Apreens�o na rota de fuga dos rejeitos de mina em Santa B�rbara
Moradores se queixam de que faltam informa��es sobre a seguran�a na pilha de detritos miner�rios de ouro da AngloGold, o que leva a temor de acidentes
07/02/2022 06:00
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atualizado 07/02/2022 07:25
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Talude da represa de rejeitos, que est� inativa devido ao problema (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Santa B�rbara – O casario colonial do s�culo 18, as pra�as, a igreja e a capelinha ganharam placas em azul e laranja da Defesa Civil, que indicam para onde moradores devem correr para sobreviver em caso de emerg�ncia, deixando suas moradias no povoado de Brumal, patrim�nio hist�rico em Santa B�rbara, na Regi�o Central de Minas Gerais.
Por�m, sem saber se h� seguran�a estrutural em uma pilha de rejeitos miner�rios de ouro que est� corro�da pela eros�o das chuvas e que tem um ter�o (3,2 milh�es de metros c�bicos) do volume da barragem que se rompeu em Brumadinho, essas pessoas vivem aprensivas em um local onde a garantia seria a tranquilidade.
O temor � de que uma onda de detritos possa descer, invadindo suas vidas. “O sossego, a seguran�a que t�nhamos aqui, acabaram. Tentamos saber da mineradora por que estava tirando os trabalhadores da mina, sem falar ou fazer nada com os moradores da comunidade, mas as respostas foram vazias”, considera uma das l�deres comunit�rias de Brumal, Dilce Mendes.
Na edi��o de sexta-feira, a reportagem do Estado de Minas mostrou imagens analisadas por especialistas em minera��o que apontam como extremamente delicada a situa��o e urgentes as obras para sanar as avarias provocadas pelas chuvas nas estruturas, o que a empresa afirma estar em andamento e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad) diz estar fiscalizando.
Em imagens a�reas, foi poss�vel detectar nos taludes (encostas) e na base da pilha que recebe rejeitos a seco. As drenagens que deveriam deixar est�vel a estrutura se encontravam assoreadas e o fluxo desse material seguia diretamente pela �rea da mineradora para o Rio Concei��o. Um panorama com potencial de desabamento na pior das hip�teses.
Segundo a empresa, h� trabalhadores e m�quinas atuando na estabiliza��o da pilha, embora a equipe do EM n�o tenha observado movimenta��o na �rea, na semana passada.
A necessidade de um projeto de adequa��o da estrutura � avaliada pela Semad, podendo ser necess�rio at� mesmo um novo licenciamento. Fiscais estaduais e federais (da Ag�ncia Nacional de Minera��o) tamb�m devem comparecer ao local a pedido do Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG). A empresa garante a estabilidade do reservat�rio, a n�o polui��o do ambiente e a transpar�ncia de divulga��o de informa��es para a comunidade.
L�der comunit�ria, Dilce Mendes reclama que as respostas s�o vazias (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Alvo de den�ncias
A estabilidade na pilha de rejeitos de min�rio de ouro j� vinha sendo alvo de questionamentos de trabalhadores da Mina C�rrego do S�tio, segundo o dirigente estadual da Regi�o do Cara�a do Movimento Pela Soberania Popular na Minera��o (MAM), Luiz Paulo Siqueira.
“Os trabalhadores da mina da AngloGold Ashanti nos relataram situa��es extremas em que suas vidas estavam em risco. Disseram operar m�quinas como tratores no topo da estrutura e sentir, mesmo parados, que tudo trepidava, como se estivesse balan�ando de um lado para o outro. Com as chuvas, tudo piorou. Basta ver que em todos os taludes, em 360 graus, h� eros�es, e o pior, lavando e minando a base desse dep�sito de rejeitos”, observa Siqueira.
Um dos impactos piores, segundo o dirigente do movimento social, seria a contamina��o da �gua, uma vez que uma poss�vel onda de rejeitos desprendida da pilha pode percorrer a calha do Rio Concei��o, transbordar e atingir a capta��o da Copasa que abastece cerca de 25 mil pessoas em Santa B�rbara.
A cidade utiliza o Ribeir�o do Cara�a, manancial que corre mais baixo que o rio que pode ser caminho dos detritos e fica a apenas 500 metros de dist�ncia. A reportagem questionou a Copasa e a prefeitura da cidade hist�rica para saber se h� planos de conting�ncia e acompanhamento da situa��o, mas n�o obteve resposta.
