
Entre as mais recentes est� a cria��o de um c�digo de vestimenta para que moradores sejam atendidos na administra��o do pr�dio. Desde dezembro do ano passado, um recado colado na parede do edif�cio avisa: "Se o senhor quiser ser atendido na administra��o, dever� comparecer com vestimentas adequadas ao ambiente de trabalho". Chinelo e bermuda est�o, portanto, descartados.
Paralelamente, ela conseguiu aprovar na assembleia de 2020 que qualquer cond�mino que queira concorrer contra sua administra��o dever� apresentar um cheque cau��o de R$ 4 milh�es. "Isso � um absurdo e completamente ilegal. A lei exige que a pessoa pode se candidatar, seja cond�mino ou n�o. Eu nunca vi um cau��o para ser s�ndico, isso � afrontoso", diz K�nio Pereira, advogado especializado em direito imobili�rio.
O edif�cio
O edif�cio JK foi projetado por Oscar Niemeyer e encomendado no in�cio da d�cada de 1950 pelo ent�o governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek. As obras, por�m, s� ficaram prontas na d�cada de 1970.
O edif�cio tem quase 1.100 apartamentos, de 13 plantas, distribu�dos em dois blocos, um de 23 andares e outro de 36. Ele � hoje o segundo maior de Belo Horizonte, com 118 metros.
Tamb�m h� lojas no pilotis do pr�dio. Seu projeto inicial previa ainda a constru��o de um teatro e um museu na mesma �rea — o primeiro foi vendido � Igreja Universal, e o segundo nunca saiu do papel.
Uma das principais ideias de Niemeyer ao projetar o pr�dio era que sua estrutura incentivasse o contato entre os moradores. Mas hoje a quadra e o parquinho do pr�dio est�o fechados. "Al�m disso, o sal�o de festas � bizarro de horroroso; coitado do Niemeyer se ele visse isso", diz Nara Freire, 40, arquiteta e moradora do JK desde 2020.
S�rgio Hirle, 65, que mora h� 41 anos no edif�cio, concorda: "As �reas comuns est�o muito abandonadas, com sujeira de p� de asfalto, que vira lodo. J� o playground n�o d� nem para levar crian�as. Fico envergonhado quando emissoras de televis�o fazem imagens daqui", afirma.
O conv�vio � garantido apenas pelos bingos e novenas, realizados periodicamente pelos moradores mais velhos.
Nos corredores, h� muitas conversas sobre a s�ndica, que tem cerca de 80 anos. Segundo os moradores ouvidos pela reportagem, Maria das Gra�as vence a maioria das elei��es por meio de procura��es de outros cond�minos.
A ata da assembleia de 2020, por exemplo, diz que a atual s�ndica havia entregue dois pacotes de procura��o - o documento n�o detalhou quantas eram. A reuni�o aconteceu �s 14h de uma quarta-feira de novembro, em um clube pr�ximo ao edif�cio, e todas as vota��es, segundo os presentes, foram por ova��o.
"Essas procura��es s�o de pessoas que t�m muitos apartamentos no edif�cio. Ela diz ter 300, ent�o nem adianta irmos � reuni�o de condom�nio", diz Telismar Cardoso de Carvalho, 77, morador do JK h� 22 anos.
Desde 2013, as reuni�es s�o presididas por �rcio Quaresma, um dos principais criminalistas do estado e ex-advogado do goleiro Bruno Fernandes. Ele afirma que uma comiss�o eleitoral fiscaliza as procura��es. "Se houvesse qualquer impugna��o, isso deveria ser feito na hora ou a posteriori atrav�s de medida judicial. Se n�o o fez, reclamar � imprensa qualquer um pode", diz.
Um grupo de oposi��o � s�ndica chegou a solicitar na Justi�a a anula��o da assembleia, mas o pedido foi negado.
A Folha ligou oito vezes para a administra��o do pr�dio, tentando agendar uma entrevista com a s�ndica. Na maioria delas, a reportagem foi orientada a ligar mais tarde ou a enviar e-mails e, na �ltima, um profissional se irritou e desligou o telefone.
O edif�cio JK foi tombado pela Prefeitura de Belo Horizonte no ano passado. Mesmo assim, a administra��o municipal e o Minist�rio P�blico n�o podem intervir em assuntos internos do condom�nio, segundo K�nio Pereira.
A pr�xima elei��o de s�ndico deve ocorrer no ano que vem, mas nada indica que Maria das Gra�as largar� o posto. Em uma das raras entrevistas que deu � imprensa, ela disse a um jornal local, em 2016, que o JK � sua vida. "Quando eu encontrar algu�m que esteja disposto a fazer o que eu fa�o por esse lugar, terei um sucessor", afirmou.