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Estado de Minas OPERA��O FATAL

Cirurgia pl�stica: ao menos 8 mulheres morreram nos �ltimos 6 anos em BH

Caso da auxiliar de enfermagem Gleyciane Alves Maciel Brito n�o � isolado e outras pacientes j� perderam a vida em procedimentos parecidos


26/04/2023 14:40 - atualizado 26/04/2023 15:01

Entrada da clínica onde Gleyciane Alves foi operada
Entrada da cl�nica onde Gleyciane Alves foi operada (foto: GLADYSTON RODRIGUES/em/D.A PRESS)

Uma mulher de 38 anos morreu na madrugada de ter�a-feira (25/4) ap�s ser submetida a uma cirurgia pl�stica no Instituto Mineiro de Obesidade (Instituto IMO). A auxiliar de enfermagem Gleyciane Alves Maciel Brito fez uma abdominoplastia e uma lipoaspira��o. Ambos os procedimentos est�o entre as cirurgias pl�sticas que lideram as opera��es no Brasil, que chegaram a quase 300 mil em 2020.

O m�dico que a operou j� foi indiciado pelo Minist�rio P�blico de Minas Gerais MPMG) pela morte de outra paciente, que tamb�m teve complica��es depois de passar por interven��es na mesma cl�nica. Esses dois casos n�o s�o isolados e, desde 2018, pelo menos mais seis mortes foram noticiadas nas mesmas condi��es em Belo Horizonte.

Gleyciane Alves Maciel Brito era casada e tinha dois filhos. Quem operou a mulher foi o m�dico cirurgi�o Lucas Mendes e esta n�o � a primeira vez que uma paciente morre por complica��es de cirurgias feitas por ele. Em 2021, Lidiane Aparecida Fernandes Oliveira, de 39, tamb�m morreu nas mesmas condi��es. Por causa disso, ele foi denunciado pelo MPMG.
 
Al�m de Gleyciane e Lidiane, desde 2018, pelo menos outras seis mulheres morreram em Belo Horizonte durante ou ap�s cirurgias pl�sticas. Esses foram os casos noticiados pela m�dia, entretanto, o n�mero pode ser maior, veja:

Confira mortes relacionadas a cirurgias pl�sticas em Belo Horizonte

  • ABRIL DE 2023
  • ABRIL DE 2022
J�lia Moraes Ferro, de 29,morreu depois de uma lipoaspira��o e implanta��o de pr�teses de silicone em uma cl�nica particular de Belo Horizonte.
  • DEZEMBRO DE 2021
Lidiane Aparecida Fernandes Oliveira, de 39, morreu ap�s fazer uma lipoaspira��o e abdominoplastia no Instituto Mineiro de Obesidade (Instituto IMO).
  • JUNHO DE 2021
Cl�udia Barbosa, de 49, morreu no Centro Cir�rgico Integrado, no Bairro Funcion�rios, ap�s realizar uma lipoaspira��o com abdominoplastia.
  • SETEMBRO DE 2020
Edisa Soloni, de 20, morreu depois de passar por tr�s cirurgias pl�sticas: remo��o de gordura, pele do abd�men, inser��o nos gl�teos e lipo na papada, na Cl�nica Bel�ssima, na Regi�o da Savassi.
  • JANEIRO DE 2020
Gisele Soares de Carvalho, de 39, morreu ap�s aplica��o de polimetilmetacrilato (PMMA) em uma cl�nica est�tica na Rua dos Tupis, no Centro da capital mineira.
  • DEZEMBRO DE 2019
Adriane Zulmira do Nascimento, de 48, morreu durante uma cirurgia para a redu��o da mama em uma cl�nica no Barro Preto, na Regi�o Centro-Sul de
Belo Horizonte.
  • OUTUBRO DE 2018
Renata Bretas, de 36, morreu ap�s colocar pr�tese de silicone e fazer lipoaspira��o nas axilas na cl�nica Forma, novamente na Regi�o Centro-Sul da capital mineira.
 
Fonte: Levantamento do EM com base em casos noticiados pela imprensa 
 
Segundo o IMO, Gleyciane foi submetida a uma cirurgia na segunda-feira e, durante a recupera��o, sofreu intercorr�ncias, sendo necess�rio lev�-la a um centro de terapia intensiva (CTI). Por�m, ela n�o resistiu e morreu na madrugada de ontem. Ainda de acordo com informa��es da equipe m�dica respons�vel pela cirurgia, a paciente tinha trombose e teria, inclusive, assinado um termo de risco cir�rgico que alerta para o risco de morte.
 
