Nas �reas mais long�nquas das matas e florestas, um trabalho minucioso e quase que incans�vel se torna essencial para que o fogo n�o consuma hectares de �rea verde, destrua casas e provoque trag�dias maiores. Em tempos de seca, os cuidados devem ser redobrados, seja na preven��o ou no controle de queimadas.
Minas Gerais vive um dos per�odos mais ca�ticos em rela��o � expans�o de inc�ndios florestais, o que certamente exige uma prepara��o criteriosa da popula��o no entorno dos parques naturais. Al�m do trabalho do Corpo de Bombeiros, a atua��o dos brigadistas do estado, sejam volunt�rios ou contratados, ganha destaque num momento de enorme risco para os mais atingidos.
Segundo balan�o feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Minas teve 2.078 focos ativos de inc�ndio nos sete primeiros meses do ano. Somente em julho, foram mais de 700 registros, podendo atingir a m�dia hist�rica do m�s (718) desde que os dados come�aram a ser divulgados, em 1998. No �ltimo fim de semana, o Corpo de Bombeiros obteve o preocupante n�mero de 331 chamados para controlar inc�ndios em todo o estado. No total, mais de 1,4 mil hectares de terra no entorno e de 1,1 mil na �rea interna dos parques foram queimados pelo fogo.
Ainda que as comunidades que ficam no entorno das �reas de conserva��o sejam as mais atingidas pelo fogo, a orienta��o do Corpo de Bombeiros � para que elas n�o tentem controlar os inc�ndios, j� que n�o s�o treinadas para esse fim. Apesar disso, � comum ver moradores com baldes de �gua ou sem portar equipamentos de seguran�a assumindo o risco e tentando apagar as chamas.
“Com as comunidades, nossa atua��o � mais de conscientiza��o, porque combater inc�ndio florestal � uma atividade que envolve uma s�rie de riscos. Se a pessoa n�o � um brigadista, � muito delicado fazer qualquer tipo de treinamento a um morador leigo, porque isso traz uma s�rie de riscos. Falamos em deslocamento a locais em que muitas vezes a pessoa pode se acidentar ou ficar cercada pelo fogo. Temos as brigadas, em caso de inc�ndio, pois normalmente s�o formadas por moradores aptos a exercer a atividade, desde que treinados pelos bombeiros”, explica o porta-voz do Corpo de Bombeiros, tenente Pedro Aihara.

Esporadicamente, a corpora��o faz campanhas educativas para alertar os moradores em �reas de risco sobre o uso do fogo para eliminar o lixo e quanto � limpeza de lotes. Segundo Aihara, a maior contribui��o das comunidades � na fiscaliza��o. “Os inc�ndios s�o causados por neglig�ncia, por aquela pessoa que queima seu lixo e perde o controle do fogo ou em situa��es criminosas. Orientamos que as pessoas denunciem qualquer movimenta��o suspeita. Mais importante que combater inc�ndio, a sociedade precisa entender que tem de prestar aten��o, porque, geralmente, dentro do pr�prio bairro, � poss�vel saber quem costuma atear fogo de maneira irregular. Se houver colabora��o das pessoas, conseguimos ter um trabalho preventivo, que se torna eficaz”.
Em campo
As brigadas foram respons�veis pelo combate de 20% das ocorr�ncias no ano passado em Minas Gerais. O tempo de resposta � curto, podendo chegar, em m�dia, a 10 minutos entre o pedido de socorro e o atendimento. Morador de Casa Branca, distrito de Brumadinho, situado no entorno do Parque Estadual do Rola-Mo�a, Ronie Gibson de Oliveira, de 50 anos, come�ou a atuar no combate �s chamas em 2011, sendo um dos fundadores das brigadas do Instituto Casa Branca e Guar�. Atualmente, ele faz da parte da brigada comunit�ria Carcar�, que d� suporte aos condom�nios da regi�o e �s serras da Cal�ada e da Moeda.
