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Estado de Minas ASSIST�NCIA M�DICA

Corte de vagas em hospital aprofunda crise na pediatria em BH

Anunciado para outubro, fechamento da aten��o infantil no S�o Lucas projeta mais press�o na rede p�blica, desafia planos de sa�de e prejudica pacientes


27/07/2022 04:00 - atualizado 27/07/2022 06:38

 pediatria do São Luca
Com 34 leitos, a pediatria do S�o Lucas � respons�vel por 2,5 mil atendimentos por m�s, 500 cirurgias por ano que ter�o que ser absorvidos por outras unidades de sa�de (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)


Com o fechamento de unidades pedi�tricas na rede particular, encontrar vagas em UTIs e emerg�ncias para beb�s e crian�as em Belo Horizonte se tornou uma miss�o cada vez mais dif�cil para as m�es e pais de pequenos pacientes. No dia 20, o Hospital S�o Lucas (HSL), na Regi�o Centro-Sul, anunciou o encerramento do atendimento pedi�trico, o que significa a perda de 34 leitos pedi�tricos na capital e de 2,5 mil atendimentos por m�s. O cen�rio sobrecarrega ainda mais o sistema p�blico de BH, que j� enfrenta problemas para compor os quadros de pediatria nos centros de sa�de e Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs).
 
A institui��o, administrada pelo Grupo Santa Casa, atende, em m�dia, 80 crian�as por dia no pronto-atendimento e realiza cerca de 500 cirurgias ao ano. O HSL informou que a pediatria ainda funcionar� por 90 dias a contar da data data do an�ncio da interrup��o do servi�o, ou seja, at� meados de outubro, e, depois, fechar� as portas. Mas a preocupa��o quanto aos impactos do encerramento de suas atividades  se instalou de imediato entre entidades m�dicas e profissionais da �rea.
 
Membro da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP) e diretor de mobiliza��o do Sindicato dos M�dicos do Estado de Minas Gerais (Sinmed-MG), Cristiano T�lio Maciel Albuquerque afirma que o fechamento da unidade causar� forte impacto.  “A proposta era de fechamento imediato. Os m�dicos recorreram �s entidades de classe e alertamos para os riscos assistenciais da decis�o. Por isso, a Santa Casa ampliou esse atendimento por 90 dias”, contou.
 
Para ele, n�o haver� impacto assistencial imediato, mas os conv�nios precisar�o se preparar para o pr�ximo ano. “Eles precisam analisar os n�meros de pacientes que foram atendidos no HSL e se preparar para o pr�ximo per�odo sazonal (especialmente outono e inverno, quando os quadros respirat�rios s�o mais comuns), pois ser� imposs�vel enfrent�-lo sem um aumento do n�mero de plantonistas e leitos nos v�rios conv�nios que o S�o Lucas atende”, alertou. De acordo com ele, o hospital faz uma m�dia de 2.500 atendimentos mensais.
 
O impacto imediato, segundo Albuquerque, ser� na qualidade do atendimento em algumas especialidades. Ele cita os pacientes da oncologia infantil, que v�o perder a equipe que os acompanha no tratamento, por exemplo. “Tem crian�as com plano de tratamento de um ano que v�o precisar mudar de local e as fam�lias nem sabem para onde v�o ainda.” O fechamento vai sobrecarregar tamb�m os locais do SUS que j� est�o congestionados, analisa o pediatra.

QUEST�O ECON�MICA “O caso do S�o Lucas � uma continuidade da crise financeira da pediatria. Ela � uma especialidade de baixa complexidade, n�o gera procedimentos, exames, funciona com baixa tecnologia. � basicamente o conhecimento do profissional e cuidados simples de enfermagem.”
 