De acordo com o advogado do IMO, Matheus Dutra, o m�dico respons�vel pela cirurgia foi indiciado por homic�dio culposo, ainda n�o julgado, e nesses casos, n�o est� impedido de trabalhar.  “O hospital faz a checagem da documenta��o, libera��o e toda documenta��o do m�dico, a chamada certifica��o, para que possa permitir que ele fa�a uma cirurgia no IMO. Ele estava de acordo com a regulamenta��o”, diz o advogado da cl�nica.


Demanda crescente 

A busca por cirurgias pl�sticas no Brasil � crescente. Segundo dados de 2020 da Sociedade Internacional de Cirurgia Pl�stica Est�tica (International Society of Aesthetic Plastic Surgery, Isaps), o pa�s � vice-l�der mundial em cirurgia pl�stica, com 8,9% do total de procedimentos, perdendo apenas para os Estados Unidos, que fizeram 24,1%.
 
Em 2020, o Brasil registrou 1.306.962 interven��es cir�rgicas est�ticas e, dessas, 173.420 foram lipoaspira��es, a principal cirurgia no pa�s. A abdominoplastia aparece em quarto lugar, com 112.186 registros.  Al�m dessas, completam o top 5 o aumento de mama (172.485), a cirurgia de p�lpebra (143.037) e o levantamento de seios (105.641), segundo o Isaps.

Apesar do alto n�mero de opera��es, n�o � comum ver tantas complica��es noticiadas, embora elas existam. Segundo um estudo realizado pelo m�dico �rico Pampado Di Santis (“Mortes relacionadas � lipoaspira��o no Brasil entre 1987 e 2015”), publicado pela Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp), h� falhas no preenchimento em 93% das certid�es de �bito de pessoas que morreram ap�s se submeterem a cirurgia de lipoaspira��o. As falhas v�o de informa��es fora do padr�o(64%) e causas da morte indeterminada (29%).  O pesquisador analisou 102 casos que foram noticiados na imprensa brasileira, entre janeiro de 1987 e setembro de 2015, uma vez que n�o h� dados oficiais sobre mortes por cirurgias est�ticas no pa�s.


Profissional responde por homic�dio


A auxiliar de enfermagem n�o � a primeira paciente do m�dico Lucas Mendes que morre ap�s fazer abdominoplastia e lipoaspira��o. Em 7 de dezembro de 2021, Lidiane Aparecida Fernandes Oliveira morreu na mesma cl�nica ap�s realizar os procedimentos. A mulher, que tinha 39 anos, fez as cirurgias na manh� do dia anterior e, quando foi encaminhada ao quarto, come�ou a se queixar de dores e falta de ar.

A irm� da paciente acionou o bot�o de emerg�ncia do quarto e saiu para chamar socorro. Quando voltou, Lidiane j� estava desacordada. A equipe m�dica tentou fazer massagens para reanim�-la, e chamou o Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu). Quando a ambul�ncia chegou, a paciente foi intubada e levada para o Hospital Vera Cruz. Na institui��o, o procedimento de reanima��o continuou, mas sem sucesso. Ela morreu de embolia pulmonar.

Dois dias ap�s a morte, o corpo de Lidiane foi exumado.� �poca, a Pol�cia Civil de Minas Gerais afirmou que o procedimento “requerido como medida cautelar pela autoridade policial que preside o inqu�rito policial, integra as atividades de pol�cia judici�ria em andamento.”
 
Em 28 de abril de 2022, o m�dico foi indiciado por homic�dio culposo pela morte de Lidiane. Segundo a Pol�cia Civil, ap�s a exuma��o do corpo, a per�cia t�cnica afirmou que “houve inobserv�ncia de determina��o do Conselho Federal de Medicina (CFM)”. A investiga��o concluiu que o m�dico errou ao retirar, durante a lipoaspira��o, uma quantidade de gordura acima do recomendado pelo CFM. Em fun��o disso, a paciente teve uma anemia aguda, que causou a sua morte.

