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Estado de Minas EDUCA��O

Novo Enem deve ter a cara do antigo vestibular

Proposta para o novo modelo de exame, que ser� implementado a partir de 2024, prev� duas etapas, uma delas com quest�es abertas


23/04/2022 04:00 - atualizado 23/04/2022 07:37

Estudantes na entrada das provas do Enem
Estudantes na entrada das provas do Enem: novo modelo que deve ser adotado em 2024 prev� que a produ��o de texto ganhar� ainda mais import�ncia (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 3/11/19)

O Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) tomar� outros rumos em 2024, quando o novo ensino m�dio estiver plenamente implementado em todas as escolas brasileiras. Mesmo com parecer j� emitido pelo Conselho Nacional da Educa��o (CNE) e os primeiros contornos da proposta revelados, nada ainda est� definido. Pelo contr�rio, esses s�o os primeiros passos de um longo debate, ofuscado pelas apura��es sobre desvios e corrup��o no Minist�rio da Educa��o (MEC).

As primeiras discuss�es d�o como pista um Enem com quest�es abertas, em duas etapas, prestes a retomar antigas f�rmulas de avalia��o e com a cara do velho vestibular de universidades federais, como o da UFMG. Nessa reformula��o, as institui��es de ensino superior tamb�m poder�o ganhar mais voz, reassumindo pap�is decisivos na sele��o de seus futuros alunos.

Especialistas defendem que � preciso atualizar o Enem para acompanhar o novo ensino m�dio, ditado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cujo papel � garantir direitos comuns e fundamentais a todos os estudantes. Nos novos moldes da �ltima etapa da educa��o b�sica, alunos de todo o pa�s ter�o uma forma��o comum b�sica e a possibilidade de aprofundar em �reas de maior interesse – os itiner�rios formativos, trilhas que os adolescentes v�o percorrer dentro de seu projeto de vida.

A proposta do novo Enem foi pensada por um grupo de trabalho constitu�do em julho do ano passado e representado pelas secretarias de estado de educa��o, MEC, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep), CNE e escolas privadas.

De acordo com a proposta apresentada pelo MEC e o parecer do CNE, o Enem ser� feito em duas etapas e a produ��o de texto ganhar� ainda mais import�ncia. A ideia inicial � ter uma primeira etapa com quest�es de m�ltipla escolha, com os conte�dos da forma��o geral e reda��o, e uma segunda relacionada aos itiner�rios formativos. Dessa forma, o estudante escolher� as provas da segunda fase de acordo com a �rea vinculada ao curso superior que pretende cursar. As institui��es de ensino superior dever�o considerar para sua sele��o os resultados de ambas as etapas, quando for o caso.

O processo remete ao vestibular de universidades federais antes de o Enem ser adotado como forma de sele��o. At� 2009, a UFMG, por exemplo, tinha um processo em duas etapas. Na primeira, os candidatos a todos os cursos faziam provas de m�ltipla escolha de todas as disciplinas, mais reda��o. Aqueles com maior pontua��o eram classificados para a segunda etapa e faziam as provas das mat�rias espec�ficas da �rea do curso pretendido, respondendo a 10 quest�es discursivas.

Assim, candidatos a uma vaga em medicina tinham quest�es abertas de biologia, qu�mica, l�ngua portuguesa e literatura brasileira. Nas engenharias, a �nfase era em f�sica, matem�tica, qu�mica, l�ngua portuguesa e literatura brasileira. Os conhecimentos sobre a l�ngua materna e as exatas ganhavam em peso e dificuldade de acordo com cada �rea.

Para o novo Enem, s�o propostos quatro blocos de cursos e �reas. Os candidatos a administra��o, direito e pedagogia, por exemplo, poder�o fazer provas de geografia, hist�ria, linguagens e ci�ncias humanas e sociais. Aqueles de olho em vaga em engenharia el�trica, biomedicina e medicina veterin�ria fariam testes abertos de matem�tica e ci�ncias da natureza. Quem quer uma cadeira em engenharias de computa��o e controle e automa��o teria a op��o de responder �s quest�es abertas de matem�tica e ci�ncias humanas e sociais. O quarto bloco � composto por cursos da �rea de sa�de, turismo e teologia, com provas de ci�ncias da natureza e ci�ncias humanas e sociais.

A sele��o n�o pode impedir a forma��o, como ocorre hoje. O Enem exige que o aluno saiba tudo sobre tudo. Ou seja, saber algo muito superficial sobre muita coisa. � preciso conhecimento sobre elementos que caracterizam a forma��o

Jos� Francisco Soares, professor em�rito da UFMG, ex-presidente do Inep e doutor em educa��o


T�CNICO

Para estudantes que optaram pelo curso t�cnico em seu itiner�rio formativo, o MEC pretende sugerir uma tabela de pondera��o. O secret�rio de Educa��o B�sica do MEC, Mauro Rabelo, ressalta que a exist�ncia de 215 cursos t�cnicos no pa�s em 13 eixos tecnol�gicos impede a forma��o de blocos de �rea de conhecimento espec�ficos. Por isso, nesses casos, estudantes que seguirem a gradua��o de acordo com seu curso t�cnico poderiam ter um b�nus na nota.

“A nota ter� uma pondera��o de acordo com a ader�ncia da forma��o t�cnica ao curso superior pretendido. � uma proposta para valorizar a forma��o t�cnica de quem de fato quer ir para educa��o superior tamb�m”, afirma  Rabelo. O MEC ressalta que vai preparar tabela sugestiva de pondera��o.

