BH: Afinal, do que se trata a interven��o na Pra�a Raul Soares?
Maior obra do povo Shipibo fora do Peru � pintada no ch�o e ser� finalizada no feriado de Finados. P�blico � convidado para acompanhar viv�ncia art�stica
Movimento art�stico CURA deixa as ruas de BH mais colorida (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
O ch�o do entorno do chamado marco zero de Belo Horizonte, a Pra�a Raul Soares, ganhou cores e desenhos que refletem a arte ind�gena. Trata-se do Festival Cura – Circuito Urbana de Artes –, que este ano est� em sua 6ª edi��o.
Neste fim de semana, quem passou pr�ximo ao local p�de acompanhar uma das programa��es do festival, o trabalho dos artistas Shipibo Sadith Silvano e Ronin Koshi, da Amaz�nia Peruana, que desenvolvem uma pintura nas faixas centrais da pra�a.
A a��o come�ou no s�bado, mas foi somente nesta segunda-feira que realmente ganhou forma e causou impacto, j� que o tr�nsito do dia �til foi abalado com a interven��o.
E essa a��o na pra�a s� deve terminar amanh� (2/11), data em que o Festival Cura tamb�m finaliza as atividades pela capital. O processo de pintura-ritual foi programado para ser realizado de forma ininterrupta por 72 horas. Quando terminar, a pintura deve ter 2.870m²: a maior j� feita fora do Peru.
A ideia do festival foi trazer para Minas Gerais a marca forte da identidade dos ken�s (declarados patrim�nio cultural do Peru), o bordado m�tico de padr�es geom�tricos e labir�nticos, inspirado pela cultura Ayahuasqueira.
Quem passou pela regi�o na manh� desta segunda-feira (1�/11), j� p�de visualizar grande parte da obra conclu�da (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Uni�o dos povos
A dupla de artistas respons�veis pela interven��o na pra�a sa�ram da Amaz�nia Peruana – parte da Amaz�nia que se circunscreve dentro do territ�rio do Peru – e enfrentaram as diferen�as da l�ngua, comida e costumes para representar sua cultura e seu povo em Minas Gerais.
“Pra gente, entregar essa obra, essa mem�ria dos nossos av�s, � muito importante”, comentou Ronin Koshi, orgulhoso e honrado com a oportunidade de realizar o desenho. “Muito gratificante para nosso povo e nosso pa�s porque uma cultura ind�gena est� fazendo a maior obra do mundo e n�o em nosso pa�s de origem, mas num pa�s que nos acolheu e nos chamou de irm�os”, afirmou.
Sadith Silvano tamb�m se diz motivada e agradecida com a possibilidade de disseminar sua cultura fora de seu territ�rio. “Nossa alma tem todo amor do mundo para compartilhar. Essa � uma arte de terapia, de cura, de resist�ncia cultural”, disse.
Acolhimento e afeto
Esta � a primeira vez que a dupla sai de seu pa�s, mas acolhimento do p�blico belo-horizontino j� deixou uma boa impress�o. “BH que abriu as portas � muito acolhedora, muito organizada. Muito feliz de ver meu povo numa cidade t�o grande e moderna”, afirmou Sadith.
Artistas Sadith Silvano e Ronin Koshi na frente, acompanhados de Bane e Kassia Rare Karaja Hunikuin, do coletivo Mahku (foto: �rea de Servi�o/Divulga��o CURA)
Enquanto pintava o ch�o da pra�a, a artista recebeu o entusiasmo dos espectadores. “Quando estamos na rua pintando, as pessoas passam e elogiam. Isso me fortalece enquanto pessoa, me faz sentir mais feliz, me tira um sorriso”, agradece. “Espero que n�o seja a �ltima vez aqui.”
Ronin reiterou: “as pessoas nos tratam muito bem”, afirmou. “Eu estava vendo um edif�cio em branco e fiquei pensando como seria legal se a gente pintasse. Como a gente deixou a marca no ch�o, queremos deixar essa arte nos edif�cios tamb�m.”
Pra�a Raul Soares
A interven��o art�stica teve lugar certo para se instalar. A Pra�a Raul Soares, um dos principais s�mbolos da cidade, guarda a cultura dos povos origin�rios do Rio Amazonas. O cart�o-postal, inaugurado em 3 de setembro de 1936, � o �nico do g�nero na capital cujo piso leva pedra portuguesa com mosaicos marajoara.
“O CURA � um festival com multicamadas de atravessamentos e di�logos diversos, e a chegada na Pra�a Raul Soares nos fez ver a magia da cultura Marajoara tatuada no centro da nossa cidade. Pra�a que tamb�m nos levou a uma mulher incr�vel que � a Tain� Marajoara, cozinheira, artista, realizadora cultural e pensadora ind�gena”, explica Flaviana Lasan, curadora convidada desta 6ª edi��o.
Conversa guiada
Amanh�, a partir das 16h, Tain� vai guiar uma viv�ncia, na Pra�a Raul Soares, com mais tr�s mulheres que trabalham com comida, cura e arte: Mayo Patax�, Silvia Herval e Patricia Brito. O encontro tem rela��o com o dia de Finados, pois, segundo o festival, "trazer vida � morte � um ato de resist�ncia. Juntas, elas v�o compartilhar saberes e tamb�m homenagear todos que se foram".
“� um encontro que, ao mesmo tempo, � fruto de um processo art�stico e de inten��es, encantarias e espiritualidade. A gente t� falando entre cora��es, um di�logo de arte de afetos que vai ser oferecido em transcend�ncia no centro geom�trico de Belo Horizonte”, explica Tain�.
Atra��es do CURA
O Festival Cura iniciou-se no dia 21 de outubro e contou com cinco programa��es, previstas para serem finalizadas nesta ter�a-feira (2/11). Al�m do ch�o pindado e da “viv�ncia”, as as apresenta��es contam com pinturas de empena e interven��es art�sticas, como a pintura-ritual, e tamb�m, proje��es, como a realizada no Edif�cio JK.
Confira abaixo algumas das outras artes propostas pelo festival este ano:
Edif�cio Paula Ferreira
Uma das primeiras interven��es art�sticas iniciadas pelo movimento foi dada pelo artista Ed-Mun, no Ed�ficio Paula Ferreira, na Pra�a Raul Soares, nº 265. Anfitri�o do CURA21, ele � conhecido no mundo do graffiti pela caligrafia 3d.
O artista disse que sua pintura ir� causar a impress�o de que ela vem de dentro do pr�dio, e busca homenagear a escrita: "uma comunica��o por s�mbolos e grafismos, inspirada na arte marajoara, na pintura rupestre, com um estilo urbano contempor�neo que � o graffiti 3d e com um pouco de anam�rfico”, afirmou.
A segunda empena art�stica tamb�m teve in�cio no primeiro dia do festival. No Edif�cio Levy, localizado na Avenida Amazonas, 718, a artista Kassia Rare Karaja Hunikuin com Coletivo Mahku (Movimento dos Artistas Huni Kuin), prop�e uma pintura-ritual inspirada na cultura ind�gena. Segundo os artistas, eles buscam expressar com a arte, a for�a do povo guardi�o da floresta, a luta pelo direito ao territ�rio.
O Edif�cio JK, na Rua dos Guajajaras, 1268, presenciou, na noite do dia 23 de outubro, uma proje��o realizada pelo Coletivo VIVA JK, que homenageou a popula��o LGBTQIA +.
Segundo o movimento art�stico, "as pessoas fotografadas representam a ancestral luta por reconhecimento da pr�pria identidade, sendo entidades da comunidade queer belo-horizontina".
* Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Ellen Cristie.