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Estado de Minas COVID-19

Pandemia invis�vel: estudo revela como COVID afetou fam�lias mais carentes

Pesquisa de professora da PUC mostra que crise afetou mais pesadamente comunidades vulner�veis de BH, com fome, press�o psicol�gica e viol�ncia


13/07/2022 04:00 - atualizado 13/07/2022 06:42

Belo Horizonte - MG. Eliana Silva de 40 anos e Pedro Ferreira dos Reis, de 68 anos, moradores do Taquaril
Eliana Silva, h� tr�s anos desempregada, com o marido Pedro Ferreira dos Reis, que vive da aposentadoria de um sal�rio m�nimo: ansiedade, dificuldades financeiras e rem�dios para dormir (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

 

Fam�lias isoladas, em um contexto de vulnerabilidade social, falta de acesso � educa��o, inseguran�a alimentar, press�o psicol�gica e tend�ncia ao aumento da viol�ncia. Pesquisa sobre o impacto da pandemia entre n�cleos familiares de comunidades de Belo Horizonte mostrou que o distanciamento social cobrou um duro pre�o em comunidades que sofreram tamb�m com pouca visibilidade durante os per�odos mais restritivos da crise sanit�ria.

 

O levantamento foi feito com moradores das comunidades Vila Maria, na Regi�o Nordeste, Taquaril, na Leste, e Fazendinha, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, entre julho e outubro de 2021. Foram 307 estudos sociais de fam�lias e oito n�cleos familiares entrevistados, entre o p�blico atendido pelo Projeto Provid�ncia.

 

Idealizadora da pesquisa, a professora da PUC Minas Fernanda Flaviana de Souza Martins afirma que o objetivo foi dar voz e visibilidade para as comunidades. Segundo ela, a inseguran�a alimentar representou um desafio para todos os entrevistados. “A quest�o da fome bateu forte nas fam�lias, desencadeando v�rios fatores como ansiedade, depress�o e dificuldade de acesso � educa��o. Onde n�o se tem o que comer, n�o � poss�vel ter tecnologia, nem acesso a educa��o. As crian�as n�o tinham escola, onde faziam as refei��es, e n�o tinham os projetos sociais.”

 

Para a professora, a pesquisa mostra a urg�ncia de se pensar no p�blico mais vulner�vel. “H� necessidade de pol�ticas de seguran�a alimentar efetivas. Muitas vezes a fam�lia n�o tinha condi��es de buscar o alimento. �s vezes at� tinha o alimento, mas n�o tinha como fazer, porque n�o tinha g�s.”

 

EVAS�O

 

O estudo mostrou que a educa��o das crian�as nessas comunidades foi ainda mais prejudicada do que no restante da cidade. “Houve evas�o escolar decorrente do contexto de pandemia. A maioria n�o tinha acesso a computador, nem celular. Quando tinha, era em hor�rios fora da aula. Tinha que dividir um celular com a fam�lia toda.”

 

“Al�m da fome e da vulnerabilidade, as crian�as tiveram violado o direito de se desenvolver em plenitude. Ficaram vulner�veis tamb�m ao tr�fico. H� relatos de muitas fam�lias de que o tr�fico estava presente nesse contexto de pandemia.”

 

Segundo a professora, a maioria das fam�lias � formada por mulheres negras, m�es solo e com tr�s a quatro filhos. “Elas contam do seu desespero, falam da tristeza de n�o ter o alimento, que � uma necessidade b�sica. Dizem se sentir presas, sem conseguir se mover. Educar os filhos sozinhas foi um desafio muito grande para todas elas.”

 

A pesquisadora conta que o choro foi marcante em praticamente todas as entrevistas, e que as pr�prias chefes de fam�lia estavam negligenciadas. “Elas tamb�m precisavam ser olhadas e cuidadas. Fiquei muito emocionada. S� quem � m�e sabe o que � ter uma fam�lia com fome e n�o ter o que fazer, para onde correr. Elas se apegaram ao que elas tinham, aos filhos, amor, esperan�a.”