O brigadista afirma que a prepara��o para o per�odo cr�tico come�a bem antes do per�odo de maior incid�ncia de inc�ndios: “Nos preparamos durante o ano, fazemos a compra de material e a adequa��o �s normas dos bombeiros. Nos acostumamos a fazer uma reuni�o semanal para balan�o das ocorr�ncias. Nos encontramos todas as sexta-feiras no Parque do Rola-Mo�a. � preciso informar os moradores dos condom�nios, verificar se as casas est�o protegidas caso o fogo chegue e evitar que atinja alguma resid�ncia. Ficamos na preven��o e aguardando at� ser acionados”.
Refor�o
Nesta semana, dois inc�ndios na Serra da Moeda e em Lavras Novas, que causaram a destrui��o de casas e autom�veis, mobilizaram a a��o das equipes volunt�rias. O aumento da demanda exigir� ainda mais esfor�o das comunidades. Com cerca de 30 integrantes, a Brigada Carcar� ganhar�, nos pr�ximos dias, 10 novos integrantes, que far�o o curso preparat�rio ministrado pelo Corpo de Bombeiros para atuar no combate �s queimadas na regi�o de Brumadinho. “Seria fundamental que cada munic�pio tivesse sua brigada permanente, n�o somente em temporadas de inc�ndio. H� todo um trabalho preventivo nas escolas e nas casas. A comunidade precisa estar envolvida e fortalecer as brigadas, sejam volunt�rias ou contratadas. E muitas vezes o bombeiro n�o tem efetivos para atender �s demandas. Temos v�rias ocorr�ncias durante o dia pedindo socorro”, afirma Ronie.
J�lio C�sar de Melo, de 51, tamb�m passou a se envolver diretamente com o combate a inc�ndios nos parques do Serra Verde, da Serra da Piedade e no Ref�gio Maca�bas. A sede da Brigada GCA fica em local estrat�gico para atender �s ocorr�ncias da capital, Santa Luzia e Sabar�. “Atuamos em determinadas �reas, mas isso n�o significa que possamos nos deslocar para a Serra da Moeda, Rola-Mo�a. Vai depender da demanda. Se houver urg�ncia, nos deslocamos”, afirma Melo, que reside no Bairro Maria Goretti.
O brigadista afirma que o n�mero de volunt�rios ainda � pouco diante da alta demanda nos �ltimos meses: “Muitas vezes, conseguimos a ades�o de volunt�rios, que se sensibilizam com a situa��o e nos ajudam. Temos um estado com dimens�es continentais. No fim de semana, foram mais de 300 chamados do Corpo de Bombeiros. Pela dificuldade que � o combate aos inc�ndios florestais, o efetivo ainda � pouco”.
Preven��o
Em Ouro Preto e Mariana, a pr�pria administra��o do Parque do Itacolomi iniciou trabalhos com moradores que vivem no entorno das reservas ambientais. De acordo com a gestora Maria L�cia Cristo, a a��o vem surtindo efeito nos �ltimos meses, j� que o local s� teve uma ocorr�ncia de inc�ndio neste per�odo.
“Fizemos treinamentos com os brigadistas para conhecerem a peculiaridade da regi�o. E um trabalho com as comunidades. Nosso parque � lim�trofe com Ouro Preto e Mariana, justamente a �rea com a maior incid�ncia de inc�ndios. Visitamos as casas e conscientizamos sobre os per�odos cr�ticos. S�o comunidades com recursos escassos e muitas vezes colocam fogo em lixo ou fazem inc�ndios no local. Entregamos a eles um cart�o com os n�meros de telefone para pedir socorro quando necess�rio. Estamos tendo �tima resposta”, diz Maria L�cia.
Estado expande bases operacionais
Neste per�odo cr�tico de inverno, Minas Gerais passar� a contar com 10 bases operacionais de combate aos inc�ndios florestais espalhadas pelo estado, que servir�o como pontos de apoio ou mesmo den�ncia de queimadas clandestinas. Em a��o estrat�gica, o governo estadual instalar� novas �reas de monitoramento em Paracatu, Santo Ant�nio de Itamb�, Tim�teo, Buen�polis, Montes Claros, Lagoa Santa e Ouro Preto, que ser�o somadas �s que existem em Belo Horizonte, Curvelo e Janu�ria. O Plano de Resposta foi lan�ado na semana passada, na Serra do Rola-Mo�a.
