(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas POLUI��O

Ap�s as enchentes, cidades da Grande BH enfrentam uma inunda��o de lixo

Em apenas 7 delas, estima-se que 80 mil toneladas de detritos misturados � lama tenham sido lan�adas nas ruas


20/02/2022 04:00 - atualizado 20/02/2022 07:59

Recolhidas 30 mil toneladas de barro, o correspondente a 1,5 mil caminhões (carga de 20t) para o transporte
(foto: Prefeitura de Raposos/Divulga��o)


Mesmo depois de as �guas baixarem – e em alguns casos, subirem novamente –, as marcas est�o por todo canto: sacos pl�sticos agarrados a cercas, montanhas de barro misturadas ao lixo nas margens de rios, garranchos em pilares de pontes e garrafas PET boiando comp�em um cen�rio de desola��o em muitas localidades. Para dar conta do “efeito enchente de janeiro”, que retornou este m�s, embora de forma menos destruidora, mas associado a outros problemas, como deslizamentos, moradores, armados de vassouras, enxadas e p�s, continuam tentando desobstruir a entrada das casas e limpar a sujeira. Em alguns munic�pios, � preciso esperar a volta do sol para as m�quinas retornarem �s ruas para retirar a lama que grudou em tudo; outros aproveitam qualquer tr�gua no aguaceiro para retomar a limpeza.

Em sete munic�pios da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte – Rio Acima, Raposos, Nova Lima, Sabar� e Santa Luzia, na Bacia do Rio das Velhas, al�m de Betim e Brumadinho, na do Paraopeba –, o rastro de sujeira � superlativo neste per�odo de chuvas fortes: foi recolhida, at� agora, uma montanha com mais de 80 mil toneladas de lixo, barro, entulhos diversos e outros materiais carreados pelos cursos d’�gua durante os temporais. (veja quadro.) O volume encheria, por exemplo, 11,5 mil caminh�es de lixo do tipo que circula em Belo Horizonte, que leva, em m�dia, 7 toneladas de res�duos. Completaria ainda 17,5 piscinas ol�mpicas.

A situa��o preocupa os gestores municipais quanto � qualidade das �guas – o que motivou inclusive reuni�o com o governo estadual –, al�m de causar preju�zos, expor ainda mais as mazelas sociais e acender um alerta para problemas ambientais que j� se tornaram cr�nicos. “O rio representa vida, � lugar para os peixes, n�o para tanta ‘tranqueira’ que jogam nele”, diz o coordenador do Projeto Manuelz�o, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tamb�m secret�rio do Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio da Velhas (CBH Rio das Velhas), Marcus Vin�cius Polignano.

Segundo Polignano, as cheias dos rios s�o for�as da natureza. Promovem a limpeza dos cursos d’�gua e devolvem o que � lan�ado pela m�o humana: “Portanto, o que vem do rio � o que vem da gente – em resumo, a lei do retorno da natureza”. Mas � preciso ressaltar que isso decorre “da falta de gest�o p�blica de rejeitos, esgoto e res�duos s�lidos”, explica o secret�rio do CBH Rio das Velhas. Dessa forma, devem ser implementadas a��es para impedir mais impactos e criar programas de educa��o ambiental.

Diante do quadro, que j� deixou milhares de desabrigados e desalojados em Minas, Polignano alerta para uma nova agress�o: “H� munic�pios jogando nos rios o barro que ficou nas margens”. Com isso, o resultado ser� pior diante do estado de assoreamento das bacias hidrogr�ficas.

EFEITO MAIOR Em Raposos, �s margens do Rio das Velhas, que esteve 9,15 metros acima do leito normal em janeiro, a prefeitura local j� recolheu 30 mil toneladas de barro, o correspondente a aproximadamente 1,5 mil viagens de caminh�o para o transporte. “Tivemos grandes enchentes em 1996, 1997 e 2020. Desta vez, atingiu muitas �reas do munic�pio, e, no Centro, comerciantes ficaram desanimados com a situa��o”, diz o secret�rio municipal de Obras, Liliano Rezende.

O efeito maior das enchentes foi o volume de barro, tanto �s margens do Ribeir�o da Prata, represado pelo Velhas, como no rio que � afluente do S�o Francisco. A Prefeitura de Raposos informa que tem levado barro, entulho, lixo e outros res�duos para uma �rea, em car�ter provis�rio, para posterior transporte para outro local. Na cidade, os danos humanos foram assustadores: 10 mil desalojados e 3 mil desabrigados.

No munic�pio de Rio Acima, muitas casas foram invadidas pela lama e h� estimativa de que sejam retiradas 400 toneladas, informa a secret�ria municipal de Meio Ambiente, Z�lia Moreira. Ela disse que todo o material recolhido est� sendo levado para uma �rea impermeabilizada, seguindo depois para aterro em Sabar�, conforme conv�nio entre os munic�pios.

Tamb�m na Bacia do Rio das Velhas, Nova Lima teve como bairros mais atingidos Hon�rio Bicalho, Santa Rita, Alto do Gaia, Bela Fama, Nova Su��a, S�o Sebasti�o das �guas Claras (Macacos), Vale do Sol e �gua Limpa. A prefeitura j� recolheu 16 mil toneladas de lama e 1 mil  de lixo. A cidade ainda viveu uma situa��o-limite, quando, em 8 de janeiro, houve o transbordamento de um dique de conten��o da Mina de Pau Branco, da mineradora Vallourec, no munic�pio, causando estragos na  BR-040.

