
“S� o Cara�a paga toda a viagem a Minas.” A frase de dom Pedro II (1825-1891) persiste como um dos marcos da c�lebre visita do imperador ao estado, ent�o prov�ncia, com deslocamentos durante 36 dias pelas regi�es do Quadril�tero Ferr�fero, Campo das Vertentes e Zona da Mata.
Vale destacar que a viagem deixou marcas at� no paladar. Em Barbacena, na Regi�o Central, o card�pio do banquete servido ao casal imperial � recriado nos m�nimos detalhes em um restaurante da cidade – e continuar�, em ocasi�es especiais, t�o logo a pandemia do novo coronav�rus permita. Quem j� provou agradece de joelhos tanto requinte e fica imaginando a harmoniza��o, na �poca, com vinhos franceses e portugueses.
Dom Pedro II j� havia estado na prov�ncia de Minas, mas n�o por muito tempo, como na visita de 26 de mar�o a 30 de abril de 1881. “Foi uma viagem exaustiva, de trem, a cavalo e numa barca�a pelo Rio das Velhas”, conta a professora Regina Almeida, do IHGMG, estudiosa do di�rio escrito a l�pis pelo imperador. O documento, formado tamb�m por muitas cadernetas de notas, se encontra no Museu Imperial, em Petr�polis (RJ).
“Ele veio para conhecer a realidade de Minas. Homem de grande cultura, o imperador se preocupava com tudo: fauna, flora, mineralogia, geologia, educa��o, religi�o, justi�a, agropecu�ria. Chegou a visitar 10 minera��es, incluindo a Mina de Morro Velho, onde vestiu a roupa de ‘algod�o grosso dos mineiros’”, diz a professora. A visita foi acompanhada por jornalistas, e a Revista Ilustrada, do Rio, publicou um desenho do casal imperial nos trajes adequados ao local de minera��o.
Dom Pedro II, ent�o com 59 anos, tinha planos, mas, oito anos depois, houve a Proclama��o da Rep�blica. “Estava interessado na expans�o da ferrovia, tanto que viajou por v�rios ramais. Era grande administrador, ent�o, em cada uma das prov�ncias que visitou (na �poca, eram 21), tinha o olhar pol�tico, no bom sentido, e foco nos setores cultural, econ�mico, art�stico, educacional, de transporte e servi�os p�blicos”, acrescenta.
Na leitura do di�rio, acompanham-se os giros do imperador pelas cadeias, com considera��es sobre a higiene e o cheiro; �s escolas, �s vezes com cr�ticas �cidas ao desempenho de professores e dos alunos; �s igrejas e capelas, nem sempre agradando ao seu gosto; �s apresenta��es art�sticas; e aos teatros, que ganham compara��es uns com os outros.
Trajeto
Depois de Barbacena, aonde chegou de trem, o imperador e comitiva passaram por Caranda�, Conselheiro Lafaiete (antiga Queluz), pela localidade de Varginha do Louren�o e Ouro Branco at� Ouro Preto. No trajeto, o monarca lia constantemente os relatos do naturalista franc�s Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que viajara por Minas seis d�cadas antes.
Depois, ainda a cavalo (a imperatriz era conduzida em liteira), o imperador seguiu para Nova Lima, passando por Rio Acima. No destino, conheceu a mina de Morro Velho. Entre os dois �ltimos munic�pios, uma curiosidade: ele caiu do cavalo, e o desenho da queda foi capa da Revista Ilustrada.

Pr�ximo destino, Sabar�, de onde, pelo Rio das Velhas, chegou a Santa Luzia, com visita ao Mosteiro de Maca�bas. Da cidade, o imperador fez um desenho da paisagem, sobressaindo a igreja matriz dedicada � padroeira, e ficou registrada a chegada da barca�a C�nego Santana ao porto pr�ximo � antiga ponte de madeira.
Na sequ�ncia, Lagoa Santa, com direito a visitas � Gruta da Lapinha e � casa na qual viveu o paleont�logo dinamarqu�s Peter Wilhelm Lund (1801-1880), falecido no ano anterior (1880).
A viagem incluiu novamente Santa Luzia, para almo�o, Sabar�, Caet�, Gongo S�co, Bar�o de Cocais, Brumal, Col�gio do Cara�a (atual Santu�rio do Cara�a), Catas Altas e Mariana, com passagem pelo Arraial do Inficionado, hoje Santa Rita Dur�o, Bento Rodrigues e Camargos.
Em Bento Rodrigues, distrito que viria a ser quase totalmente destru�do pelo rompimento da Barragem do Fund�o, em 2015, o monarca anotou no di�rio a presen�a da igreja, depois arrasada pelos rejeitos de min�rio. No seu di�rio, dom Pedro registrou tamb�m as cerim�nias da semana santa em Mariana, sede do bispado.
De Ouro Preto, visitada pela segunda vez, o imperador e comitiva passaram por Ouro Branco e Queluz e chegaram � regi�o do Campo das Vertentes: Santo Amaro (atual Queluzito), Lagoa Dourada, S�o Jo�o del-Rei e Tiradentes.
De Tiradentes, e a partir de ent�o sempre de trem pelos ramais, a comitiva seguiu para Barbacena e depois Juiz de Fora, S�o Jo�o Nepomuceno, Bicas, Sapucaia, Porto Novo, Pirapetinga, Pomba e Pres�dio (atual Visconde do Rio Branco), Ub� e Al�m Para�ba, de onde retornou ao Rio.