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Estado de Minas MINERA��O

20% das grandes barragens de rejeitos em MG n�o t�m estabilidade atestada

Um a cada cinco grandes reservat�rios no estado n�o tem declara��o de seguran�a ou n�o reuniu condi��es para conseguir documento


21/08/2022 04:00 - atualizado 24/08/2022 15:33

 
Vista aérea da Barragem B1A Ipê
A Barragem B1A Ip�, da Emicon minera��o, com 37 metros de altura, 22.460 metros c�bicos de rejeitos e em n�vel 1 de emerg�ncia, que indica a necessidade de interven��es para se tornar est�vel (foto: Ed�sio Ferreira/Em/D.a press)

Brumadinho e Itatiaiu�u – Tr�s barramentos de at� 85 metros de altura retendo um total de 5 milh�es de metros c�bicos (m3) de rejeitos de min�rio de ferro (quase metade do que vazou de Brumadinho) se debru�am das montanhas da Serra Azul, tendo em sua �rea de estragos potenciais Itatiaiu�u, Brumadinho, dois trechos da BR-381 (Fern�o Dias) e o abastecimento de �gua de mais de um ter�o da Grande BH.

Sem condi��es estruturais para receber Declara��o de Condi��o de Estabilidade (DCE) positiva, as represas de rejeitos de min�rio de ferro de Serra Azul (ArcelorMittal), Qu�ias (Emicon) e B1A Ip� (Emicon) s�o uma amostra de como a situa��o das barragens em Minas Gerais pode ser cr�tica, mesmo ap�s alertas representados por desastres como os de Brumadinho (2019) e Mariana (2015).

De cada cinco barragens de dimens�o ou conte�do re- levante no estado, uma n�o entregou o atestado de estabilidade, o DCE, ou falhou na sua obten��o, segundo a Ag�ncia Nacional de Minera��o (ANM).

Os dados s�o do Sistema de Gest�o de Seguran�a de Barragem de Minera��o (SIGBM) da ANM. Cento e sessenta e sete barramentos mineiros apresentaram este ano a documenta��o desenvolvida por corpo t�cnico pr�prio ou por peritos terceirizados atestando sua estabilidade pelo DCE. Contudo, tr�s n�o enviaram a documenta��o at� o prazo, que se encerrou em mar�o. Pior ainda: 35 estruturas n�o reuniram condi��es para ser consideradas est�veis dentro dos par�metros t�cnicos exigidos.

Sem um DCE ou n�o dotada dessa comprova��o atestando estabilidade, essas 38 estruturas s�o automaticamente embargadas legalmente. Somadas, reservam um volume de 530 milh�es de metros c�bicos, ou cerca de nove vezes a Barragem do Fund�o, em Mariana (19 mortes) e 44 vezes a B1 da Mina C�rrego do Feij�o, em Brumadinho (270 mortes). Os reservat�rios que n�o entregaram a DCE somam 768.203,67m3 de volume, enquanto que as que n�o reuniram condi��es para o parecer de estabilidade t�m 529 milh�es de metros c�bicos.

Riscos semelhantes � comunidade, aos usu�rios da rodovia BR-381 (Fern�o Dias) e aos 1,5 milh�o de consumidores de �gua da Barragem Rio Manso, da Copasa, a 8,5 quil�metros de dist�ncia e abastecida por afluentes que podem ser atingidos onde a minera��o Emicon opera, em Brumadinho, a Barragem Qu�ias e a Barragem B1A Ip�, que n�o atestaram condi��es para comprovar que s�o est�veis.

A maior e mais preocupante � a Qu�ias, a menos de um quil�metro da Fern�o Dias e a 5,5 quil�metros da Barragem de Rio Manso. A estrutura de reten��o de rejeitos de min�rio de ferro tem 15 metros de altura e comporta volume de 75.000m3.

