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Estado de Minas COVID-19

Nem vacina alivia sufoco nos hospitais de Minas Gerais

Ouro Preto trava guerra contra o coronav�rus com lota��o de 100% em UTIs. Enfermeiros de Governador Valadares e Juiz de Fora narram dores em rotina estafante


25/01/2021 06:00 - atualizado 25/01/2021 13:50

Na linha de frente, Leomir Maia, Cristiano Alves e Lilian Silva foram os primeiros vacinados na Santa Casa de Ouro Preto: mais segurança para trabalhar após meses de luta desgastante física e psiquicamente (foto: Anne Souz/Divulgação)
Na linha de frente, Leomir Maia, Cristiano Alves e Lilian Silva foram os primeiros vacinados na Santa Casa de Ouro Preto: mais seguran�a para trabalhar ap�s meses de luta desgastante f�sica e psiquicamente (foto: Anne Souz/Divulga��o)

 

Ouro Preto – A Regi�o dos Inconfidentes, onde foram dados os primeiros gritos de liberdade para dias melhores, hoje est� sufocada pela dor das 115 mortes por COVID-19 nas cidades de Ouro Preto, Mariana e Itabirito. Nos �ltimos 10 dias fam�lias enterraram 23 pessoas. Na luta por salvar vidas, o gerente assistencial da Santa Casa de Ouro Preto, Leandro Leonardo de Assis, pede aten��o para a situa��o que os profissionais da linha de frente enfrentam no combate � COVID-19. Na Santa Casa de Ouro Preto, polo de atendimento das cidades, a taxa de leitos de UTI para COVID-19 est� em 100% de ocupa��o desde 28 de dezembro e de enfermaria, segundo boletim atualizado em 21 de janeiro, est� com 100% ocupa��o.

 

Esses n�meros se refletem na vida dos profissionais da sa�de que hoje trabalham nos 10 leitos de UTIs da institui��o e a chegada da vacina foi vista como uma brisa em tempos sufocantes. “Foi muito emocionante participar dessa conquista da ci�ncia. Sermos o primeiro local, em Ouro Preto, a receber o lote da vacina demonstra o respeito com a Irmandade de Sant'Ana e o reconhecimento dos trabalhos que v�m sendo feitos na Santa Casa”, diz o gerente assistencial.

 

Mas passada a alegria das primeiras pessoas vacinadas, a realidade ainda � preocupante. De acordo com Leandro Leonardo, o quantitativo de vacinas que chegaram � insuficiente para atender toda a demanda do hospital. Foram entregues, na ter�a-feira (19), 200 vacinas. “Priorizamos aqueles que atuam na UTI e Pronto Atendimento do Hospital, pois essa foi a recomenda��o do munic�pio. No entanto, nossa demanda geral, incluindo os setores administrativos, � de 585 pessoas que precisam ser imunizadas.”

 

Mesmo com a chegada do imunizante, Leandro de Assis vê dias difíceis pela frente:
Mesmo com a chegada do imunizante, Leandro de Assis v� dias dif�ceis pela frente: "O cen�rio atual � muito tenso" (foto: Arquivo pessoal)

 

Com a imuniza��o ainda fora do alcance da maioria da popula��o e at� dos colegas da �rea, o enfermeiro, que hoje est� entre as lideran�as da institui��o, v� com preocupa��o os avan�os da doen�a. Casado e pai de dois filhos, o gerente assistencial da Santa Casa, afirma que a invisibilidade e a falta de reconhecimento e de envolvimento por parte da popula��o t�m dificultado o combate � pandemia. “Quando todo mundo precisou parar, s� n�s n�o paramos. � uma realidade que ningu�m entende que no dia a dia, a gente luta para manter o melhor. � o tempo todo correndo atr�s. A�, muitas vezes, temos profissionais desmotivados por n�o verem um entendimento da popula��o de que a luta para dias melhores � de todos”.

 

Para atender os 10 leitos da UTI COVID-19 s�o necess�rios cerca de 70 profissionais da sa�de, entre eles 14 m�dicos, quatro enfermeiros de n�vel superior, 30 profissionais t�cnicos de enfermagem, seis fisioterapeutas, seis nutricionistas. Segundo Assis, o empenho da equipe e a dedica��o dos profissionais durante quase um ano de linha de frente na pandemia s�o fundamentais para que muitas vidas possam ser salvas, mas, por outro lado, pessoas que poderiam ser lideran�as em suas comunidades, no sentido de orientar e envolver, n�o t�m feito esse papel, pelo contr�rio, muitos negam a gravidade”.

