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Estado de Minas Li��es da pandemia

Como a ci�ncia � usada nas medidas para conter o avan�o da COVID-19

Em sua pr�pria trincheira, infectologistas e epidemiologistas se valeram do m�todo cient�fico para tentar bloquear o v�rus


04/07/2021 04:00 - atualizado 04/07/2021 08:51

(foto: Bruno Haddad/Divulgação)
(foto: Bruno Haddad/Divulga��o)

Essa � a beleza da ci�ncia: a gente vai entendendo e modificando as recomenda��es, de acordo com o que vai aprendendo. Mas existe um norte, que � o do bom senso

Luana Ara�jo, m�dica infectologista e epidemiologista

 

Al�m de m�dicos e enfermeiros que lutam diariamente na guerra a favor da vida nos corredores dos hospitais, em outra frente de batalha guerreiam os epidemiologistas e infectologistas. Durante a pandemia do novo coronav�rus, esses profissionais aprenderam sobre contamina��o, transmiss�o, medicamentos, efici�ncia de per�odos de restri��es mais rigorosas da mobilidade e at� sobre vacinas. Hoje, celebram avan�os da ci�ncia, que foi desafiada e questionada, mas evoluiu de forma avassaladora ao longo de um ano.

 

(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A. PRESS)
(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A. PRESS)

A gente tem que rever protocolos, orienta��es continuamente. O que a ci�ncia evoluiu nesse tempo, em rela��o ao entendimento de como as coisas funcionam, � uma enormidade

Adelino Melo de Freire Junior, m�dico infectologista e diretor t�cnico-cient�fico do Hospital Fel�cio Rocho

O primeiro caso oficial de COVID-19 no mundo foi de um paciente hospitalizado em 12 de dezembro de 2019 em Wuhan, na China. Desde ent�o, um inimigo pouco conhecido, o v�rus Sars-CoV-2, mobilizou todo o mundo para buscar respostas de tratamento e solu��es para barrar sua dissemina��o. No in�cio, por exemplo, era recomendado que apenas pessoas com sintomas usassem m�scara. Hoje, a recomenda��o � de que todos usem, e, se poss�vel, pelo menos duas. � o que explica a m�dica Luana Ara�jo, infectologista e epidemiologista que deu um dos mais contundentes depoimentos em defesa da ci�ncia e contra o uso de m�todos sem comprova��o na CPI da COVID, no Senado.

 

“� preciso olhar essa recomenda��o numa perspectiva de contexto da �poca. O que a gente sabia era que n�o se tinha recursos e insumos suficientes para proteger todo mundo. Ent�o, precisava-se, � �poca, gerir esses recursos de forma que chegasse a quem precisava mais. E quem precisava mais naquele momento eram principalmente trabalhadores de sa�de, que se expunham constantemente ao v�rus, cuja patogenicidade ainda estava sendo entendida. Ent�o todos os recursos que t�nhamos na �poca, as m�scaras de maior prote��o, as N95, deveriam ser alocadas a esses profissionais”, lembra.

 

Aos poucos, a ind�stria se equipou e conseguiu produzir mais desses insumos. Paralelamente, a ci�ncia foi compreendendo melhor o mecanismo de transmiss�o da doen�a, ao conseguir provar, por exemplo, que o assintom�tico tamb�m transmite o v�rus e precisa usar m�scara, al�m de outras medidas de prote��o, como a correta higiene de m�os e o distanciamento. “Essa � a beleza da ci�ncia: a gente vai entendendo e modificando essas recomenda��es, de acordo com aquilo que vai aprendendo. Mas  existe um norte, que � o do bom senso, que deve sempre prevalecer”, ressaltou Luana.

 

Outro aprendizado sobre a transmiss�o � a evid�ncia de que a principal forma de contamina��o � a respirat�ria. “A via da contamina��o de superf�cies, embora existente, n�o � a mais importante. A mais importante � a respirat�ria”, ressalta a especialista, que lista outros aprendizados. “A gente tamb�m entendeu que existe um grau de transmiss�o desse v�rus, que n�o � s� por got�cula, mas tamb�m por aerossol, ent�o a ventila��o natural � uma ferramenta extremamente �til para lidar com isso, porque o ar parado � um ar que cont�m part�culas em suspens�o e elas podem conter o v�rus. Aquela via de (transmiss�o por) superf�cies – por causa da qual se lava tudo, higieniza tudo, passa desinfetante – essa n�o tem a import�ncia que se acreditava no come�o, e a gente agora sabe que a higiene de m�os � suficiente para compensar esse tipo de via.”

 

Do desconhecido ao mais eficaz antiv�rus

 

O m�dico infectologista Adelino Melo de Freire Junior, diretor-m�dico da Target Medicina de Precis�o e diretor t�cnico-cient�fico do Hospital Fel�cio Rocho, lembra como foi ser infectologista no momento de chegada da COVID-19. “Em 23 de janeiro de 2020, eu estava chegando ao Hospital Fel�cio Rocho e uma das enfermeiras me ligou falando que havia um jovem no pronto-socorro com quadro de febre, dor no corpo e tinha chegado recentemente de uma cidade na China, a tal cidade de Wuhan, que parecia que estava tendo algum problema. Naquele momento, fiquei superassustado. Fui me paramentar todo e conhecer o paciente”, relembra o m�dico.

