
Lidar com as rea��es e o estresse emocional na volta �s aulas presenciais n�o tem sido uma tarefa f�cil para crian�as, adolescentes e pais, no contexto de situa��es delicadas que a pandemia de COVID-19 j� imp�e h� cerca de um ano e sete meses. O arsenal de protocolos sanit�rios para evitar a contamina��o pelo coronav�rus se transformou em gatilho para ansiedade, incertezas e inseguran�a. Diante de tantas novidades, � preciso considerar o quanto o aspecto emocional � afetado por todas essas altera��es.
“Tudo isso foi muito prejudicial para crian�as e adolescentes, que se queixam da pouca absor��o de conte�do no modelo de ensino n�o presencial”, observa a psic�loga. Para Marli Cunha, voltar ao conv�vio com os amigos e �s atividades escolares de forma presencial seria quase como restabelecer a identidade das crian�as e adolescentes, pois muitos ficaram comprometidos emocionalmente.
Victor Hip�lito, de 16 anos, recorda o sentimento de tristeza, durante o come�o da crise sanit�ria e diz que teve um princ�pio de depress�o. Ainda hoje, frequenta sess�es de terapia. Ele cursa o segundo ano do ensino m�dio em uma escola em Belo Horizonte. Ao retornar �s salas de aula, no in�cio deste m�s, conta que predominava a preocupa��o com as possibilidades de contamina��o pelo coronav�rus, principalmente depois que uma colega testou positivo e continuou comparecendo � escola.
Para Victor, a ansiedade surge diante dos riscos e de um ambiente de perigo. “A escola se organizou para evitar isso, e tamb�m depende dos alunos manter essa seguran�a. Muitos desistiram de retornar depois do que aconteceu com essa menina”, diz o adolescente.

Depois de muito tempo de isolamento, a m�e de Victor, Maria Jovilene da Silva Reis, diz que a volta �s aulas ocorre de forma cautelosa. Com a filha, Julia, de 14, uma dificuldade � se enturmar em uma nova escola. Apesar dos receios, para os adolescentes, o momento � de alegria nessa retomada. “Eles s�o cuidadosos, seguem todas as orienta��es da escola, mas o medo de se infectar continua. Mesmo assim, preferiram voltar � escola. � l� que constroem amizades, � um importante ambiente de conv�vio”, observa Jovilene.
No retorno � rotina escolar, a psic�loga Marli Cunha ensina os pais sobre os sinais aos quais devem estar atentos: inquieta��o, irrita��o, agita��o maior do que era o normal antes da pandemia, altera��o dos hor�rios de dormir ou ins�nia e dist�rbios do sono, aumento ou falta de apetite. “Tamb�m observamos crescimento de dist�rbios alimentares, como compuls�o alimentar. Como consequ�ncia, surgem aumento de peso e at� obesidade, o que compromete a autoestima e quest�es ligadas � identidade corporal. Pais e professores devam estar atentos a qualquer manifesta��o fora do padr�o de normalidade e buscar aconselhamento e ajuda profissional, caso isso aconte�a”, orienta.
Vida nova
Davi Leit�o, de 16, cursa o segundo ano do ensino m�dio na capital. Mudou de escola em 2020 e, com apenas dois meses de retorno, as aulas foram suspensas devido � pandemia. Nem mesmo houve tempo para conhecer os novos colegas. Ele voltou � escola, que agora adota o modelo h�brido de ensino – as aulas no sistema remoto ainda continuam.
Apesar da necessidade de se readaptar, Davi Leit�o diz que adorou o retorno � escola e que n�o est� enfrentando dificuldades na nova rotina. “N�o � a mesma coisa, mas um passo a mais. Os colegas est�o mais perto, conviver com os amigos � muito bom”, diz.

Na nova realidade da escola, o que n�o falta � protocolo. O n�mero de alunos em sala diminuiu da m�dia de 50 para 18. Usar m�scara � obrigat�rio, e cada aluno deve levar sua garrafa de �gua, j� que os bebedouros est�o desativados. Totens de �lcool em gel est�o espalhados pelo pr�dio da institui��o de ensino e a carga hor�ria � menor. Os professores est�o todos paramentados, com jalecos e outros itens de prote��o.
Um desafio em particular para Davi foi se acostumar com o ensino on-line. O adolescente revela que n�o gosta desse modelo de aprendizado. “J� tem um ano e meio de aula on-line e n�o consegui me adaptar. Ficar em casa assistindo � aula n�o parece que voc� est� na escola, n�o tem clima de sala de aula, fica dif�cil se concentrar.”
Cada um a seu tempo
Transtornos de ansiedade e casos que evolu�ram para condi��es mais graves, como s�ndrome de p�nico, por exemplo, s�o alguns dos desequil�brios emocionais e ps�quicos observados depois da pandemia de COVID-19 pela psic�loga cl�nica Marli Cunha, do Hospital Casa de Sa�de Guaruj� (HCSG). “De fato, os dist�rbios foram intensificados”, confirma. Ela identifica como uma dificuldade no retorno �s aulas a necessidade de readequa��o � rotina e aos hor�rios, j� que muitos adolescentes acabaram dormindo mais tarde e tiveram seu ritmo de sono alterado, enquanto outros, por medo, desenvolveram ins�nia.
Para Marli Cunha, � importante desmistificar o excesso de medo e, ao mesmo tempo, oferecer um maior entendimento aos alunos que n�o estejam adaptados �s regras sanit�rias. “Fazer com que entendam que podem recuperar suas vidas e seu desenvolvimento, fazer perceber o quanto necessitam da escola e o quanto essa aus�ncia foi prejudicial”, salienta.
No col�gio Marista Dom Silv�rio, a volta �s aulas presenciais ocorre de forma gradual desde o fim de junho, e, agora, o que prevalece, como na maioria das institui��es educacionais, � o modelo h�brido. Na transi��o do ensino on-line para o presencial, o orientador educacional Bruno M�rcio de Castro Reis fala sobre como a escola tem apoiado estudantes e suas fam�lias.
“Abrimos espa�o para a escuta e acolhida, na intera��o entre os alunos e professores, quando os jovens falam de suas experi�ncias e sentimentos, em um sentido de reaproxima��o. Tamb�m promovemos rodas de conversa, realizamos atendimentos individuais e �s fam�lias, mediante a busca da escola, quando identifica alguma situa��o espec�fica, ou, ao contr�rio, quando a fam�lia procura a escola, e tamb�m atendimento aos profissionais especializados que acompanham os alunos”, explica.
Nesse per�odo, em um primeiro momento, Bruno Reis conta que percebeu, muitas vezes, uma certa inibi��o entre os alunos, diante da expectativa de como seria esse retorno. “� uma nova realidade, um novo momento. Cada estudante tem seu tempo, e por isso tem sido acompanhado e orientado”, afirma.