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Estado de Minas EDUCA��O

Ensino h�brido: o formato que veio para ficar

Impulsionado com a pandemia, modelo combinado entre atividades em salas de aula e n�o presenciais passa a ditar as regras na educa��o


15/04/2022 07:30 - atualizado 15/04/2022 12:02

Carolina Borém
Carolina Bor�m est� no 8� per�odo de odontologia da Faculdade Arnaldo e afirma que as novas formas de aprendizado com recursos tecnol�gicos permitem estar um passo � frente no mercado de trabalho (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

A sala de aula cl�ssica, com estudantes sentados � escuta do professor � frente da classe explicando conte�do, teve seu fim decretado durante a pandemia. O fechamento de estabelecimentos e a implementa��o de classes on-line n�o s� aceleraram a moderniza��o da educa��o brasileira como a fizeram pular definitivamente para o s�culo 21. No ensino superior privado e p�blico, o modelo h�brido – combina��o de atividades em salas de aula e n�o presenciais – passa a ditar as regras em maior ou menor grau numa nova sala de aula. Um consenso j� reina: ser� preciso se reinventar ainda mais – e investir – para oferecer aos estudantes possibilidades de aprendizado diferentes do que havia antes e mais atrativas do que o mero ensino remoto. 

 

O novo espa�o de aprendizado tem como bases um modelo que define bem a ideia de que, a partir de agora, tudo estar� fora da ordem habitual – no melhor dos sentidos. Nele, a sala de aula invertida, composta pelas chamadas metodologias ativas, ganha terreno: o estudante recebe antecipadamente o material te�rico e, em sala, o professor se encarrega de revisar conhecimento e atividades pr�ticas para aplica��o. Alunos se re�nem, pesquisam, debatem. Intera��o � mais do que nunca essencial, com aulas mais participativas e menos expositivas.  

 

Para o setor privado de ensino superior, n�o h� d�vidas de que essa acelera��o ser� uma obriga��o no p�s-pandemia. “A pandemia acelerou a expans�o da tecnologia da educa��o. O ensino h�brido n�o come�ou agora. Houve uma acelera��o cultural e as pessoas perceberam que funciona”, afirma o presidente da Associa��o Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior, Celso Niskier. “Minha vis�o pessoal: aula como antes, em que o aluno pega duas condu��es e vai para a sala assistir ao professor vai perder sentido, porque ele j� recebeu aquilo em casa durante esses quase dois anos. Ele quer ir � sala praticar o que aprendeu”, diz. 

 

Em Belo Horizonte, a Faculdade Arnaldo aproveitou o contexto para acelerar e concretizar a aplica��o de novas metodologias no cotidiano da institui��o. “Ensino h�brido � poss�vel e novas metodologias, necess�rias”, afirma o diretor, Jo�o Guilherme Porto. Antes do fechamento das salas de aula, em 2020, a faculdade j� trabalhava com disciplinas remotas em cursos presenciais. “Mas, havia preconceito do corpo docente e dos alunos, que foi quebrado”, conta. A institui��o optou por manter e incrementar o modelo h�brido em sua linha pedag�gica. Em todas as salas de aula, foram instaladas c�meras e equipamentos para transmiss�o de aulas ao vivo. A indu��o de elementos tecnol�gicos em diversos cursos � outra aposta. 

 

Caso das aulas pr�ticas do curso de odontologia, que deixaram no passado papelada e velhos equipamentos. Fichas foram substitu�das por prontu�rio de atendimento eletr�nico e todo o acompanhamento dos pacientes se faz por meio digital. M�quinas de radiografia foram trocadas por scanner e tomografia computadorizada. “Hoje, vivemos num mundo onde reuni�es est�o deixando de ser presenciais. Por isso, � preciso dar a alunos e professores ferramentas para nossos estudantes serem capazes de estar num outro mercado de trabalho.” 

