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Estado de Minas VIADUTO DAS ALMAS

Viaduto das Almas: o acidente que quase matou o pianista Nelson Freire

Em setembro de 1967, um �nibus na linha Rio-BH despencou do viaduto, deixando mortos. Reportagens mostraram a trag�dia e suas prov�veis causas


22/05/2022 04:00 - atualizado 22/05/2022 07:27

Ônibus destruído embaixo do viaduto com pessoas observando o veículo
�nibus da Via��o Cometa caiu da estrutura em curva que ganhou o apelido por outro acidente, em 1953 (foto: O Cruzeiro/Arquivo EM - 13/9/1967)

Manh� de 13 de setembro de 1967, precisamente �s 6h20. Belo Horizonte e o Brasil acordam mais cedo, atordoados por um acidente rodovi�rio, noticiado, primeiro, pelas emissoras de r�dio. Em BH, pelas r�dios Guarani, Mineira, Inconfid�ncia e Itatiaia. Um �nibus leito da Via��o Cometa, que fazia a linha Rio de Janeiro-Belo Horizonte, havia despencado do Viaduto das Almas. Havia mortos, n�o se sabia quantos.

Um rep�rter da TV Itacolomi, a principal emissora do estado �quela �poca, � acordado com a campainha de seu apartamento tocando. Era uma vizinha dizendo que estavam ligando da emissora pedindo que ele atendesse rapidamente, pois era urgente. Do outro lado do telefone, a informa��o de que havia acontecido um acidente grav�ssimo, numa das obras de arte rodovi�rias consideradas das mais modernas j� feitas no pa�s, que acabou ficando conhecida popularmente por “Viaduto das Almas”, apelido dado em 1953, ap�s um acidente de �nibus em que morreram 14 pessoas.

Pois a trag�dia se repetiu naquele in�cio de manh� de quarta-feira e o rep�rter deveria seguir para o local imediatamente. Um carro da emissora j� estava a caminho de sua casa, com um cinegrafista, que era tamb�m fot�grafo. Assim, poderia fazer mat�rias para a televis�o e para os dois jornais, Estado de Minas e Di�rio da Tarde.

Noite de ter�a-feira, 12 de setembro. Na rodovi�ria do Rio de Janeiro, os passageiros embarcam no �nibus leito n�mero 1510, placa 82-10-29, com destino a Belo Horizonte, previsto para sair �s 21h. A hora marcada se aproximava e tr�s passageiros n�o apareceram. Mas o hor�rio tinha de ser cumprido e o �nibus partiu.
O pianista Nelson Freire, de preto, em um foto com fundo preto
Um dos maiores pianistas brasileiros, Nelson Freire sobreviveu, mas perdeu o pai e a m�e no acidente (foto: Benjamin Eolavega/divulga��o)

Dentro do �nibus leito – ainda uma novidade na �poca – estavam algumas personalidades, como o pianista de renome internacional Nelson Freire (1944-2021), ent�o com 22 anos e j� bastante conhecido, que retornava para casa com seus pais, Jos� Freire da Silva e Augusta Pinto Freire, ambos com 59 anos.

Tamb�m l� estava Z�lia Marinho, a Zelinha, garota-propaganda, apresentadora do programa infantil dominical “Roda-gigante”, da TV Itacolomi, e atriz, tendo trabalhado em novelas gravadas no Rio de Janeiro e em telenovelas, na capital mineira.

Os engenheiros Rubens Sales e Max Quest, o coronel do ex�rcito Arnaldo Lopes, a professora Ada Maria Bogliolo e Randolfo Xavier de Abreu, de 61, irm�o do ent�o secret�rio da Fazenda de Minas Ov�dio de Abreu, tamb�m estavam no �nibus. Com Rubens, na sua maleta de m�o, um cheque de Cr$ 50 milh�es, que, na �poca, era uma fortuna.

A viagem foi tranquila, at� chegar ao viaduto. Ali, a trag�dia. As primeiras informa��es eram de que um dos pneus do ve�culo havia estourado. O motorista, o carioca Lino de Abreu Cerqueira Neto, teria tentado controlar o �nibus, mas n�o conseguiu impedir que o ve�culo batesse na fraca amurada e se precipitasse por 80 metros de altura at� o solo, na beira do C�rrego das Almas.

A primeira vers�o, no entanto, n�o � confirmada, pois Lino era um dos mortos. Os bombeiros trabalharam para a retirada dos corpos de dentro do �nibus. Cinco dos passageiros mortos tinham sido atirados para fora do coletivo na queda do viaduto.

Uma a uma, as pessoas foram sendo retiradas. Primeiro, aqueles que mostravamm sinais de vida. Entre eles, o pianista Nelson Freire. Al�m dele, Eduardo Lopes Can�ado, diretor do Banco Econ�mico de Minas Gerais, e Paulo Richard, que era diretor da Cometa. Eles s�o levados para o Hospital de Pronto-socorro Jo�o XXIII, na capital mineira.

No �nibus, havia 18 passageiros. Onze poltronas n�o tinham sido ocupadas. Retirados os quatro sobreviventes, a hora mais dif�cil: a contagem dos mortos. Eram 14 no total.

