
Enquanto os moradores de Belo Horizonte pagam a passagem de �nibus mais cara entre as capitais brasileiras, Ibirit�, na Regi�o Metropolitana de BH, zerou a tarifa do transporte municipal em janeiro de 2023 e viu a demanda dobrar em menos de tr�s meses: os 170 mil passageiros transportados no primeiro m�s saltaram para 350 mil em mar�o.
A cidade de 180 mil habitantes � a maior de Minas Gerais a fornecer transporte gratuito para toda a popula��o. Antes, os ibiritenenses precisavam desembolsar R$ 5,30 para se deslocar dentro do munic�pio. Desde 29 de janeiro, as catracas est�o destravadas e servem apenas para contar o n�mero de passageiros.
"A tarifa zero ajuda muita gente. A gente via as pessoas indo para o m�dico no sol quente com menino pequeno porque n�o tinham condi��es de pegar �nibus", contou ao Estado de Minas a dom�stica Vanusa Gon�alves Costa, enquanto esperava pela Linha 1021 (Terminal/S�o Pedro/Recanto Verde).
Mais dinheiro no com�rcio
Vanusa usa o servi�o de �nibus diariamente. Assim como outros trabalhadores de Ibirit�, ela n�o recebe vale-transporte desde que as catracas foram liberadas. "A gente cr� que isso ajuda na economia da empresa, porque ela pode contratar mais funcion�rios com menos custos", comenta Rodrigo Val�, chefe da Divis�o de Transportes da Ibiritrans, �rg�o que gerencia o transporte municipal da cidade.
Alguns profissionais aut�nomos dizem sentir esse al�vio nas despesas, como Josy Silva, dona de um box de roupas infantis. Ela economiza cerca de R$ 300 por m�s desde que come�ou a tarifa zero. "� um al�vio, porque eu uso esse dinheiro para comprar mais mercadorias e crescer a loja."
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A comerciante usa a Linha 1031 (Terminal/Bosque/Durval de Barros) diariamente e cobra da prefeitura um aumento no n�mero de viagens. Aos s�bados, Josy precisa fechar o ponto mais cedo do que as lojas vizinhas, que encerram �s 16h. "O �nibus passa aqui �s 15h20 e depois s� �s 17h10. Ent�o, no s�bado eu fecho mais cedo, �s 15h. Eu posso ir embora a p�, s� que a� vou gastar mais tempo."

Quem paga a conta da tarifa zero?
A Prefeitura de Ibirit� acredita que, com o tempo, a tarifa zero deva diminuir os custos dos comerciantes e aumentar a circula��o de dinheiro dentro do munic�pio, defende Rodrigo Val�. "Hoje, os moradores pensam duas vezes antes de sair da cidade para fazer compras"."� um al�vio, porque eu uso esse dinheiro para comprar mais mercadorias e crescer a loja"
Josy Silva, dona de loja de roupas
Se o com�rcio local vende mais, a arrecada��o de impostos aumenta, o que ajuda a bancar a tarifa zero, custeada inteiramente com recursos da prefeitura. "D� em torno de 1,5% da arrecada��o do munic�pio", explica.
Cerca de metade do custo da opera��o dos �nibus � pago com valores que, anteriormente, iam para o vale-transporte dos servidores municipais. "A prefeitura gastava em torno de R$ 370 mil por m�s com servidores."
Frota e custo por quil�metro rodado
S�o repassados mensalmente para a empresa operadora do sistema cerca de R$ 650 mil, aproximadamente R$ 5 por quil�metro rodado. Os 23 carros das 11 linhas da cidade rodam em torno de 135 mil quil�metros por m�s.O tamanho da frota e o quantitativo de viagens n�o acompanharam o crescimento da demanda, duas vezes maior do que antes da tarifa zero. Entre as principais reclama��es que colhemos com moradores da cidade est�o a lota��o dos ve�culos e a pouca quantidade de hor�rios.
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Segundo Rodrigo Val�, a situa��o deve melhorar com a entrada de dois novos �nibus em opera��o no pr�ximo dia 16, e nos pr�ximos meses devem chegar mais. "[A prioridade] � a implanta��o de novos hor�rios para diminuir a lota��o dentro dos ve�culos."