A miss�o das bases � atuar em conjunto com as brigadas e, desta forma, minimizar os inc�ndios provocados pelos humanos. “Sabemos que em per�odo seco n�o existem inc�ndios por causa natural. A �nica causa natural � o raio, que cai numa �rvore e espalha o fogo. Vemos isso na �poca de tempestade, mas n�o h� chuva neste momento. Ent�o, 99% dos registros de inc�ndios hoje s�o provocados pelo homem. As pessoas v�o passear, mas involuntariamente acendem fogueiras, bitucas de cigarro ou queimam lotes. O fogo adentra para as unidades. O estrago que isso provoca � enorme”, analisa Ana Carolina Fran�a Seleme, diretora de Unidades de Conserva��o do Instituto Estadual de Florestas (IEF).
Segundo ela, o estado fez investimento de R$ 40 milh�es em preven��o e combate aos inc�ndios florestais, que ser�o gastos na compra de aeronaves, caminhonetes e equipamentos de prote��o individual. Al�m disso, o governo contratou, no primeiro semestre, 115 novos brigadistas, que se somam aos 260 funcion�rios e servidores que j� atuam nas unidades. J� existe, tamb�m, um processo seletivo para a contrata��o de outros 252 profissionais tempor�rios.
“Eles fazem os aceiros, que correspondem � limpeza das �reas secas em volta dos lugares mais verdes. Com isso, o fogo n�o atinge � �rea de conserva��o ambiental. Al�m disso, h� o processo de educa��o e o manejo integrado do fogo, por meio de queimas prescritas da �rea seca”, ressalta Ana Carolina.
De acordo com o Corpo de Bombeiros a parceria com as brigadas � extremamente importante. Mas � “importante destacar que o funcionamento das brigadas deve observar a legisla��o estadual, com a submiss�o t�cnica e legal ao CBMMG, para melhor coordena��o e controle dos trabalhos realizados e seguran�a da popula��o mineira”, disse a corpora��o, por meio de nota.
O efeito do fogo
2.078
focos ativos em Minas em 2021
708
registros em julho
1,4 mil
hectares destru�dos no entorno de parques estaduais
1,1 mil
hectares destru�dos na �rea interna de parques estaduais
Paix�o pela defesa da natureza

Claudinho, como � chamado por todos, sempre que pode reafirma sua paix�o pela defesa da natureza por meio da atividade de brigadista. Para ele, defender Cerrado "� uma cacha�a, uma adrenalina com uma recompensa que n�o h� dinheiro que pague”, garante. Ao chegar ao local onde foi feita a foto, ele come�ou a recapitular aquele momento. "Lembro que estava defendendo uma casa num ponto da Lapinha da Cima quando me senti estafado pois a fuma�a havia tomado o meu pulm�o. Da�, me deitei neste ponto aqui e fiz um gesto que j� usavas antes para recobrar as for�as, este que voc� me fotografou", ilustra.
O volunt�rio mostrou � reportagem que boa parte do campo rupestre ainda est� chamuscado pelas chamas de 2020. " O Cerrado demora mais a se regenerar e � por isto que n�o pode queimar assim, temos que ficar mais atentos e n�o deixar se espalhar quando ocorrer", frisa.
De l� pra c�, sua luta pela brigada continua. Defensor de medidas de precau��o, est� preocupado com a pouca mobiliza��o do poder p�blico, haja vista que a temporada da estiagem est� come�ando e alguns inc�ndios j� come�am a acontecer, como o do fim de semana passado no alto da Serra Caetana, no Cip�, que foi debelado por brigadistas volunt�rios com equipamentos cedidos pelo ICMBios do Parque Nacional da Serra do Cip�. Para Claudinho � de suma import�ncia o suporte dado aos volunt�rios: "Somos n�s que apagamos e fogo nas nossas terras". (Leandro Couri)