Sem chuva h� seis meses em Francisco S�, no Norte de Minas, uma lagoa que tinha mais de um hectare de l�mina d'�gua foi reduzida a uma po�a de lama
(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Neste m�s, os inc�ndios florestais aumentaram de forma significativa em praticamente toda Minas Gerais, com o forte calor e a vegeta��o seca dificultando o combate e favorecendo a expans�o das chamas. Mas, nesse per�odo, um antigo problema decorrente da longa estiagem tamb�m se agravou: a falta de �gua para o abastecimento humano.
O flagelo da seca se soma aos impactos da crise gerada pela pandemia da COVID-19, com redu��o da renda no campo devido � interrup��o das feiras livres, que serviam como op��o de venda da pequena produ��o da agricultura familiar.
De acordo com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), atualmente, o estado conta com 101 mil pessoas que t�m que esperar pela chegada do caminh�o-pipa para o abastecimento humano.
A grande maioria do contingente de flagelados da seca reside em localidades rurais do Norte de Minas e dos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, as regi�es do semi�rido mineiro. O cen�rio nos munic�pios atingidos � desolador, com dezenas de c�rregos, rios e lagoas esturricados. E a situa��o preocupante da crise h�drica pode piorar mais ainda.
Desde 15 de maio que o governo estadual, dentro do seu Plano de Conviv�ncia com a Seca, ap�s a elabora��o de um diagn�stico, baixou decreto reconhecendo a situa��o de emerg�ncia por causa da falta de chuvas em 127 munic�pios do semi�rido mineiro.
De l� pra c�, o quadro se agravou e mais outras 12 cidades tiveram decretos pr�prios do estado emergencial em fun��o da escassez h�drica, ampliando para 139 o n�mero de cidades mineiras com a condi��o cr�tica reconhecida por ato oficial. O �ltimo deles � Pav�o, de 8,6 mil habitantes, no Vale do Mucuri, onde a situa��o de emerg�ncia foi decretada pela prefeitura em 3 de setembro.
Decreto de emerg�ncia
Diante dos sinais de que o drama da estiagem dever� se prolongar – e se agravar ainda mais, a Associa��o dos Munic�pios da �rea Mineira da Sudene (Amams) j� se mobiliza para que o governo estadual venha publicar um novo decreto, prorrogando a situa��o de emerg�ncia nos 127 munic�pios listados no decreto anterior, cuja vig�ncia termina em 15 de novembro pr�ximo.
O coordenador de Defesa Civil da Amams, S�rgio Nassau, informou na sexta-feira (17/09) que o presidente da entidade, Jos� Bispo Nilson de S�, o Nilsinho, solicitou ao chefe do Gabinete Militar do Governador e coordenador estadual de Defesa Civil, coronel Osvaldo de Souza Marques, que, em outubro, a Cedec promova um curso de capacita��o para os representantes dos munic�pios, visando � prorroga��o da situa��o de emerg�ncia por conta dos efeitos da falta de chuvas.
Segundo Nassau, o objetivo � que seja realizado um treinamento para os coordenadores de defesa civil das prefeituras, a fim de que eles possam elaborar o relat�rio de danos provocados pela escassez de chuvas com dados precisos.
O documento � necess�rio para a “renova��o” do decreto estadual da homologa��o da situa��o de emerg�ncia, cuja prorroga��o, posteriormente, tamb�m dever� ser reconhecida pela Defesa Civil Nacional.
“A prorroga��o do decreto de emerg�ncia vai permitir que os munic�pios continuem a receber ajuda humanit�ria (entrega de cestas b�sicas para os flagelados) e o fornecimento de �gua pela Opera��o Pipa depois de 15 novembro”, afirma o coordenador de Defesa Civil da Amams.
O representante da Amams disse que, normalmente, o decreto de emerg�ncia tem prazo de validade por seis meses. No entanto, ainda n�o se sabe por quanto tempo dever� ser feita a prorroga��o a partir de 15 de novembro.
