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Estado de Minas ROMPIMENTO DE BARRAGEM

Trag�dia de Brumadinho: quatro anos de ang�stia

Trabalhos de busca tentam manter a esperan�a de despedida para quem ainda n�o enterrou as v�timas do rompimento da barragem da Mina do C�rrego do Feij�o


25/01/2023 04:00 - atualizado 25/01/2023 16:11

Lama cobriu longa extensão de área no entorno da mineração
Lama cobriu longa extens�o de �rea no entorno da minera��o (foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.a press - 25/1/19)
“N�o tem um dia sequer que n�o penso nela. Passo com frequ�ncia na �rea onde est� a lama e fico pensando que n�o � justo com a gente que ela esteja ali e n�o tenhamos encontrado ainda.” A fala � de T�nia de Oliveira, prima de Nathalia de Oliveira Porto Ara�jo, uma das tr�s v�timas da trag�dia de Brumadinho que seguem desaparecidas.

H� quatro anos, o rompimento da Barragem B1 da mina do C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, interrompeu a vida de 270 pessoas e causou um dos maiores desastres ambientais da hist�ria do pa�s. Desde ent�o, familiares e amigos das v�timas convivem com o luto, o acompanhamento das buscas e o andamento dos processos na Justi�a.
Nathalia de Oliveira tinha 25 anos e era estagi�ria da Vale h� quatro meses quando a barragem se rompeu. Natural de Brumadinho, foi criada pela tia. T�nia, a prima mais velha que a acompanhou desde os primeiros passos, conta que, apesar da dor, se alenta ao saber que os bombeiros seguem com as buscas na �rea atingida pela lama de rejeitos. “Creio que com essa demora toda, n�o sei se v�o encontrar algum fragmento dela ou se v�o ter a possibilidade de reconhecer, mas se o Corpo de Bombeiros est� l� e tem esperan�a, eu estou junto com eles. Pela esperan�a de dar um enterro digno � Nathalia e confortar nossa fam�lia”, desabafa.
 
� frente dos trabalhos de busca, os bombeiros trabalham ininterruptamente por mais de 1.400 dias para recuperar os corpos das centenas de v�timas que se perderam em meio � lama da barragem rompida. Segundo o tenente-coronel Ivan Neto, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, “desde o come�o da opera��o o Corpo de Bombeiros se faz presente sem ter parado um �nico dia. A gente teve duas interrup��es de busca durante a pandemia e o per�odo de chuvas, mas nunca da opera��o. Durante esse tempo, as estrat�gias de busca foram evoluindo. � medida que a efici�ncia de uma estrat�gia ia diminuindo, a gente ia se reinventando”, explica.

Desde agosto de 2022, os bombeiros aplicam a oitava estrat�gia nas buscas por corpos. Ela foi desenvolvida por militares da corpora��o em conjunto com profissionais da mineradora e empresas contratadas. O tenente-coronel explica alguns dos m�todos empregados e aponta que as medidas aumentam a efici�ncia dos trabalhos .

“As buscas s�o feitas atrav�s de esta��es de busca, hoje s�o quatro esta��es operando. Nessas esta��es � utilizado um equipamento vibrat�rio onde todo o rejeito � depositado, esse equipamento vibra, separa o material descart�vel, que representa 90% do rejeito. Apenas 10% do material � levado para nossa an�lise, a gente ganha em efici�ncia, tempo e  seguran�a. A m�quina elimina riscos de falhas que poderiam acontecer com an�lise a olho nu e os bombeiros n�o trabalham mais pr�ximos a maquin�rios pesados. Al�m disso, a previs�o de conclus�o da busca era de tr�s anos a partir de janeiro deste ano e agora esperamos conseguir vistoriar todo o material em um ano e meio”, conta.

Segundo os bombeiros, aproximadamente 60% do rejeito vazado da barragem j� foram vistoriados. Resta portanto, 40% do material para ser analisado. Ivan Neto comenta que a grande quantidade de trabalho a ser feito pode ser tratada como uma esperan�a para os familiares que ainda esperam pela identifica��o de segmentos corp�reos.