 

“Independente de pol�tica, de qual forma de lideran�a que a pessoa exer�a, � necess�rio o envolvimento. Se a pessoa tiver oportunidade de envolver e orientar outras pessoas, ela j� estar� fazendo essa lideran�a e vai contribuir de alguma forma. N�o � uma quest�o de pol�tica partid�ria, o envolvimento est� relacionado a uma conscientiza��o social e pessoal”.

 

O gerente assistencial da Santa Casa conta que a sa�de mental de muitos profissionais da institui��o ficou comprometida ao longo desse quase um ano de pandemia. O hospital trabalha em regime de contrata��o por CLT e por n�o poder se licenciar, muitos profissionais da linha de frente pediram demiss�o alegando esgotamento f�sico e emocional.

 

“O cen�rio atual � muito tenso porque quando surgiu a pandemia os profissionais esperavam um per�odo curto de intensifica��o das medidas de cuidado de prote��o, em torno de dois, tr�s meses e j� estamos h� quase um ano. E o que vemos hoje nos profissionais � um desgaste f�sico e emocional muito grande pela extens�o do problema. Hoje a nossa dificuldade � achar e manter profissionais qualificados, continuando na garantia de assist�ncia de qualidade aos pacientes”, analisa.

 

Leandro afirma que dentro da Santa Casa de Ouro Preto h� cuidados em rela��o � sa�de mental da equipe. “Dentro do nosso recursos humanos temos profissionais para nos atender. Dentro do hospital tem um grupo de quatro psic�logos que atendem tanto quem est� internado, quanto a equipe de sa�de”. Mas mesmo assim, a vida pessoal dos profissionais fica comprometida. O pr�prio gerente sente a falta do abra�o do filho, de 15 anos. Por morar em outra cidade, as visitas ao pai foram reduzidas desde o in�cio da pandemia e quando os dois se encontram � sempre com distanciamento.

 

O gerente conta que esse sacrif�cio foi notado em outros membros da equipe de sa�de e um deles, para evitar contato com familiar do grupo de risco, chegou a entrar em casa pulando a janela do quarto, dormir, e no dia seguinte sair de casa pulando pela janela novamente. “Come�amos a sentir o preconceito por sermos profissionais da linha de frente. A mesma sociedade que aglomera se isola da gente por sermos fontes de poss�vel transmiss�o. Na verdade � o contr�rio, por sabermos da seriedade da doen�a, somos os mais prevenidos, justamente por estarmos na linha de frente dessa guerra ao v�rus”.

 

INFLA��O Outro desafio enfrentado pelos hospitais que atendem pacientes com COVID-19 foi o aumento de pre�os e falta de produtos. Enquanto em alguns pa�ses houve medidas para conter a infla��o de medicamentos e equipamentos necess�rios no combate � COVID-19, o que foi visto, desde o in�cio no Brasil foram aumentos em alguns produtos, que chegaram a 900%.

 

De acordo com o gerente assistencial da Santa Casa, sedativos que antes da pandemia custavam R$9,00, no per�odo cr�tico de junho, julho, agosto chegaram a R$90,00. “No in�cio, tivemos muita dificuldade em adquirir os equipamentos de prote��o individual para os nossos funcion�rios mais foi o mercado que se fechou para todos os servi�os, a dificuldade para a compra de m�scaras, os capotes imperme�veis e tivemos que adotar estrat�gias como por exemplo, as nossas costureiras produzirem os capotes”.

 

Hoje a maior dificuldade, segundo o gerente, � a infla��o de demanda. “Vemos muitos produtos inflacionados como por exemplo a m�scara cir�rgica que compr�vamos a R$ 0,13 a unidade e hoje custa em m�dia R$ 2,00. Os valores deram uma melhorada em outubro, novembro e agora em janeiro j� percebo uma nova infla��o, tem medicamentos que j� estamo,s com dificuldade de comprar, como relaxantes musculares”.

 

Depoimentos

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
 

Chamado � consci�ncia 

C�ntia Martins Aguiar,enfermeira intensivista do Hospital Municipal de Governador Valadares

 

“Sou enfermeira p�s-graduada em terapia intensiva adulto e resolvi me especializar porque senti em meu cora��o a necessidade de cuidar das pessoas gravemente enfermas. A pandemia do novo coronav�rus agu�ou minha sensibilidade, por perceber o medo e a inseguran�a nos olhos dos pacientes quando ainda est�o conscientes antes da intuba��o.