Entre eles, os pais de Nelson Freire, Jos� e Augusta. Ele s� recebeu a not�cia mais tarde, depois de medicado no hospital. Tamb�m estavam mortos os dois engenheiros, Rubens e Max, a professora Ada e Randolfo.
atriz e apresentadora Zelinha em foto em preto e branco
A morte da atriz e apresentadora Zelinha, xod� da televis�o mineira na �poca, chocou seus f�s (foto: O Cruzeiro/Arquivo EM - 1967)

Tamb�m entre os mortos, o xod� da TV mineira: Zelinha. Ela era adorada por adultos e crian�as. Era aquela mulher que entrava nas resid�ncias atrav�s da telinha da TV e se mostrava sempre agrad�vel. Come�ou a carreira como atriz de r�dio, trabalhando na R�dio Mineira. Depois, tornou-se garota-propaganda da TV Itacolomi. Trabalhou em telenovelas locais e em novelas nacionais, que eram gravadas na TV Tupi, no Rio de Janeiro. E ganhou a maior oportunidade ao se tornar a apresentadora do infantil “Rosa-gigante”, sempre na TV Itacolomi. Sua morte, por assim dizer, chocou toda a cidade.

Os outros seis passageiros que morreram foram Nicanor de Carvalho, Jo�o Benedito de Abreu Negr�o, Dalila Lima Abreu, An�sio Figueiredo Lobato Cunha e uma pessoa que n�o foi identificada.

Tr�s sortudos

Tr�s passageiros que tinham passagem comprada n�o embarcaram. N�o apareceram para a viagem. A hist�ria de um deles chamou a aten��o, a do jogador de futebol Dirceu Pantera, que come�ou a carreira no Ribeiro Junqueira, da cidade de Leopoldina, onde foi contratado pelo Cruzeiro. Do time da capital, se transferiu para o Bangu, do Rio, e de l� foi para o Deportivo It�lia (Venezuela), Am�rica e Villa Nova.

Dirceu estava no Rio de Janeiro e viajaria a Belo Horizonte para visitar a fam�lia. No entanto, tomou um t�xi e, no caminho, o pneu estourou. Como consequ�ncia, ele n�o conseguiu chegar � rodovi�ria a tempo. Contou, em entrevista ao Estado de Minas, que n�o conseguiu encontrar outro t�xi no lugar m que estava e quando chegou � rodovi�ria o �nibus j� tinha partido.

Investiga��es

O acidente do Viaduto das Almas tornou-se a grande not�cia no Estado de Minas, Di�rio da Tarde e TV Itacolomi. As investiga��es trabalhavam com tr�s hip�teses. A primeira, de que o motorista teria dormido ao volante, mas n�o teria como provar, j� que ele morreu no acidente. A segunda, o excesso de velocidade. E para chegar � conclus�o, era fundamental o depoimento dos tr�s sobreviventes – Nelson Freire, Edu- ardo Lopes Can�ado e Paulo Richard. A terceira hip�tese seria a de que houve problemas hidr�ulicos no �nibus e esses poderiam ter feito com que o motorista perdesse o controle da dire��o, suspeita que foi descartada pela per�cia.

ônibus acidentado no Viaduto das Almas
Bombeiros retiram v�timas do �nibus que ficou com a frente totalemte destru�da com o impacto do desastre (foto: O Cruzeiro/Arquivo EM - 13/9/1967)
Nove dias ap�s o acidente, em 22 de novembro de 1967, Nelson Freire deu uma entrevista ao Estado de Minas, em que inocentava o motorista. Segundo ele, “o �nibus leito havia ultrapassado outro �nibus Cometa, na entrada do viaduto. O motorista estaria tentando controlar a dire��o e evitar o choque”.

Esse depoimento foi determinante para que a terceira hip�tese voltasse a ser considerada, apesar da conclus�o da per�cia. Isso levou d�vidas aos investigadores. Nessa entrevista, o pianista contou, tamb�m, que tinha recebido um telegrama da atriz francesa Henriette Morineau, que dizia: “Que essa dor vos engrande�a. Que a vossa arte seja o nosso ref�gio. Eu vos lamento de todo o cora��o”.

Pareceres desfavor�veis � constru��o do elevado

Na �poca, surgiram diversos documentos que mostravam pareceres contr�rios � constru��o do Viaduto das Almas da forma como foi feito: uma ponte em curva. A engenharia rodovi�ria do DNER alertava para o fato de os construtores desobedecerem aos padr�es de prud�ncia, principalmente pelo fato de a constru��o ser depois de duas descidas, uma de cada lado, e ainda por cima com uma amurada considerada fraca, sem condi��es de conter qualquer impacto.

De nada adiantaram os pareceres, pois nada foi feito. O viaduto continuou a ser utilizado e, dois anos depois, um novo acidente no local. Foi em 3 de agosto de 1969, quando outro �nibus que vinha do Rio de Janeiro para Belo Horizonte despencou do viaduto, matando 30 pessoas. Ningu�m nunca foi julgado pelas mortes.

O Viaduto Vila Rica, conhecido popularmente por Viaduto das Almas, foi inaugurado em 1957. No entanto, depois de dois graves acidentes de �nibus de viagem, que resultaram na morte de 44 pessoas, teve in�cio uma campanha para a demoli��o do espa�o, o que nunca aconteceu, e a constru��o de um novo.

Um projeto foi feito, em 1998. As obras, no entanto, s� tiveram in�cio em 2006. A inaugura��o do novo elevado, o Viaduto M�rcio Rocha Martins, no entanto, s� aconteceu em 26 de outubro de 2010.

O novo local fica distante dois quil�metros do antigo Viaduto das Almas, no quil�metro 592 da BR-040. A inaugura��o, no entanto, foi feita sem que a obras estivesse totalmente conclu�da. Faltava ainda a conten��o do talude e os bueiros n�o estavam acabados.

A obra foi demorada e foram, pelo menos, seis adiamentos da data de inaugura��o. A previs�o inicial era de um custo de R$ 40 milh�es, mas o valor final chegou aos R$ 160 milh�es.


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