Munic�pios com decretos pr�prios de emerg�ncia a partir de 15 de maio (foto: Arte/Paulinho Miranda)
A associa��o de munic�pios pediu � Cedec que parte dos recursos obtidos pelo governo do estado por meio do acordo com a Vale para repara��o dos danos do rompimento da barragem de rejeitos de min�rio em Brumadinho seja aplicada na compra de cisternas de capta��o de �gua da chuva e caixas d’�gua para as fam�lias atingidas pela seca.
O coordenador de Defesa Civil da Amams afirma que, neste ano, a seca est� ainda mais severa com a falta d’�gua para o abastecimento humano, atingindo tamb�m cidades da regi�o situadas na Serra do Espinha�o, que antes n�o enfrentavam a escassez h�drica por sediar muitas nascentes e outras fontes de �gua superficial. Entre elas est�o Botumirim, Gr�o Mogol, Serran�polis de Minas e Couto de Magalh�es de Minas.
Ele lembra que, em 2021, assim como se verifica em outras regi�es mineiras e do pa�s, a ocorr�ncia de inc�ndios florestais cresceu no Norte de Minas. A seca contribui para ampliar os estragos deixados pelo fogo. Sem �gua, as chamas tornam-se invenc�veis. Na semana passada, os inc�ndios destru�ram grande extens�o da vegeta��o em munic�pios da regi�o, como Jana�ba, Bras�lia de Minas e Mirabela.
Chuvas
De acordo com o meteorologista Ruibran dos Reis, do Climatempo, h� mais de 140 dias n�o s�o registradas chuvas intensas no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha e o clima seco vai persistir nesta parte de Minas at� o final de setembro. “No m�s de outubro, haver� pancadas de chuvas isoladas, mas nada significativo”, afirma o meteorologista.
“Somente em dezembro teremos chuvas significativas no Norte de Minas e nos vales do Jequitinhonha, do Mucuri e do Rio Doce”, afirma.
Em novembro, a nova temporada chuvosa vai come�ar em Minas, mas com densidade pluviom�trica concentrada no Tri�ngulo, sendo previstos volumes baixos para as demais regi�es do estado naquele per�odo.
Falta de �gua impacta a gera��o de renda
� medida que o tempo passa, com o calor forte e sem nuvens, o drama da dificuldade para o acesso � �gua se agrava. A situa��o foi constatada pelo Estado de Minas em v�rios munic�pios atingidos pela estiagem prolongada no Norte de Minas.
Os flagelados da seca tamb�m sofrem os impactos da pandemia da COVID-19, que reduziu a renda dos agricultores familiares no campo por causa da interrup��o das feiras livres, onde vendiam seus produtos.
Um deles � Francisco S� (25,45 mil habitantes), onde, de acordo com a prefeitura, h� seis meses n�o chove. Todos os rios e c�rregos do munic�pio secaram, com um cen�rio desanimador, como se verifica em uma lagoa que tinha mais de um hectare de l�mina d’�gua e hoje est� quase completamente esturricada, restando apenas uma pe�a po�a de lama, na localidade de Lagoa da Barra.
Segundo o prefeito de Francisco S�, Mario Osvaldo Casasanta (Avante), aproximadamente seis mil pessoas de 70 comunidades rurais dos munic�pios est�o recebendo �gua levada por cinco caminh�es-pipa do Ex�rcito.
A barragem do Rio S�o Domingos, que abastece a cidade, est� com apenas 14% de sua capacidade. A prefeitura recorre a po�os tubulares para garantir o abastecimento da popula��o urbana, mas com racionamento, em sistema de rod�zio em diferentes regi�es da �rea urbana.
O prefeito afirma que outro obst�culo enfrentado � que “muitas pessoas da ro�a n�o est�o querendo mais trabalhar” de carteira assinada em vagas de emprego nas fazendas da regi�o para receber os benef�cios sociais do governo (como o Bolsa-Fam�lia). Ele salienta que, com isso, a falta de ocupa��o de m�o de obra diminuiu a gera��o de renda no campo.
