(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ARTE URBANA

CURA: como o esp�rito maxakali tomou conta de pr�dio em BH

Painel gigante pintado em lateral de edif�cio por artista de origem ind�gena integra festival, exp�e cultura da etnia e d� boas vindas aos povos tradicionais


24/09/2022 04:00 - atualizado 24/09/2022 08:13

Belo Horizonte - MG. Prédio na Avenida Parana, 466, Centro de BH, pintado pela artista indigena Sueli Maxacali pelo Projeto CURA)
O painel pode ser apreciado da Pra�a Raul Soares (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Ao levar os pain�is gigantes do Circuito Urbano de Arte (Cura) para a Pra�a Raul Soares, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, as curadoras e os artistas selecionados para a edi��o de 2021 do festival evocaram a presen�a ind�gena na capital. Neste ano, essa conex�o com os povos origin�rios � refor�ada pelos tra�os da artista Sueli Maxakali, que assina a obra da empena do Edif�cio Roma, localizado no n�mero 466 da Avenida Paran�.
 
Com 60 metros de altura, o painel pode ser apreciado da Pra�a Raul Soares, local escolhido pela curadoria para sediar o festival exatamente pela presen�a ind�gena j� marcada no ch�o da pra�a, que precisou ser “escavada” numa arqueologia urbana, uma vez que s� era lembrada nas denomina��es de ruas e quarteir�es de BH.
 
A obra foi concebida a partir dos saberes de um ritual dos tikmu’un, povo ind�gena que habita territ�rio compreendido entre Minas, Bahia e Esp�rito Santo. Besouros, peixes grandes, cachorro, jacar� listrado, estrela, Sol, Lua, um homem negro e um morcego s�o figuras que comp�em o painel.
 
Elas contam a hist�ria da integra��o desse povo � natureza, repassada em cantos. O Sol e a Lua, como astros que conduzem o ritual, materializado numa madeira sagrada, que depois ser� reintegrada � terra pelos besouros, mostrando o valor de cada ser, por menor que seja, no equil�brio da vida, segundo a cosmovis�o dos ind�genas. Segundo Sueli, a imagem do negro � o reconhecimento da colabora��o para os rituais do povo tikmu’un.
 
Belo Horizonte - MG. Artista indigena Sueli Maxacali, faz pintura em prédio pelo Projeto CURA, na Avenida Parana, 466, Centro de BH
A artista Sueli Maxakali e a enorme tela de 600 metros quadrados: "Tive medo, mas meu ritual me deu for�a para que eu pudesse mostrar a cultura do meu povo" (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Sueli encontrou nas diferentes linguagens art�sticas maneiras de contar a hist�ria do pr�prio povo. Encantou-se primeiro pela fotografia, depois pelo cinema, arte j� realizada pelo marido, Isael Maxakali, que participa da pintura da empena em Belo Horizonte com ela. A pintura de pain�is veio na sequ�ncia.

No portif�lio, ela soma bel�ssimos e importantes trabalhos. Come�ou como fot�grafa no projeto Imagem-corpo-verdade, cujas fotos foram reunidas no livro “Koxuk Xop: Imagem”. Codirigiu com Isael os filmes “Quando os yamiy v�m dan�ar conosco” (2011), “Xopapoxnag” (2013), “Kotkuphi” (2013) e “Yamiy” (2014).

Identidade

Sueli afasta os ataques equivocados direcionados aos ind�genas que usam tecnologia, como se isso os afastasse da identidade original. Ela afirma que esses povos n�o est�o presos ao passado, e que a tecnologia � uma aliada importante para que possam repassar a cultura e a tradi��o dessas etnias, que foram alvo de um apagamento desde o Brasil col�nia.
 
“Sueli e Isael tiveram esse primeiro contato com balancinho, com uma pintura em grande escala. N�s que fizemos a assist�ncia, passamos um pouco como funciona o equipamento, como � a subida, como fazer para transformar aquela pincelada pequena em algo maior”, conta Wanatta Rodrigues, que deu suporte ao casal ao lado do tamb�m artista de Belo Horizonte Ach. “Por isso que a gente quer combater essa vis�o. O ind�gena n�o � do passado. � nosso conhecimento, nossa sabedoria tamb�m. Hoje o ind�gena conhece a tecnologia. O �ndio ficou mais moderno de conhecimento”, defende.

A pintura

Sueli relatou a sensa��o de quando chegou diante da empena que pintaria. “Nunca esperei. A primeira vez que subi, fiquei com medo, um pouco assustada. Achei que ia desmaiar. A� pedi ao meu ritual, que me deu for�a para que eu pudesse mostrar a cultura do meu povo”, diz. A artista espera que o painel seja um alento para todos os ind�genas que chegam � cidade. Muitos v�m para estudar, como ela fez ao se graduar e fazer o mestrado na Faculdade de Educa��o da Universidade Federal de Minas Gerais. Sueli tamb�m recebeu o t�tulo de doutora honoris causa.
 
“Com essa pintura, trouxe o esp�rito forte para dentro de BH. Queria deixar tamb�m para muitos alunos que v�o passar no vestibular aqui”, disse, refor�ando que a imagem tem o papel de acolher a diversidade e mostrar aos jovens ind�genas que a capital de Minas tamb�m � a casa deles.

Gavi�es

Wanatta destaca a rapidez com que Sueli dominou a t�cnica. “Ela e o Isael ficaram supercontentes, felizes com o processo de pintar, embora seja um pouco exaustivo. � um trabalho muito f�sico, uma estrutura muito grande, uma parafern�lia no corpo para dar seguran�a. Mas, quando sobem, ficam muito confort�veis. Eles lembram o tempo todo que somos gavi�es e que estar no alto para eles � uma coisa natural, t�o natural quanto a luz do dia”, conclui, referindo-se ao casal, unido h� 30 anos, com dois filhos e nove netos. O painel com 601,5 metros quadrados integra o circuito que tem como curadoras Juliana Flores, Priscila Amoni e Jana Macruz, al�m de Flaviana Lasan, convidada para esta edi��o.



receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)