“Isso � o que nos motiva diariamente, a esperan�a de que vamos conseguir provocar esse momento de alento e conforto para as fam�lias. Propiciar o in�cio de um novo ciclo para essas pessoas”, afirma o tenente-coronel, que salienta que n�o h� previs�o para encerramento dos trabalhos.
 
Cronologia do trabalho dos bombeiros
Cronologia das estrat�gias utilizadas pelos bombeiros ap�s a Trag�dia de Brumadinho (foto: Arte- EM )
 

Identifica��o

O trabalho das buscas de bombeiros segue na identifica��o dos fragmentos encontrados. Em entrevista coletiva concedida ontem, a Pol�cia Civil de Minas Gerais (PCMG) apresentou um balan�o dos trabalhos de investiga��o criminal e identifica��o de v�timas nos �ltimos quatro anos.

De acordo com a diretora do Instituto M�dico Legal (IML), Naray Paulino, 1.004 segmentos corp�reos foram encontrados nos quase quatro anos de buscas na �rea afetada pelo rompimento da barragem. Das 270 v�timas, 267 j� foram identificadas. H� 36 exames em andamento na atualidade, mas os peritos acreditam ser improv�vel que eles pertencem �s tr�s v�timas desaparecidas, j� que foram achados em regi�es pr�ximas � fragmentos j� identificados.

O trabalho de identifica��o � dificultado pelo tempo e pela fragmenta��o dos corpos. O fato tamb�m influencia nos processos de luto das fam�lias, que nem sempre optam pelo sepultamento a partir da not�cia de identifica��o dos segmentos encontrados, como explica a diretora do IML.

“At� o momento, a maior parte das fam�lias tem optado por n�o retirar os restos mortais aqui do IML. Ent�o existe uma c�mara frigor�fica aqui com caixas individualizadas de zinco, onde se pretende deixar os segmentos individualizados at� que seja encerrada a busca ou at� que as fam�lias decidam pegar os seus segmentos e sepult�-los juntamente com o segmento inicial, caso j� tenha sido sepultado, ou sepult�-los uma primeira vez. Essa disponibiliza��o � um ato personal�ssimo, cada fam�lia tem direito aos segmentos e cada fam�lia vai decidir o que fazer com eles”, afirma.

Ao todo, s�o cerca de 400 segmentos corp�reos divididos em 120 caixas no IML, em Belo Horizonte. A estimativa da Pol�cia Civil � que aproximadamente 15 mil fragmentos ainda estejam espalhados pela lama em Brumadinho e, a maior parte deles, n�o ser� analisada.

Paulino ainda refor�ou que tanto os trabalhos de busca como os de identifica��o n�o t�m previs�o de interrup��o e que o objetivo da Pol�cia Civil � permitir que todas as fam�lias sepultem seus entes perdidos na trag�dia.

"Em nome das tr�s v�timas fazemos uma homenagem. Esperamos que n�s possamos restitu�-las �s fam�lias o mais r�pido poss�vel para que possamos fechar o ciclo de luto, que � um luto individual para cada fam�lia e um luto coletivo para cada um da comunidade", disse a m�dica.

Na sequ�ncia, Paulino citou as tr�s v�timas ainda n�o identificadas e refor�ou o compromisso de encontr�-las. As tr�s v�timas desaparecidas s�o Maria de Lurdes Bueno: corretora de im�veis e tinha 59 anos quando foi atingida pelo rompimento da barragem em uma pousada na regi�o. Deixou dois filhos e um neto. Dois outros netos nasceram ap�s a Trag�dia de Brumadinho. Nathalia de Oliveira Porto Ara�jo era estagi�ria no setor de t�cnica em minera��o. Tinha 25 anos quando aconteceu a trag�dia. A terceira v�tima, Tiago Tadeu Mendes da Silva, era funcion�rio da Vale em Sarzedo antes de ser transferido para Brumadinho, onde trabalhava h� apenas 20 dias quando a barragem rompeu. Deixou uma filha de 4 anos e um filho de 7 meses.

Justi�a Federal 

Justi�a Federal aceitou a den�ncia apresentada pelo Minist�rio P�blico Federal (MPF) sobre a Trag�dia de Brumadinho. A decis�o torna r�us a Vale e a T�v Sud e mais 16 pessoas f�sicas pelo rompimento da barragem da mina C�rrego do Feij�o.

