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Estado de Minas CRIMINALIDADE

Serial killers: como a pol�cia de MG aprendeu a rastrear mentes criminosas

M�todos para identificar assassinos evolu�ram desde a pris�o do mais violento matador brasileiro, executado este m�s, mas ca�ada ainda � corrida contra o tempo


21/03/2023 04:00 - atualizado 21/03/2023 06:08

Belo Horizonte - MG. Marcos Antunes Trigueiro, conhecido como Maníaco do Industrial, é julgado no 2º Tribunal do Júri do Forum Lafayette
Escoltado por PMs, Marcos Antunes Trigueiro chega para um dos julgamentos a que foi submetido. Suas penas somam 160 anos (foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press - 30/9/2010)

 

A execu��o de Pedro Rodrigues Filho, o Pedrinho Matador, considerado o mais violento assassino em s�rie brasileiro e que dizia ter matado mais de 100 pessoas, trouxe � tona sua hist�ria e o desafio que representa para a pol�cia a identifica��o de criminosos do tipo. Morto no in�cio do m�s, o serial killer agiu durante cinco anos antes de ser preso, em meados da d�cada de 1970, ap�s fazer pelo menos 24 v�timas. Hoje, as t�cnicas de investiga��o avan�aram, mas o intervalo de medo entre ondas de ataques e a pris�o de psicopatas com esse perfil no Brasil ainda est� distante do ideal, segundo a an�lise de especialistas.

 

Para um matador de m�ltiplas v�timas que n�o age regularmente – mata uma vez a cada ano ou de cinco em cinco anos, por exemplo –, as investiga��es e a pris�o do autor n�o deveriam ultrapassar tr�s meses. Mas a evolu��o dos processos de intelig�ncia e apura��o t�m uma hist�ria pouco conhecida de trabalho �rduo, que a reportagem do Estado de Minas detalha com fontes do setor. Investiga��es em Minas Gerais ilustram bem esses progressos, de acordo com analistas.

 

Belo Horizonte - MG. Marcos Antunes Trigueiro, conhecido como Maníaco do Industrial, é julgado no 2º Tribunal do Júri do Forum Lafayette
Escoltado por PMs, Marcos Antunes Trigueiro chega para um dos julgamentos a que foi submetido. Suas penas somam 160 anos (foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press - 30/9/2010)
 

Man�aco do Industrial foi marco em apura��es

Em fins da d�cada de 2000 e in�cio de 2010, o pavor levado � Grande BH pelos crimes de viol�ncia sexual contra mulheres, al�m de assassinatos e roubos depois atribu�dos a Marcos Antunes Trigueiro, conhecido como o Man�aco do Industrial, hoje com 44 anos, duraram 315 dias, entre 17 de abril de 2009 e 26 de fevereiro de 2010. Preso desde ent�o e condenado a 160 anos, ele cumpre a pena em ala separada do Pres�dio Inspetor Jos� Martinho Drumond, em Ribeir�o das Neves, onde n�o h� registro de outras agress�es.

 

“O caso do Man�aco do Industrial foi diferente dos que se viram antes. Ocorreu uma verdadeira ca�ada e o alvo foi identificado como um assassino em s�rie, que precisava ser parado imediatamente. Tanto, que quando foi divulgada a exist�ncia do matador, ele n�o atacou mais ningu�m”, observa o coronel Carlos J�nior, especialista em intelig�ncia de Estado e seguran�a p�blica, um dos oficiais que atuaram na Diretoria de Intelig�ncia da Pol�cia Militar de Minas na �poca dos crimes.

 

“Mas 315 dias realmente � muito tempo para interromper os crimes e prender esse tipo de man�aco. Com a tecnologia e o treinamento que casos como esse trouxeram, uma resposta efetiva precisa ser dada com at� 90 dias”, estima o especialista, referindo-se aos perfis de criminosos que atuam em curtos espa�os de tempo.

