
devastou o Haiti em 2021. Ele explica como � o passo a passo dos trabalhos em terras estrangeiras.
O tenente Rafael Rocha, integrante do Batalh�o de Emerg�ncias Ambientais e Resposta a Desastres Naturais (Bemad), atuou nos trabalhos de resgate das trag�dias de Mariana e Brumadinho e da ajuda humanit�ria ap�s o terremoto que “Geralmente os militares desembarcaram em um setor especial, onde recebemos informa��es sobre as caracter�sticas do lugar, a cultura da popula��o e mais diretrizes sobre o trabalho, como onde a base ser� montada. Todo o cadastro � feito antes da viagem, com informa��es sobre quantas pessoas integrar�o a equipe, quais suas fun��es, quais equipamentos ser�o levados, se haver� c�es, por exemplo”, afirma.
Al�m dos bombeiros mineiros, profissionais de S�o Paulo e do Esp�rito Santo integram a equipe deslocada pelo Brasil at� a Turquia. O grupo embarcou com seis toneladas de equipamentos para auxiliar na busca por v�timas e quatro c�es farejadores no mesmo esfor�o. O Minist�rio da Sa�de enviou cerca de 750 quilos de medicamentos e itens emergenciais que possibilitam o atendimento de at� 1,5 mil pessoas por pessoas por m�s.
Rocha explica que, al�m das doa��es para atendimento �s v�timas, as equipes de resgate tamb�m embarcam com todo o material necess�rio para a estadia e realiza��o dos trabalhos. Em um cen�rio de vulnerabilidade do governo e popula��o local, o planejamento preza por n�o criar mais exig�ncias.
“Quando somos deslocados para essas miss�es, sabemos que o pa�s est� em uma situa��o dif�cil, ent�o o planejamento leva em considera��o usar a menor quantidade poss�vel de recursos locais. Montamos a base e levamos alimentos para sustentar a equipe. Al�m das doa��es”, explica.
Ordem dos trabalhos
Ap�s os tr�mites burocr�ticos, resolvidos com agilidade dada a urg�ncia do in�cio dos trabalhos, os bombeiros, aliados �s equipes que j� atuam na �rea, come�am os esfor�os de salvamento especificamente.
O tenente Rafael Rocha explica que o salvamento � dividido em duas etapas. A primeira delas � a de buscas, que exige um planejamento de conhecimento da �rea e uma a��o meticulosa para evitar que interfer�ncias causem novos desabamentos.
“Temos que lembrar que � um ambiente inst�vel, com chance de r�plica, seja por um novo tremor ou por algum movimento que desencadeie mais desabamentos. A estrutura pode ceder, ent�o � preciso tamb�m fazer escoras e ter muito cuidado neste tipo de terreno. � como um jogo de pega vareta, se voc� mexe em uma, pode ter impacto nas outras”, diz.
Ele destaca que os cuidados s�o tomados tamb�m para evitar que os profissionais que atuam no resgate se lesionem. O planejamento para o trabalho de buscas visa tamb�m otimizar os esfor�os e conta com equipamentos de alta tecnologia e desenhados para situa��es de resgates complexos.
“Outra quest�o na fase das buscas � evitar desperdi�ar energia e fazer uma busca com planejamento pr�vio. Hoje usamos o equipamento LN1, o chamado ‘rastreador de vida’. � um equipamento que mistura engenharia biom�dica com pulsos eletromagn�ticos e permite, em um raio de 25 metros, detectar a respira��o, batimentos card�acos e movimentos das v�timas”, comenta.

Realizados os trabalhos de busca, os bombeiros atuam no resgate, que tamb�m exige cuidado e delicadeza para evitar impactos nas estruturas j� fragilizadas. Equipamentos espec�ficos para resgate s�o usados para aumentar a precis�o no resgate.
Preparo t�cnico e psicol�gico
Refer�ncia nas atividades de resgate, os bombeiros de Minas Gerais acumularam experi�ncia a partir das trag�dias locais dos rompimentos de barragens de minera��o em Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019. O tenente Rafael Rocha lamenta as situa��es, mas aponta que os desastres possibilitaram que a corpora��o prestasse ajudas importantes em emerg�ncias fora do pa�s, como agora na Turquia, em Mo�ambique, em 2019 e no Haiti, em 2021; e tamb�m em territ�rio nacional, como nas emerg�ncias causadas por chuvas em Petr�polis-RJ, Bahia e Recife-PE.