 

Nas universidades p�blicas a quest�o tamb�m est� em alta. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde parte do conte�do a dist�ncia tamb�m j� era realidade, resolu��o interna permite at� 20% da oferta de atividades nesse modelo, mas dentro de um projeto pedag�gico pensado para isso, ressalta a reitora Sandra Goulart Almeida. “O curso de letras oferta h� mais de 20 anos algumas disciplinas a dist�ncia. � um processo de ensino e aprendizagem poss�vel, mas temos de pensar em como us�-lo e o que aprendemos nesse contexto”, diz.  

 

Sandra destaca ser fundamental a presencialidade. “Precisamos consolidar o conceito da sala de aula invertida, j� presente no in�cio da d�cada de 1990. Mandar tarefa ao estudante para ele vir � sala de aula resolver um problema. O ensino deve ser trans, multi ou interdisciplinar, n�o d� mais para simplesmente passar conhecimento. A escola hoje � ainda mais de reflex�o cr�tica, porque a informa��o est� na m�o. Trabalhar compet�ncias, habilidades e reflex�o cr�tica permite ao aluno criatividade e autonomia como aprendiz.” 

 

PESQUISA

 

O Observat�rio da educa��o superior, levantamento da empresa de pesquisas educacionais Educa Insights, em parceria com a Abmes, mostrou esse cen�rio. Os entrevistados responderam sobre os momentos de aprendizado que consideravam mais importantes, como aulas presenciais te�ricas ou pr�ticas, atividades presenciais de estudo individual com tutor, aulas remotas ao vivo ou gravadas. Em m�dia, cada um dos nove modelos propostos foi considerado importante para 80% dos entrevistados. 

 

“A primeira grande resposta � que n�o existe varia��o significativa entre nenhuma das possiblidades. H� indica��o de que o cl�ssico – aula presencial em sala de aula – � muito bem quisto e � dif�cil tirar. Nunca deixar� de existir, mas outros componentes, mesmo o remoto, com aulas s�ncronas (ao vivo), tem aceita��o bem positiva”, afirma o diretor e fundador da empresa, Daniel Infante. “A tend�ncia do futuro da educa��o � h�brida e ela est� na cabe�a do aluno.” 

 

Estudante do 8º per�odo de odontologia da Faculdade Arnaldo, Carolina Bor�m, de 33 anos, concorda. No �ltimo semestre, ela tem parte da carga hor�ria a dist�ncia, com aulas gravadas. “Acesso a recursos tecnol�gicos e a novas formas de aprendizado permitem estar um passo � frente no mercado de trabalho. � um diferencial para o futuro contratante”, diz. 


O melhor dos dois mundos

 

O recado � claro: a nova gera��o de estudantes quer o melhor do mundo presencial e virtual e espera essa flexibilidade. Ainda n�o h� levantamento apontando como as institui��es est�o adotando os novos modelos. Mas, do lado das particulares, j� se sabe que poucas est�o retomando as aulas no modelo presencial tradicional. Outras transformaram o presencial em metodologia ativa (aluno vai � sala aplicar conhecimento j� adquirido em pr�-estudos) e aquelas em cujos campi os 40% de carga hor�ria remota j� eram realidade optaram por usar parte desse percentual em aulas gravadas e parte em aulas ao vivo. Na Unicarioca, no Rio de Janeiro, por exemplo, a p�s-gradua��o era presencial, passou ao modelo remoto e assim permanecer�.  

 

O processo de ensino-aprendizagem vem sofrendo mudan�as tamb�m na PUC Minas. Grupos de professores trabalharam e pesquisaram novas din�micas para, no retorno ao presencial, increment�-las �s pr�ticas inovadoras j� ativas nos laborat�rios da maior universidade cat�lica do mundo. O ensino virtual ganhou novo status. Com mais de 85 mil alunos matriculados em cursos de gradua��o e p�s-gradua��o, a PUC conta hoje com cerca de 65% deles (mais de 50 mil) j� integrados � educa��o a dist�ncia. 