 

De acordo com Carlos J�nior, o chefe da Ag�ncia Central da PMMG na �poca do Man�aco do Industrial, coronel Wilson Cardoso, estabeleceu em fins de 2009 o “alerta m�ximo”, que empenha todas as ag�ncias de intelig�ncia da pol�cia, bem como a prioriza��o dos trabalhos de campo junto a fontes, informantes e policiamento ostensivo. “Disso resultaram v�rios alertas operacionais para o policiamento preventivo, com foco naquele tipo de criminalidade (homic�dios em s�rie). A imprensa teve papel importante para ajudar a identificar e trazer den�ncias, mas foi preciso antes pesar o risco de outras pessoas com uma psicopatia como a de Trigueiro, por�m, ainda latentes, terem esse potencial aflorado e come�arem a matar tamb�m”, afirma o coronel.

 

A primeira miss�o do coronel J�nior foi identificar se o autor das matan�as e crimes sexuais poderia ser um agente treinado, com capacidade de agir de forma a despistar os investigadores. “� preciso separar as coisas, procurar identificar os m�todos dos crimes, a composi��o de pistas deixadas. Descobrir se h� algu�m treinado em t�cnicas de intelig�ncia ou de contraintelig�ncia tentando apagar seus rastros ou criar distra��es, caso fosse um policial, um militar de for�as especiais ou agente treinado”, afirma.

 

Com as caracter�sticas dos crimes e as pistas filtradas de poss�veis tentativas de encobrir rastros, um perfil do man�aco foi se moldando. As v�timas (veja quadro) eram mulheres com cabelos longos e pretos, independentes, propriet�rias de ve�culos, que dirigiam sozinhas, sendo rendidas e obrigadas pelo agressor a seguir com ele para locais ermos.

 

Na sua maioria eram atacadas em hor�rios comerciais (no intervalo de almo�o no trabalho, muito cedo pela manh� ou � tarde), nunca de madrugada nem em fins de semana. Todas foram dominadas, sofreram abusos sexuais e foram estranguladas.

 

“Todas eram v�timas dos arredores da regi�o do Bairro Industrial. Quando foram reunidas fotos de todas elas, percebeu-se uma grande semelhan�a. A regi�o era densamente habitada e foi necess�rio um longo trabalho de an�lise manual de milhares de registros, desde ocorr�ncias de homic�dios, crimes sexuais a crimes de menor potencial que o assassino poderia ter cometido”, conta o coronel.

 

O trabalho tamb�m � integrado com os demais operadores de intelig�ncia de Estado, como a Pol�cia Civil, o Minist�rio P�blico, a Superintend�ncia Prisional e a pr�pria Ag�ncia Integrada de Minas Gerais e seus acesso a �rg�os da Uni�o, como a Pol�cia Federal. No caso do Man�aco do Industrial, o rastreamento dos celulares das v�timas foi o que possibilitou a pris�o do autor, uma vez que ele vendeu dois aparelhos na mesma loja, o que o incriminou. Quando policiais foram � casa do criminoso, descobriram que a esposa dele tinha ganhado um dos outros aparelhos de uma das v�timas – sem saber da origem do telefone –, o que possibilitou a pris�o.

Cinco anos de terror antes da pris�o

O terror desencadeado com pelo menos 24 mortes entre as d�cadas de 1960 e 1970 pelo mineiro Pedro Rodrigues Filho, o Pedrinho Matador, natural de Santa Rita do Sapuca�, durou cinco anos – depois de preso ele teria matado, ainda, mais 47 detentos. Foi assassinado em 5 de mar�o deste ano, em Mogi das Cruzes (SP), aos 68 anos, depois de ser solto em 2018, tendo cumprido 40 anos dos 128 a que tinha sido condenado. “Ele foi detido n�o pelo seu perfil de psicopata, mas como criminoso comum. Somente depois � que se percebeu se tratar de um justiceiro que matava quem na mente perturbada dele n�o merecia viver, por ser criminoso ou tendo sido julgado assim por seu senso distorcido de Justi�a”, avalia um agente ligado � Diretoria de Intelig�ncia da Pol�cia Militar de Minas, que n�o tem autoriza��o para falar oficialmente sobre o assunto.

