Esgoto e descargas industriais envenenam a Bacia do Rio Par�
Produtos t�xicos como alum�nio, chumbo, cianeto e fen�is foram encontrados em afluentes do rio. Expedi��o busca solu��es compartilhadas por estado e munic�pios
Carmo do Cajuru, Divin�polis, Igaratinga, Par� de Minas e S�o Gon�alo do Par� – Metais pesados e t�xicos que envenenam lentamente as �guas, as pessoas e o meio ambiente. A polui��o dos afluentes do Rio Par� ultrapassa velhas pr�ticas de despejo de esgoto familiar ainda na zona de “inoc�ncia e tradi��o”. O entendimento de que o manancial seja a soma dos afluentes da bacia – apesar de ter tamb�m nascentes pr�prias –, no caso do Rio Par� indica severo envenenamento por atividades industriais. De acordo com o Monitoramento da Qualidade das �guas Superficiais do Instituto Mineiro de Gest�o das �guas (Igam) feito no segundo semestre de 2022, foram encontradas viola��es de par�metros para concentra��es nocivas de alum�nio, chumbo, cianeto e fen�is, al�m de esgoto (confira o quadro).
Pescador se arrisca �s margens do afluente Rio S�o Jo�o, que apresenta n�veis cr�ticos de contamina��o por alum�nio, especialmente entre os munic�pios de Concei��o do Par� e Pitangui
(foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Um grito de socorro que a "Expedi��o Rio Par� 2023 – 'Esse rio � meu'", promovida pelo Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio Par� (CBH Rio Par�) pretende ecoar nessa por��o de 35 munic�pios mineiros, mostrando a��es de conserva��o, reconhecimento e conscientiza��o entre hoje (8/5), quando a miss�o � chegar at� a nascente do curso d'�gua principal, em Resende Costa, nos Campos das Vertentes, e o dia 19, quando se chega � foz, entre Matinho Campos e Pomp�u, no Centro-Oeste.
Trinta esta��es de monitoramento que emitiram relat�rios para o Igam sobre o rio principal (seis pontos) e em seus afluentes (24 pontos). Dessas, 23 (56 amostras) apresentaram poluentes acima dos n�veis mais cr�ticos da legisla��o nacional estabelecida pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que � a classe 3 de �guas, enquanto 25 esta��es (87 amostragens) estavam dentro desse patamar limite, no qual n�o pode haver contato humano mais do que espor�dico e breve, sob risco de provocar danos � sa�de.
O pior afluente do Rio Par� � o C�rrego Buriti ou Pinto, que flui pelo territ�rio de S�o Gon�alo do Par�, recebendo descargas industriais t�xicas de chumbo, fen�is e ferro acima dos �ndices da classe 3. Ao todo, o curso d'�gua estreito e r�pido que corta a cidade e o campo em dire��o ao Rio Par� concentrou sete viola��es de par�metros acima da classe 3 e quatro dentro desse �ndice.
Bacia polu�da
ALTO RISCO
Os mais t�xicos s�o o chumbo, o cianeto e os fen�is. Segundo a Ag�ncia Internacional de Pesquisa sobre o C�ncer (IARC), as altas concentra��es de chumbo s�o de potencial cancer�geno, podendo trazer tamb�m para os organismos humanos quadros de anemia, desregulagem hormonal, fadiga, dor muscular e nas articula��es, perturba��es gastrointestinais, aborto, dist�rbios neurol�gicos, infertilidade, interrup��o do crescimento e dificuldades de aprendizagem.
Vista do C�rrego Buriti, afluente do Rio Par� em pior situa��o quanto � polui��o: monitoramento apontou sete pontos com par�metros acima da classe 3, que j� � cr�tica
(foto: Mateus Parreiras/EM/D.A Press
)
O cianeto pode danificar o sistema nervoso, respirat�rio, cardiovascular, renal e provocar tamb�m c�ncer e morte, segundo informa��es da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS). J� os fen�is s�o compostos qu�micos t�xicos que podem causar irrita��o na pele, nos olhos e nas mucosas, al�m de afetar o sistema respirat�rio e o sistema nervoso central, segundo o Minist�rio da Sa�de. O hist�rico de laudos do Igam indica que a polui��o do curso d'�gua � parte dos "impactos negativos dos lan�amentos de esgotos e res�duos industriais, sobretudo provenientes de curtumes na regi�o".