 

Maria Inês Martins
"A pandemia de COVID-19 acabou por consolidar de forma bastante exitosa a modalidade de disciplina on-line s�ncrona", Maria In�s Martins, pr�-reitora de gradua��o da PUC Minas (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A pr�-reitora de gradua��o, professora Maria In�s Martins, diz que o isolamento social for�ado trouxe oportunidades e desafios que exigem novo significado da presencialidade na educa��o. “� not�rio que a PUC Minas avan�a para o ensino h�brido, que reflete a dimens�o do espa�o (presencial ou on-line) e do tempo (s�ncrono ou ass�ncrono). E a pandemia de COVID-19 acabou por consolidar de forma bastante exitosa a modalidade de disciplina on-line s�ncrona (transmitidas ao vivo). Isso levou � incorpora��o dessa modalidade entre as possibilidades de composi��o das matrizes curriculares dos cursos de gradua��o”, afirma. 

 

A nova perspectiva � amparada pela Portaria 23/2017, do Minist�rio da Educa��o (MEC), segundo a qual cursos EAD podem ter at� 30% de atividades presenciais, e a Portaria 2.117/2019, que prev� em cursos presenciais at� 40% de atividades on-line. Na PUC Minas, os cursos ampliaram a carga hor�ria de disciplinas por meio de EAD. Antes da pandemia, as disciplinas on-line ass�ncronas (gravadas pelo professor) representavam 18%; ap�s a pandemia, essa porcentagem passou a ser de 28%. 

 

A inser��o do aluno como principal protagonista do aprendizado vinha sendo adotada na universidade desde o fechamento das institui��es de ensino, em 2020. No c�mpus de Po�os de Caldas, no Sul de Minas, as disciplinas de direito do trabalho e direito tribut�rio, eminentemente te�ricas, passaram a incorporar a t�cnica da “gamefica��o”. “Fa�o com os alunos um jogo denominado Cultural game, em que troco algumas atividades por jogos”, explica a professora Vanessa Gavi�o Bastos. A ideia � trabalhar em equipe e a escuta ativa. No curso de direito do c�mpus Contagem, na Grande BH, as metodologias ativas tamb�m est�o no centro das atividades. “O aluno passa a ocupar o papel de protagonista, diferente da sala de aula � qual estamos acostumados, onde o professor conduz tudo”, explica a professora Simone Reissinger.  

 

NEG�CIO Al�m de uma demanda de estudantes, o ensino h�brido se tornou tamb�m um modelo de neg�cio, permitindo a institui��es locais abocanhar um mercado de alcance nacional. Entre as particulares, os grandes grupos j� come�aram a investir nesse fil�o p�s-pandemia. Institui��es de pequeno e m�dio porte t�m o desafio de se adaptar � nova realidade, sabendo que ele � sin�nimo de custos. A estimativa � de que investimentos em tecnologia da informa��o, bibliotecas virtuais e outros recursos cheguem a 5% do faturamento, em m�dia, podendo ir a 15% em alguns casos. Nos pr�ximos dias, as institui��es privadas v�o criar um grupo de trabalho para compartilhar experi�ncias e saber o que est� ou n�o dando certo. Os modelos ideais n�o devem ser conhecidos antes de dois anos.  

 

A pandemia tamb�m zerou o jogo da avalia��o de qualidade. O impacto das aulas remotas na educa��o superior s� ser� conhecido no fim de 2023, quando ser�o divulgados os dados do Enade a ser aplicado no fim deste ano. O presidente da Associa��o Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), Celso Niskier, ressalta que novos modelos n�o podem ser inovadores meramente para facilitar a vida do aluno. Na disputa entre quem vence, o p�dio ser� definido por quem n�o apenas inovar, mas mantiver a qualidade, sendo a motiva��o do aluno a grande chave.  

 

“Sem motiva��o, o estudante vai passando por in�rcia. Modelos inovadores vencedores dever�o engajar o aluno. J� sabemos que aula remota n�o engaja. Serviu para que n�o se parasse, mas vimos que no fim os alunos desligam c�mera, n�o t�m mesma motiva��o, evadem com frequ�ncia”, relata. Da�, a necessidade de adaptar, trazendo a linguagem dos jogos, conte�dos mais atraentes e laborat�rios virtuais apoiando laborat�rios pr�ticos. “Aquilo que trouxer engajamento para os alunos ser� o caminho do sucesso para combinar motiva��o e resultado em termo de qualidade.”  


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