
Moradora do bairro do Retiro, em Contagem, Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, ela perdeu as contas de quantas vezes passou por situa��es desagrad�veis no com�rcio da cidade por n�o conseguir se locomover direito com a cadeira.
"Em uma loja de utilidades dom�sticas, uma vez, meu pai teve que me ajudar a entrar porque havia um degrau muito grande. Mas, mesmo depois de ter entrado, n�o consegui pegar nenhum produto porque a dist�ncia entre as prateleiras era muito pequena. Tanto que tive que sair de costas porque nem virar a cadeira eu conseguia", lembra.
Enquanto ela tirava carta de motorista, algo ainda mais grave aconteceu. Depois de descer do �nibus, ela se viu diante de um buraco. Sozinha, esperou por longos 11 minutos at� que algu�m aparecesse para ajud�-la.
Esses s�o apenas alguns exemplos que a Andriele e centenas de outras pessoas com defici�ncia (PCDs) enfrentam, n�o s� em Contagem, mas em todas as cidades. A falta de acessibilidade leva a palavra "inclus�o" n�o ter sentido algum.
Preju�zo tamb�m no bolso
E, n�o parece, mas esses problemas acabam prejudicando um conceito que pouca gente conhece, mas que faz um enorme sentido para comerciantes e empreendedores: a rela��o de mercado.

A express�o significa nada mais do que a rela��o entre um cliente e um vendedor, seja quem for. E, com o passar dos anos, incluir pessoas com defici�ncia nessas rela��es passou a ser fundamental.
O levantamento mais recente feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�sica (IBGE), em 2010, aponta que 45,6 milh�es de brasileiros tinham algum tipo de defici�ncia.
Rodrigo Credidio, especialista em comunica��o inclusiva, s�cio da GoodBros, lembra que, com os dados dispon�veis, este universo soma algo em torno de R$ 245 bilh�es. Um potencial enorme.
"Boa parte das empresas n�o parou para pensar que toda pessoa com defici�ncia � um cliente em potencial, com poder aquisitivo para comprar produtos e servi�os. Afinal de contas, somos pessoas que precisam se alimentar, se vestir, viajar, trabalhar, estudar. Esses R$ 245 bilh�es valem mais do que os Produtos Internos Brutos (PIBs) de muitos pa�ses", disse.
Ainda que a internet tenha facilitado a vida de todos, muitos s�o como a Andriele, que preferem ver pessoalmente um produto - mesmo que nem sempre isso seja poss�vel.
"A acessibilidade, ou seja, a habilidade de se eliminar barreiras, sejam elas f�sicas, nas rela��es pessoais ou na comunica��o, � a principal aliada da pessoa com defici�ncia. Com o uso da acessibilidade, podemos desde adaptar sites de internet para que sejam navegados pelo maior n�mero poss�vel de pessoas at� treinar e preparar equipe de vendas para atenderem com excel�ncia e empatia a clientes com alguma defici�ncia", acrescenta Credidio.
"A acessibilidade transforma a rela��o em ganha-ganha e todo mundo sai feliz"
Rodrigo Credidio, especialista em comunica��o inclusiva
Vontade existe...
Em Contagem, para tentar entender melhor essas quest�es, a secretaria de Direitos Humanos publicou uma pesquisa para que pessoas com defici�ncia respondam quais as principais dificuldades encontradas na rotina de consumo.
"Pessoas com defici�ncia s�o, antes de tudo, pessoas. Possuem potencialidades e capacidades, sentem, pensam, vivem e consomem, elaborando de maneira particular cada experi�ncia", inicia a superintendente da Pessoa com Defici�ncia e Mobilidade Reduzida, Carla Regina Lopes Silva.
"(Elas) T�m o direito de frequentar e usufruir de todos os espa�os de socializa��o que comp�em a nossa sociedade: shoppings, cinema, parques, bares, restaurantes e os com�rcios de forma geral, s�o contribuintes e consumidores, que buscam pela garantia de seus direitos”, complementa.
As perguntas do question�rio, segundo a prefeitura, servem para avaliar as dificuldades que as pessoas com defici�ncia tiveram para exercer o papel de consumidor e acessar servi�os, tanto no mercado virtual quanto f�sico.
... mas ainda falta a��o
A pr�pria cidade deu alguns passos para tr�s nos �ltimos anos. Em 2018, um projeto de lei que obrigaria acessibilidade nos pr�dios p�blicos foi vetada pela prefeitura e arquivada pela C�mara com a justificativa de que "a legisla��o que trata sobre a inclus�o de deficientes cabe � Uni�o e Estados".
A �ltima not�cia de que Contagem criou rampas de acesso � cadeirantes foi publicada em 2017, quando dispositivos foram implementados no bairro Cinco.

Desde ent�o, apenas nas obras do Corredor Norte-Sul h� previs�es para itens de acessibilidade (como todas as obras novas t�m que ter, conforme a legisla��o nacional).
Isso porque falamos apenas dos espa�os p�blicos. No transporte coletivo, todos os �nibus novos produzidos desde 2015 devem sair de f�brica com elevador para cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomo��o ou piso baixo. Em Contagem, a frota � composta, predominantemente, por �nibus com elevador.
Andriele resume um sentimento: falta conscientiza��o para todos os setores da cidade.
"Acho que falta para um empreendedor, quando for criar a loja, n�o pensar somente nos produtos, mas pesquisar a fundo sobre acessibilidade para cadeirantes, cegos, amputados. Empatia. Fala-se tanto nisso agora na pandemia, porque n�o pensar na gente?", questiona.