Moradores de S�o Gon�alo do Par� consideram o c�rrego morto. "O c�rrego tem muita polui��o que leva embora da nossa cidade para o Rio Par�. N�o d� nem para pensar em pescar aqui, at� porque n�o tem peixes, s� no Rio Par� ou na Lagoa da Bagagem. Cai muito esgoto e restos das ind�strias no c�rrego. Se a expedi��o conseguir ajudar a despoluir, vai ser muito bom para termos peixes mais saud�veis e rios mais limpos", afirma o ceramista Andr� Natalino Ferreira, de 33 anos.
Mas h� outros afluentes do Rio Par� em situa��o extremamente delicada dos pontos de vista ambiental e sanit�rio. O Rio S�o Jo�o, que � um dos principais afluentes, sofre com altas concentra��es de alum�nio sobretudo entre Concei��o do Par� e Pitangui. O consumo dessa �gua e at� mesmo o contato prolongado com ela podem provocar inflama��es, doen�as pulmonares e at� Mal de Alzheimer, segundo informa��es do Minist�rio da Sa�de. As prov�veis fontes s�o a ind�stria, minera��o e deposi��o incorreta de lixo.
Situa��o semelhante � a dos rios Lambari, em Pedra do Indai�, que sofre com o cianeto livre nas suas �guas, e o Rio do Peixe, onde as altas concentra��es de mangan�s preocupam. Um dos mais importantes afluentes, o Rio Itapecerica, com foz em Divin�polis, tem cargas anormais de f�sforo. O cianeto tem potencial de danificar o sistema nervoso, respirat�rio, cardiovascular, renal e pode provocar c�ncer e morte segundo a OMS. A organiza��o tem estudos que mostram tamb�m que o mangan�s pode causar problemas especialmente em crian�as, afetando o sistema nervoso e causando danos cerebrais. J� o f�sforo se trata de res�duos de esgotos dom�sticos e agricultura que piora a qualidade da �gua para consumo humano e a vida aqu�tica, segundo a mesma fonte.
Expedi��o tenta unir esfor�os para salvar a bacia
O presidente do CBH Rio Par�, Jos� Hermano Oliveira Franco, considera que os afluentes s�o mais do que a somat�ria que resulta no rio. “O rio � um reflexo das pessoas que est�o em volta dele. � preciso ajuda e incentivo do estado, mas mais do que isso � preciso ter uma vontade dos munic�pios de ter um rio bom. Afluentes como o Itapecerica, S�o Jo�o e Buriti correm por cidades que t�m licenciamento pr�prio, como Ita�na e Divin�polis. O que queremos � que o comit� e esse momento da expedi��o sirvam como espa�o de media��o e uni�o de esfor�os do estado, do munic�pio e da sociedade pelo rio”, afirma.
O representante do CBH Rio Par� encara o momento da expedi��o como fundamental para atrair esfor�os como uma nova alian�a pela bacia hidrogr�fica. “Na expedi��o, vamos difundir mais essas ideias. Acabamos de aprovar o plano de educa��o ambiental para a bacia. � preciso ter essa educa��o, al�m das a��es pr�ticas que tamb�m temos como cercamento (de nascentes), plantio (de �rvores em �reas degradadas, de recarga e mata ciliar), propostas e planos de saneamento. Fizemos agora o enquadramento (defini��o de objetivos de m�ltiplos usos e estado de qualidade e quantidade da �gua de um manancial) e reclassificamos os corpos d'�gua da bacia, o que impacta positivamente nos planejamentos, mas contamos com a ajuda de todos”, afirma Franco.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent�vel (Semad), informa que desde 2016 foram realizadas 545 fiscaliza��es de atividades potencialmente poluidoras, englobando atividades industriais, minera��o, tratamento e destina��o de esgoto e res�duos, entre outras, na Bacia do Rio Par� e que conta tamb�m com den�ncias al�m de se nortear pelos par�metros das esta��es de coleta de amostras de qualidade da �gua dos rios e c�rregos. (MP)