
Um painel do s�culo 18, joia barroca totalmente restaurada, pode ser visto, por moradores e visitantes, no Santu�rio Arquidiocesano Santa Luzia, em Santa Luzia, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Na noite de domingo (27/11), na abertura solene do jubileu da padroeira, a pe�a intitulada “Mart�rio de Santa Luzia”, com 4 metros de altura e 2,30m de largura, foi apresentada pelo p�roco e reitor do santu�rio, padre Felipe Lemos de Queir�s. “Possivelmente, trata-se de uma pintura feita pelo artista do Barroco mineiro, Manuel da Costa Ata�de (1762-1830), o Mestre Ata�de”, informou o padre.
O momento de apresenta��o do painel, durante a missa, despertou encantamento e curiosidade, pois, no in�cio da celebra��o, as cortinas do altar-mor estavam fechadas. “Vamos mostrar uma obra art�stica muito importante, que faz parte do acervo do santu�rio e ficou cinco anos em restaura��o. Esteve por muitos anos no Museu Hist�rico Aur�lio Dolabella, e, ap�s restaura��o, retorna � nossa igreja”, explicou o padre. Nesse momento, o templo ficou na penumbra, com a ilumina��o dirigida para o altar.
O painel foi restaurado pela especialista Carla Castro Silva, do Atelier de Restauro Ltda, tamb�m respons�vel pelo servi�o em muitas imagens do Santu�rio Santa Luzia, que deu in�cio, ontem, � Trezena de Santa Luzia – o ponto alto ser� em 13 de dezembro, com as cerim�nias e prociss�o solene pelas ruas da cidade tricenten�ria. Padre Felipe informou que a restaura��o do painel foi custeada por um casal da comunidade, que prefere n�o ser identificado. “� preciso destacar a a��o do padre Danil Marcelo dos Santos (p�roco antecessor a ele) e do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, coordenado por Goretti Gabrich.”
JOIA BARROCA
“O painel � uma joia do Santu�rio Santa Luzia”, disse a coordenadora do Memorial da Arquidiocese de BH, Goretti Gabrich. “A pe�a, juntamente com outras da igreja matriz, estava no Museu Municipal Aur�lio Dolabella. Quando esse equipamento cultural foi fechado para obras, o ent�o titular da Par�quia Santa Luzia, padre Danil Marcelo dos Santos, trouxe todo o acervo para o santu�rio. Na �poca, fez os primeiros contatos para o restauro da pintura.” Ap�s o jubileu, o p�roco definir� um novo local para o painel.
Segundo o diagn�stico feito por Carla Castro Silva, a pintura sob tecido se encontrava em mau estado de conserva��o, apresentando muitos danos de ordem estrutural e est�tica. “O suporte possu�a muitos rasgos, furos e perdas, principalmente nas bordas e na �rea central devido � penetra��o das �guas pluviais, impactos mec�nicos e a cravos de ferro enferrujados que corroeram as extremidades. O tecido original apresentava-se muito acidificado e amarelecido.” Al�m disso, havia remendos e enxertos decorrentes de interven��o anterior, bem como “muitos excrementos de aves e de insetos, fungos e sujidades generalizadas”.
MART�RIO
Com 278 anos de hist�ria e localizado em �rea tombada pelo Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico de Minas Gerais (Iepha) e pela Prefeitura de Santa Luzia, o Santu�rio Arquidiocesano Santa Luzia � considerado um dos templos barrocos com melhor sistema de seguran�a de Minas Gerais. Palco de grande acontecimentos da hist�ria local, a igreja teve de volta, h� 19 anos, tr�s anjos barrocos que iriam a leil�o no Rio de Janeiro (RJ).
A cada jubileu, em dezembro, milhares de pessoas visitam a cidade em busca de cura para enfermidades nos olhos, havendo relatos de milagres ocorridos pela intercess�o de Santa Luzia, chamada “Virgem de Siracusa” por ter nascido nessa cidade da It�lia, no fim do s�culo III.
Conforme os relatos cat�licos, Santa Luzia pertencia a uma rica fam�lia italiana, que lhe deu �tima forma��o crist�, a ponto de ter feito um voto de viver a virgindade perp�tua. Mas com a morte do pai, Luzia soube que sua m�e queria v�-la casada com um jovem pag�o.
Ao pedir um per�odo para analisar o casamento, e tendo a m�e gravemente doente, a jovem Luzia prop�s (� m�e) que as duas fossem em romaria ao t�mulo da m�rtir Santa �gueda e que a cura da enfermidade seria um sinal para a uni�o ocorrer ou n�o. Logo ap�s a chegada das romeiras, teria ocorrido o milagre da cura, e, assim, Luzia voltou para Siracusa com a certeza da vontade de Deus quanto � virgindade e quanto aos sofrimentos pelos quais passaria, a exemplo de Santa �gueda.
Na volta, Luzia vendeu tudo, distribuiu entre os pobres, e foi acusada pelo jovem que a queria como esposa. N�o querendo oferecer sacrif�cio a falsos deuses nem quebrar o seu santo voto, ela teve que enfrentar as autoridades perseguidoras. Conta-se que antes de sua morte teriam arrancado seus olhos.
O prefeito da cidade, Pasc�sio, quis levar � desonra a virgem crist�, mas n�o houve for�a humana que a pudesse arrastar. Firme, sobreviveu ao fogo, at� ser degolada por uma espada, no ano 303.