
T�o importante quanto desenvolver habilidades e conte�dos � desenvolver habilidades e compet�ncias para o jovem flertar com possibilidades diversas, experimentar novos caminhos, ter condi��es de estar no mercado de trabalho, na universidade ou num curso t�cnico. Com as mudan�as do novo ensino m�dio no Brasil, esse � o caminho de estudantes das escolas p�blicas e privadas na volta �s aulas de 2022.
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O novo ensino m�dio foi criado para estar de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que definiu conte�dos obrigat�rios e comuns a todo o pa�s. A Lei 13.415, de 2017, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educa��o Nacional (LDB) e estabeleceu mudan�as na estrutura do ensino m�dio. O prazo para implementa��o, de cinco anos, venceu em 2022.
O novo modelo ser� oferecido somente a alunos do 1º ano, de forma gradativa, e contemplar� os tr�s anos do m�dio em 2024. Apenas o estado de S�o Paulo, que antecipou a implanta��o, tem as turmas de 2º ano j� imersas no processo.
Principais mudan�as do novo ensino m�dio
Entre as altera��es, est� a amplia��o do tempo m�nimo do estudante na escola de 800 horas para 1 mil horas por ano e defini��o de nova organiza��o curricular. Mais flex�vel, ela contempla, al�m da Base Nacional Comum Curricular, a oferta de diferentes possibilidades de escolhas aos estudantes.
A nova divis�o de disciplinas ficou assim:
- Biologia, f�sica e qu�mica se unem para formar Ci�ncias da Natureza e suas Tecnologias
Geografia, hist�ria, filosofia e sociologia formam as Ci�ncias Humanas e Sociais Aplicadas - L�ngua Portuguesa, L�ngua Inglesa, Artes e Educa��o F�sica passam a ser Linguagens e suas Tecnologias
- E por �ltimo temos a Matem�tica e suas Tecnologias
- A reforma prev� tamb�m a inclus�o de uma 5ª �rea, que � a Forma��o t�cnica e profissional

A inten��o � dar �nfase ao processo de protagonismo do estudante, com estrat�gias para que essa etapa de ensino fa�a sentido para a ele. O novo curr�culo � dividido em forma��o b�sica (conta com habilidades e conte�dos necess�rios ao aprendizado de todos os estudantes) e flex�vel. Nele, h� disciplinas eletivas e a possibilidade de o estudante fazer seu percurso formativo.
Na rede estadual de Minas Gerais, as escolas sair�o de 25 aulas semanais para 30, sendo 12 delas relativas a componentes curriculares jamais vivenciados: os itiner�rios formativos. Para cumprir as 1 mil horas, 83% dos estabelecimentos de ensino estaduais optaram por ter um 6º hor�rio e 17% escolheram o contraturno uma vez por semana.
O que � o poder de escolha?
A segunda parte do curr�culo do novo ensino m�dio � composta pelos itiner�rios formativos, que s�o conjuntos de aulas e atividades, oferecidos pela escola, referentes �s �reas de conhecimento da BNCC. Dessa forma, o aluno ter� mais tempo para se dedicar ao que gosta e ao que pretende fazer no futuro.
Cada escola poder� oferecer o itiner�rio formativo que desejar; no entanto, todos s�o aprovados pelo Conselho de Educa��o do estado em que a institui��o se encontra. Os alunos poder�o fazer a mudan�a de itiner�rio quando quiserem. H�, ainda, algumas escolas que planejam oferecer, no 1º ano, de maneira obrigat�ria, itiner�rios diferentes, para que os estudantes vivenciem todos em um mesmo ano e se decidam sobre qual �rea seguir.
Engajamento social
Mas, essa amplia��o n�o significa necessariamente mais tempo em sala de aula. Pelo menos n�o para todos. A ideia da Secretaria de Estado de Educa��o (SEE) � levar em conta tamb�m as experi�ncias vividas pelo aluno, seja no trabalho, na comunidade onde vive ou a partir de seu engajamento social – algo considerado importante para os alunos do noturno, da Educa��o de Jovens e Adultos (EJA), e para aqueles que j� est�o no mercado de trabalho.
