Autor de inj�ria racial e amea�as de estupro e morte volta a atacar em JF
Agressor j� atacou a mesma v�tima em 2021 por meio de perfil falso. Delegada e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher assume o caso
Agressor usou uma foto da v�tima e a comparou com uma mulher branca, dizendo, entre outras coisas, que ela era uma 'macaca', 'preta' e 'suja' (foto: Redes sociais/Reprodu��o)
“Macaca, preta, suja, usa drogas e s� serve para sexo”. Estes foram alguns ataques com os quais a estudante Graziele Cl�udia Matias Campos Batista, de 24 anos, foi surpreendida nas redes sociais, em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. A reportagem conversou com a v�tima nesta ter�a-feira (18/1).
� �poca, em resposta protocolar, a Pol�cia Civil disse que foi instaurado procedimento para apura��o dos fatos. Mais de dois meses ap�s os crimes – que foram registrados por meio de prints (capturas de tela) e v�deos –, o perfil falso Arthur Rodrigues ressurgiu com mais ataques na �ltima quarta-feira (12/1).
Na fun��o Stories da rede social, o agressor publicou uma montagem com duas fotos. De um lado, ele colocou a imagem de Graziele, chamando-a de “gorda” e “preta fedida”.
Entre outras ofensas, ele escreveu: “Lugar de preto � no tronco e levando chicotada. Volta para a �frica.” Tra�ando um comparativo, o agressor publicou a foto de uma mulher branca com os seguintes dizeres: “Branca”, “mora em castelo”, “tem empregados”, “limpa e com sa�de”, entre outros.
� reportagem, Graziele revela que a experi�ncia desta vez foi ainda mais traum�tica. “Um amigo me contou que o ‘Arthur’ havia voltado com um novo perfil no Instagram. Ele me mandou o print com a minha foto. A� eu entrei r�pido no Instagram para entender o que estava acontecendo e j� tinha um monte de gente me mandando mensagens, perguntando se eu estava bem. E eu n�o estava entendendo o que estava acontecendo”, inicia.
Gaziele conta, ent�o, que resolveu entrar no novo falso perfil para ver as publica��es. “Mas n�o deu certo. Parece que ele me bloqueou. Por�m, muitas pessoas come�aram a me seguir, contando o que ele estava fazendo ao usar a minha imagem. Tamb�m recebi muitas mensagens de apoio. Em seguida, fiz uma publica��o nos Stories mostrando a publica��o criminosa direcionada a mim e muita gente come�ou a repostar”, explica.
Um misto de sentimentos
Ao ser atacada pela segunda vez, a estudante disse que, novamente, teve um “misto de sentimentos”. “No in�cio, fiquei muito assustada, pois parecia uma persegui��o. Fiquei triste demais e em choque por ler aquilo”, desabafa Graziele, contando que o epis�dio ativou alguns gatilhos de traumas adormecidos.
Na adolesc�ncia, at� meus 16 anos, tive muitos problemas com minha imagem corporal e meu peso. Sempre me cobrei demais em rela��o � est�tica. Aos poucos, fui me aceitando e lidando melhor com isso. Esses ataques mexeram comigo. Eu vou � academia todos os dias. Desde que isso aconteceu, n�o consegui voltar”, lamenta Graziele, refor�ando que tudo o que ela quer neste momento � que a justi�a seja feita.
V�tima de homofobia diz que teve atendimento negado na PM
A reportagem descobriu outra v�tima. Trata-se do influenciador digital Jo�o Pedro Scapim, de 21 anos. Ele foi um dos alvos dos ataques homof�bicos ocorridos no fim de outubro.
“Eu j� sofri homofobia, mas nada parecido com isso. Ele chegou ao ponto de amea�ar a minha fam�lia de morte. Quando recebi as mensagens, eu estava no trabalho e demorei um pouco para processar o que estava acontecendo”, inicia.
No arquivo de v�deo, com grava��o de tela, encaminhado pela v�tima � reportagem, o homem usa a mesma abordagem agressiva. Al�m dos crimes de homofobia e gordofobia, o indiv�duo faz amea�as de morte � fam�lia de Jo�o Pedro.
Jo�o Pedro Scapim foi alvo de homofobia e amea�as de morte contra membros de sua fam�lia (foto: Redes sociais/Reprodu��o)
“Eu fui � delegacia ap�s sair do trabalho fazer um boletim de ocorr�ncia. No entanto, o policial disse que, como era um perfil falso, n�o tinha como identificar a pessoa e n�o fez a ocorr�ncia. Isso aumentou meu medo, pois fiquei com a sensa��o de que n�o teria como recorrer a ningu�m para me proteger”, complementa.
Indagada sobre as alega��es da v�tima, a Pol�cia Militar n�o havia se pronunciado at� o fechamento da reportagem nessa ter�a-feira.
Em nota encaminhada no in�cio da tarde desta quarta-feira (19/1), o tenente da Pol�cia Militar Robson Neves refor�ou que todos os policiais s�o orientados a registrar a ocorr�ncia. “Qualquer v�tima deste tipo de fato pode procurar nossos postos policiais para registro”, diz.
Sobre a suposta falha de atendimento ao negar o registro do caso relatado por Jo�o Pedro Scapim, a PM n�o se manifestou.
Mobiliza��o da Unegro
Para Kennedy Vasconcelos Junior – um dos membros da Mesa Diretora da Uni�o de Negros pela Igualdade em Minas Gerais (Unegro-MG) –, “� inadmiss�vel um caso de tamanha gravidade ficar sem solu��o”. “As agress�es s�o brutais”, exclama.
“Esta nova den�ncia chegou ao nosso conhecimento pela pr�pria v�tima. Logo, passamos a dar toda a orienta��o jur�dica necess�ria e tamb�m acionamos a delegada Ione Barbosa, que prontamente se colocou � disposi��o”, diz Kennedy, ressaltando que o trabalho de assist�ncia � v�tima prossegue at� o fim das investiga��es.
Delegada e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher assume o caso
A Pol�cia Civil j� abriu inqu�rito, e as dilig�ncias tiveram in�cio nessa segunda-feira (17/1) com a oitiva da v�tima. “J� solicitei � Justi�a uma medida protetiva devido � situa��o de vulnerabilidade na qual ela se encontra”, conta a delegada do caso, Ione Barbosa.
“� importante destacar que o crime de inj�ria racial foi equiparado ao racismo, tornando-se inafian��vel e imprescrit�vel, conforme o novo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF). Temos aqui uma situa��o de extrema gravidade e tenho outras v�timas no radar que ainda ser�o ouvidas”, conta a delegada, que tamb�m atua como presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Juiz de Fora e da ONG Adcuidar.
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