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Estado de Minas CENTEN�RIAS

Esta casa ajuda a construir a mem�ria de BH: saiba por que, e onde ela fica

Im�vel que completa este ano um s�culo no Bairro Funcion�rios abre s�rie de reportagens do Estado de Minas sobre moradias seculares da capital


05/02/2023 04:00 - atualizado 05/02/2023 09:52
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O p� de manac�, a pitangueira e o florido jasmim-manga, entre outras plantas do jardim bem cuidado, s�o testemunhas da hist�ria de uma das resid�ncias centen�rias de Belo Horizonte. Centen�ria, por sinal, � a palavra exata, pois o im�vel no Bairro Funcion�rios, na Regi�o Centro-Sul, completa 100 anos em 2023, e, tanto pelo “anivers�rio” quanto pela conserva��o, arquitetura e beleza interior, foi escolhido para abrir a s�rie especial "Centen�rias", do Estado de Minas, sobre constru��es seculares – algumas da d�cada de 1920, outras de um pouco antes – que ajudam a contar a trajet�ria da capital.

 

“Estar aqui � como mergulhar, diariamente, na hist�ria de nossa cidade, que completou 125 anos em 12 de dezembro”, constata a engenheira civil Beatriz Maranh�o, locat�ria, desde 2005, da casa localizada no n�mero 851 da Avenida Get�lio Vargas, na qual promoveu cuidadosa restaura��o para instalar escrit�rio e loja de produtos de design de m�veis de alto padr�o.

Logo na entrada, a porta pintada de branco e com grade de ferro artisticamente trabalhada para proteger os vidros convida a conhecer o espa�o, que n�o s� preserva a mem�ria de BH como abriga li��es sobre sistema construtivo, estilo arquitet�nico e uso ao longo do tempo.

 

Projetado pelo arquiteto italiano Octaviano Lapertosa (1889-1944), um dos fundadores da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (EA/UFMG), o im�vel pintado de cinza claro, pertencente a uma fam�lia belo-horizontina e tombado pelo munic�pio, faz “men��o �s conforma��es pl�sticas pr�prias do estilo ecl�tico tardio de influ�ncias diversas”, conforme descrito no livro “Casa Nobre – Significado dos modos de morar nas primeiras d�cadas de Belo Horizonte”.

Ver galeria . 9 Fotos Imóvel foi projetado pelo arquiteto italiano Octaviano Lapertosa (1889-1944)Edésio Ferreira/EM/D.A Press
Im�vel foi projetado pelo arquiteto italiano Octaviano Lapertosa (1889-1944) (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press )
 

O obra, organizada por Celina Borges Lemos, professora titular da EA/UFMG, e Karla Bilharinho Guerra, soci�loga com doutorado em arquitetura e urbanismo, vai ganhar continuidade neste ano com o modernismo. Sobre a moradia da Avenida Getulio Vargas, o estudo das especialistas informa ainda que a composi��o das fachadas “apresenta tra�os austeros, com destaque aos guarda-corpos trabalhados em madeira, al�m das expressivas m�os-francesas que sustentam o beiral do telhado”.

 

Farol da nossa hist�ria

Guiada pelas informa��es t�cnicas e pelo zelo de Beatriz Maranh�o, a equipe do EM come�a a explora��o dessa pe�a da hist�ria pela parte invis�vel, o que � bem compreens�vel para se entender melhor esse universo hist�rico e cultural. E vale a experi�ncia de quem sabe onde pisa: “Casa antiga traz sempre uma novidade, demanda preven��o e manuten��o o tempo todo. Precisamos ficar vigilantes, pois, ao menor vest�gio de umidade ou cupins, devemos entrar em a��o”, avisa a belo-horizontina conhecedora de cada palmo da casa, que, no fim do s�culo passado, foi endere�o de eventos e noites de bingo.
casarão centenário na Avenida Getulio Vargas, 851, no bairro Funcionários, em Belo Horizonte
O casar�o na Avenida Get�lio Vargas foi projetado pelo arquiteto italiano Octaviano Lapertosa (foto: ED�SIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)

Em um canto, perto da porta de entrada, Beatriz destampa um peda�o de madeira do piso de peroba-rosa e mostra no fundo a terra escura. “Tivemos que fazer isso para monitorar, pois apareceram bolhas na parede, indicando umidade. A casa foi erguida diretamente sobre o terreno natural”, explica.

Quest�es t�cnicas � parte, ver, inesperadamente, a terra marrom escura dos prim�rdios de BH agu�a a curiosidade, surpreende e faz brotar uma ligeira emo��o. Faz lembrar um farol sobre uma esp�cie de portal subterr�neo, iluminando outra �poca.

 

BH, MG - Mãos-francesas do casarão centenário na Avenida Getulio Vargas, 851, no bairro Funcionários, em Belo Horizonte
M�os-francesas: suporte em madeira para os beirais do telhado (foto: ED�SIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)

O pr�ximo passo � dado na escada de jacarand�: s�o 19 degraus conduzindo ao pavimento superior da edifica��o, originalmente com 158 metros quadrados, acrescida devido �s necessidades dos antigos moradores. Ao fim da subida, no lado direito, entra-se em uma varanda de onde se avista a capela e parte do Col�gio Sagrado Cora��o de Jesus (na Rua Professor Moraes, fundado em 1911) e a silhueta dos pr�dios modernos.


