles tentarem acabar com uma iniciativa importante, levando em conta toda a quest�o social. A popula��o trans sempre esteve marginalizada, eles nunca tiveram oportunidades. � a popula��o que mais morre no nosso pa�s”.
Para a estudante, pessoas trans devem ter direito a um atendimento de qualidade. “Muitas vezes os profissionais n�o est�o preparados, n�o conseguem lidar com a demanda. Dentro do ambulat�rio era uma oportunidade deles terem um atendimento multiprofissional. Al�m do atendimento cl�nico, com profissionais preparados, precisamos ofertar um atendimento de qualidade.”
Ela acredita que o grande problema desse projeto � a popula��o que ele atende. “A tentativa de silenciamento � realmente por uma parte do conselho e da Assembleia que � muito conservadora e que n�o acredita que essas tem�ticas devam ser discutidas. Isso � acesso � informa��o de qualidade para que o adolescente consiga decidir de fato que caminho ele quer tomar, sem esse olhar preconceituoso. A gente n�o pode fazer essas escolhas pelo outro. Para mim � realmente um boicote por preconceito”, finaliza.
Gl�ucia Mara Caetano Ferreira � m�e de um adolescente de 15 anos atendido no ambulat�rio e conta como � o atendimento.
“� um servi�o novo e tem uns 4 meses que n�s estamos indo l�. No dia da consulta passamos a tarde inteira l�. Tem consulta com endocrinologista, com pediatra, com psiquiatra, assistente social, terapeuta, psic�loga. � uma equipe grande. O profissional conversa com o adolescente sozinho, conversa comigo sozinha e depois com os dois. O atendimento � muito bom l�”.
Segundo ela, na �ltima consulta feita no dia 23 de dezembro, o clima no local estava um pouco tenso. Durante o atendimento, um dos profissionais contou ao jovem sobre a incerteza da continuidade do tratamento. “Ningu�m me falou diretamente, mas vi algumas pessoas comentando. No grupo de m�es tamb�m estavam dando informa��es e mandando o abaixo-assinado”, diz.
Sobre a possibilidade do ambulat�rio n�o atender mais aos adolescentes trans, a partir do ano que vem, Gl�ucia � categ�rica.
“� bem ruim. N�o temos mais a quem recorrer. Os profissionais do projeto s�o preparados para lidar com esse tipo de situa��o. O endocrinologista est� preparado para lidar com a situa��o de terapia hormonal, mudan�as no corpo. N�o � a mesma coisa de ir a um endocrinologista comum. O mesmo com o psiquiatra que tem toda uma abordagem voltada para essas quest�es”.
Para ela, sem o atendimento os jovens v�o ficar sem rumo. “Muitos adolescentes v�o sozinhos porque nem a fam�lia os apoia. Eles t�m um porto seguro ali. S�o tratados pelo nome social e a equipe toda tem um carinho muito grande por eles. O que vai ser deles?”, questiona.
M�es pela Liberdade
Gl�ucia faz parte tamb�m do movimento M�es pela Liberdade. � um coletivo de pais e m�es da popula��o lgbtqia+, que luta pelo direito de cidadania de suas filhas, filhos e filhes. � um movimento que acolhe fam�lias para que o di�logo e afeto sejam fortalecidos.
O objetivo � desconstruir o preconceito e a intoler�ncia que mata sonhos, projetos e corpos, levando informa��o e resgatando a dignidade da popula��o lgbtqia .
De acordo com o Boletim 2/2020 da Associa��o Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), o Brasil apresenta, pela segunda vez consecutiva, um aumento no n�mero de assassinatos de pessoas trans em rela��o a 2019, sendo o pa�s que mais mata pessoas trans no mundo.
Funcionamento normal
Em nota, a Fhemig informa que o Hospital Infantil Jo�o Paulo II possui o Ambulat�rio do Adolescente – servi�o que conta com equipe multiprofissional especializada para a assist�ncia a essa faixa et�ria e que, inclusive, est� apto a realizar abordagem cl�nica de pacientes com demanda transg�nero.
Para que seja criado um ambulat�rio especializado no atendimento a adolescentes trans, � necess�ria a habilita��o do servi�o pelo Minist�rio da Sa�de e, at� o momento, n�o h� portaria que determine crit�rios para a habilita��o de um servi�o voltado exclusivamente para esse paciente.
A Fhemig se mant�m atenta �s novas pol�ticas p�blicas que possam definir uma habilita��o no futuro e reafirma que o servi�o realizado no Ambulat�rio do Adolescente, no Hospital Infantil Jo�o Paulo II, segue funcionando normalmente.
* Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Ellen Cristie.