Serra do Cip�: o tr�fego pesado que est� infernizando o para�so ecol�gico
Em uma das principais atra��es do estado, tr�nsito cada vez maior de carretas em vias estreitas danifica piso e trava fluxo. Limite de cargas ter� trecho curto
Santana do Riacho - O tr�fego pesado e crescente pelas vias estreitas da rodovia MG-010, entre Lagoa Santa e Concei��o do Mato Dentro, na Regi�o Central de Minas, trouxe impactos cada vez maiores que deixam em alerta o poder p�blico e a comunidade.
A circula��o de carretas pesadas j� est� abrindo rombos no pavimento e esburacando o cal�amento, sobretudo na Serra do Cip�, um dos destinos tur�sticos e ecol�gicos mais apreciados pelos mineiros. E pelo menos um primeiro movimento j� � anunciado para tentar estabelecer controle sobre o transporte de cargas na regi�o, embora haja press�o por medidas mais efetivas.
Muitos ve�culos n�o usam prote��es adequadas e lan�am nuvens de poeira e fragmentos de suas cargas enquanto atravessam a comunidade, passando pelo Parque Nacional da Serra do Cip�, que � uma �rea de conserva��o protegida, mas tamb�m tirando o sossego dos donos e frequentadores de pousadas e restaurantes.
Vaiv�m de ve�culos de carga vem aumentando em acessos a pontos tur�sticos, como a est�tua do Juquinha (foto: Fotos: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
O Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) informa que vai limitar o transporte de cargas no trecho ao m�ximo de 24 toneladas e que j� instalou placas – atualmente cobertas por pl�sticos pretos aguardando que a medida comece a vigorar oficialmente. Mas vem ganhando for�a a ideia de se criar um contorno rodovi�rio que possa desviar o tr�fego pesado.
Isso porque o tr�fego pesado representa tamb�m problemas extras. Encontros entre carretas pesadas em sentidos opostos, por exemplo, n�o permitem a passagem simult�nea dos dois ve�culos. Quando os condutores desses ve�culos de carga conseguem ver, das curvas fechadas, que h� outro caminh�o em dire��o contr�ria, � comum que parem junto dos pared�es ou na beira de precip�cios para dar passagem.
Mas, quando isso n�o ocorre, caminhoneiros se veem �s voltas com situa��es que exigem muitas manobras e represam fileiras de outros ve�culos nos dois sentidos, at� que um deles consiga passar. Isso, quando n�o “atropelam” prote��es laterais (guard rails), valetas de drenagem ou amassam as laterais uns dos outros.
Tanto a subida quanto a descida da parte mais �ngreme da Serra do Cip�, na liga��o com o alto ap�s mirante, � feita lentamente por esses grandes ve�culos de carga. Uma situa��o que leva motoristas de muitos carros mais �geis a tentar ultrapassagens arriscadas, sem espa�o e visibilidade.
No dia 8 deste m�s, uma carreta ba� ficou presa nas curvas sinuosas da subida entre a Serra do Cip� e Concei��o do Mato Dentro, pr�ximo aos mirantes, no sentido Chap�u do Sol. Foi necess�rio acionar um guincho para liberar os dois sentidos da via, removendo o obst�culo. O trecho � um dos mais propensos a quebras de ve�culos de carga, por se tratar de uma subida muito forte, que exigente bastante de caminh�es muitas vezes velhos ou sem manuten��o em dia.
De acordo com a Prefeitura de Santana do Riacho, o pedido de limita��o de cargas a 24 toneladas foi feito junto ao DER-MG em notifica��o enviada ao �rg�o, que pediu prazo de 90 dias para adotar as medidas necess�rias. Mas o prazo j� acabou e nada ainda foi feito.
Alta velocidade � risco na volta
Se por um lado os ve�culos carregados trazem problemas como danos �s pistas e cargas sendo derramadas pelo caminho, quando caminh�es e carretas est�o vazios o perigo � a alta velocidade. A reportagem do Estado de Minas flagrou um ve�culo de transporte de carga se deslocando a 119 km/h em trecho onde a velocidade limite � de 60km/h e n�o h� acostamento. Da carroceria se desprendia uma fina poeira branca, deixando um rastro pela estrada.
A alta velocidade gera perigos de acidentes, al�m de configurar desrespeito ao C�digo Brasileiro de Tr�nsito. Infra��o que � grave quando a velocidade � superior � m�xima fixada em mais de 20% at� 50%. A multa � de R$ 195,23, mais 5 pontos na carteira. Quando a velocidade � superior � m�xima em mais de 50%, a infra��o � grav�ssima, a multa � de R$ 880,41 e representa 7 pontos no prontu�rio, com risco de suspens�o do direito de dirigir.