A legisla��o e o desenho feitos em Minas permitem, por exemplo, integrar a carga hor�ria de est�gio �quela do contraturno ou do sexto hor�rio, como no caso dos menores aprendizes – uma garantia de flexibilidade no sistema de registro de frequ�ncia e no hist�rico escolar.

“Se a fam�lia acha importante fazer um curso de inform�tica por dois meses, no fim, apresenta � escola o comprovante e o aluno volta a frequentar as aulas. N�o estamos mudando radicalmente a rotina de quem j� tem outros compromissos”, garante a diretora do ensino m�dio da SEE, M�nica Couto.
“Os itiner�rios s�o desenvolvidos sob forma de projeto: se fez um curso, o aluno consegue ser reintegrado � turma sem perda de aprendizagem. Agora, � p�r em pr�tica tudo isso e acompanhar as dificuldades que sabemos que existir�o, fazendo as adapta��es necess�rias”, diz.
"Decis�es mais assertivas"
Bem orientar sua comunidade escolar � a preocupa��o da diretora Patr�cia Bernadete Xavier Andrade Lima, da Escola Estadual Geraldo Teixeira da Costa, em Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. As reuni�es com os coordenadores de �rea come�aram ainda nas f�rias. No dia 2, est� marcada uma live para pais, professores e alunos de Patr�cia com o tamb�m diretor Heverton Ferreira, da Professor Domingos Ornelas, escola localizada a poucos metros de dist�ncia.

Patr�cia vai trabalhar com o 6º hor�rio e itiner�rio formativo na �rea de linguagens, para abordar t�cnicas de reda��o do Enem, pr�ticas criativas e mundo do trabalho, entre outros temas. “Os estudantes teriam direito de escolher as eletivas, mas por ser tudo novo e eles tamb�m estarem chegando, cada escola fez uma op��o. Eles escolher�o no 2º ano. Aqui, direcionamos para disciplinas com carga hor�ria reduzida e que podem ser completadas com eletivas. Al�m disso, muitas vezes o aluno n�o � direcionado para o Enem por escolha pr�pria. Entendemos, assim, que com o novo ensino m�dio eles possam ser mais esclarecidos e tomar decis�es mais assertivas”, relata.
Prevendo um in�cio dif�cil e necessidade de adapta��es, a diretora n�o desanima, tamanha � a vontade de deixar para tr�s “um curr�culo ultrapassado”. “Ficamos empolgados com as novas disciplinas, direcionadas a pr�ticas fora da escola. Veio para inovar e nos possibilitar ensinar para que possam aprender melhor, ter foco ao concluir o ensino m�dio. � uma possibilidade inclusive de reduzir a evas�o. S�o novidades, mas dentro da realidade e viv�ncia dos estudantes. Sinto que eles ter�o mais voz para ser protagonistas desta nova ideia de educa��o.”
Ferramenta de futuro e para superar perdas
Mudan�as em curso e expectativa de que, dentro de tr�s anos, os primeiros frutos do novo ensino m�dio comecem a ser colhidos na forma de melhor desempenho dos alunos em avalia��es como o �ndice de Desenvolvimento da Educa��o B�sica (Ideb) e o Sistema de Avalia��o da Educa��o B�sica (Saeb). Mas, se o objetivo � come�ar com o p� direito e mirar no futuro, n�o d� para ignorar os dois �ltimos anos de pandemia, que trouxeram efeitos nefastos para a educa��o brasileira.
Em muitas cidades, os alunos que agora chegam ao ensino m�dio ficaram 18 meses com suas escolas fechadas enquanto cursavam o fundamental – muitos deles nem retornaram � sala de aula depois da reabertura. Que h� defasagem, ningu�m duvida, a quest�o � saber o tamanho dela. Para isso, Secretaria de Estado de Educa��o (SEE) prepara um diagn�stico em todas as suas escolas para evidenciar o que precisa ser retomado e sugerir aprendizagens essenciais entre uma etapa e outra.
"A proposta do novo ensino casa com essa necessidade o ajudar� a retomar o que ficou para tr�s, sem que isso seja um fardo para o aluno"
M�nica Couto, diretor do ensino m�dio da Secretaria de Estado de Educa��o
A avalia��o levar� em conta os componentes curriculares e as �reas do conhecimento. Uma das pistas � usar os itiner�rios e seus projetos para contornar o problema. “A proposta do novo ensino casa com essa necessidade o ajudar� a retomar o que ficou para tr�s, sem que isso seja um fardo para o aluno. Evitar� que ele perca o interesse e abandone a escola”, afirma a diretora do ensino m�dio da SEE, M�nica Couto. “Os movimentos s�o aplicados na realidade. Deixa de ser estanque. N�o termino quando fa�o uma prova.”