Atualmente, est� em n�vel 2 de emerg�ncia, segundo a ANM, por passar por interven��es, mas que n�o sanaram ainda os problemas. A 500 metros dela est� a B1A Ip�, com 37 metros de altura e 22.460m3 de rejeitos de min�rio de ferro. Esse barramento est� em n�vel 1 de emerg�ncia, o que significa que precisa passar por interven��es para se tornar est�vel.

O terreno do bacharel em direito Luiz Fernando Barbosa de Ara�jo Abreu, de 53 anos, � vizinho das barragens B1A Ip� e Qu�ias, e a falta de informa��es � o que mais gera inseguran�a para ele e outros moradores. “A gente nunca tem informa��es sobre a estabilidade dessas barragens. A�, n�o pode dormir direito sem saber se elas v�o desabar em cima do que � nosso. A atividade em si j� � um transtorno, soltando poeira, (explos�es de) dinamites e deslocamentos de ar que fazem tremer a nossa casa”, disse.

O engenheiro, ambientalista e ex-superintendente do Ibama J�lio Grillo afirma que a situa��o � cr�tica. “Mais preocupante do que n�o conseguir atestar a estabilidade � a situa��o de mineradoras que se habituaram a n�o fornecer informa��es ver�dicas. Antes de Brumadinho, quem falava de risco era ridicularizado, pois todos os laudos atestavam estabilidade. Depois do rompimento, apareceram mais de 40 barragens em estado cr�tico. As minera��es perderam a credibilidade”, critica. Segundo ele, o estado n�o est� procurando saber se as informa��es s�o verdadeiras, e vidas correm perigo debaixo de estruturas sem garantia.

A reportagem procurou a Emicon Minera��o e Terraplanagem por telefone, sem ser atendida, e por e-mail, tamb�m sem obter resposta. A atendente do escrit�rio da mina sugeriu um contato pelo telefone 0800 da empresa, por meio do qual tampouco houve esclarecimento. A ANM tamb�m foi acionada, mas n�o se manifestou at� o fechamento desta reportagem.

Luiz Fernando Barbosa de Araújo Abreu, vizinho das barragens B1A Ipê e Quéias
(foto: Ed�sio Ferreira/Em/D.a press)

"A gente nunca tem informa��es sobre a estabilidade dessas barragens. A� n�o pode dormir direito sem saber se elas v�o desabar em cima do que � nosso"

Luiz Fernando Barbosa de Ara�jo Abreu, vizinho das barragens B1A Ip� e Qu�ias



Conten��es como resposta � amea�a

Na mesma forma��o montanhosa, uma das mais preocupantes estruturas � a Barragem Serra Azul, da mina de mesmo nome, em Itatiaiu�u, na Grande BH, que atingiu o �ndice mais cr�tico de instabilidade dentro do conceito da ANM. O barramento de 85 metros de altura e mais de 5 milh�es de metros c�bicos de rejeitos chegou ao n�vel 3, que representa risco iminente, como mostrou com exclusividade reportagem do Estado de Minas de 15 de mar�o de 2022.

Uma situa��o t�o grave que a mineradora removeu preventivamente os habitantes do Bairro Pinheiros, na chamada Zona de Autossalvamento (ZAS) – uma �rea em que s�o instaladas sirenes e placas orientando cada pessoa a escapar sozinha, j� que n�o haveria tempo para outra interven��o em caso de desastre. Nessa circunst�ncia, parar para auxiliar algu�m pode ser uma senten�a de morte. S�o locais em que n�o h� condi��es de as equipes de socorro ajudarem nas evacua��es a tempo em caso de rompimento. A mineradora tamb�m est� construindo uma conten��o para que os rejeitos que por ventura se desprendam em caso de colapso n�o cheguem aos locais mais cr�ticos, como tamb�m mostrou com exclusividade o EM.