 

O paciente, um jovem de Belo Horizonte que fazia est�gio em Wuhan, tinha chegado havia cinco dias ao Brasil. Embora estivesse com gastroenterite e sem sintomas respirat�rios, o m�dico fez contato com a Vigil�ncia Epidemiol�gica. Mas, como n�o eram sintomas compat�veis com o que se sabia de COVID-19 na �poca, o rapaz acabou sendo liberado. “Com nenhum sintoma de gravidade, dois dias depois ele estava absolutamente curado. Mas aquilo acendeu um farol vermelho pra gente. Montamos nosso comit� de crise dias depois, tentando ali fazer algumas previs�es, de compra de insumos, imaginando que aquilo poderia realmente se espalhar”, conta.

 

Em meados de mar�o, quando a corrida por insumos ocorreu de verdade, o m�dico percebeu que, mesmo tendo feito previs�o de comprar com anteced�ncia, o hospital em que trabalha s� tinha material para tr�s dias de aten��o � COVID-19. “A realidade foi muito al�m do que a gente havia previsto. Tem sido ainda uma experi�ncia de muito crescimento, aprendizado, trabalho em equipe, e de certa forma de humildade. A gente tem que rever protocolos, orienta��es continuamente. O que a ci�ncia evoluiu nesse tempo, em rela��o ao entendimento de como as coisas funcionam, � uma enormidade”, disse.

 

S�o li��es, al�m de humanit�rias, t�cnicas que ser�o levadas para o p�s-pandemia. “Acho que a gente aprendeu uma s�rie de coisas. Uma das grandes li��es � o valor desse novo tipo, dessa nova plataforma de vacinas, que � a de RNA, um divisor de �guas para a ci�ncia. Pode fazer com que a gente consiga novos imunizantes e novas atualiza��es de vacinas”, comenta o m�dico, que foi vacinado exatamente um ano depois do atendimento do rapaz que chegava de Wuhan. “Minha primeira dose foi 365 dias depois. Isso foi um grande avan�o. A gente imaginar que para uma doen�a nova se consiga uma vacina em um ano sendo aplicada no mundo inteiro, sem d�vida � um grande avan�o da ci�ncia.”

 

O que eles ainda se perguntam

 

Embora muito conhecimento j� tenha sido adquirido, perguntas sobre a infec��o pelo novo coronav�rus ainda permanecem sem resposta. Confira algumas listadas por especialistas consultados pelo EM:

 

O mix de vacinas que a gente tem � suficiente para atender �s necessidades globais?

 O ritmo que a gente est� fazendo vai proteger  todos? Porque a gente j� sabe que n�o � s� uma quest�o de efic�cia de vacina��o, � uma quest�o de velocidade de a��o, e que se algum lugar do mundo permanece n�o vacinado, esse lugar se torna um santu�rio para o v�rus conseguir se multiplicar e produzir novas variantes que podem colocar o resto do planeta inteiro a perder do novo. N�o � s� o nosso mix de vacinas, estamos no ritmo adequado para isso?


Quais s�o as consequ�ncias do COVID a longo prazo? 

Sabemos que s�o consequ�ncias individuais em v�rios sistemas, consequ�ncias cardiovasculares, cerebrais, temos problemas na emerg�ncia de doen�as como diabetes. A gente j� sabe que o v�rus deflagra muita coisa no organismo das pessoas, ent�o qual � o tamanho disso e qual impacto vai ter no sistema de sa�de?


Qual � o impacto da pandemia no desenvolvimento do nosso pa�s? 

S�o muitos os impactos na sa�de, mas h� as outras �reas que s�o afetadas. Qual o impacto sobre nossa educa��o ou desenvolvimento socioecon�mico? Pode parecer que � s� um v�rus, mas tudo que est� ligado a ele, desde a doen�a at� a nossa capacidade como sociedade de lidar com ele, at� os efeitos na sa�de individual e no reflexo coletivo e como isso vai se portar na nossa hist�ria como sociedade. Ainda h� muito a descobrir.


Luana Ara�jo, m�dica infectologista e epidemiologista

 

A pergunta da vez � de fato a origem do v�rus. 

Se a transmiss�o come�ou de origem animal ou se houve realmente vazamento em laborat�rio de pesquisa. Fazendo coro com todo o mundo, at� com a Organiza��o Mundial da Sa�de, neste momento, n�o h� evid�ncias que concluam nem para um lado nem para outro. N�o acredito em teorias da conspira��o, de que isso foi deli- beradamente colocado � solta, mas a possibilidade de um vazamento tem que ser investigada a fundo.


A gente ainda precisa de resposta em rela��o ao tratamento eficaz. 

Temos uma s�rie de tratamentos poss�veis sendo aprovados fora do Brasil, basicamente os anticorpos monoclonais, que s�o muito caros, ainda s�o pouco acess�veis, e o resultado ainda n�o � o que mude a hist�ria da doen�a. � uma chance de ajuda, mas n�o � um rem�dio milagroso.


E at� quando vamos precisar viver desse jeito que estamos vivendo, com uso de m�scara e distanciamento? 

Essa come�a a ser respondida agora, de forma mais recente. A gente come�ou agora a ter pu- blica��es mostrando a redu��o de transmiss�o relevante em comunidades com alta taxa de vacina��o. 

 

Adelino Melo de Freire Junior, m�dico infectologista


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