Entrevista / Priscila Boy, consultora educacional

Como � a arquitetura do novo ensino m�dio?
Ele tem a parte comum da BNCC e tr�s unidades curriculares que comp�em o itiner�rio: aprofundamento, eletivas e projeto de vida. No primeiro, o aluno escolhe algo que permita dar continuidade em sua vida, no mundo do trabalho ou curso superior. O projeto de vida � obrigat�rio, independentemente de ter escolhido engenharia, direito, medicina, e ser� unidade curricular do itiner�rio. J� as eletivas s�o unidades curriculares mais curtinhas. O objetivo � enriquecer o itiner�rio com algo relevante para os alunos, independentemente da �rea esco- lhida. Educa��o financeira, por exemplo, pode ser uma: m�dico, advogado, empreendedor, professor, todos precisam de finan�as. Independentemente da �rea escolhida, a eletiva vai me ajudar na vida. � uma por semestre ou uma por ano, com carga de 40 horas ou 80 horas (uma ou duas aulas por semana, respectivamente).
"S� vai fracassar se n�o investir no professor"
Priscila Boy, consultora educacional
Quais s�o as diferen�as de organiza��o entre as redes p�blica e privada?
A rede p�blica j� recebeu o desenho e vai trabalhar com aprofundamento, projeto de vida e eletiva. Provavelmente, a maioria das escolas privadas seguir� esse modelo, porque a rede particular tem que seguir o curr�culo do estado e est� sob a �gide dele. Pode montar arranjos diferentes como, por exemplo, p�r projetos de vida l� em cima junto com a BNCC, de forma integrada. Elas podem oferecer eletivas mais atraentes, num di�logo maior com tecnologia, l�nguas (algumas t�m trabalhado com perspectiva bil�ngue) e temas ligados ao socioemocional para potencializar o trabalho com o projeto de vida. Mas temos tamb�m na rede privada escolas menores, com uma turma s� de cada ano. Ent�o, fica invi�vel inventar muitas unidades curriculares como itiner�rio. Nesses casos, v�o trabalhar com eletivas multisseriadas que ser�o frequentadas por alunos de todas as s�ries. Essa escola vai trazer eletivas que dialoguem com o mundo do trabalho e com o qu� o futuro est� pedindo, porque tem uma clientela que paga e quer o filho preparado.
O novo ensino m�dio poder� atenuar as diferen�as entre as redes p�blica e privada?
A rede p�blica tem toda condi��o de fazer um trabalho de qua- lidade. O que est� faltando n�o s� em Minas, mas no pa�s, � forma��o continuada desses professores. Sou formadora de educadores, tenho curso sobre ensino m�dio e mais de 600 de meus alunos n�o tinham no��o de como organizar esses arranjos. O ensino m�dio s� vai fracassar se n�o investir no ator principal do processo de mudan�a, aquele que vai execut�-la: o professor. Est� faltando seguran�a, solidez e entendimento de como atuar para fazer o novo formato dar certo. Redes p�blica e privada sempre tiveram diferen�as na oferta, no aprofundamento, na qualidade, na materialidade. Essas diferen�as tendem a continuar, mas se a rede p�blica seguir o que o estado desenhou, fizer material de qualidade e forma��o, tem plenas condi��es de atender aos anseios da juventude. E a rede privada est� se preparando para oferecer um ensino m�dio inovador.
Como as grandes escolas particulares v�o trabalhar os itiner�rios formativos?
Essas que s�o voltadas para resultado v�o jogar do mesmo jeito esse acompanhamento e aprofundamento de estudos no iti-ner�rio. Ela n�o vai chamar de prepara��o para o Enem, embora eu tenha sugerido no meu curso montar uma unidade curricular chamada Vem, Enem, com o necess�rio para o aluno se aprofundar no que o exame pede. Mas vai p�r nos aprofundamentos esses estudos, vai manter isso. Algumas v�o mudar o nome, outras n�o.