A 5 quil�metros da barragem, pouco abaixo do Bairro Pinheiros, est� a rodovia mais movimentada de Minas Gerais, a BR-381 (Fern�o Dias), liga��o entre Belo Horizonte e S�o Paulo. S� no posto de contagem de ve�culos do munic�pio vizinho de Igarap�, a m�dia � de 31.840 ve�culos passando diariamente, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Os rejeitos, na hip�tese de se comportarem como em Brumadinho, chegariam � rodovia em 2min30 ap�s eventual ruptura da barragem.

A 12 quil�metros do reservat�rio, em n�vel cr�tico de emerg�ncia, se encontra a maior capta��o de �gua reservada da Copasa na Grande BH – o reservat�rio de Rio Manso, dimensionado para abastecer 35% da regi�o, cerca de 1,5 milh�o de pessoas. As �guas retiradas e tratadas para a distribui��o poderiam ser atingidas pela lama e os rejeitos de min�rio em cerca de 6min.

A ArcelorMittal, que opera a Barragem Serra Azul, admite que desde que a metodologia de par�metros de estabilidade se tornou mais r�gida, em 2019, a estrutura ficou abaixo dos �ndices m�nimos exigidos.

“Desde ent�o, a empresa optou por adotar, preventivamente, medidas de seguran�a superiores �s exigidas pela legisla��o da �poca, tendo, inclusive, promovido a realoca��o preventiva da comunidade na Zona de Autossalvamento (ZAS), de modo a garantir total seguran�a das pessoas. A barragem da Mina de Serra Azul est� desativada desde 2012, momento em que a empresa passou a adotar o m�todo de empilhamento a seco para destina��o de rejeitos de seu processo produtivo. A estrutura n�o apresenta anomalias ou altera��es visuais que possam indicar risco de ruptura iminente”, informa a mineradora.

Segundo a companhia, a barragem � monitorada 24 horas por dia, sete dias por semana. A empresa afirma ter instalado uma s�rie de novos equipamentos e tecnologias que tornaram mais preciso o monitoramento. "S�o monitorados o n�vel de �gua e a press�o interna em diversos pontos no interior da barragem por meio de piez�metros; as vibra��es, pelos sism�grafos; a integridade da estrutura, por meio de c�meras de alta resolu��o, radar e imagens de sat�lites. Todos os indicadores se mant�m est�veis”, sustenta.

Um sistema de seis sirenes com acionamento autom�tico est� instalado na �rea que pode ser atingida. A constru��o de uma estrutura de conten��o tamb�m est� em andamento.

“Trata-se de uma grande barreira f�sica pr�xima da �rea da barragem, para conten��o dos rejeitos na hip�tese de eventual rompimento. A obra utiliza estacas de a�o encravadas no solo, concreto e pedras. Para garantir a seguran�a do Sistema Rio Manso e da BR-381, a empresa est� construindo a Estrutura de Conten��o a Jusante (ECJ), que conter� os rejeitos na hip�tese de haver o rompimento da barragem. Adicionalmente, planos de a��es espec�ficos para o per�odo de constru��o da ECJ tamb�m foram acordados junto � Copasa e Arteris (concession�ria que administra a BR-381), prevendo, entre outras medidas, a instala��o de cortinas de reten��o de sedimentos no reservat�rio, estudos de viabilidade t�cnica e temporal de capta��o alternativa emergencial e defini��o de rotas alternativas para o tr�fego na regi�o.”

Instabilidade

Total de barragens cujos propriet�rios n�o conseguiram comprovar seguran�a*

35 n�o reuniram condi��es para atestar estabilidade
3 n�o apresentaram declara��o de estabilidade

N�vel de emerg�ncia de barragens

1 = Comprometimento potencial de seguran�a
2 = Existe uma a��o que est� sendo realizada para sanar o problema, mas o controle da anomalia n�o est� sendo eficaz
3 = Risco iminente

*Dados de listagem publicada em julho de 2022

 Fonte: ANM


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