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Estado de Minas BENTO RODRIGUES

Novo Bento � entregue incompleto ap�s quase 7 anos do desastre de Mariana

Obras ainda est�o em andamento. Novo povoado n�o preserva caracter�stica da regi�o atingida pelo rompimento da barragem em 2015


19/10/2022 18:53 - atualizado 20/10/2022 10:49

A Fundação Renova entregou, nesta quarta-feira (19/10), 71 casas, quatro lotes estruturados e quatro equipamentos públicos no Novo Bento Rodrigues
A Funda��o Renova entregou, nesta quarta-feira (19/10), 71 casas, quatro lotes estruturados e quatro equipamentos p�blicos no Novo Bento Rodrigues (foto: Jair Amaral/EM/D.A press)

Mateus Parreiras

 

Mariana-MG - A 17 dias de se completar 7 anos do desastre do rompimento da Barragem do Fund�o, em Mariana, a Funda��o Renova entregou, nesta quarta-feira (19/10), 71 casas, quatro lotes estruturados e quatro equipamentos p�blicos no Novo Bento Rodrigues, assinando termos de transporte, saneamento e servi�os com a prefeitura. O atraso inicial ultrapassa 3 anos e o judicialmente ajustado chega a dois anos para a entrega de 215 moradias a familiares, n�mero que atualmente caiu para 162 casas para 196 fam�lias.

Em 5 de novembro de 2015, a Barragem do Fund�o se rompeu em Mariana, liberando 40 milh�es de metros c�bicos de rejeitos de min�rio de ferro, matando 19 pessoas - um corpo nunca foi encontrado -, destruiu dois povoados de Mariana (Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo) e um de Barra Longa (Gesteira), devastando a Bacia Hidrogr�fica do Rio Doce entre Minas Gerais e o Esp�rito Santo at� o litoral do Oceano Atl�ntico, somando mais de meio milh�o de atingidos. O barramento era operado pela Samarco, mineradora controlada pela Vale e a BHP Billiton.

A antiga estrada de terra que chegava a Bento Rodrigues j� est� completamente asfaltada, sinalizada e conta com drenagens de concreto para dissipar o ac�mulo de �gua das chuvas.
 
Ver galeria . 26 Fotos Obras ainda estão em andamento. O novo povoado não preserva característica da região atingidaJair Amaral/EM/D.A press
Obras ainda est�o em andamento. O novo povoado n�o preserva caracter�stica da regi�o atingida (foto: Jair Amaral/EM/D.A press )
 

Arquitetura modificada e ainda em constru��o

Antigamente, quem chegava a Bento Rodrigues descendo o vale vindo do distrito de Santa Rita Dur�o, via logo a Igreja de S�o Bento e as casas limitadas pelos muros baixos e cercas de quintais nos fundos entre morros. Eram edifica��es simples, de pintura gasta e j� com poeira de terra vermelha agregada.
 
Constru��es com elementos coloniais e anexos modernos. Atualmente, a impress�o que se tem das casas modernas de cores variadas � a mesma de se ingressar em um condom�nio fechado ainda em constru��o, semelhante aos de Nova Lima.

A estrada j� desemboca na Igreja de S�o Bento, na pra�a central e no bar e pousada da Sandra - famoso pelos past�is t�picos -, todos ainda demarcados, mas nem todos em constru��o. 

“At� hoje o meu bar e pousada n�o foi constru�do, estou jogada em Mariana onde as minhas pessoas est�o, quero voltar �s minhas origens, mas meu bar ficou menor, n�o tem expectativa de volta nem previs�o. N�o quero dinheiro, quero minha vida de volta”, protestou Sandra Quint�o, de 50 anos, dona da Pousada e Restaurante da Sandra, um dos pontos de refer�ncia de Bento Rodrigues.

A escola j� ganhou forma e poder� ter at� 600 alunos, mas entre as lajes ainda h� trabalhos de oper�rios nos andaimes. As ruas pavimentadas por blocos novos s�o delimitadas por passeios largos e de pisos t�teis para pessoas com necessidades especiais. 

Na sala da sua casa rec�m constru�da, de paredes com texturas, teto rebaixado, lumin�rias modernas, espa�o arejado, cozinha americana e varandas, o aut�nomo Ant�nio Fernando da Silva, de 52 anos, se disse ansioso e angustiado para mudar para a casa nova. 