 

Onda de medo

As v�timas conhecidas do Man�aco do Industrial na Grande BH

 

 

17 de abril de 2009

» A.C.M.A., 27 anos

Encontrada morta, foi v�tima de abuso sexual e estrangulada dentro do carro no Bairro Jo�o Pinheiro, Noroeste de BH. O filho de 1 ano e 1 m�s foi deixado sobre o corpo

 

17 de setembro de 2009

» M.H.L.A., 49 anos

Corpo tamb�m com sinais de abuso sexual foi encontrado em seu carro no Conjunto Calif�rnia, Noroeste de BH. Foi estrangulada com o cinto de seguran�a

 

12 de novembro de 2009

» E.C.O.F., 35 anos

O corpo foi encontrado em estrada de terra do Bairro Jardim Canad�, em Nova Lima. Seu carro foi achado abandonado no Bairro Industrial, em Contagem. Foi v�tima de abuso sexual e enforcada com o colar.

 

7 de janeiro de 2010

» A.F.P., 27 anos

Corpo encontrado dentro do carro no Barreiro de Baixo

 

7 de outubro de 2010

» N.C.A.P., 27 anos

Corpo encontrado em uma mata na regi�o de Ribeir�o das Neves. Foi enterrada como indigente. Quatro meses depois, exuma��o possibilitou o reconhecimento da v�tima. 

 

 

Cerco fechado pela tecnologia

 

O investimento em tecnologia necess�rio para identificar perfis de criminosos n�o � barato, de acordo com o especialista em intelig�ncia de Estado e seguran�a p�blica coronel Carlos J�nior. “Os equipamentos e sistemas usados para o rastreamento do Man�aco o Industrial chegaram a Minas Gerais depois de um investimento de R$ 50 milh�es, mas s� foram adquiridos ap�s acordos diplom�ticos e de coopera��o no combate ao crime organizado transnacional e internacional, com os maiores fabricantes dessas tecnologias, como Israel e a Dinamarca”, afirma.

 

O especialista explica que � importante diferenciar as investiga��es, que est�o a cargo da Pol�cia Civil e s�o referentes a fatos e alvos ou pessoas individualmente, enquanto a intelig�ncia que � exerc�cio da Pol�cia Militar, por exemplo, procura prever causas e consequ�ncias de crimes para evit�-los ou impedir que se repitam.

 

Uma das ferramentas usadas na intelig�ncia para rastrear criminosos e que trazem bons resultados na identifica��o dos assassinos em s�rie s�o os aparatos tecnol�gicos de extra��o de dados dos meios de comunica��o da v�tima (como telefone celular, tablet e notebook). A v�tima pode ter se comunicado com o suspeito ou � poss�vel mesmo que o criminoso tenha feito uso do aparelho, tornado poss�vel a triangula��o.

 

Os policiais disp�em tamb�m de sistemas de metadados. S�o programas que relacionam suspeitos e v�timas pelas caracter�sticas de cada caso, a linha temporal com os intervalos entre os ataques, as caracter�sticas dos m�todos do criminoso, refer�ncia geogr�fica, turno em que estava ativo e situa��o das v�timas.

 

“� preciso tamb�m ter recursos humanos espec�ficos. Na �poca, t�nhamos um especialista em homic�dios, mas nessa modalidade em geral. Seria preciso ampliar esse grau de especializa��o, para se ter um especialista em homic�dios passionais, chacinas, execu��es ligadas ao tr�fico de drogas ou crimes em s�rie mesmo, para se direcionar as a��es com mais assertividade”, observa o coronel Carlos J�nior.

 

Programas de relacionamento de postagens e vest�gios postados na internet pela v�tima ou para ela tamb�m s�o vasculhados por ferramentas espec�ficas. Os programas s�o capazes de realizar a an�lise de um grande volume de dados deixados no ambiente cibern�tico.

 

V�deos

Outros instrumento s�o as c�meras. “A abrang�ncia grande e crescente de c�meras em ambientes externos e internos � essencial atualmente. Tanto em edifica��es, nas ruas, quanto nas estradas, c�meras de seguran�a e controle auxiliam a construir rotinas e a flagrar atitudes de suspeitos ou v�timas. Em Minas Gerais h� sistemas de identifica��o de placas de ve�culos em massa em grandes corredores e estradas, como o Helios, que auxiliam na identifica��o e rastreamento de criminosos que usam as vias rodovi�rias”, afirma o coronel Carlos J�nior.

 

Com todo esse aparato, o rastreamento de criminosos em s�rie se torna uma ca�ada cuja rapidez est� longe do ideal, mas que tende a levar cada vez menos tempo. Uma agilidade indispens�vel, j� que, nesse caso, a demora pode custar vidas. 


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