“Ap�s a exuma��o do corpo, a prova t�cnica apontou, atrav�s do m�dico legista, que houve uma retirada de volume de gordura em desacordo com o balizamento do Conselho Federal de Medicina. Nas palavras do m�dico legista ap�s o acesso � documenta��o m�dica da v�tima, ele afirma em seu laudo que houve a lipoaspira��o de 9.320 mililitros de gordura das �reas do abd�men, flancos, dorso, lombar, face interna da coxa, axila e t�rax, o que por si s� gera um pouco de estranheza por serem muitas �reas”, disse a delegada L�gia Mantovani, da 3ª Delegacia de Pol�cia Civil.

De acordo com a delegada, esse n�o � o procedimento padr�o nesse tipo de cirurgia pl�stica. “Esse � ponto-chave da per�cia, pois corresponde a 10,02% do peso corp�reo da paciente. Conforme a resolu��o do Conselho Federal de Medicina para este tipo de procedimento infiltrativo h� um limite de 7%”, explicou. Mendes ainda n�o foi julgado pela morte da paciente.

Em nota sobre o novo caso, o Conselho Regional de Medicina (CRM-MG) informou que vai instaurar os procedimentos administrativos necess�rios � apura��o dos fatos, mas que todas as den�ncias recebidas, formais e de of�cio, s�o apuradas de acordo com os tr�mites estabelecidos no C�digo de Processo �tico Profissional (CPEP), “tendo o m�dico amplo direito de defesa e ao contradit�rio. Em conformidade com o CPEP todos os processos correm sob sigilo”. A documenta��o do Instituto IMO junto ao Conselho est� regular. A Pol�cia Civil de Minas Gerais tamb�m instaurou um inqu�rito para investigar as causas da morte da paciente.


Saiba como minimizar os riscos


A morte de Gleyciane Alves liga o alerta para a necessidade de uma prepara��o detalhada antes de procedimentos cir�rgicos para reduzir riscos. De acordo com a especialista Aline Carvalho Dinali, cirurgi� pl�stica em Belo Horizonte e m�dica legista da Pol�cia Civil em Lavras, � necess�rio realizar exames com anteced�ncia para tra�ar o risco cir�rgico do paciente, preparar-se para a cirurgia com a ado��o de h�bitos saud�veis e manuten��o do peso ideal e ainda escolher um profissional qualificado.

De acordo com ela, a remo��o de gordura acumulada em diversas partes do corpo pode ser feita por meio da lipoaspira��o, isoladamente ou em conjunto com outras cirurgias pl�sticas, como a abdominoplastia ou a redu��o de mama. Ela ressalta, por�m, que os riscos dos procedimentos cir�rgicos aumentam � medida que o tempo cir�rgico aumenta. No caso espec�fico da pl�stica, a orienta��o � que o paciente esteja no peso ideal no momento do procedimento. “Quando a paciente est� no peso adequado, o procedimento cir�rgico fica menor e mais r�pido, diminuindo seus riscos”, afirma Dinali.

No caso de associa��o de cirurgias, explica, � preciso observar alguns aspectos:previs�o de tempo cir�rgico n�o muito extenso; previs�o de que a �rea operada n�o exceda os limites recomendados na literatura m�dica; associar procedimentos apenas para pacientes com peso adequado; evitar associa��o de procedimentos para pacientes n�o muito jovens e/ou que tenham alguma doen�a cr�nica”. Outros fatores como obesidade, tabagismo, sedentarismo, doen�as comuns como diabetes e hipertens�o podem, tamb�m, aumentar o risco cir�rgico de qualquer paciente. Mas s�o fatores que podem ser controlados antes da cirurgia, com a ado��o de h�bitos saud�veis e exerc�cios, ressalta.
Al�m das quest�es ligadas diretamente � sa�de do paciente, a escolha do m�dico � essencial.

A orienta��o � buscar um profissional com boa forma��o t�cnica, que se atualize com frequ�ncia e que esteja dispon�vel no p�s-operat�rio. Para Aline, a melhor forma de escolher um profissional � “a boa e velha indica��o”. “As pessoas devem conversar com os pacientes de um m�dico e perguntar como foi o atendimento, o tratamento e a aten��o recebida no p�s-operat�rio. Al�m disso � muito importante acessar o site do CRM (na se��o de “busca por m�dicos”) e conferir se o profissional tem sua especialidade ‘cirurgia pl�stica’ registrada. Caso n�o conste no registro do CRM a especialidade do m�dico, o paciente deve desconfiar”, orienta.


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