
“O lote era todo arborizado e s� sobrou ele. Havia outros Ip�s e outras esp�cies de �rvores, mas foram consumidas pelas chamas”, relata o respons�vel pela foto que ilustra esta reportagem, tirada nesta ter�a-feira (31/8).
A presen�a do ip� � explicada por um conjunto de c�lulas mortas, presentes na parte externa da casca que reveste o tronco, que conferem uma resist�ncia muito grande ao fogo e �s altas temperaturas. � o que explica o professor do Departamento de Bot�nica do Instituto de Ci�ncias Biol�gicas (ICB), da UFMG, �lder Ant�nio Paiva.
“E esse � um dos motivos que o cerrado pega fogo e muitas esp�cies conseguem rebrotar ap�s o fogo porque s�o protegidas por essa casca grossa”, afirma o professor, ao refor�ar caracter�sticas da esp�cie Tabebuia chrysotricha.
O encantamento do morador pela resist�ncia do �nico ip� sobrevivente, no entanto, foi logo substitu�do por preocupa��o. Ele afirma que inc�ndios em lotes t�m sido comuns na cidade.
“O que acontece muito aqui � que o dono do lote, quando quer construir, p�e fogo para limpar e facilitar a constru��o. Isso acontece todos os dias”
Comum, mas ilegal...
A legisla��o ambiental relacionada � proibi��o de queimadas em lotes foi criada em 2016 por meio da Lei 3.831. E o texto � claro: em toda a cidade de Lagoa Santa, � proibida a realiza��o de queimadas para a limpeza de terrenos, para a incinera��o de res�duos nas vias p�blicas no interior de im�veis, p�blicos ou privados.
Apesar da resist�ncia do ip�, a cena s� desperta motivos para se lamentar, conforme pontua �lder Ant�nio Paiva. "� algo muito negativo", inicia o professor do ICB.
"O fogo sempre causa dano porque � lan�ado material particulado no ar, mon�xido de carbono no ar, gases t�xicos. A pessoa n�o enxerga, mas tem muita vida morrendo ali e n�o s� as plantas: desde fungos, bact�rias, insetos e pequenos invertebrados”, explica o estudioso.
Fiscaliza��o
Segundo a Lei 3.831, a fiscaliza��o e aplica��o de multas � de responsabilidade da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. No entanto, de acordo com �lder Paiva, "a fiscaliza��o � falha e � dif�cil ter algu�m o tempo inteiro vigiando".
A Secretaria de Meio Ambiente atua com seis fiscais na cidade e do dia 30 de dezembro de 2020 at� 2 de setembro foram registradas 121 den�ncias referentes �s queimadas.
De acordo com a Coordenadoria de Fiscaliza��o da Secretaria de Meio Ambiente, 68 den�ncias ainda est�o em dilig�ncia fiscal e somente ap�s o tr�mite legal que elas seguem para a multa, que � da compet�ncia da Secretaria da Fazenda.
A Coordenadoria de Fiscaliza��o da Secretaria de Meio Ambiente ainda informa que as outras 53 foram recusadas pelo setor, o que pode ocorrer quando a den�ncia � improcedente, quando est� em duplicidade, quando o endere�o est� incompleto, quando n�o foi poss�vel constatar a infra��o.
Para o docente do ICB, mais que o mecanismo de controle � preciso que as pessoas se conscientizem de que sem �rvores, sem a prote��o do meio ambiente, o ser humano enfrentaria diversos desafios para sobreviver.
“Vai chegar um momento em que o pr�prio ser humano desaparecer� por n�o resistir � destrui��o causada por ele. As pessoas j� est�o come�ando a sentir as consequ�ncias com a falta de �gua, com a diminui��o dos reservat�rios de �gua”, afirma Paiva.
Crise h�drica
Felipe Cruz, o autor da foto (e da observa��o), conta que constantemente h� falta �gua em diversos bairros da cidade e ele acredita que essa falta tamb�m tem rela��o �s queimadas e desmatamentos na cidade.
“Muitos podem achar que botar fogo em um pequeno lote n�o d� nada, mas se enganam. Pequenas a��es de ataque ao meio ambiente, quando somadas, se tornam um efeito sem volta”, opina.
O professor da UFMG concorda com o morador de Lagoa Santa e explica que as pessoas de modo geral n�o sabem o papel de uma �rvore no equil�brio do ecossistema e o que ela significa no meio ambiente - como fun��es vitais, tais quais o controle da temperatura, o aumento da umidade do ar, das chuvas e na qualidade da �gua dos mananciais.
“Uma �rvore n�o � s� para sombra, uma �rvore grande chega a lan�ar na atmosfera at� mil litros por dia em forma de vapor e esse vapor de �gua � que vai para a atmosfera e que forma as nuvens e, por sua vez, formam as chuvas. As �rvores simplesmente mudam o ambiente”, explica �lder Paiva.