No caminho de outras cidades
Ibirit� � a segunda maior cidade do Brasil a adotar a tarifa zero no transporte coletivo - a maior � Caucaia (CE), com 368 mil habitantes. Levantamento do movimento Tarifa Zero BH mostra que 70 cidades brasileiras liberaram as roletas dos �nibus, a maioria com at� 100 mil habitantes.Outro levantamento, desta vez da Associa��o Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), identificou que 60 cidades, 18 delas capitais, t�m algum n�vel de subs�dio definitivo nos seus sistemas de transporte.

Francisco Christovan, presidente da associa��o, explica que cidades menores t�m mais facilidade para custear o transporte municipal, pois, geralmente, possuem redes de linhas mais enxutas, com frota menor e custo operacional mais baixo.
"Cidades que t�m espa�o or�ament�rio, ou alguma fonte de receita extraordin�ria, conseguem cumprir com todas as obriga��es na �rea da sa�de, da educa��o, da seguran�a, da zeladoria, e ainda sobra dinheiro para pagar o custo do transporte sem que o passageiro tenha que arcar com a tarifa", afirma.
Entre os munic�pios com fontes de receitas extraordin�rias que implementaram tarifa zero, Christovam cita os exemplos de Maric�, no litoral fluminense, que recebe royalties pela explora��o de petr�leo, e Paranagu�, no litoral paranaense, que recolhe tributos pela opera��o do porto da cidade.
Tarifa zero nos �nibus de cidades mineiras
Em Minas Gerais, 14 cidades fora da Regi�o Metropolitana de BH zeraram a tarifa do transporte municipal. S�o elas: Abaet�, Arceburgo, Arcos, Campo Belo, Cl�udio, Lagoa da Prata, Mariana, Monte Carmelo, Muzambinho, Ouro Branco, Pirapora, Santana do Deserto, S�o Jos� da Barra e S�o Louren�o, segundo o Tarifa Zero BH.Na regi�o metropolitana, a primeira foi Itatiaiu�u, em 2015. Em seguida, Caet�, em 2021. Dados de abril de 2023 mostram que a frota de oito �nibus da cidade transportou 83 mil passageiros e percorreu 26,5 mil quil�metros. O custo foi de R$ 243 mil, cerca de R$ 9 por quil�metro.
"Cidades que t�m espa�o or�ament�rio ou alguma fonte de receita extraordin�ria, conseguem cumprir com todas as obriga��es para pagar o custo do transporte sem que o passageiro tenha que arcar com a tarifa"
Francisco Christovan, presidente da Associa��o Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU)
Ainda em 2021, S�o Joaquim de Bicas implantou o chamado "Expressinho 0800". Os sete �nibus da cidade transportam mensalmente cerca de 60 mil passageiros ao longo de 25 mil quil�metros. O custo � de R$ 250 mil mensais, aproximadamente R$ 10 por quil�metro.
Mudan�as no transporte de BH
Desde abril de 2023, Belo Horizonte garante gratuidade para os usu�rios das linhas de vilas e favelas. A iniciativa foi acordada entre a Prefeitura e as empresas de �nibus ap�s o aumento de 33% na passagem, que passou de R$ 4,50 para R$ 6. At� mar�o, parte da tarifa era subsidiada. Enquanto o repasse n�o volta, o valor � custeado inteiramente pelos passageiros.O movimento Tarifa Zero BH, que defende um sistema de mobilidade urbana livre de catracas, deve apresentar nos pr�ximos meses um projeto de lei para zerar a tarifa na cidade. Para financiar o sistema, Andr� Veloso, integrante do movimento, cita como exemplo a iniciativa adotada em Vargem Grande Paulista (SP), que liberou as catracas dos �nibus em 2019. Cerca de 70% dos custos s�o bancados por uma taxa cobrada mensalmente das empresas da cidade, no valor de R$ 40 por funcion�rio.
"O que a gente defende � um Sistema �nico de Mobilidade com recursos da Uni�o, dos estados e dos munic�pios, e gest�o compartilhada destes tr�s entes federativos. Assim voc� consegue implantar a tarifa zero em todos os munic�pios, naqueles com baixa capacidade or�ament�ria e naqueles com alta capacidade or�ament�ria, assim como � o SUS."