 

A sensa��o de impot�ncia e ang�stia me faz refletir sobre a fragilidade e brevidade de nossa exist�ncia. Em muitos casos, os pacientes j� est�o com comprometimentos mais graves e aceitam facilmente a intuba��o, porque n�o aguentam mais, est�o no limite por n�o conseguir respirar. Eles chegam ansiosos e com medo de morrer. Ficam sem acompanhante, sem visita e sem o apoio familiar. Muitas vezes, n�s somos o apoio.

 

O v�rus � altamente contagioso. Essa � a mensagem que eu gostaria de deixar para toda a popula��o. Fam�lias chorando na porta da UTI, gritos de dor e desespero est�o virando rotina. � preciso lembrar que os doentes precisam do meu cuidado, da minha calma e serenidade. Estamos com o f�sico e o emocional muito sobrecarregados. Tenho compromisso com a vida! Preciso me cuidar para cuidar das pessoas.

 

Neste per�odo de vig�ncia da onda vermelha, gostaria que as pessoas se conscientizassem da import�ncia de manter o isolamento. Temos de evitar as aglomera��es, e assim, n�o colocar em risco as pessoas mais vulner�veis. Ficar em casa n�o � s� se isolar; � uma atitude de empatia e prote��o aos mais fr�geis. � ilus�o pensarmos que pessoas jovens n�o ter�o problemas. Cada vez mais, temos pacientes jovens acometidos pela COVID-19 e com agravamentos significativos.

 

N�o � s� sobre ‘pegar’ � sobre tamb�m transmitir! � sobre respeito aos mais vulner�veis! Sobre n�o superlotar os hospitais! Sobre n�o devastar o sistema de sa�de e respeitar os profissionais que ali trabalham! Conscientizem-se! Recolham-se!

 

A chegada da vacina contra a COVID-19 e in�cio da imuniza��o da linha de frente trouxeram esperan�a para a popula��o, principalmente para os profissionais de enfermagem. Fui vacinada no dia 20 com a CoronaVac, produzida pela empresa Sinovac e o Instituto Butantan. E quero deixar claro que a vacina � a melhor forma de preven��o de muitas doen�as e, com certeza, ser� para a COVID-19.

 

A vacina��o est� entre as maiores conquistas em sa�de p�blica no mundo e hoje, o Brasil passa por um momento de grande avan�o. Foi dado o primeiro passo para a maior campanha de vacina��o no mundo contra o novo coronav�rus.”

 

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
 

Exposi��o estressante

 

Juliana Carpanez, t�cnica de enfermagem do Hospital de Pronto-Socorro Dr. Mozart Teixeira, em Juiz de fora

 

“Apesar de n�o trabalhar direto no setor de COVID-19, a gente recebe pacientes com traumas e quando vamos ver, ele testou positivo. � muita inseguran�a, essa � a palavra-chave. Porque voc� fica exposta, preocupada. Quando a gente trabalha direto com pacientes COVID-19, j� sabe e usa os equipamentos certos. A press�o psicol�gica � muita, voc� est� o tempo todo exposto. Eu me contaminei em agosto e � muito ruim. Passei muito mal. A cada sintoma diferente, mais preocupada a gente fica. A exaust�o f�sica � muita tamb�m, porque muitos profissionais foram afastados por serem idosos, grupo de risco. Ent�o, a sobrecarga de trabalho � muito grande, com muitos plant�es extras.”

 

 

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)

Trabalho dobrado

 

Anderson Leandro, de 40 anos, enfermeiro do Hospital Jo�o Penido, em Juiz de Fora

 

“� cansativo, estressante, a gente tenta n�o demonstrar, mas fica com falta de paci�ncia, passa a comer mais. Tem o estresse do trabalho, mais o isolamento em casa, porque a gente n�o sai mais. E quando um colega falta ao trabalho, se estou dispon�vel, vou cobrir o hor�rio e dobro. J� fui trabalhar 12 horas, mas um colega teve problemas de sa�de e trabalhei mais 12. Topo esse desafio de trabalhar 24 horas porque, gra�as � minha chefia, depois consigo encaixar as folgas. Vejo que v�rias pessoas internadas agora estavam fazendo isolamento mas, no final de ano, algu�m foi fazer uma visita, um filho, sobrinho. A consequ�ncia vem agora. Tem muito paciente que chega conversando, em p�, e, em menos de 36 horas j� est� intubado � beira da morte.” 

O que � o coronav�rus


Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 � transmitida? 

A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?


Como se prevenir?

A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�

Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam:

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus. 

V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.

Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia

Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:

 

 


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