Naquele terra�o, momentaneamente ensolarado neste per�odo chuvoso, Beatriz aponta um detalhe singular da constru��o: as m�os-francesas originais, pe�as de madeira que sustentam o beiral do telhado.

Pioneiros

Quanto mais se caminha pela casa, mais se tem vontade de saber. E muitas respostas est�o no livro “Casa Nobre”: no andar superior, h� quatro quartos, “e, de acordo com o projeto, os dois maiores, situados na parte frontal da edifica��o, contam com 15 metros quadrados cada um”.

Os demais apresentam dimens�es inferiores e est�o dispostos atr�s do vest�bulo respons�vel pelo acesso � �rea �ntima. “A �rea social compreende uma sala de jantar, onde � estabelecido o acesso principal, e uma sala de estar, ambas localizadas no andar t�rreo”, prossegue o estudo.

Escada em jacarandá do casarão centenário na Avenida Getulio Vargas, 851, no bairro Funcionários, em Belo Horizonte
Escada em jacarand�, com 19 degraus, ligando os dois pavimentos (foto: ED�SIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)

Muitas vezes, Beatriz se pegou imaginando como viveria a fam�lia pioneira, especialmente ao contemplar detalhes do interior da resid�ncia, como uma abertura em arco entre dois quartos. Outras caracter�sticas originais a conduzem do presente ao passado, ainda mais quando v� os ladrilhos hidr�ulicos, as varandas frontal e lateral e o gradil da frente, al�m do forro e do piso de peroba-rosa, madeira atualmente em extin��o.

A engenheira civil Beatriz Maranhão
A engenheira civil Beatriz Maranh�o, locat�ria, desde 2005, da casa localizada no n�mero 851 da Avenida Get�lio Vargas (foto: ED�SIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)

Nos fundos, h� uma constru��o menor, espec�fica para servi�os, e, ao lado, um caramanch�o tamb�m de 1923, para conviv�ncia familiar. O paisagismo joga mais luz e cores sobre a hist�ria do im�vel centen�rio. “No jardim, mantemos as plantas originais, como a pitangueira, a i�ca, o manac� e o jasmim-manga”, orgulha-se Beatriz.

Testemunha de uma �poca

 

“� um milagre, uma honra para Belo Horizonte, ter, hoje, uma casa como essa, pois pertence a uma gera��o de im�veis demolidos entre as d�cadas de 1920 e 1940. Trata-se de um documento de uma �poca, da qual muitas desapareceram”, explica a professora Celina Borges Lemos, titular da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, sobre a constru��o localizada na Avenida Get�lio Vargas, 851, no Bairro Funcion�rios.

Ladrilhos hidráulicos originais do casarão centenário na Avenida Getulio Vargas, 851, no bairro Funcionários, em Belo Horizonte
Ladrilhos hidr�ulicos originais, presentes na entrada e nas varandas (foto: ED�SIO FERREIRA/EM/D.A PRESS)

Segundo Celina Borges, ocorreu uma renova��o do setor construtivo de BH nos anos 1920, deixando prejudicada, com efeito, as antigas edifica��es. Houve, nesse contexto, a chegada do concreto armado anunciando o modernismo, a versatilidade nas edifica��es, com mais andares e telhados diferenciados, entre outros aspectos.

O momento coincidiu ainda com a fixa��o, na capital mineira, de engenheiros arquitetos de outros estados, como do Rio de Janeiro, e do exterior, estabelecendo um di�logo entre esses profissionais e os clientes para a concep��o das moradias.

 

Nos projetos em voga, os im�veis come�am a ter piscinas, �reas de lazer, salas de estar e valoriza��o de �reas que as tornavam mais “hospitaleiras” e de conv�vio. “Muitas dessas casas, se n�o foram demolidas, passaram a abrigar institui��es p�blicas, incluindo escolas, museus e at� mesmo o Pal�cio da Liberdade, onde moraram os governadores (na �poca, chamados de presidentes) de Minas”, observa a professora.

 

Visita do rei da B�lgica 

Em 1920, quando o rei da B�lgica, Alberto I, acompanhado da rainha Elisabeth, visitava oficialmente Belo Horizonte, deu-se a remodela��o e embelezamento art�stico de espa�os p�blicos, com destaque para as pra�as da Liberdade e Rui Barbosa (da Esta��o), ambas na Regi�o Centro-Sul.

Entre as novidades, havia o mobili�rio art nouveau, com detalhes met�licos sinuosos e desenhos art�sticos, assim como as fontes luminosas. “Aquele momento pode ser marcado pelo surgimento dos primeiros clubes, estabelecimentos de com�rcio de luxo e os sempre lembrados pal�cios do cinema”, conta a professora, em um passeio pela constru��o da identidade de Belo Horizonte.


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