De BH a Vit�ria: as p�ssimas condi��es das BRs 381 e 262
Percorremos os 519 quil�metros entre BH e Vit�ria (ES), mapeando as condi��es das duas rodovias e ouvindo relatos de quem passa ou mora �s margens do trajeto
Caminho comum na vida de muitos mineiros, principalmente no per�odo de f�rias, os 519 quil�metros das BRs 381 e 262, que ligam Belo Horizonte a Vit�ria, no Esp�rito Santo, t�m quatro longos trechos em p�ssimas condi��es. Milhares de buracos, crateras que engolem faixas inteiras da pista, deslizamentos de terra e deforma��es que fazem viagens de lazer ou a trabalho se tornarem pesadelos devido �s m�s condi��es das rodovias que ligam os estados.
O Estado de Minas percorreu, de 24 a 26 de janeiro, todo o trajeto entre BH e Vit�ria para detalhar a perigosa jornada de quem usa as rodovias como rota de lazer, trabalho ou mora �s margens delas. Pessoas como o operador de m�quinas Ant�nio Am�lio, de 40 anos, que encontramos por volta das 9h30 da ter�a-feira passada, trocando um dos pneus do carro no Km 195 da BR-262, em Bela Vista de Minas. “Estou vindo de Vit�ria e os pneus estouraram quatro vezes. N�o tem condi��es esse trajeto”, desabafou.
Ant�nio viajou de Belo Horizonte com a mulher e seus tr�s filhos, um de 11 anos e dois g�meos rec�m-nascidos, com 30 dias de vida, para visitar a sogra, em Vit�ria. Mas o que era para ser um agrad�vel passeio em fam�lia virou um enorme transtorno na tentativa de voltar para a capital mineira. “Estamos parados desde as 23h de ontem (segunda). Paguei um t�xi para deixar minha fam�lia numa padaria, para minha mulher trocar as crian�as e se alimentarem e estou aqui. Todo o dinheiro que tinha eu gastei com pneu. Agora, como que eu vou embora?”
Foram mais de R$ 1 mil de preju�zo em um trecho de poucos quil�metros e desagrad�veis surpresas. “As crateras s�o gigantes. Passei numa vala e estouraram dois pneus. Andei quatro quil�metros e estourou mais um. Andei mais dois e estourou o resto. Isso n�o � problema do carro, � da rodovia”, lamentou Ant�nio. Ele e a fam�lia passaram a noite � beira da estrada, sem receber ajuda, mesmo ap�s ligar para a Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) e para o Corpo de Bombeiros. Na noite de ter�a (24/1), Ant�nio entrou em contato com a reportagem para avisar que ele e a fam�lia tinham, enfim, chegado em casa, ap�s uma viagem de volta que durou 24 horas.
BONAN�A ANTES DO TORMENTO
No caminho entre BH e Vit�ria, bem antes do trecho onde encontramos Ant�nio, o trajeto de 56 quil�metros da capital mineira at� Caet� � mais tranquilo, fora um ou outro momento de lentid�o provocado pela presen�a de ve�culos de grande porte. A BR-381 � uma importante rota para transporte rodovi�rio, por cortar a Regi�o Central de Minas, e a grande presen�a de mineradoras faz com que o tr�fego de caminh�es e carretas seja intenso.
Ver galeria . 15 FotosTrecho da BR-381, que foi reformulada e que j� apresenta problemas na pavimenta��o de concreto
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press )
Logo ap�s deixar Caet�, come�a o trecho de rodovia duplicada, obra que vem sendo entregue em partes desde 2019. Com menos de quatro anos de utiliza��o, a situa��o da rodovia assusta. V�rios pontos com afundamentos, fissuras e desgastes podem ser encontrados no trecho. E quanto mais se anda, mais a situa��o piora.
Ve�culos de pequeno porte e carretas precisam trocar rapidamente de faixa para escapar dos pontos onde a pista est� em situa��o p�ssima. Cerca de tr�s quil�metros antes do trevo de Nova Uni�o, rachaduras chegam a 4m de comprimento. Chama aten��o ver uma rodovia t�o nova com rachaduras profundas, de at� 73cm de largura e que ocupam toda a faixa central. Os afundamentos s�o t�o grandes que, quando as carretas que pesam toneladas n�o conseguem desviar a tempo, parece que os ve�culos descem um degrau de escada. O problema se repete em muitos pontos dos 55km da duplica��o.
Poucos quil�metros � frente, pr�ximo � entrada de S�o Gon�alo do Rio Abaixo, come�a um percurso que explica o porqu� de o caminho entre a cidade e Jo�o Monlevade ser considerado um trecho cr�tico da BR-381, apelidado de Rodovia da Morte. O asfalto est� completamente desgastado e cheio de ranhuras e rachaduras. Pr�ximo a S�o Gon�alo, as faixas amarelas que separam os sentidos est�o apagadas.
