
Em outras cidades de Minas j� existem leis que impedem a utiliza��o dos produtos e a ado��o de canudos biodegrad�veis. Em Contagem, na grande BH, restaurantes, lanchonetes, bares e vendedores ambulantes s�o proibidos de usar ou fornecer canudos de pl�stico desde julho de 2019, ap�s o prefeito sancionar o texto aprovado na C�mara Municipal. Juiz de Fora, na Zona da Mata, tamb�m aprovou, no mesmo ano, uma lei impedindo o fornecimento do produto em hot�is, restaurantes, bares, padarias, por vendedores ambulantes, al�m de outros estabelecimentos comerciais.
Na cidade de S�o Paulo, uma lei publicada em julho de 2021 prev� multa de at� R$ 8 mil ou interdi��o de estabelecimentos que comercializarem canudos de pl�stico. No estado, a distribui��o dos produtos � proibida desde julho de 2019. O Rio de Janeiro foi a primeira cidade no Brasil a proibir, em 5 de julho de 2018, a circula��o dos canudos pl�sticos. L� a multa em caso de descumprimento � de at� R$ 3 mil.
Perigo do micropl�stico
A principal preocupa��o com o uso dos canudos � o impacto ambiental gerado por eles. A bi�loga e professora da UNA, Fernanda Raggi Grossi, explica que os pl�sticos s�o feitos de um material chamado polipropileno. Segundo ela, esse material demora cerca de 200 anos para se decompor.
Al�m da quest�o do tempo, os produtos n�o se acumulam apenas nos lix�es, ficando restritos ao solo. Eles tamb�m s�o levados pela chuva ou vento e acabam se acumulando no ambiente aqu�tico. “Principalmente em cidades litor�neas. Quando cai no mar, o pl�stico se transforma em micro pl�stico.” De acordo com ela, o res�duo seria um fragmento do pl�stico.
“O pl�stico que sai da nossa mesa ou dos bares vai direto para os lix�es. Se tem algum problema com chuva, alagamento, enchentes, ele vai parar nas lagoas e nos mares. Em contato com a �gua, esse pl�stico se degrada, mas n�o de forma biol�gica e sim artificial”, explica. O processo de degrada��o, segundo ela, � o material se desfazer em pequenas part�culas. Este desgaste da estrutura industrial ocorre por a��o do sol ou da �gua, por exemplo.
O micro pl�stico � uma pequena part�cula de pl�stico. Ele � o principal poluente, atualmente, de lagoas e oceanos. As part�culas podem ter de 1 a 5 mm. A professora afirma que o problema � a quantidade do produto que chega ao meio ambiente. “Se esses materiais de pl�stico fossem totalmente reciclados n�o haveria problema. Mas, n�o tem como reciclar um canudo, por exemplo.”
Ela diz que o volume individual � t�o pequeno que n�o h� interesse comercial. Assim, os canudos acabam indo direto para o lixo ou parando no fundo de lagoas e oceanos.
“Se h� descarte regular, ele � reciclado. Mas a maioria das pessoas e dos estabelecimentos acaba jogando junto com o lixo comum.” Outro problema elencado pela professora � o descarte industrial dos canudos.
“Em muitos casos, as ind�strias t�m o processo de gest�o da qualidade. Se o produto n�o passa no teste de qualidade (mesmo tamanho ou padr�o), muitas vezes ele tamb�m � descartado de forma incorreta”, destaca.
Impactos e alternativas
O micro pl�stico que chega ao meio ambiente se acumula no organismo dos animais. “Eles acabam absorvendo esse material com a �gua ou acreditando que � algum tipo de alimento. Isso gera uma mortandade em grande escala.”
A professora cita um estudo da Organiza��o Internacional de Conserva��o dos Oceanos mostrando que um Kg de pl�stico leva � morte de um Kg de peixe no mar. Em lagoas, a propor��o � de um Kg do produto para ½ Kg de peixes. “Os peixes de lagoa acabam n�o identificando o material que se deposita no fundo. No mar com a mar� e a movimenta��o, ele percorre grandes dist�ncias”, explica.
Uma alternativa para substituir o pl�stico seriam os canudos de papel, feitos de material biodegrad�vel. “O papel para a fabrica��o desses produtos � feito de fibra de celulose e se dissolve muito r�pido”, diz. Segundo Fernanda, ele se dissolve completamente e n�o gera impactos ao meio ambiente.
Ela refor�a que, apesar disso, o papel biodegrad�vel que se dissolve mais r�pido tem um custo maior. “Na fabrica��o � acrescentado amido de milho ou caldo de cana. Os dois componentes atraem bact�rias que se alimentam e degradam a estrutura de celulose do canudo. Por isso ele � mais caro”, ressalta.
A professora afirma que outros tipos de papel, mais baratos, n�o se dissolvem t�o r�pido. Por�m, ainda assim, demoram menos tempo para se decompor que os de pl�stico. O pl�stico demora cerca de 200 anos, j� o papel entre um e dois anos e meio.
