Um dos monumentos mais visitados em Minas, com m�dia anual de 500 mil pessoas, ficar� fechado neste fim de ano – e ainda n�o tem data marcada para voltar a receber brasileiros e estrangeiros. O motivo, resolvido em parte, decorre da retirada de 500 toneladas de uma rocha distante um quil�metro da hist�rica ermida (a menor bas�lica do mundo), que guarda a imagem da padroeira do estado, Nossa Senhora da Piedade. O singelo templo integra o complexo arquitet�nico, paisag�stico, espiritual e cultural do Santu�rio Bas�lica Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais, na Serra da Piedade, em Caet�, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

O reitor do santu�rio, padre Wagner Caleg�rio de Souza, explica que a retirada de parte da rocha (16 metros de altura por 3m de largura) n�o p�s fim ao problema, detectado em 15 de outubro, quando foram identificadas fissuras nessa parte do maci�o. Segundo ele, ser� necess�rio revestir a rocha com uma “cortina atirantada”, numa �rea de 1 mil metros quadrados.

A instala��o da cortina ser� supervisionada pela equipe geot�cnica do santu�rio, composta por engenheiros e ge�logos e empresa especializada, e vai cobrir a rocha com uma tela de a�o e cabos, os quais ficar�o presos com grampos. “Essa interven��o s� tem similar em �reas de minera��o, e n�o em lugares p�blicos”, afirmou padre Wagner.

O agravamento da situa��o decorreu da temporada de chuvas, o que levou a dire��o do santu�rio, vinculado � Arquidiocese de Belo Horizonte, a tomar as medidas de urg�ncia para garantir a seguran�a de todos. “Caso houvesse uma queda da rocha, a trag�dia seria maior do que a de Capit�lio”, acredita o padre, numa refer�ncia ao desabamento de parte de um c�nion na cidade do Sul de Minas, em 8 de janeiro, que provocou a morte de 10 pessoas.

O preju�zo � grande na regi�o de entorno, pois o santu�rio representa um atrativo tur�stico �nico. “Na �ltima vez em que fechamos as portas, os comerciantes tiveram perdas em torno de 90%”, contou o reitor no �ltimo dia 15, ao percorrer o trecho, que estava coberto por densa cerra��o e com baixas temperaturas.

Em 2019, 590 mil pessoas estiveram no topo da Serra da Piedade, numa m�dia de 10 mil a cada fim de semana, “mesmo com as dificuldades de acesso pela rodovia BR-381”. Num comparativo, Ouro Preto, na Regi�o Central, cidade reconhecida como patrim�nio mundial, recebe de 500 mil a 600 mil pessoas, segundo a prefeitura local.

Conforme mostrou reportagem do Estado de Minas, as obras no local denominado Tr�s Curvas come�aram em 18 de outubro, data em que foi interrompida a visita��o de romeiros devido �s rachaduras em um dos pontos pr�ximos ao caminho que leva � maior eleva��o da serra. Na v�spera, houve movimenta��o de caminh�es transportando areia e cascalho para formar um “colch�o” na pista e, assim, proteger o asfalto das pedras lan�adas durante a remo��o. Naquele dia, a arquidiocese divulgou que cada metro c�bico da rocha pesava tr�s toneladas, e que n�o haveria implos�o da rocha, que foi dilapidada com uso de maquin�rio e desmanche controlado.

Os servi�os s�o custeados pelo pr�prio santu�rio, a partir de doa��es da Fam�lia de Devotos de Nossa Senhora da Piedade, e, como se trata de um monumento natural, todas as interven��es foram comunicadas ao Instituto Estadual de Florestas (IEF).

O material retirado da rocha, fragmentado, foi usado na recomposi��o da Trilha de S�o Francisco, caminho usado pelo frei Ros�rio Jofylly (1913-2000), frade dominicano que ficou 51 anos � frente do santu�rio. “Desde o in�cio, houve v�rias etapas nos servi�os. Nosso objetivo � ampliar o monitoramento, a fim de afastar riscos”, disse o reitor.

O acesso ao Santu�rio Bas�lica Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais, na Serra da Piedade, em Caet� (RMBH), ainda � um fator limitador ao turismo. A duplica��o da rodovia BR-381 � uma velha reivindica��o dos mineiros e entrou na pauta de prioridades dos dois candidatos � Presid�ncia da Rep�blica – o eleito, Luiz In�cio Lula da Silva, chegou a dizer: “Vai ser uma quest�o de honra acabar com a estrada da morte e criar a estrada da vida”.

Sobre a rodovia estadual MG-435, que liga a BR-381 a Caet�, no total de 13,9 quil�metros, o Departamento de Edifica��o e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG) informa que mant�m o monitoramento das condi��es de tr�fego, principalmente com o in�cio do per�odo chuvoso.

Em nota, a assessoria do Departamento afirma que “no geral, a situa��o da rodovia � considerada em bom estado de conserva��o.” E mais: “Durante o ano e de forma preventiva para o per�odo chuvoso, foram realizadas a��es de manuten��o rotineira, que compreendem a opera��o tapa-buracos, ro�ada e capina da faixa de dom�nio, limpeza do sistema de drenagem e confer�ncia da sinaliza��o horizontal e vertical”.

Quando a equipe do EM visitou o alto da Serra da Piedade, no �ltimo dia 15, o vento aumentava a sensa��o de frio, com a n�voa cobrindo o topo e aumentando a beleza da chamada “magn�fica arquitetura divina” do santu�rio, que guarda, no altar-mor da ermida do s�culo 18, a imagem da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814).

A fama do maci�o teria come�ado entre 1765 e 1767, conforme a tradi��o oral, com a apari��o de Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos bra�os, a uma menina, muda de nascimento, cuja fam�lia vivia na comunidade de Penha, a seis quil�metros da serra. Nesse momento, a menina teria recuperado a fala. Na sequ�ncia, em 1773, o templo seria constru�do pelo ermit�o portugu�s Ant�nio da Silva, o Bracarena.

Na hist�ria de quase tr�s s�culos, devem-se destacar personagens importantes, caso de padre Jos� Gon�alves, irm� Germana, frei Lu�s de Ravena, monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, com suas religiosas auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, cardeal Motta, e frei Ros�rio Jofylly e o mission�rio italiano padre Virg�lio Resi. O monumento arquitet�nico e natural � tombado pelo estado, pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) e pelo munic�pio de Caet�.

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