Ningu�m discute que � preciso adequar o processo � nova realidade do ensino m�dio. Resta saber como faz�-lo e como aparar pontas atualmente soltas. Professor em�rito da UFMG, Jos� Francisco Soares, ex-presidente do Inep e doutor em educa��o, � enf�tico: “A sele��o n�o pode impedir a forma��o, como ocorre hoje. O Enem exige que o aluno saiba tudo sobre tudo. Ou seja, saber algo muito superficial sobre muita coisa. � preciso conhecimento sobre elementos que caracterizam a forma��o”, afirma.

"A sele��o, que j� � complicada, tem que ter a cara da universidade. Diferentes projetos podem ter diferentes demandas. E o melhor � que diferentes projetos colaborem entre si, porque a sele��o impacta em tal maneira a forma��o que se eu doso de forma errada a sele��o, inviabilizo a forma��o”, pondera.

Acredito que agora haver� mais habilidades na primeira fase e, na segunda, essa estrutura caminhe para um equil�brio entre habilidades e conte�dos

Marcos Raggazzi, diretor-executivo das unidades escolares do grupo Bernoulli


Mais poder para as universidades

Num Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) em duas fases, as notas da segunda etapa poder�o ter papel decisivo para carimbar o acesso � gradua��o. Isso porque v�rios cen�rios t�m sido desenhados para deixar universidades, faculdades e centros universit�rios com caminho livre para a sele��o de seus calouros. No modelo apresentado pelo Minist�rio da Educa��o (MEC), as institui��es de ensino superior ter�o prerrogativa de fixar nota m�nima para a primeira etapa e para a reda��o para o ingresso em seus cursos. Tamb�m lhes ser� facultada a atribui��o de pesos diferenciados aos blocos da segunda fase.

N�o � a primeira vez que o Enem passa por transforma��es. Em 2009, quando o exame se expandiu como porta de acesso � gradua��o, passou a cobrar dos alunos, para al�m de habilidades, um n�vel de conhecimento maior dos conte�dos das �reas, como forma de contemplar uma exig�ncia das universidades federais. “Acredito que agora haver� mais habilidades na primeira fase e, na segunda, essa estrutura caminhe para um equil�brio entre habilidades e conte�dos”, afirma o diretor-executivo das unidades escolares do grupo Bernoulli, Marcos Raggazzi.

O professor em�rito da UFMG Jos� Francisco Soares lembra que resolu��o do CNE diz que universidades podem escolher s� a primeira etapa como forma de sele��o. “Muitos cursos, como administra��o, poderiam ter alunos escolhidos nessa modalidade sem dificuldade, permitindo �s universidades terem uma segunda etapa menor. A UFMG tem alguns cursos muito competitivos, como ci�ncias da computa��o, nos quais dois ou tr�s candidatos por vaga poderiam ir para a segunda fase”, diz. Ele recha�a a ideia do crit�rio de peso nas notas, preferindo a mobiliza��o de conhecimentos e habilidades.

O doutor em educa��o defende a participa��o das universidades e a aplica��o de provas em cons�rcio, de forma que alunos n�o aprovados n�o precisem repetir a primeira fase – o que geraria economia na aplica��o do exame. “O mais importante � que as universidades venham, se comprometam e n�o ponham a dificuldade t�cnica como dificuldade de o jovem desenvolver algo fundamental, que � a capacidade de escrever e raciocinar.”

Ele ressalta a import�ncia de quest�es abertas na segunda etapa, uma vez que a forma��o “n�o pode ser de m�ltipla escolha”. “Decis�es da sele��o devem ser tomadas cuidadosamente: �nfases s�o importantes, mas tamb�m a forma. Precisamos de quest�es abertas, porque isso gera rotina pedag�gica na forma��o”, destaca. Para Soares, o passo demorou a ser dado e precisa ser ampliado.

O professor defende prot�tipos de modelos, discuss�es em cima de casos concretos junto com ONGs, escolas, secretarias e estados para que um grupo limitado de pessoas n�o tome as decis�es. “A ideia da primeira etapa � boa e necess�ria, porque permite ao ensino m�dio se organizar para a forma��o do estudante sem ser violentado pela sele��o. Falta, entretanto, muita clareza. Se o pa�s fosse s�rio, n�o existiria audi�ncia p�blica sem um prot�tipo.”

VESTIBULAR

Marcos Raggazzi compara o novo ensino m�dio aos cursos de uma universidade, com suas disciplinas obrigat�rias, opcionais (do pr�prio curso) e eletivas (poss�veis de serem feitas em outros cursos). Para ele, sem uma primeira fase no Enem, imposs�vel medir o que o aluno desenvolveu verdadeiramente em rela��o � base. E sem a segunda, perde-se em sentido. “Em duas fases, o exame valoriza a BNCC e os itiner�rios formativos.”

Mas, mesmo se o novo Enem tem a cara dos vestibulares, Raggazzi chama a aten��o para uma diferen�a crucial: o antigo modelo de sele��o era associado apenas aos conhecimentos das disciplinas, e n�o �s habilidades, o que � priorizado no Enem atual e ser� tamb�m o foco da avalia��o no futuro. “Conte�do � apenas um meio pelo qual se consegue inferir as habilidades dos alunos. Inferir, relacionar, comprar, deduzir, extrapolar, tudo isso pode ser medido. H� hoje uma matriz que fala das habilidades e ser� feita uma nova, com a estrutura da BNCC e dos itiner�rios.”

Quest�es discursivas s�o outro ponto importante, mesmo se a escala de aplica��o de provas remonta a milh�es de alunos, o que implica adapta��es na corre��o – contrata��o de grande n�mero de pessoas ou desenvolvimento de intelig�ncia artificial. “O aluno ter� que demonstrar habilidade de encadear ideias.”


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