Com um patrim�nio cultural que atrai muitos turistas, formado por igrejas, casario, teatro e outros monumentos, Sabar� enfrenta agora o per�odo da faxina p�s-enchente. Basta circular pela cidade para ver os estragos causados nas ruas ap�s a cheia do Velhas e do seu afluente, o Rio Sabar�, que banha a cidade, surgida no s�culo 18. Depois da enchente, o recolhimento de res�duos quase triplicou. Conforme a prefeitura local, entre 10 janeiro e 11 de fevereiro, foram recolhidas 4 mil toneladas de material – por dia, foram 140 toneladas (lama, lixo etc.), quase o triplo do volume do mesmo per�odo do ano passado (60 t/dia).
 

Pesca de recicl�veis na ponte do Rio das Velhas

 
Reflexos das enchentes s�o vis�veis ao longo do Rio das Velhas, que corta o munic�pio de Santa Luzia. De perto, as palavras de Marcus Polignano ganham mais for�a e sentido. Agarrados aos pilares da chamada Ponte Velha, entre as partes alta e baixa da cidade, ainda se encontra uma enormidade de gravetos, troncos e garranchos. Em alguns trechos, h� pilhas de barro, mas � ao longo das cercas de propriedades ribeirinhas que se v� “o que o rio devolve” durante seu processo de limpeza: sacos pl�sticos de todas as cores e tamanhos, agora desbotados, parecem estandartes de alerta contra a polui��o e degrada��o das �guas.

Em 9 de janeiro, o Estado de Minas constatou a grande quantidade de material estacionada num remanso, perto da ponte. Havia tambor, pneu, geladeira, milhares de garrafas PET, caixas de isopor, gal�es, caixa de ferramentas e m�veis. Naquele momento de tens�o, j� que parte da cidade ficara ilhada, um homem se dedicava a uma atividade bem original, “pescando” com vara de bambu o que pudesse retirar do rio para conseguir algum dinheiro. Fisgou v�rios gal�es.

Segundo a Superintend�ncia de Limpeza Urbana da Prefeitura de Santa Luzia, a m�dia mensal de res�duos s�lidos recolhidos na cidade � de 4,5 toneladas, com estimativa de chegar a 5 toneladas devido � enchente. Sabiamente, um morador luziense de 70 anos avisou: “N�o mexam com o Rio das Velhas. Ele � bravo. E devolve com for�a tudo o que jogam nele. Sempre foi assim”.

Outra moradora, do Bairro Palmital, que ficou desalojada, n�o se eximiu de culpa. “Somos todos respons�veis por essa sujeira. A gente joga tudo dentro do rio, de latinha a botij�o de g�s. Precisamos de mais conscientiza��o. Do contr�rio ser� sempre assim”, disse, com irrita��o. A assessoria de imprensa da prefeitura informa que ainda h� trabalhos de limpeza no Bairro Palmital, por�m com um atraso devido �s �ltimas chuvas.

PARAOPEBA Em Betim, na Bacia Hidrogr�fica do Rio Paraopeba, as cheias no Rio Betim “devolveram” 21,5 mil toneladas de res�duos, incluindo lixo, barro, m�veis e outros objetos. O volume � quase o triplo do recolhido por m�s – 7,9 mil toneladas. J� em Brumadinho, que em 25 de ja- neiro viu completados tr�s anos do rompimento da Barragem da Mina C�rrego do Feij�o, com quase 300 v�timas, a cheia no Rio Paraopeba tamb�m gerou muitos transtornos, com casas tomadas pelas �guas. Segundo a prefeitura, foram retiradas 8,4 mil toneladas de lixo (entulho, lama e materiais org�nicos), levadas para o aterro sanit�rio.
 
A LEI DO RETORNO

Veja, em n�meros estimados, a situa��o dos rios das Velhas, Paraopeba e afluentes, transformados em lata de lixo na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. A conta da sujeira fecha em 80,3 mil toneladas

 
Recolhidas 30 mil toneladas de barro, o correspondente a 1,5 mil caminhões (carga de 20t) para o transporte
(foto: Prefeitura de Raposos/Divulga��o)
1) Raposos
 
2) Rio Acima
O munic�pio teve muitas casas atingidas, e a prefeitura recolheu 400 toneladas de barro 
 
Até agora, recolhidas cerca de 16 mil toneladas de barro e 1 mil toneladas de lixo
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 12/1/22)
3) Nova Lima
 
Recolhidas 140 toneladas por dia, quase o triplo do volume do mesmo período do ano passado (60t/dia). Em um mês, foram 4 mil toneladas
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 11/1/22)
4) Sabar�
 
A média mensal de resíduos sólidos é de 4,5 toneladas, com estimativa de chegar a 5t devido à enchente no Rio das Velhas
(foto: Gustavo Werneck/EM/D.a press)
5) Santa Luzia 
 
Retiradas 21,5 mil toneladas de resíduos, incluindo lixo, barro, móveis e outros. O volume é quase o triplo do material recolhido por mês %u2013 7,9 mil toneladas
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press - 13/1/22)
6) Betim 
 
Retiradas 8,4 mil toneladas de lixo (entulho, lama e materiais orgânicos), levadas para o aterro sanitário
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press-20/1/22)
7) Brumadinho  
 
 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)