 

ANSIEDADE E MEDO DE FALTAR O QUE COMER

 

A auxiliar de servi�os gerais Eliana Silva, de 40 anos, sabe bem o desafio que foi esse per�odo. M�e de dois filhos, de 13 e 10 anos, ela est� desempregada h� quase tr�s anos. “A gente vai vendo as contas chegarem e nada de dinheiro. Se n�o fizer uns bicos, umas faxinas... � dif�cil”, desabafa.

 

O marido, Pedro Ferreira dos Reis, de 68, faz bicos para completar o sal�rio m�nimo que vem da aposentadoria. “Hoje as coisas est�o muito caras, um litro de leite custa quase R$ 10. Temos que pagar �gua, luz e economizar para comprar um g�s.” O casal recebe cesta b�sica do projeto social, mas mesmo assim enfrenta a inseguran�a alimentar. “Se n�o fosse o projeto, a situa��o estaria mais dif�cil. Vamos vivendo cada dia, correndo atr�s”, diz Eliana.

 

Ela conta que durante o per�odo mais rigoroso do isolamento foi dif�cil manter as crian�as em casa. “Pessoas pr�ximas perderam a vida por causa da COVID-19 e eu dizia para eles que a gente n�o podia se arriscar. Gra�as a Deus, ningu�m aqui em casa pegou. Nossas vacinas est�o em dia e as das crian�as, tamb�m.”

 

Mas a educa��o n�o saiu ilesa. Segundo Eliana, o filho mais novo tem dificuldade de ler e escrever, apesar de estar na quarta s�rie. “Eles recebiam apostilas, mas n�o � a mesma coisa que em uma sala de aula, com um professor para tirar d�vidas. A pandemia atrasou muito o ensino, agora eles est�o tendo refor�o na escola.”

 

O sofrimento tamb�m trouxe problemas para a sa�de mental da dona de casa. “Comecei a ficar ansiosa, sem saber como lidar com a situa��o. Procurei o posto de sa�de em busca de ajuda, para enfrentar o problema sem me deixar abalar. � muita coisa junta, tem os meninos, as coisas come�am a faltar dentro de casa...” Eliana passou a tomar rem�dios para controlar a ansiedade e para dormir.

 

“Voc� se sente impotente. Essa pandemia teve um impacto muito negativo e acho que vai demorar a melhorar, porque n�o � s� a COVID. Os nossos governantes, por exemplo, enquanto a gente recebe um sal�rio m�nimo, eles ganham muito, t�m v�rios aux�lios.” Ela diz que se sente desamparada pelo poder p�blico. “Eles n�o olham para a comunidade. Infelizmente, a maioria s� pensa no bolso deles.”

 

 

Viol�ncia agravada durante o isolamento

 

A professora Fernanda Flaviana de Souza Martins destaca que a viol�ncia foi outro desafio para as fam�lias das comunidades estudadas em sua pesquisa. “Mulheres e crian�as ficaram ainda mais vulner�veis na pandemia. Al�m da viol�ncia f�sica e sexual, vem acompanhada a viol�ncia psicol�gica, que muitas vezes, traz imobilidade. As consequ�ncias da pandemia nas vilas e favelas foi muito maior. Muitas mulheres relataram que pensaram em tirar a pr�pria vida.”

 

A pesquisa mostrou que dados do Juizado da Inf�ncia e Juventude, do Conselho Municipal dos Direitos da Crian�a e do Adolescente e do Projeto Polos de Belo Horizonte revelam o crescimento de mais de 30% dos casos de viol�ncia contra a crian�a e o adolescente na pandemia.

 

Den�ncias relativas a esse p�blico atingiram o maior patamar desde 2013, em rela��o direta com a pandemia. Neste ano, o Disque 100 registrou mais de 95 mil den�ncias e em 67% dos casos elas se referiam a viol�ncia dom�stica contra crian�as e adolescentes.

 

Minas est� entre os estados que mais utilizaram o Disque 100 para relatar esse tipo de viola��o. Com 12.040 den�ncias, ficou atr�s de S�o Paulo, com 23.870, e acima do Rio de Janeiro, com 11.470. Esses estados concentram metade das situa��es denunciadas do pa�s.

 

Grande parte dessas situa��es tem como v�timas crian�as de 5 a 9 anos, e o principal agressor � o pai ou a m�e (59% dos casos), seguido por padrasto ou madrasta (6%), av� ou av� (3%), e tio (3%). 


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