O m�dico afirma que a especialidade n�o � valorizada do ponto de vista econ�mico e que os hospitais pedi�tricos precisam ser subsidiados. “� preciso que haja uma revis�o da tabela e os hospitais precisam entender que pediatria n�o � para dar lucro. Ela n�o pode � dar preju�zo. Em Belo Horizonte, nos �ltimos 20 anos, foram mais de dez servi�os de pediatria fechados nos hospitais.” A tend�ncia, segundo ele, � que as grandes redes de conv�nios abram hospitais pr�prios, j� que s�o obrigados por lei a fornecer o atendimento pedi�trico. “Isso � ruim porque limita a op��o dos pais.”

SEM RUMO As crian�as e os pais penam devido � falta de assist�ncia infantil. Especialmente nos fins de semana, eles sofrem com peregrina��es entre hospitais e, muitas vezes, enfrentam horas de espera at�, finalmente, serem recebidos pelos m�dicos. “� um caos. S� consulto pelo particular e, mesmo assim, n�o tem pediatra para atender as crian�as. Tenho que ir de hospital em hospital at� conseguir atendimento”, afirma Cl�udia Regina Ribeiro, de 56 anos.
 
No dia 21, ela foi pela primeira vez ao Hospital S�o Lucas com os netos, Erick Miguel, de 8, e Maria Clara, de 5, depois que o mais velho come�ou a reclamar de dor na garganta. “J� fiquei horas com ele na fila de hospital, quando era mais novo, e s� conseguimos atendimento porque ele come�ou a convulsionar”, relembra. Como o neto � autista, ela diz que Miguel sofre ainda mais para conseguir atendimento m�dico, mesmo que, segundo a lei, pessoas com autismo tenham direito � fila de prioridades. “Com a pandemia, a situa��o ficou ainda mais ca�tica”, complementa Cl�udia.
 
O profissional de TI Wackson Abel Soares Silva, de 36, n�o conhece outro hospital, al�m do S�o Lucas, que aceite o plano de sa�de do filho Emanuel, de 3, e diz estar perdido sem saber onde poder� lev�-lo depois que a unidade fechar definitivamente. “Quando eu estava vindo para c� fiquei at� um pouco desesperado. Minha esposa comentou que o S�o Lucas fechou a pediatria. Eu nem sabia para onde ir”, conta.  “Tenho que olhar no plano aonde vou lev�-lo depois, porque sempre o trouxe  aqui. J� demorei para receber atendimento, mas nunca aconteceu de n�o ser atendido”, afirma.
 
A manicure Ana Cl�udia Camilo Maia, de 24 anos, tamb�m passa pelo mesmo problema. “Vai ser ruim, porque j� estou acostumada aqui. N�o tenho ideia de onde vou levar ele se n�o for aqui”, disse. Apesar da demora no atendimento, ela elogia o trabalho dos m�dicos na unidade. “Na hora que chega aqui demora um pouco, mas depois � tranquilo. Eu gosto do atendimento. � muito bom”, comenta.

MAIS PRESS�O Na avalia��o do diretor de defesa profissional da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), F�bio Guerra, o fechamento de unidades pedi�tricas � preocupante e trar� grandes preju�zos aos pacientes. “Temos visto uma pr�tica cont�nua de redu��o de servi�os de pediatria. Isso diminui a possibilidade de suporte � popula��o e sobrecarrega aqueles que se mant�m no atendimento. Quando unidades fecham, com certeza voc� sobrecarrega outras. N�o entendo que seja por falta de profissionais. Isso passa por quest�es administrativas”, afirma.
 
A entidade nega que exista um d�ficit de pediatras no pa�s e desinteresse dos profissionais pela �rea. “N�o � que os m�dicos n�o queiram ser pediatras, mas, sim, que as institui��es s� querem contratar quando o quadro j� � emergencial, em situa��es prec�rias. Temos um contingente bastante interessante de profissionais. Hoje, somos mais de 44 mil pediatras no Brasil, o que daria uma distribui��o suficiente de assist�ncia”, avalia.