Na �ltima segunda-feira (23/1), o MPF apresentou a den�ncia com o mesmo texto j� elaborado pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG) e aceito pela Justi�a Estadual. As duas empresas listadas respondem por crimes contra a fauna, flora e crime de polui��o.

Entre as 16 pessoas f�sicas listadas est�o diretores e ex-diretores de ambas as empresas, como o ex-diretor-presidente da Vale, F�bio Schvartsman. Estas pessoas respondem por crimes ambientais e tamb�m 270 vezes  pelo crime de homic�dio qualificado.

A decis�o acontece na v�spera do dia em que a trag�dia completa quatro anos, o que significaria a prescri��o de alguns dos crimes ambientais citados na den�ncia. A proximidade com a data fez com que a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, determinasse, na semana passada, o andamento imediato do processo � Justi�a Federal de Minas Gerais. 

A federaliza��o do caso � vista com maus olhos pela representa��o das v�timas do desastre. Segundo Luciano Pereira, advogado da Associa��o dos Familiares de V�timas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina C�rrego do Feij�o (Avabrum) e do sindicato Metabase de Brumadinho, a medida traz morosidade ao processo.

“A posi��o que temos a respeito disso � que entendemos n�o haver motivo algum para tirar o processo da Justi�a Estadual. Isso � uma manobra protelat�ria dos r�us com objetivo expl�cito de busca de impunidade. A partir desse momento, com  tudo decidido entendemos que a Justi�a Federal precisa garantir a celeridade desse processo e tenha a mesma sensibilidade que a ministra Rosa Weber ao pedir para acelerar o aceite para impedir as prescri��es de crimes”, comenta.

Pol�cia Civil esclarece risco de prescri��o

Durante a coletiva de ontem, o delegado da Pol�cia Civil de Minas Gerais (PCMG), Luiz Ot�vio Paulon, falou sobre os riscos de prescri��o relacionados ao processo da Trag�dia de Brumadinho. Ele ressaltou que o prazo da prescri��o de quatro anos n�o se aplica a todos os crimes enquadrados no inqu�rito feito pela pol�cia.

Segundo Paulon, apenas alguns dos crimes ambientais, com penas determinadas at� dois anos, corriam o risco de prescri��o a partir de amanh�, quando a trag�dia completa quatro anos. Os demais crimes t�m prazos diferentes. 

O delegado deu exemplo do crime de homic�dio, que tem prazo de prescri��o de 20 anos. Paulon detalhou que o inqu�rito da PCMG, conclu�do cerca de um ano ap�s a trag�dia, indiciou diretores da Vale e T�v S�d por homic�dio duplamente qualificado por perigo comum e dificuldade ou impossibilidade de defesa da v�tima.

Outra quest�o levantada durante a coletiva foi a diferencia��o dos processos nas esferas criminal e c�vel. O delegado destacou que a poss�vel prescri��o de algumas acusa��es criminais n�o interferem nos acordos de repara��o econ�mica e ambiental.

“O que n�s estamos falando agora � s� desses crimes ambientais menor potencial ofensivo, cuja prescri��o pode ocorrer em quatro anos.  N�o podemos misturar com a repara��o C�vel, a repara��o do meio ambiente. Essa � obriga��o, n�o morre com essa prescri��o criminal, n�o h� vincula��o”, explica. 

O que dizem as empresas

A Vale afirmou que, a partir do recebimento da den�ncia, a defesa jur�dica da empresa compete ao advogado David Rechulski. 

“A Vale reafirma seu profundo respeito pelas fam�lias impactadas direta e indiretamente pelo rompimento da Barragem 1, em Brumadinho, e segue comprometida com a repara��o e compensa��o dos danos. A companhia refor�a que sempre pautou suas atividades por premissas de seguran�a. A partir do recebimento da den�ncia, compete ao advogado David Rechulski a defesa jur�dica da empresa”, completa a nota.

Procurada pela reportagem, a T�v S�d disse que a empresa n�o vai se manifestar sobre o tema.


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