Deixando Jo�o Monlevade para tr�s, � preciso mudar de rodovia para continuar at� Vit�ria. A BR-381 segue rumo a Governador Valadares e o viajante que pretende chegar ao Esp�rito Santo passa a trafegar pela BR-262, visto pela reportagem como o ponto mais cr�tico do trajeto.
E a situa��o prec�ria da estrada n�o demora muito a se mostrar. J� nos primeiros 50 metros, muitos buracos. E, menos de 500 metros ap�s a entrada na BR-262, a pista cedeu e deu lugar a um buraco de 8m de largura por 8m de profundidade que toma praticamente toda a faixa da direita, no sentido BH. Carros e carretas precisam invadir a contram�o para passar pela pista que cedeu. H� pouca sinaliza��o e nenhum sistema de pare e siga, a n�o ser o adotado por iniciativa dos pr�prios motoristas.
(foto: Arte: Janey Costa)
Buracos definem o caminho
Logo ap�s o Km 181, em S�o Domingos do Prata, carros e carretas ziguezagueavam entre as pistas para fugir da quantidade enorme de buracos. M�o e contram�o, na pr�tica, n�o existem. Quem define os sentidos s�o as crateras. No Km 177, contamos cerca de 50, de tamanho consider�vel, numa dist�ncia de apenas 800 metros.
Pouco mais � frente, encontramos uma grande carreta tombada no acostamento do sentido Vit�ria. Dois seguran�as armados, que faziam a escolta particular da carga, estavam h� 24 horas esperando que o ve�culo fosse retirado. A causa do acidente n�o poderia ser outra: buracos.
“Perdi o controle e tombei para o barranco, mas poderia ter pegado algu�m de frente, ter tombado em cima de algu�m. A� a culpa ia ser minha. Al�m de colocar em risco a nossa vida, tamb�m coloca em risco a vida de terceiros”, disse o caminhoneiro Bruno Pereira Batista. Ele saiu de Campinas e, ap�s n�o ver um buraco, acabou tombando pr�ximo a S�o Domingos do Prata. “T� cr�tica a situa��o da estrada, sem sinaliza��o. Se acontece um acidente ningu�m d� apoio, n�o v�m sinalizar. Os buracos j� t�o velhos. Tem grama nas crateras”, comentou.
Entre os Kms 195 e 181, ainda em S�o Domingos do Prata, h� mais buracos e outra cratera, que desta vez destruiu metade da pista no sentido BH. L�, encontramos um homem que colocava sobre sua bicicleta uma segunda roda de carro, com pneu e tudo, abandonada �s margens da rodovia.
Na regi�o, encontramos tamb�m M�rcio Vieira Santos, de 48, dono de uma borracharia 24 horas. Ele afirmou que, de um ano pra c�, a demanda de clientes aumentou muito e que precisou pedir ajuda ao filho, atualmente em f�rias escolares, para dar conta de tanto servi�o. “S�o 40 carros, s� por causa de buracos. A estrada est� ruim, mas ruim mesmo. N�o estou dando conta. Comprei remessas de pneus quatro vezes entre novembro e dezembro. A gente n�o dorme mais, pois tem de socorrer o pessoal”, afirmou.
Demora em per�metro urbano
Em Abre Campo, na Zona da Mata, somente zigue-zagues e invas�es de contram�o possibilitam que os motoristas n�o caiam em diversos buracos no Km 97. Ainda assim, vez ou outra fica imposs�vel escapar. Na altura dos munic�pios de Matip� e Bom Jesus, a estrada volta aos seus piores momentos, vistos entre Jo�o Monlevade e S�o Domingos do Prata. Depois da�, cerca de 8 quil�metros de tr�gua, com a estrada melhor at� Realeza, distrito de Manhua�u.
De l� at� Manhumirim, a estrada est� impratic�vel, com muitos buracos, desn�veis e deforma��es. Como a rodovia passa dentro do per�metro urbano de Manhua�u, esses problemas se acentuam com a presen�a de maior n�mero de carros, �nibus e pedestres. Demoramos 16 minutos para fazer um percurso de 4,2 quil�metros, apesar de o local n�o ter sem�foros, faixas de pedestre e redutores de velocidade. O limite de velocidade no local � de 50km/h.
Depois de Reduto, perto da divisa com o Esp�rito Santo, as coisas melhoram um pouco, mas as fortes chuvas da semana passada deixaram trechos com terra e alagamentos. J� no Esp�rito Santo, da divisa ao posto da PRF, no Km 131 da BR-262, em Brejetuba, a rodovia alterna 65 quil�metros de trechos bons e ruins. Nenhum que se compare aos piores locais da 262 em Minas, mas ainda assim prec�rios em certos momentos. Depois, percebemos o que muitos motoristas tinham relatado: condi��es melhores das estradas no lado capixaba at� a capital, Vit�ria.