Conflito com setor tur�stico
O ambulante Samuel Fernandes de Ara�jo, de 54 anos, viu o movimento da sua barraquinha de sucos, lanches e quitutes mineiros no mirante da MG-010 aumentar, junto com o tr�fego pesado. “Muitos caminhoneiros param, compram, s�o nossos clientes. Mas a gente sabe que tem de preservar a estrada, que � muito estreita e n�o foi projetada para receber tanto caminh�o. S�o muito lentos na subida, de fazer as pessoas perderem meia hora subindo. Muitos motoristas se arriscam na contram�o. Um perigo mesmo, sem falar que arrebenta com o pavimento todo”, disse.
Turista de Lagoa Santa, a aposentada Raimunda da Concei��o Alves, de 63, se disse encantada pelas belezas c�nicas da Serra do Cip�, onde se sente “mais pr�xima de Deus”, mas tamb�m reclamou do tr�fego pesado. “As vias aqui s�o muito estreitas, mal passam dois carros pequenos dos dois lados sem deixar a gente assustada, com medo de bater. Imagina quando passam esses caminh�es uns com a roda mais alta que o carro da gente?... N�o faz bem para a visita na Serra, destr�i a estrada que est� esburacada, aqui n�o � lugar disso”, criticou.
Administrador de um restaurante que � vizinho ao monumento do Juquinha, Dilceu Moreira da Silva afirma que n�o basta p�r placas e fazer opera��es de inspe��o. “Ser� preciso ter balan�as para saber se h� excesso de peso. Fraudar documentos de cargas n�o � uma coisa que come�ou ontem. E outra, se n�o mudar a rota, a carga que antes vinha em um caminh�o vai come�ar a vir em tr�s e isso traz ainda mais transtornos para o turismo e para a conserva��o da estrada”, salienta.
Pistas que mal comportam carros de passeio recebem ve�culos de grande porte que n�o raro interrompem todo o fluxo na rodovia
Para caminhoneiros, reflexo do progresso
Se o novo limite de peso para transporte de cargas pela Serra do Cip� j� estivesse em vigor, o caminhoneiro Deiwson Campos, de 54 anos, n�o poderia seguir para Concei��o do Mato Dentro pela MG-010, pois as pedras brutas que levava desde Sete Lagoas somavam 26.900 quilos. “A gente precisa aproveitar e transportar o quanto conseguir, sen�o, n�o compensa”, afirma.
Segundo ele, que tem 36 anos de profiss�o, o tr�fego intenso de ve�culos pesados � fruto do crescimento que Concei��o do Mato Dentro experimenta. “J� tem at� shopping center na cidade. Como � que se freia o progresso? Para mim, trafegar nesta estrada � ruim tamb�m: muito estreita, espremida entre os carros pequenos”, destaca.
Se nas entregas o problema � o peso e a lentid�o das carretas, no retorno o risco � a alta velocidade, �s vezes o dobro da permitida
E se para os turistas o transporte de carga � um tormento, para os transportadores o turismo � um transtorno. “O volume de ve�culos nas v�speras de feriados e fins de semana tamb�m complica tudo. Al�m disso, passar com a carreta nesses cal�amentos de paralelep�pedos corta os pneus. Cada pneu para trocar sai a R$ 15 mil”, queixa-se.
O mesmo argumenta o caminhoneiro Nelson Caetano, de 58 anos, 38 deles na estrada. “A gente transporta o que as cidades precisam para sobreviver. Com o frete baixo, n�o vale a pena transportar menos de 26 toneladas, no meu caso, mas acho que isso se resolveria pavimentando a subida de bloquetes da Serra do Cip�. Aquilo ali como est� vai sempre ser esburacado, n�o aguenta o peso, nem de menos de 24 toneladas, imagina com chuva?”
Placas instaladas pelo DER indicando a limita��o de peso em parte do percurso est�o cobertas at� que a sinaliza��o esteja completa
Multas depois da sinaliza��o
Apesar dos argumentos dos caminhoneiros, o DER entende que, para preservar a qualidade da MG-010, evitando um desgaste acelerado do pavimento provocado por ve�culos de carga, � necess�rio disciplinar e limitar o tr�fego de caminh�es de grande porte na rodovia, no segmento da Serra do Cip� compreendido entre os quil�metros 99 e 105. “O limite de carga inicialmente aprovado pelo DER-MG � de at� 24 toneladas, e a sinaliza��o est� em fase de implanta��o. Enquanto toda ela n�o estiver implantada, as placas de limite de carga ficar�o cobertas com pl�stico preto”, informou. Sinalizado todo o trecho, o departamento e a Pol�cia Militar Rodovi�ria v�o fiscalizar o tr�fego na rodovia e autuar os ve�culos que estejam trafegando de forma irregular.
Sobre as melhorias no trecho, o DER informa que est� executando servi�os de recupera��o da MG-010 entre Santana do Riacho e Concei��o do Mato Dentro e promovendo opera��es tapa-buracos. “Est�o programados, tamb�m, os servi�os de confec��o pontual do cal�amento e recupera��o de duas eros�es de bordo no Km 107, causadas pelas chuvas. A previs�o � de que at� o fim deste m�s os trabalhos sejam conclu�dos”, informa o DER-MG.
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