Em Monte Azul (20,7 mil habitantes), dois caminh�es-pipa da prefeitura levam �gua para 487 fam�lias da zona rural do munic�pio, onde n�o chove h� 189 dias, segundo o prefeito da cidade, Paulo Dias Moreira (MDB). “A renda das fam�lias sofreu forte preju�zo com o impedimento de realiza��o das pequenas e grandes feiras de comercializa��o dos produtos hortifrutigranjeiros.”
Embora cortado pelo Rio S�o Francisco, o munic�pio de Ibia� (8,47 mil habitantes) sofre com os efeitos da estiagem e, atualmente, conta 180 fam�lias socorridas por dois caminh�es-pipa que atendem �s comunidades da zona rural. N�o chove em Ibia� desde abril.
A prefeita da cidade, Sandra Maria Fonseca (PTB), reclama que, al�m da falta de �gua, os pequenos produtores enfrentam as perdas nas lavouras e ficaram sem meios para comercializar o pouco que conseguem produzir por causa da suspens�o das feiras livres.
Al�m disso, com a suspens�o das aulas presenciais nas escolas p�blicas, n�o tiveram como fornecer os produtos para o Programa Nacional de Alimenta��o Escolar (PNAE), do governo federal.
Em Juramento (4,35 mil habitantes), tamb�m h� seis meses 635 fam�lias de 10 localidades rurais t�m que esperar a �gua do �nico caminh�o-pipa que circula no munic�pio. O coordenador de Defesa Civil da Prefeitura de Juramento, Wanderson Sottani Magalh�es, afirma que a crise sanit�ria do coronav�rus fez piorar a vida de quem, h� anos, sofre com as agruras da falta de chuvas na regi�o.
“Em decorr�ncia da pandemia, muitas pessoas ficaram desempregadas. E no decorrer da seca os animais de cria��o morrem e a produ��o de alimentos fica perdida. O psicol�gico das pessoas tamb�m fica abalado.”
Quadro semelhante � encarado em outro pequeno munic�pio norte-mineiro, Berizal (4,79 mil moradores), onde 12 comunidades rurais (635 pessoas) est�o sendo abastecidas por dois caminh�es-pipa. “Produtores rurais ficaram sem as feiras livres e sem a comercializa��o dos seus produtos”, salienta o coordenador de Defesa Civil do munic�pio, Fabio Aquino.
Ele acrescenta que, devido ao cancelamento das atividades presenciais nas escolas da rede p�blica, os agricultores familiares de Berizal tamb�m ficam impedidos de vender seus produtos para o Programa Nacional de Alimenta��o Escolar.
Inc�ndio florestal
Caminh�o-pipa leva �gua para fam�lias atingidas pela seca na zona rural de Jana�ba, no Norte de Minas (foto: Carlos Lacerda/Divulga��o)
O munic�pio de Jana�ba (72,37 mil habitantes) conta com cerca de 1 mil fam�lias de 37 comunidades consumindo a �gua que chega por meio de um caminh�o-pipa. De acordo com a prefeitura, n�o s�o registradas chuvas volumosas na cidade h� 140 dias.
Nos �ltimos dias, al�m da escassez de �gua na zona rural, Jana�ba teve grandes preju�zos com o fogo na vegeta��o seca. Um inc�ndio florestal atingiu a Serra do Taquaril durante seis dias. As chamas foram controladas na sexta-feira, depois de consumirem 1.100 hectares.
As chamas tamb�m se alastraram em parte da vegeta��o na zona rural de Bocaiuva. O fogo foi controlado pelos bombeiros na tarde de s�bado, depois de destruir tr�s hectares de vegeta��o �s margens do Rio Guavinip�, na Fazenda Lagoa das Pedras.