Com ele v�o morar a esposa, o filho e a irm�. 
 
“Sempre fui da ro�a e n�o vai ter como criar mais a galinha e os porcos. Meu lote antigo era grande, mas nesse precisou ser dividido. Estou muito ansioso. J� vai para sete anos da trag�dia e disseram que no ano que vem posso mudar, no primeiro semestre. � uma espera angustiante. Nesse tempo todo, perdemos v�rios colegas e parentes que n�o puderam mudar, como a minha irm�, de 40 anos, que morreu do cora��o antes de mudar. A gente queria que todos mudassem juntos, mas parece que n�o vai ser assim”, afirma.
 
 

Proced�ncia do terreno loteado

O terreno Fazenda Lavoura foi comprado em 2016 pela Funda��o Renova e para ser regularizado precisou ser desapropriado pela Prefeitura de Mariana e votado na C�mara Municipal para ser cedido aos atingidos em 2017. Em Nova Paracatu de Baixo, se comprou 14 matr�culas de propriedades e se regularizou at� invent�rios de netos. 

A aprova��o dos projetos com a comunidade come�ou no in�cio de 2018, sendo as obras iniciadas no segundo semestre de 2018. Com v�rios atrasos, inclusive devido � pandemia, a Justi�a previu prazo at� 27 de fevereiro de 2021 para a conclus�o do reassentamento em Novo Bento Rodrigues de 215 edifica��es. No dia, foram conclu�dos apenas cinco casas e o posto de sa�de. Outras cinco casas estavam sendo executadas, al�m da escola municipal. 

Atingidos desistem do reassentamento

A desist�ncia de lotes e op��o por outras formas de indeniza��o em Novo Bento Rodrigues chegava a 20% a essa altura, ou seja, uma de cada cinco fam�lias desistiu de ser reassentada, segundo o Minist�rio P�blico Federal (MPF).

Reclama��es colhidas pelo MPF mostravam que quase um quarto das fam�lias se apresentava insatisfeita com lotes e casas do reassentamento de Bento Rodrigues pelos seguintes motivos: diverg�ncia de �rea, insatisfa��o com o lote ou projeto e surgimento de novos n�cleos familiares, cedidos, inquilinos ou herdeiros. At� o momento, a Renova reconheceu 90 novos n�cleos familiares, sendo que casas chegaram a ser compradas at� em S�o Bernardo do Campo (SP). 

"H� fam�lias que tamb�m aguardam a defini��o dos par�metros de compensa��o, solicitaram altera��o da modalidade de atendimento ou pleiteiam novo atendimento devido � edifica��o em constru��o no lote originalmente atingido (que n�o teve atendimento reconhecido pela Funda��o Renova)", informou relat�rio do MPF.

Andamento das obras 

V�rias estruturas e compensa��es foram necess�rias e est�o em andamento no imenso canteiro de obras que tem 3.500 oper�rios, tratores, caminh�es, carregadeiras, escavadeiras empilhas de tijolos, lajotas e telhas sobre paletes.

O antigo lix�o foi transformado em aterro e ganhou galp�es de reciclagem. Na cidade de Mariana, onde est�o as fam�lias a serem reassentadas, o desperd�cio de �gua chega a 60% e falta �gua al�m de ter problemas de saneamento. Na comunidade h� tratamento de �gua e distribui��o abundantes, segundo a Funda��o Renova, bem como uma Esta��o de Tratamento de Esgoto para a comunidade.

Ao todo a infraestrutura a ser passada ao munic�pio e os moradores 70 mil metros quadrados de pavimento, sendo 33 mil de piso intertravado, 34 quil�metros de drenagens, 10 quil�metros de rede de alta tens�o  e 9 quil�metros de rede de baixa tens�o.

As �reas das habita��es de 250 metros quadrados e casas de no m�nimo 90 metros quadrados, sendo que toda casa tem a mesma �rea que se tinha na comunidade devastada, acrescida de 20 metros quadrados. O sol implac�vel e a falta de sombras castigam os pesteardes que se aventurarem nas ruas, sendo que a Funda��o Renova promete ainda plantar 2.500 �rvores nos arruamentos.