O tenente ressalta que situa��es calamitosas como a vivida atualmente na regi�o fronteiri�a entre Turquia e S�ria exigem preparo t�cnico e psicol�gico. “� uma experi�ncia fora do comum, mas somos treinados para isso. Os bombeiros passam muito tempo sem alimenta��o, porque n�o � poss�vel mensurar exatamente quanto tempo uma miss�o vai durar e calcular a comida necess�ria. Al�m de quest�es como o frio, as informa��es que tivemos dos companheiros de que fez -5 ºC na Turquia de madrugada”.
Os bombeiros mineiros chegaram a Kahramanmara%u015F, no sul da Turquia, na noite desta sexta-feira (10/12), hor�rio local. Em v�deo, as equipe brasileiras informaram que chegaram ao local onde estabelecer�o base com o apoio da for�a a�rea turca e come�ar�o as atividades de busca horas ap�s firmar base na regi�o.
V�deo ap�s a chegada de nossos militares em Kahramanmara%u015F, no sul da Turquia, onde ser�o executadas as atividades de busca e salvamento.
%u2014 Bombeiros_MG (@Bombeiros_MG) February 10, 2023
Palavras do Major Heitor, subcomandante do Batalh�o de Emerg�ncias Ambientais e Respostas a desastres. pic.twitter.com/IfZzJL2Q3B
O tenente Rocha, que viveu situa��es similares �s dos companheiros, comenta que a sele��o dos profissionais que v�o � campo em miss�es como essa leva tamb�m em considera��o a capacidade psicol�gica, importante para trabalhar em cen�rio com pessoas em situa��o de extrema vulnerabilidade.
“A gente fica muitas vezes sem contato com as fam�lias, �s vezes n�o consegue dar resposta. Voc� est� convivendo com pessoas em situa��o muito prec�ria, voc� pensa ‘preciso me alimentar para trabalhar e tem pessoas com fome ao lado’. Quando os bombeiros v�o em uma miss�o como essa � preciso selecionar os melhores, n�o apenas tecnicamente, mas os que s�o mais firmes psicologicamente. � dif�cil, eu mesmo fui ao Haiti pouco tempo ap�s o falecimento do meu sogro, tem casos de colegas que estavam fora do pa�s e tendo de lidar com problemas m�dicos da esposa e dos filhos no Brasil”, conta.
Para lidar com a experi�ncia vivida e tratar da sa�de mental, os bombeiros contam com apoio psicol�gico dentro da corpora��o e s�o orientados a compartilhar os momentos presenciados durante o salvamento.
O equil�brio mental � um fator tamb�m para a perseveran�a nos esfor�os, visto que as chances de encontrar pessoas com vida diminui a cada hora passada desde uma trag�dia como o terremoto de magnitude 7,8 na escala Richter que devastou territ�rio turco e s�rio nesta semana.
Segundo o bombeiro, uma escala internacional determina que, em casos assim, vizinhos conseguem salvar cerca de metade das v�timas com vida nas primeiras quatro horas ap�s um acidente. Entre quatro e oito horas depois, � necess�ria a a��o de profissionais e o percentual de v�timas vivas pass�veis de salvamento cai para 30%.
De oito horas at� dois dias depois do ocorrido, � necess�ria a chegada de refor�o t�cnico e cerca de 30% das v�timas com vida t�m probabilidade de ser resgatada. De dois a sete dias depois do acidente, situa��o atual na Turquia e S�ria, apenas 5% das pessoas ainda com vida devem conseguir escapar dos escombros.
Diante do cen�rio tr�gico e das perspectivas esparsas, os profissionais que trabalham nos esfor�os de resgate baseiam sua obstina��o na convic��o de que cada v�tima vale o empenho. “Tenho certeza que n�s vamos contribuir muito. Se uma vida for salva, j� valeu a pena”, conclui o tenente.