PLANEJAMENTO O representante da SMP e do Sinmed-MG , Cristiano Albuquerque, concorda. Para ele, n�o h� falta de profissionais e sim de estrutura e pol�tica de planejamento para enfrentar a sazonalidade.  “As equipes de pediatria s�o suficientes em um per�odo de oito meses do ano. Do meio do outono e durante todo o inverno ocorre um aumento de demanda muito grande, de at� 200%. Notamos uma dificuldade de planejamento dos grandes hospitais de montar uma estrutura revers�vel, que vemos em outros pa�ses. � o que o sindicato prop�e. Na �poca da sazonalidade, abrir atendimento como fast track, utilizando sistemas de triagem, com equipes que possam implementar protocolos. Permitir que os m�dicos possam trabalhar mais recebendo um adicional.”
 
Guerra tamb�m acredita que o problema � resultado a falta de planejamento e de condi��es adequadas de trabalho. “Precisamos de oportunidades mais adequadas, que passam pelo tipo de contrata��o, v�nculo de trabalho e condi��es estruturais, que possam favorecer o estabelecimento e manuten��o de uma equipe para assist�ncia”, afirma.  Segundo ele, as institui��es deixam para contratar profissionais somente nos momentos de crise. “A gente v� ofertas de contrata��es prec�rias, que n�o interessam aos profissionais. Acontece que nem sempre � f�cil fazer contrata��o nesse cen�rio”, comenta.
 
O diretor da SBP avalia, ainda, que a situa��o � a mesma na rede p�blica. “� uma rea��o em cadeia. Tentar resolver isso de forma imediata � mais dif�cil. Se voc� faz um planejamento pr�vio, se tem uma organiza��o do servi�o, fica mais f�cil passar por essas crises. � necess�rio planejamento para contrata��o mais efetiva dos profissionais”, disse.
 
Sobrecarga em efeito cascata 
 
Com o colapso batendo � porta de UPAs e centros de sa�de da capital, o fechamento de unidades na rede particular acaba sobrecarregando ainda mais o atendimento nos equipamentos p�blicos. Desde junho, a Prefeitura de Belo Horizonte vem refor�ando a assist�ncia infantil aos fins de semana, mas a press�o persiste. Recentes not�cias de pedidos de demiss�es de pediatras nas unidades de sa�de e dificuldades para contratar novos m�dicos especialistas na �rea preocupam ainda mais os pais. Segundo o Sinmed-MG, profissionais aprovados em concurso est�o reconsiderando se v�o tomar posse do cargo devido �s condi��es prec�rias de trabalho.
 
Representante da entidade, Cristiano Albuquerque diz que a rede p�blica estadual tem um d�ficit de 100 pediatras, enquanto na municipal o n�mero sobe para 200. “O problema � que o estado n�o faz um investimento pesado. O m�dico n�o se sente estimulado, ele sabe que vai entrar em uma institui��o sucateada, com uma infraestrutura ruim para cumprir uma falha da escala trabalhando com uma equipe m�nima.”
 
Ele afirma que o sindicato junto com a SMP apresentou para os secret�rios estadual e municipal de sa�de um conjunto de a��es para melhorar as escalas: realiza��o de concurso p�blico, com a chamada de um n�mero maior de vagas por vez, maior flexibilidade nas cargas hor�rias, melhorias nos planos de carreira, das condi��es de trabalho, al�m da cria��o de um adicional de sazonalidade.
Hoje, as unidades de sa�de da capital contam com 287 pediatras para atender 152 centros de sa�de e nove UPAs. A Secretaria Municipal de Sa�de de BH(SMS) j� confirmou anteriormente que as escalas de pediatria est�o desfalcadas por falta de profissionais.
 
Por meio de nota, a SMS diz que estuda alternativas para minimizar os poss�veis impactos na rede SUS-BH e trabalha incessantemente para garantir a plena assist�ncia da popula��o. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informa que, como uma medida para garantir o atendimento da popula��o, o munic�pio concedeu um aumento no valor dos plant�es extras de 35% em todas as unidades da rede SUS da cidade. O banco de curr�culos para contrata��o imediata de m�dicos segue ativo. Os interessados devem acessar o portal da prefeitura para realiza��o do cadastro. 
 
 


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