Segundo o arquiteto Alfredo Zanon que est� no projeto da Funda��o Renova desde 2017, o reassentamento tem caracter�sticas diferentes de outros. “Prezou-se muito a participa��o da comunidade, com o resgate do modo de vida a um novo processo que adquiriram ao longo dos anos, olhando tamb�m para o futuro. Uma das implica��es � o tempo gasto, pois n�o foi s� construir casas, mas uma cidade e uma vida futura. A escolha soterremos come�ou com as fam�lias votando nas caracter�sticas do terreno para a Samarco. De 24 candidatos, sobraram tr�s e o escolhido somou 94% dos votos das fam�lias”, disse.

Um dos principais desafios do terreno, segundo o arquiteto, foi vencer a forte declividade. A primeira vers�o seria de uma smartcity de casas iguais e totalmente terraplanado. “As fam�lias n�o gostaram, queriam reproduzir o que tinham em Bento Rodrigues original. Colocaram o mapa de Bento na mesa e foi necess�rio adaptar. A proximidades das igrejas e das rotas de prociss�es foram importantes”, disse Zanon. 

Tentativa de preservar mem�ria  

De acordo com o arquiteto a mem�ria afetiva da comunidade delineou o in�cio das obras. “Escutamos muitas refer�ncias. Gente que dizia assim: ‘eu morava na Rua Raimundo Muniz, que era meu bisav�. Quero morar l�. Eu morava onde passavam as prociss�es. Eu morava perto da igreja’. E assim foram abstra�das essas caracter�sticas”, conta. 

Em 2017, foi enviada a primeira proposta, que n�o passou pelo crivo ambiental por quest�es de terraplanagem e precisou ser adaptada. Cada casa teve um processo de terraplanagem e de drenagem. Cada uma teve um processo de desenvolvimento com a fam�lia que a receberia. Chegou-se a um pico de 47 arquitetos atendendo �s fam�lias, segundo a Funda��o Renova.

V�rios defeitos s�o apontados por membros da Comiss�o dos Atingidos de Bento Rodrigues e Movimento Loucos por Bento, Mauro Marcos da Silva e M�nica dos Santos, que classificaram o novo povoado de “mans�es cenogr�ficas” devido � impress�o de que o interior das habita��es sejam diminutas.
 
 

“H� mans�es lindas, com material de primeira, mas com quartos de 2,60 metros por 2,50 metros, menos de 8 metros quadrados. Banheiros que se pediu acessibilidade e s�o pequenos demais, sem espa�o para cadeiras de rodas”, disse Mauro que tem seu projeto paralisado por dificuldades t�cnicas. ”S�o muitas falhas, sem falar �reas sem plantios, cria��o de animais. Os fog�es a lenha s�o o cora��o das nossas casas, mas n�s entregaram fog�es ruins, pr�-fabricados e que n�o resistem ao fogo, trincam e se quebram”, protesta M�nica, que espera h� um ano para aprovar o seu projeto de moradia.

Termo de garantia de servi�os p�blicos 

A assinatura do termo de suporte ao plano de a��o entre Renova e Prefeitura permitir� que o distrito seja abastecido de servi�os b�sicos e transportes.

“Agradecemos � Renova por devolver ao poder p�blico a opera��o do aterro sanit�rio de primeiro mundo e a entrega de equipamentos e estruturas al�m de r$ 15 milh�es para essa opera��o sem falar no gin�sio, no posto de sa�de e na escola que servir�o aos atingidos”, disse o Prefeito de Mariana, Ronaldo Alves Bento.

“A assinatura do termo de servi�o com a prefeitura permite o funcionamento do novo distrito de Bento Rodrigues e a mudan�a das fam�lias para as suas casas”, disse o diretor-presidente da Funda��o Renova, Andr� de Freitas.

A Renova informou que j� investiu R$ 25 bilh�es em repara��es e or�amento de R$ 10 bilh�es neste ano, incluindo o reassentamento. At� o momento s�o 71 mil indeniza��es que totalizam R$ 7 bilh�es do sistema simplificado, sendo que j� foram pagas a 402,8 mil pessoas a quantia indenizat�ria de R$ 11,46 bilh�es.


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