Na comunidade, as hist�rias s�o de medo e relatos de falta de informa��es at� antes da chegada da reportagem do EM. “Enviava perguntas para as pessoas que fazem a comunica��o e o relacionamento. Mandavam eu registrar e formalizar por e-mail. Depois que fazia isso, era sempre a empresa dizendo que estava tudo bem, que estava tomando as medidas de seguran�a cab�veis, que as estruturas estavam seguras, mas nunca respondem diretamente o que perguntamos, nem eles nem a prefeitura: a Pilha do Sap� tem ou n�o cianeto e outros t�xicos? Se tiver um desabamento, n�s vamos ter �gua, vai ter alerta para a gente fugir? Ningu�m sabe”, questiona Dilce Mendes.
Clima � de tens�o entre moradores
Morador de Brumal, Rubens da Silva diz que todos est�o apreensivos (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Uma fam�lia. Nas horas mais necess�rias, apoio, compreens�o, ombro amigo. Na alegria, celebra��o e felicidade. “Na comunidade do Brumal, as pessoas n�o s�o cordiais, s�o praticamente parentes. Voc� sente esse acolhimento. Quando viaja, te desejam boa viagem. Quando volta, perguntam como foi, se est� tudo bem com os pais, com os filhos. � como se f�ssemos da mesma fam�lia. Por isso, quando a minera��o amea�a a seguran�a de quem mora na �rea de inunda��o do Rio Concei��o, � como se amea�asse a nossa m�e, a nossa irm�”, compara o advogado Rubens da Silva Santana, de 64 anos, morador de Brumal, distrito de Santa B�rbara que poderia sofrer consequ�ncias caso a Pilha do Sap� venha a ruir.
“O clima aqui mudou depois das not�cias da evacua��o dos trabalhadores por causa das eros�es na pilha de rejeitos. Todo mundo est� sem saber por que, de repente, os funcion�rios n�o estavam mais indo para os locais de trabalho. O que nos deixa bastante apreensivos � que a comunidade seria a mais atingida e n�o foi informada de nada. Sentimos uma tens�o generalizada. Posso perceber um constrangimento de todos, porque ao mesmo tempo que as pessoas temem por suas vidas, todos t�m algu�m que depende da minera��o e por isso n�o querem prejudicar a empresa, por causa dos empregos”, afirma.
A l�der comunit�ria Dilce Mendes lembra bem do dia que os funcion�rios da AngloGold Ashanti foram impedidos de entrar na mina repentinamente, apesar de a empresa afirmar que se tratou de a��o preventiva e de uma realoca��o de pessoal planejada e n�o feita �s pressas devido a algum perigo.
“De repente, as portarias se fecharam. Ficou uma fileira comprida de �nibus esticada na estrada. A gente perguntava por que os trabalhadores da mina n�o podiam entrar e n�o nos diziam nada. A�, ent�o, todos foram levados para a outra parte da mina, do outro lado, a quase 8 quil�metros. Foi quando alguns funcion�rios disseram que o talude da Pilha do Sap� estava para desmoronar e por isso a AngloGold Ashanti evacuou tudo que tinha debaixo dos rejeitos”, lembra Dilce Mendes.
Obras
A AngloGold Ashanti afirma que, devido aos impactos das fortes chuvas do in�cio do m�s de janeiro, est� realizando uma s�rie de obras em estruturas internas da unidade, como vias internas, acessos e, entre elas, uma pilha de deposi��o de rejeito a seco. “Esta pilha sofreu um processo de eros�o, que est� controlado e n�o apresenta risco iminente. A eros�o permaneceu totalmente na �rea da empresa, sem impactos aos cursos h�dricos da regi�o e �s comunidades pr�ximas. A estrutura cont�m material classificado como n�o perigoso, de acordo com a norma t�cnica brasileira.”
A mineradora afirma que desde o dia 10 de janeiro, t�cnicos e engenheiros da companhia atuam na �rea com maquin�rio para as obras de reparo.
“Tamb�m de forma preventiva, para que as obras sejam feitas com o m�ximo de seguran�a e agilidade, neste per�odo, algumas estruturas e empregados foram deslocados temporariamente. A AngloGold Ashanti tamb�m refor�a que a pilha n�o tem qualquer rela��o com suas barragens, que continuam totalmente est�veis e seguras. Em caso de d�vidas, a empresa permanece sempre � disposi��o da comunidade pelo nosso canal de relacionamento: 0800 72 71 500”, informou. (MP)
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