Ela cita outros materiais como vidro, metal e bambu. Por�m, para estabelecimentos que atendem um grande n�mero de pessoas, eles n�o seriam funcionais. “D� um trabalho maior para higieniz�-los. E os de bambu tamb�m tem funcionalidade mais complexa.”
Iniciativa sustent�vel
Apesar de ainda n�o haver proibi��o na capital, em alguns estabelecimentos comerciais os canudos de pl�stico j� foram substitu�dos por alternativas mais sustent�veis. Redes de fast food, como Mcdonald's e Subway, adotam os canudos de papel biodegrad�vel. J� o bar Redentor, localizado na Savassi, usa canudos de macarr�o grano duro. De acordo com a professora, o produto foi escolhido por n�o alterar o sabor da bebida, ao contr�rio dos de papel. Ap�s o uso, os produtos viram adubo.
As duas unidades do restaurante N�ctar da Serra, na Savassi e no Bairro Mangabeiras, usam desde 2019 canudos biodegrad�veis � base de milho. “Tentamos ser o mais ecol�gicos poss�veis. Tudo que vejo que tem de inova��o, conseguimos e colocamos em pr�tica”, afirma a propriet�ria J�nia Quick. Ela conta que pesquisa at� encontrar alternativas mais sustent�veis. “Existem canudos biodegrad�veis, mas que v�m em uma embalagem de pl�stico.” J� os adotados pelo restaurante t�m uma embalagem de papel.

Os canudos biodegrad�veis s�o mais caros que os de pl�stico, apesar disso, a empres�ria afirma que a troca compensa. “� um caro que justifica. Nossa caracter�stica � ser saud�vel, s� trabalhamos com produtos naturais, tentamos comprar de produtores locais, frigor�ficos menores, frango de granjas locais e ovos caipiras.”
Segundo a empres�ria, a troca foi bem aceita pelos clientes. “Todo mundo percebe. Mesmo sendo biodegrad�veis, sempre perguntamos se eles preferem usar canudo ou n�o.” De acordo com ela, 50% dos clientes preferem n�o usar canudos. “As pessoas que frequentam nossos restaurantes sabem que temos essa pegada.”
Ainda assim, Quick acredita que a troca n�o deve se limitar aos canudos e sim a todas as embalagens. “Antes da pandemia, tinha conseguido um fornecedor de copos biodegrad�veis. Mas, com a pandemia, a f�brica n�o se manteve.” Para a empres�ria, a pandemia trouxe um retrocesso. “A impress�o que tenho, � que voltamos 20 anos em termos de meio ambiente e uso de pl�stico.”
Ela destaca ainda que n�o adianta existir a lei e n�o haver um produto para substituir o pl�stico. “O canudo n�o � um item essencial, mas n�o h� uma alternativa vi�vel economicamente para ele. O canudo � uma coisa muito simb�lica. Temos que caminhar para esse lado, come�ar um movimento. Mas com a pandemia retroagimos, com o uso de muitas embalagens. Agora precisamos retomar esse processo.”
Discuss�o simplista e cautela
A Associa��o Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG) afirma que iniciativas com intuito de diminuir impactos ambientais s�o muito bem-vindas, mas precisam ser melhor estudadas para que os resultados sejam, de fato, efetivos. De acordo com a entidade, no Brasil, a discuss�o sobre o consumo de pl�stico de uso �nico se deu de forma “simplista” e basicamente em torno da comercializa��o dos canudos. Para a associa��o, isso minimiza um problema que � muito maior e mais complexo, al�m de atrapalhar a causa em vez de ajud�-la.
Em nota, a Abrasel diz que “v� com muita cautela o caminho encontrado para ‘solucionar’ a quest�o. O legislativo colocou o problema nas m�os dos empres�rios que atuam no setor de bares e restaurantes. Em curto prazo, esses estabelecimentos s�o culpabilizados e obrigados a encontrar uma solu��o �s pressas, mas n�o h� oferta suficiente de produtos que atendam � legisla��o.”
A entidade acredita que a inefici�ncia dessas leis ainda esbarra em outro fator relevante: 65% dos estabelecimentos de alimenta��o fora do lar s�o informais e n�o t�m sequer CNPJ. “Se o Estado n�o consegue nem fiscalizar/combater a informalidade, como espera acompanhar a quest�o do uso do canudo pl�stico?”, questiona.
Para a associa��o, o Estado tira o foco da quest�o principal: educar a popula��o para o uso �nico do pl�stico como um todo. "Em vez de investir na educa��o (resposta mais eficiente e duradoura), busca uma solu��o que n�o tem impacto nenhum a n�o ser trazer preju�zo econ�mico e dificuldades operacionais”, diz outro trecho da nota.
A Abrasel ressalta que “esses pontos precisam ser levados em conta nessa discuss�o para que solu��es bem intencionadas, mas simplistas e de curto prazo, n�o marginalizem parte de quem empreende no Brasil.”
A associa��o conclui afirmando que � preciso investir em campanhas educativas voltadas para toda a popula��o – desde crian�as at� idosos – para que uma nova consci�ncia ambiental seja criada de maneira eficiente, mudando efetivamente h�bitos de consumo.